Nossas lâminas se colidiram.

    — É isso… além de me tirar a paz, agora quer tirar a minha vida — provoquei.

    Sabia que meu corpo não ia aguentar mais. A energia estava se esvaindo. Os dedos do cansaço me tocavam as pernas.

    — Tá falando do quê?! — Ela deu uma investida, acertando três cortes na minha espada. — Que eu fiz isso porque quis?!

    — Oh! — Dei um salto pra trás. — Desculpa se só percebeu agora!

    Ela franziu a testa e apertou mais o punho de sua katana. Merda, ela quebrou o cabo!

    A lâmina relinchou, fazendo cada pequena luta paralela pausar.

    — Do que…

    No que pisquei, ela desapareceu.

    — …VOCÊ ACHA QUE SABE?! —E surgiu em minha frente, segurando a lâmina.

    Seu movimento vertical, de baixo para cima, fez um leve corte no meio da minha testa. Por sorte consegui recuar.

    A droga da minha espada tava voltando a ficar pesada.

    — O efeito da erva está acabando — disse Nayu.

    “Eu sei, porra!”

    — E eu não vou te ajudar. Você não merece.

    “Desde quando eu preciso da sua ajuda?!”

    Em um movimento horizontal, bloqueei um avanço dela.

    — Acha que eu sumi porque quis?! — E partiu a lâmina em dois. Parecia segurar duas ripas de metal afiadas. — Que eu te odiava tanto que desejei sair do nosso mundo?!

    Eu nem sabia mais do que eu tava falando, pra ser sincero. A erva tava me deixando puto.

    Bam!, ela me acertou uma cotovelada no meu plexo solar. Em seguida, deu um soco na minha mão direita, que segurava Nayu, fazendo-a voar longe, desarmando-me.

    Nesse mesmo instante, soltou suas lâminas.

    Ela socava em uma velocidade difícil de se esquivar, tanto que mal pude me safar daqueles meteoros.

    Girando a perna, desferi um chute giratório em sua costela.

    — Gah! — gemeu ela, mas agarrou-me pelo tornozelo.

    E me puxou.

    — Filha da… — Um murro cortou minha fala.

    — Hein! Do que tu acha que sabe?! — E me puxou de novo, acertando outro soco. — Sabe o que eu passei aqui?! 

    Concentrando minha energia no pé agarrado, fiz força para baixo e, saindo daquela prisão, girei meu corpo e lhe acertei o abdômen com um soco.

    “Cacete! É duro igual pneu de caminhão!”

    — Viu? — E cuspiu no chão. — Meu treinamento foi tal que fiquei ainda mais alta e muito mais forte. Em compensação, menos feminina.

    Ela tinha problemas com isso, é verdade.

    Estávamos de pé no laguinho que separava as duas alas nas caverna. A água alcançava nossas canelas. O teto havia sido destruído, e os infernais raios solares do meio-dia nos banhavam.

    Que belo episódio de praia.

    A camisa de Kazuhito, encharcada, estava transparente. Pude ver os panos que ela enrolava em torno do busto.

    — Não foi só em altura que você cresceu… 

    Ela olhou para onde meus olhos miravam, corou, e gritou para mim:

    — Pervertido de merda! Não muda nunca!!

    Seu salto supersônico causou um breve delay na explosão da água, mas, graças aos meus status de sorte, desviei de seu chute.

    Quer dizer, isso era porque…

    — Edward?! — exclamou ela.

    …Minhas pernas perderam a sua força. 

    “Oh, não…”, percebi que minha energia estava acabando. “Isso é mal…”

    Fiz um último esforço ao enviar mana pros meus pés e, num pulo, saí da água.

    Seu rosto incrédulo olhou para cima. Mas, em meio segundo, retomou a seriedade e saltou em minha direção.

    Não deu pra reagir!

    — Te peguei, desgraçado! — disse Kazuhito, me agarrando. Me tomando pela mão, girou-me no ar e me soltou.

    “Morri… tô morto… morri, caralho!”

    Caí por entre os escombros. 

    Tum!, ela pousou em minha frente. Me olhou de cima, como se fosse superior. Eu estava sentado naquelas rochas como se estivesse largado em um trono.

    — Por que o meu corpo…? — Não estava acreditando. 

    — Esgotaste as últimas forças que tinha, Eduardo Ventura — Sentenciou ela. Em suas mãos estava a minha espada, a Nayu.

    A ponta roçou meu pescoço.

    Nos encaramos por algum tempo, naquela composição de cena. Queria que alguém fizesse uma tela daquele momento, mas vai ficar só na mente.

    — Só que… — Ela retirou a lâmina de perto da minha garganta. — Eu não quero… Eu não quero!

    E fincou a Nayu ao meu lado, perto do meu pescoço.

    — Sorte a sua — falou a espada em minha mente. — Agradeça aos sentimentos dela. Não que eu ache que você mereça, no entanto.

    “Os sentimentos dela…?”

    Kazuhito andou de costas e se sentou nos escombros que estavam em minha frente. Deitada, via-a admirar o teto — este que havia se reduzido a um enorme buraco com vista para aquele céu azul.

    Ela estava descalça. Em seus pés, pude ver cicatrizes de cortes. Só tinha reparado naquele momento, mas haviam cicatrizes nos braços dela — a armadura normalmente os confia. 

    Todos pareciam ferimentos oriundos de treinos com espada.

    Era como ela havia dito, não sabia de nada do que aconteceu com ela durante o ano que passou. A garota que eu amava sofreu muito, e tudo o que fiz foi pensar em mim mesmo.

    Mas aquela pele branquinha…

    “Ela ainda continua linda.”

    Como eu pude ficar estressado com alguém assim? Quer dizer, ela quis me matar, ou assim pensei. E eu tava sobre efeito das ervas.

    — Ei… — Ainda olhando pra cima, ela quebrou o curto silêncio. — Edward…

    — Um?

    — Você… você… — E moveu a cabeça devagar, até finalmente poder me encarar. — Você não me odeia, né?

    Não sei se foi algum tipo de ilusão que minha mente me forçou a ver, mas…

    “Ela está…”

    — Lagrimando? — murmurei.

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