Volume 2, Capítulo 1: Primeira aventura, parte 1.

    Cara, eu só queria dormir. Realmente, acho que nada disso teria acontecido se eu tivesse continuado a dormir, naquele dia. Mas não é como se alguém fosse deixar. Pensar que isso poderia acontecer é uma mera ilusão a qual me agarro outra vez.

    Se eu fosse ser franco com você — com quem diabos eu estou falando, hein? —, acho que o meu envolvimento com essas loucuras começou há um ano. Talvez há exatamente um ano, pois não sei em que dia estamos.

    O torneio de lutas de rua, o mago das marionetes humanas, o velho que criava robôs… o assassino de magos. Se analisar bem, pode logo concluir que, se alguém lhe dissesse que uma criança de quatorze anos viveu — te olhando com seriedade — isso tudo, você acharia engraçado.

    Uma grande piada.

    Heh, eu até queria que fosse. Com meus olhos fechados e sentindo a maciez dessa cama que parece ser feita de pedra, lembro que quem me enfiou nesse mundo de bizarrices foi ninguém menos que Nathan Yago Dias.

    Aquele cara que supostamente era o meu melhor amigo… ele é o culpado por eu não conseguir dormir direito. O motivo é bem simples… não faz mal contar. Tô acamado, de qualquer forma — e não é como se fosse o rever algum dia.

    Era uma manhã de segunda-feira como todas as outras. Meu quarto naquela época era limpo, já que eu me dava ao trabalho de fazer faxina. Acordei com os meus olhos sendo agraciados com a luz do sol.

    Era uma boa ideia deixar a cama ao lado da janela. Ver o céu azul claro e algumas nuvens com formato fofo e o sol lá no alto, ao meio, me deixava animado…

    “Espera… sol ao meio?!”, pensei, levantando de súbito. Liguei meu celular — um flip-flip — e me espantei com as horas. “Meio dia…”

    Madruguei vendo anime, como sempre. Adorava fazer isso!

    Mas havia outra coisa que estava me incomodando. Por algum motivo desconhecido, o som de algo fritando vinha da cozinha.

    “Ah… ah, deve ser alguém fazendo comida.”

    Sim, parecia ser isso.

    “Tem que ser isso, mas…”

    — Eu moro sozinho… 

    “Não, espera, se acalme… não é que eu more sozinho. Isso mesmo. O Nathan é meu colega de quarto e ele não vem aqui já faz uma semana. Ele nem me disse o que ira fazer, mas isso não importa.”

    Tinha que ser ele.

    Levantei e caminhei até o lugar de onde vinha o som de fritura. Era ele mesmo: um garoto pálido, porém moreno, de cabelos negros bagunçados e corpo esguio. Seus óculos de armação quadrada… 

    — Eles quebraram? — perguntei, pois não estava com eles.

    Sem resposta… 

    …Ele apenas continuou fritando o ovo.

    — Bom dia…? — tentei novamente.

    — Ah, Ed… fiquei fora por algum tempo. Foi mal.

    Cabisbaixo e quieto. Em dias normais, ele estaria cantarolando ou ouvindo algum podcast sobre jogos de luta, animado como se fosse o primeiro dia de aula. Pude sentir que havia algo de diferente naquele cara.

    Não era o Nathan Yago Dias que eu conhecia. Tava mais pra alguém que viajou durante anos e retornou para a cidade natal. Havia uma aura de “muitas experiências” emanando dele… igual um soldado que veio do Vietnã.

    — A Clara… ela apareceu por aqui? — perguntou.

    “Se eu responder…”

    O que iria acontecer? Pressenti que algo poderia explodir  dele… ou ele mesmo explodir, qualquer que fosse a minha resposta. 

    “Clara…”

    Eu conheço alguma garota com esse nome? Não. Poderia dizer que sim, pois na época tínhamos uma colega chamada “Ana Clara”. E adivinha o que eu respondi?

    — Sim, uma garota chamada Ana Clara veio aqui.

    — Entendi… — Ele mexia a colher, virando o ovo. — Ela disse alguma coisa?

    — Se ela disse… — Cocei a cabeça na tentativa de lembrar. — “Tem… tem miojo sobrando aí?”… algo assim.

    — Huh, como sempre — riu ele. Senti um peso em suas palavras. — Você deu?

    — Eu dei… conhece ela?

    — Se eu conheço? — falou quase rindo. — Hum… não, não conheço.

    Não é o que o seu rosto está dizendo — era o que eu queria dizer. Ele sorriu de orelha a orelha. De um jeito esquisito… meio creep… assustador, até.

    — É melhor que eu não a conheça dessa vez.

    — Nathan…?

    Ele desligou o fogo, pegou três pratos no armário ao lado e serviu os ovos.

    — Não era um, mas três… está com tanta fome assim? — indaguei, sentando à mesa.

    — Deixa de ser abestado. Chama a tua namorada… ou ela tá sem fome?

    — Eu… a gente terminou, Nathan.

    — Ah… — Ele arregalou os olhos.

    Era uma expressão que dizia algo como “é verdade!”. Ele parecia saber!

    — Desculpa. Vamo dividir ele na metade — Sentando do lado oposto da mesa, entregou-me uma faca. — Ueh, eu peguei uma faca. Pensei ter visto uma colher.

    “Avoado…”

    …Mais do que o normal.

    — O que diabos rolou contigo durante essa última semana?

    — Semana? Ha… haha… hahaha… semana, hahaha… semana, é? Hahaha…. hahahaha! — Ele levou ambas as mãos a cabeça. — Uma semana… é mesmo, aqui só passou uma semana

    Risada de desespero.

    — E-ei… tá me assustando, Nathan — Apertei a faca em meu punho.

    — Tudo aquilo… uma semana… uma semana, tudo aquilo… hahaha… haha… ha… uma semana, tudo aquilo… aquilo tudo em uma semana… hahahahaha! Eu devia saber! 

    Seus olhos pareciam vermelhos. O rosto tremia assim como as mãos, estas que apertavam sua cabeça com tanta força que eu conseguia sentir as unhas furando-o. No instante em que levantei, vi um dos momentos mais raros que a Terra poderia presenciar.

    Ele começou… 

    — A chorar…?

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota