Capítulo 6: Aishi.
Depois daquela longa trilha pela mata, havia um vasto lugar aberto. Era por volta das quatro da manhã, se bem me lembro. O sol iluminava um hangar — igual àqueles que guardam aviões militares — assustador.
Aquilo parecia avançado demais para ser desse mundo, julgando pelo uso de magia — não é preconceito, mas coisas como “rituais” não me soam nada futuristas ou mesmo modernas.
Entramos pelos fundos. Isso me fez pensar que eu seria executado. Não tô brincando! Imagina que uma mulher mais alta que você, vestida em uma armadura de prata, e com uma rapieira embainhada na cintura, te leva pros fundos de um hangar coberto por trepadeiras.
Já havia sido torturado, e por isso mesmo não entendi porque seguia aquela mulher.
É como se você fosse um porco indo pro abate. Um professor brasileiro em tempos de DOI-CODI poderia fazer um relato mais preciso dessa sensação, pois quando fui torturado, não estava lúcido o bastante.
Quando ela abriu a porta, descemos um lance de escadas que, em espiral, nos levava ao interior do solo. Tochas iluminavam aquela descida. Ao final, chegamos a uma caverna enorme.
Chamas brancas flutuantes serviam de lâmpadas. Do lado direito de onde eu estava, haviam mesas longas, parecidas com aquelas de cantina de escola, e pessoas as usando para apoiarem seus papéis e escrever o que liam em hologramas azuis na frente delas.
Aquilo devia ser feito de magia…
“Eu posso ver graças ao cara que falou comigo após eu morrer, provavelmente.”
As pessoas que escreviam, em sua grande maioria, eram mulheres jovens de uniforme militar. O ar opressivo que elas emanavam me sufocava.
Na real, eu me não importava se as mulheres estavam ou não em maioria, mas elas eram ser servidas por caras da minha altura ou menores que isso, e tão magros quanto eu. Não fosse o fato de eu não gostar de militares, eu me solidarizaria.
Seus olhares me lançavam agulhas.
Viramos à esquerda e passamos por cavaleiras que treinavam com recrutas. Elas usavam espadas de madeira, mas seus movimentos poderiam cortar meu braço ao meio, se duvidar.
Passamos por elas. Estremeci, mas segui a “falsa” Kazuhito, esta que não se virou para trás uma vez sequer mesmo após chegarmos.
Depois de passar pelo corredor polonês, paramos de frente com uma bancada. Atrás dela, sentado em um trono de rocha, estava um homem ainda mais alto que Kazuhito — decidi a chamar assim, dane-se.
Ele era loiro, pálido e magro. Seus olhos e roupas eram azuis. O único de uniforme azul marinho — destacava-se de todos os outros soldados. Pensei que era o capitão.
— Esse é o Rei — disse Kazuhito.
“CARALHO?!”
— Rei, Hiua… tanto faz. Meu nome também varia entre “Kurono” e “Kurone”, mas isso é apenas uma curiosidade… — falou ele, o queixo apoiado no punho. — Me chame do que preferir, herói.
“Isso não vai acabar bem, tenho certeza…”
— — —
Dormi em um banco qualquer naquela caverna — a qual chamavam de “base” —, pois estavam decidindo onde eu iria ficar.
— Edward… — Enquanto eu enxergava o puro vazio, ouvi uma voz jovem me chamar. — Eis a sua espada. Você a esqueceu na floresta.
Uma arma surgiu em minha frente.
— Ela fala. Vá, diga alguma coisa, Nayu!
Ah, era o Rebelde Carmesim que estava falando. Eu o passei a chamar de mestre. Não sei por qual motivo, no entanto.
— Não quero trocar palavras com esse sujeito — falou a lâmina.
— Mas por que?! — indagou ele.
— Ele não tem determinação. Esse moleque só veio a este mundo porque não tinha nada melhor para fazer. — E soltou um longo suspiro de insatisfação. — Ele me desaponta. Por isso me recusarei a falar com ele.
— Por que você tem que ser assim…?
— É simples: não sou uma idiota igual a você, ruivinho de merda. Mas, como consideração por sermos parceiros, darei minha palavra de que irei conversar com ele quando o idiota finalmente me conquistar.
“Ueh? Te conquistar? Igual se conquista uma mulher?”
— Isso mesmo. Até lá, me recuso a cooperar contigo. Por isso, não reclame se não conseguir usar os seus poderes.
— Mas esse não era o plano, né?! Esqueceu? Mesmo se o Takatsukasa pedir para ele sair em uma jornada pra salvar a princesa das mãos do Ragon, é só o Edward atrasar isso ou mesmo dar uma de rebelde!
“É uma boa ideia…”
— Bunda mole! — exclamou Nayu.
“Que se dane, idiota! Eu não ligo!”
— Dane-se você!
Quando pensei em responder, acordei assustado. Cavaleiras — estas que Kazuhito, dias depois, me diria que eram todas filhas do Hiua —, todas com a mesma armadura de prata, e uns garotos de uniforme verde, os chamados recrutas, passavam por mim. Me senti como um mendigo deitado em uma praça.
— Hey, me siga — chamou Kazuhito. Ela ainda estava em sua armadura. Assim, o rosto dela continuava…
— Estonteante…
— E-estonteante o quê?
— Você. Você é estonteante.
— Humph! — E me levantou. — V-venha logo de uma vez.
Fomos nos encontrar como o rei.
Era estranho a “sala” dele não ter paredes, assim como os outros departamentos. Era quase como se ele quisesse vigiar a todos. E ele estava na mesma posição de quando o conheci, sentado em seu trono.
Fizemos alguns testes da minha força. Mostrei o Hold The Tchan e…
— Não use isso durante os treinos. É trapaça — disseram-me.
Quando veio a parte de manifestar a energia espiritual, Kazuhito disse que era como manifestar o Hold the Tchan. Tentei fazer isso, mas sem pensar nele, e não deu certo.
Tentei…
Tentei, tentei…
Tentei, tentei, tentei… e tentei de novo. Mas não deu certo.
“Foi como a Nayu disse… que droga, e eu não posso fazer nada.”
— Veremos isso mais tarde — disse o Hiua, de cabeça baixa. — Minha filha já está há meses nas mãos do Rei demônio… eu não ligo se isso demorar.
“Ah, não fale assim! Não é como se eu quisesse essa merda, de qualquer forma.”
E que engraçado. Haha! Essa coisa de servir de espião…
— Bem, mostre a ele o quarto onde vai ficar, Segunda.
— Sim, senhor! — E ela me arrastou pelo braço.
— — —
Após conversar com ele, ela me levou para um corredor. Por ele, vimos inúmeras celas — e chamavam aquelas merdas de “quarto”, tá? —, e entre elas havia tochas penduradas nas paredes. Em todas só estavam garotos elfos, como eu. Que tipo de segregação era essa? Pelo que pude ver, os quartos das filhas do Rei ficavam no corredor oposto.
— Ei… Ele te chamou de Segunda. Por que?
— Você é o terceiro — murmurou.
— Terceiro? Terceiro do quê?
— Poxa, mas você consegue ser tão idiota… — falou. Senti que ela queria que eu fizesse ou falasse algo. Não sei o motivo.
Kazuhito me levava pela mão. Era um desperdício elas estarem cobertas pela armadura. Após caminharmos por algum tempo…
— Ei, Segunda…
— Humph, diga!
— O que foi, eu te irritei? — brinquei.
— Sim… você não me chamaria assim, se tivesse entendido o que falei…
— Eu queria conversar mais com você… opa, como?!
Ficamos rubros. Sinto vergonha só de lembrar daquela cena.
— Conversar mais comigo… — repetiu ela. — Só quando você for digno.
— Digno? Digno de quê?
— Você está muito avoado. Perdido em seus pensamentos e emoções, do jeito que está, não conseguirá ter uma conversa fluida comigo — explicou Kiringo. — E eu apenas ficaria pu… digo, irritada.
Paramos em frente a um “quarto”. Ela destrancou a porta de metal e sinalizou para eu entrar.
— E quando eu serei digno? — indaguei.
— Quando a espada cooperar com você.
Que maldita… sabe, isso demoraria demais. Havia um longo sofrimento até lá… e eu só queria pensar nela, minha ex-namorada… com quem eu sequer terminei…
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