Capítulo 16: Reflexões e Decisões.
Aquele homem de camisa branca e larga, senhor dos cabelos mais ruivos que já vi, sempre esteve ao meu lado. Ele era meu mestre. E o próprio me entrou minha espada, a Nayu. ela estava calada, incrivelmente.
— É agora ou nunca, Edward.
Estávamos ao pé da escada que também servia de entrada para o QG “cavernoso” dos erianos fascistas por quem eu deveria estar lutando.
As tropas de Ragon, o suposto Rei Demônio, invadiram o quartel por meio do imenso buraco aberto por ele no “teto” — que era o chão do hangar logo acima. Ter visto aquela massa de energia surgir do alto me fez lembrar de um anime nostálgico.
Mas isso não era importante. Sim…
“…O principal aqui sou eu.”
A decisão que eu tomaria ali influenciaria o destino de Nehder. Afinal, os impérios mais poderosos do mundo se enfrentaram nesta guerra entre o Rei Elfo e o Lorde Demônio, e eu era um dos três heróis da profecia que surge sempre para se opor às forças do mal.
Eu já sabia desde o início que minha missão era a de ser um espião. Um infiltrado encarregado de impedir os avanços do inimigo.
Mesmo sabendo disso, meio doía ao pensar em ser um traidor. Assim, não sou nazi — os erianos são praticamente isso —, mas tem uma galera que não deveria morrer, ainda que estivesse do lado errado da guerra.
Muitos jovens, iguais a mim, só estavam ali por obrigação. Eles foram forçados pelos pais e pela sociedade a estarem ali. Aquele trio de idiotas era um bom exemplo.
Só que não adiantava pensar nisso, só me restava apertar meus punhos com força e mentalmente me desculpar por indiretamente contribuir em suas mortes.
— Kris, Haen, Hoen… eu sinto muito — E abaixei a cabeça. — Foi divertido enquanto durou.
Aquele jantar ao ar livre foi a última vez em que pude rir das idiotices deles.
— Edward, você fez bem — Meu mestre apoiou sua mão em meu ombro. — Estou sempre contigo, por isso posso afirmar: és uma boa pessoa.
— Mas não forte o bastante para…
— “Proteger meus amigos”? — indagou prevendo minha frase. — Não teria como você saber quando o exército de Ragon viria. A Encapuzada ficou fora por semanas, certo? Seria normal pensar que ela demoraria mais.
Mas eu devia ao menos ter pensado em uma forma de evitar as suas mortes. Era como ele falou, mas o meu cérebro parece não ter cogitado que a possibilidade da Encapuzada chegar a qualquer momento também significava que eu não podia ficar parado.
Convencer Kris, Haen e Hoen a lutar ao meu lado não seria impossível. Eles odiavam o Rei Elfo, pois sabiam que o pensamento dele era puramente intolerante e que, não importava de que modo o analisasse, ele só queria usar essa guerra como pretexto para um genocídio de povos não-elfos brancos.
Eles só se alistaram porque seus pais lhes forçaram. Até me contaram, cara! Eles…
— …Confiavam em mim… e eu podia salvá-los.
— O que vai fazer? Procurar por cadáveres… — Ele se abaixou e me olhou nos olhos. — Ou evitar que mais vidas sejam perdidas?
“Me preocupar com três pessoas, se posso salvar o mundo…”
Que pensamento mesquinho. Eu sabia disso. Mas, naquele momento, seria mais egoísta ainda sacrificar povos inteiros, em nome de salvar meus amigos, ao aumentar os riscos de falha na missão de matar Takatsukasa Kurono e eliminar seu super-exército.
— Eles que me perdoem, se puderem — respondi, ainda encarando-o. — Mas irei priorizar as milhões de vidas que serão ceifadas por Kurono, se ele sair vivo.
— É assim que se fala — disse o meu mestre. Ele se desfazia em brasas vermelhas. — Não estou de todo orgulhoso de você, Eduardo Ventura, mas posso dizer que fostes um bom aluno.
Quando ele desapareceu em suas leves chamas, pensei em como matar aquele velhaco poderia me fazer dar um passo a mais em minha busca de matar Sasaki Yuuta.
“Ninguém saberá que o QG foi destruído até que alguém de Wehsuto venha. Sendo realista, se vir…”
O primeiro não seria alguém de lá.
“Mas aquele homem das vestes alvas e de alma negra.”
Matar Yuuta e evitar que ele faça as merdas que o que quiser em Nehder e na terra… Cara, o Nathan deveria me agradecer.
Quando passei pela porta, ouvi uma soldada humana gritar para mim:
— Senhor Ventura, o alvo está recuando!
Quando ela apontou na direção da cratera no teto da caverna, foi como se eu já soubesse o que diria antes mesmo daquele aviso sair de sua boca.
Aquele filho da mãe realmente iria fugir. Pena que eu usei o…
— Hold the Tchan! — gritei e um gancho disparou do meu braço e acertou Kurono, este que voava em seu tronco mágico.
Sim, o velhaco elfo, enfiado em sua armadura de prata com capa azul, estava montado em algo como um tronco de árvore cujos galhos serviam de guidão — guidão de moto, com acelerador e tudo.
“Maldito corno!”
Simplesmente o puxei como se fosse o Indiana Jones usando o chicote dele. O Rei Elfo caiu do céu e fez a água explodir para todos os lados quando aterrissou.
Levantando, vi seu rosto sério me amaldiçoar com o olhar. Pra mim cara feia é fome, desgraçado!
— Traidor… maldito sejas! — vociferou ele.
O fim estava próximo. Pensando nisso, sorri.
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