Capítulo 7: Trio de músicos.
Cara, acho que conheci o garoto a quem os Engenheiros do Havaí, uma famosa banda do MPB, se referiram em uma música. Três garotos, nesse caso. Gêmeos loiros e idênticos, e um garoto de cabelos negros que tocavam os ombros.
Assim como todos na base, incluindo a mim, eles tinham orelhas pontudas — eram elfos. Um dos gêmeos tinha um penteado um tanto espetado nas pontas e usava uma camisa negra, de mangas longas, por baixo do uniforme de manga curta que todos usavam. Ah, e as calças eram maiores do que o ideal para ele.
“O que é esse cara? Um punk?”
O outro se vestia do mesmo jeito que o moreno, porém o seu cabelo era penteado para trás, igual o Vito Corleone.
“Um ‘lambido de vaca’ de respeito.”
Agora o terceiro, o moreno…
“Com exceção dos olhos azuis… ele parece com o vocalista daquela banda… The Doors, né?! Caraca! Só que um pouco mais jovem, mas… caraca! Igualzinho.”
— Você se chama Kris, né? Ouvi vocês conversando agora a pouco — decidi quebrar o gelo.
— Sim, prazer em conhecê-lo… Edward Venture. Nos disseram que esse é o seu nome.
— Kris, você se parece com um músico que entrou pra história… lá no meu mundo, quero dizer. Toca alguma coisa? Haha… deve tocar — Olhei ao redor. — Afinal, há muitos instrumentos neste quarto.
Havia um violão, uma harpa, uma flauta, dois tambores com baquetas por cima deles, e uma pedra negra que se parecia com um microfone.
— Sei tocar violão e harpa… sobre cantar, acho que canto razoavelmente bem — disse ele. Os gêmeos deram positivo com os polegares para cima, os braços estendidos para mim.
— Ah, então tenta cantar essa música — e sussurrei a letra em seu ouvido, tentando ao máximo imitar o original.
— Isso? — perguntou como se fosse fácil. — “Riders on the storm… riders on the storm… into this house we’re born… into this world we’re thrown, like a dog without a…”
— Tá, tá! Tá bom! Caramba, igualzinho. Igualzinho! Vou te chamar de “projeto de Jim Morrison”!
Ele e os outros dois eram os meus colegas de quarto e companheiros dali pra frente. Muitas coisas estavam destinadas a nos acontecer…
— — —
…Eis a primeira, em uma manhã ensolarada e feliz. Estávamos, recrutas e cavaleiras, do lado de fora.
— …Dessa forma, todos aqui são iguais. Não passamos de peões no tabuleiro da partida entre o Hiua e o Rei Demônio, Ragon.
Inclusive, eu sinto que meu mestre me disse algo sobre “fazer o possível para não sair da base e evitar os planos loucos de Takatsukasa Kurono”. Mas lembro pouca coisa, memórias dispersas de sonhos longínquos — tão escassa que nem vale a pena falar em algum capítulo.
Quer dizer, lembro que no dia desse discurso… isso, já havia passado uma semana. Tive alguns sonhos com o Rebelde Carmesim, de quem herdei os poderes e supostamente sou a reencarnação, mas só. Ele nunca apareceu em sua forma física.
— O herói, Edward Venture, é o maior peão de todos — falou ela com certo ênfase. Era como se estivesse puta comigo. Eu lembro daquele tom. — Invocado apenas para servir, como sempre. Como sempre! Como se já tivesse acontecido antes!
“Ela… se ela for mesmo a Kazuhito… ela tá se referindo às merdas que as pessoas me mandavam fazer?”
— Alguém cujas opiniões pouco importam, sequer são levadas em consideração. Sua razão para existir é servir aos outros, ele querendo ou não. Não há como ter pena de alguém deprimente como ele!
“O que você disse?!”
Uma veia saltou em minha têmpora. Aquele tom realmente me irritava. Ela estava zombando de mim.
“É ela. É a Kazuhito, sim.”
Só ela saberia me insultar assim. Só ela saberia que eu sou o tipo de garoto obediente que faz o que todo mundo quer. Alguém que deixa os próprios interesses em segundo plano.
— Uma existência fraca que não tem forças para fazer algo por si mesmo!
Mas…
“…Mas eu odeio quando falam assim… mesmo sendo ela… mesmo sendo ela!”
— Quem cê pensa que é… — murmurei.
— Nós pelo menos somos pessoas, perto dele, coitado!
Putz, eu me entreguei para a raiva. Corri por entre os garotos e as cavaleiras de prata, ouvindo xingamentos como “sai de perto, inútil!”, e saltei para cima da mesa em que ela estava. Sim, ela discursava, com toda aquela marra, sobre uma mesa.
— Acha que tá no direito de falar assim comigo, é?! Você nem sabe pelo o que eu…
O “passei” não saiu pela minha boca, pois alguém no meio da multidão me puxou para trás. Era o Rei, e ele segurava um saquinho com a boca amarrada.
— Tome — e ele o me deu. — Isso será útil. Me disseram que você não consegue manifestar sua energia espiritual, mesmo em posse da espada, certo? Isso aqui pode te ajudar.
— Me ajudar? Como assim?
— Ora, vocẽ achou que esse discurso — E apontou para cima, para Kazuhito. — Que esses insultos enfeitados eram gratuitos? Agora engula isso!
Ele agarrou meu queixo e me forçou a engolir uma bolinha.
— Sinta o poder das ervas Riocalu!
Segundos depois, senti meu coração bater mais forte. Minhas mãos tremeram e, vendo isso, ele me soltou. Aquele idiota estava sorrindo. O que diabos ele estava planejando? Não sei e nunca saberei. Naquele momento…
…Só o que senti foi uma raiva brotar em mim. Quando saltei de volta para a mesa, vi minhas mãos e, provavelmente, o meu corpo todo envolto em chamas vermelhas. Aquele calor não me queimava e era muito bom. Era satisfatório deixar aquilo sair!
Eu quase avancei contra a minha ex-namorada. Quase virei um ex abusivo. Mas…
— Parece que deu certo… — falou a voz do Jim Morrison do Paraguai.
— As ervas que tem o mesmo efeito, fumadas ou ingeridas! — disseram os gêmeos em uníssono.
Os três mosqueteiros simplesmente surgiram e apontaram suas espadas para o meu pescoço.
— Como as cobaias que superaram essas ervas… — Kris baixou a arma. — Fomos escolhidos a dedo pelo Hiua, como aqueles que executaram com sucesso o plano de “para caso o herói não consiga usar os seus poderes”.
Hoen, o gêmeo arrumado, Haen, o bagunçado e punk, e Kris.
— Somos aqueles que podem te conter — finalizou ele.
Kiringo, atrás dos três, sorriu para mim. Mas era um sorriso amargo, quase como se estivesse lembrando de algo pelo qual se arrependia.
— Mas a gente não quer ficar agindo sério com você — comentou Haen.
— Sim, seria muito chato — acrescentou Hoen.
Eles eram os meus colegas de quarto, companheiros, amigos… e vigilantes?
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