Capítulo 17: "Duelo" com o Rei.
Estávamos no centro do lago da caverna.
Algumas lanças feitas de energia alaranjada flutuavam acima dele. Eram como flechas, e todas estavam apontadas para mim. Não era o tipo de atenção que eu queria.
Mas não estava mais pensando direito. Afinal, eu havia ingerido e inalado Riocalu.
Rosnei como um cão raivoso e, ouvindo o leve estalido das flechas, indicando que foram disparadas, tomei um impulso alucinante.
— Isso tá te matando — comentou Nayu.
Não que ela se importasse comigo. Achei estranho essa fala, até.
Uma, duas, três, desviei de quatro flechas enquanto corria. Para poupar a adaptação pra anime, corri com os braços pra trás.
Os olhos naquele rosto velho com aura jovial se abriram, num misto de espanto, surpresa e terror.
— Bastardo! — gritou.
Num movimento horizontal, abri parte do tronco da armadura, não sentindo ter rasgado a pele dele.
O maldito deu um pulo para trás e, com um movimento de raspar com o braço direito, fez surgir uma lâmina elétrica.
Agarrando-a como uma espada, decidiu duelar. Mas não dei chance.
Com Nayu envolta em chamas escarlates, simplesmente suguei a energia.
— Mas o quê?!
Eu também queria saber, seu fascistóide de merda!
Em seguida, ele pisou em falso e caiu de costas. Com o idiota agora caído, restava apenas enfiar Nayu na parte aberta anteriormente.
Porém!
ㅡㅡㅡ
Era um campo calmo. A brisa vinha leve, e seus ventos eram os dedos macios de uma mãe carinhosa. Em minha frente estava uma garota um pouco mais alta que eu.
Oh, um flashback. Era isso.
— Né, Edward… — chamou-me ela, a menina dos longos cabelos negros. Estava de costas para mim. — Você me acha bonita?
— Que… que pergunta é essa?! — respondi com outra indagação, envergonhado.
Seu vestido azul-claro, que combinava com o céu sem nuvens daquele dia, certamente me fez concordar.
— Mas… por que ninguém me trata como uma garota?
Pensei em dizer que era porque ela dava porrada nos garotos. Era por bons motivos? Era. Mas não era normal, ao menos não para as pessoas dali, que uma menina fosse violenta.
Mas espera… isso só podia ser uma ilusão. Eu a conheci há dois anos.
— Como assim? Eu te vejo como uma garota, Kazuki.
Kazuki? Eu a chamava assim? Espera… eu pareço ser bem mais novo nessas memórias. Eu a conheci aos doze anos, mas pareço ser bem mais jovem nessas memórias.
E eu morei no Brasil desde que nasci. A loucura de ir para Dokoka foi há dois anos. Sim, tudo indicava…
Que esse flashback era uma ilusão.
Mas será mesmo?
ㅡㅡㅡ
Não durou nem dois segundos. Nayu perfurava o ar, mirando a parte rasgada da armadura. Pude, de relance, ver que o Rei sorria.
Os boatos eram verdadeiros. Esse maldito sabia magia de ilusão!
— Como foi que você…?!
Como foi que eu destruí as suas ilusões? Simples, Vossa Majestade. E nem precisei de um “destruidor de sonhos” em minha mão direita. Minha confiança ao quebrar sua magia me fez não pensar numa contramedida. Eu baixei a guarda.
Olhando no fundo de seus olhos, no instante em que o perfurei no abdômen…
ㅡㅡㅡ
— Mentiroso! — ela me disse.
Virando-se para me ver, Kiringo Kazuhito me acertou um gancho no estômago. Ajoelhado, a encarei de baixo — como sempre.
Espera… sempre foi assim?
— Está vendo?! Esses seus olhos!
Talvez esse fosse o motivo para dar ênfase às janelas de nossas almas? Impressionante. Algo estava me *condicionado* a aceitar aquilo como verdade.
— Os seus olhos não mentem!
Era verdade. Eu não a via como uma garota. Não uma normal, pelo menos.
— E… e por que isso importaria?
E me levantei.
— Por que isso importaria, Kazuki?
— Mentir pra mim… e diz que isso não importa! Você mal, Edward! Mal! Como todos os outros… por isso eu sou assim, violenta! — Ela apertou os punhos e os tremeu.
Aquelas mãozinhas que me eram estranhamente delicadas. Surpreendendo-a, as peguei com as minhas.
— Não use esses punhos para machucar os outros — falei inocente. Que fala inocente, jovem Edward! — Eles… eles não foram feitos para isso.
Ela tremeu a cabeça e gritou: — Só porque eu sou uma garota?!
Porque ela era uma garota… não podia bater em alguém? É provável que muitos pensassem assim. Quer dizer, alguns não a tratavam como uma garota justamente por isso… mas eu nunca pensei assim.
— Não é por isso.
Droga, esse flashback era verdade?! Eu já conhecia Kiringo Kazuhito antes mesmo de ir para Dokoka e estudar naquela escola?! Então… no fim… quem abandonou quem primeiro… fui eu?!
— Mas parece! — retrucou Kazuhito, soltando-se e preparando um soco energizado com sua angústia.
Sentia que ela era solitária. Sabia que as outras crianças não queria estar perto dela, pois não gostavam de violência — mesmo que as próprias fossem as causadoras.
Queria fazer companhia para aquela triste garota asiática dos longos cabelos negros. Ela e aqueles passos que tremiam o chão, como terremotos. Ela e aquele olhar que por alguma razão acelerava o meu bombeador de sangue.
— Não é por isso, Kazuki — E me levantei, a pegando pelos ombros. — Os punhos da garota que eu gosto não foram feitos para causar dor aos outros.
E-Eu disse aquilo?! Isso é sério?! Impossível… Então aquela garota de vestido azul-claro em meus sonhos…
Esse tempo todo… Era ela?!
ㅡㅡㅡ
— Arf… arf… arf…
Como se tivesse acordado de um pesadelo, retornei ao mundo real. Durante o flashback, não pude ouvir aquilo, mas Nayu estava rindo.
— Hahahahah… HAHAHAHAH!
Retiro o que disse. Ela na verdade gargalhava.
“O que é…”
…Tão engraçado? Perturbado, o que tinha a fazer era normalizar a respiração e ficar calmo.
“Eu venci o Rei… acabou.”
Esbocei um sorriso. Só faltava…
“…Matar o Sasaki Yuuta. Não, claro que não.”
Ainda havia uma pessoa com quem lutar. Uma mulher. Uma garota maior que eu, vestida em uma armadura de prata idêntica a do Rei, portadora de uma rapieira e uma Katana.
A asiática dos punhos implacáveis, Kiringo Kazuhito. Ela caminhava em minha direção.
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