Capítulo 3: Edward quase morto.
Tendo aparecido de repente naquele torneio, pensei que iria demorar para que pudesse participar. Não, eu lembrava que demorou.
Sim, por isso…
“Por que eu já estou lutando?”
Pois é… isso não tava fazendo sentido.
“Quer dizer, a luta vai começar, mas… eu mal entrei. Não é como eu lembro…”
O tempo não havia passado rápido demais, e eu lembro exatamente a sequência dos eventos — sem chance para enganos ou memórias falsas.
A sensação de não saber o que estava fazendo ali, qual era o propósito disso e o que viria depois… cara, me lembro de tudo em detalhes.
Como esquecer aquele soco em alta velocidade que fez um corte no meu nariz? Só que…
“Ela não tá agindo como eu lembro.”
Sim… Kakeru Jikan era uma participante daquele torneio. A futura namorada de Nathan foi minha adversária. Quando fomos lutar, ela tinha toda uma empolgação.
Uma alegria em lutar que não se via na pessoa em minha frente, naquele momento. Era o olhar de um peixe morto… o de um robô. Não havia o calor da paixão por lutar, mas o frio assassino de uma máquina.
E ela carregava uma Tramonfina.
— Ei, pode isso?! — perguntei pra platéia.
Mas eles apenas riam. Alguns vaiavam. Bando de canalhas!
Atirando-se contra mim, e balançando a faca, fez um corte superficial em meu abdômen.
Meu salto pra trás foi instintivo.
Aquela leoa saltou novamente, fazendo a lâmina dançar pelo ar. E eu recuava toda vez.
Mas ela ia ficando mais rápida; eu, mais lento.
“Tô cansado em um sonho?!”
Senti como se estivesse movendo meu corpo na vida real!
— Morra, morra, morra! — gritava ela, balançando a Tramonfina.
Cadê o Nathan?! Ele não deveria estar me ajudando? Quando que era a hora de ele me salvar, mesmo?! Eu lembro que ele me salvava!
Mas nada. De aliados eu só tinha aquele corpo que estava se cansando de dar saltos pra trás.
Espera… saltos para trás?
“O quão longo esse beco é pra eu ficar fazendo isso?!”
De relance, dei uma boa analisada no cenário ao qual estava de costas.
Ele se estendia quase que infinitamente em linha reta.
Shim!, um corte profundo surgiu em meu antebraço.
“Cacete! Eu vou morrer! Vou muito morrer!”
Aquele idiota que me desculpasse, mas…
— Hold the Tchan! — gritei, fazendo surgir um robô que já chegou socando a maluca.
Ela recuou, pondo as mãos no estômago. O Hold the Tchan estava entre nós, como um árbitro apartando a briga entre dois jogadores.
Só haviam duas opções… Ou eu estava tendo um pesadelo, ou…
Alguém estava manipulando as minhas memórias.
— Morra de uma vez, Edward Venture!! — gritou Kakeru, avançando com a faca mirando meu peito.
Pro azar dela, o Hold the Tchan agarrou suas mãos antes que me atingisse.
Bam!, executei um cruzado de direita, nocauteando-a.
Ela caiu no chão, molhando-se numa poça de lama.
Porém… era como eu temia.
Não havia mais ninguém ali. Era sou eu, o corpo daquela garota desaparecendo como areia ao vento, a escuridão do beco e o chão um tanto molhado.
Só podia ser isso.
— Apareça! — gritei. — Apareça de uma vez, seu merda! Estragou a porra da historinha que eu queria contar e agora tá se escondendo?!
De repente, vi um tijolo sair da parede à minha direita, flutuando e seguindo um caminho retilíneo até parar no meio da passagem.
Eu estava a uns dez passos dele.
Depois disso, outros tijolos da mesma parede começaram a sair de onde estavam e flutuar até ele. Aos poucos, foram formando a silhueta de uma pessoa.
“Mas que porra… é essa?”
Os tijolos tremeram e começaram a se fundir, formando uma pessoa de verdade. Não um humano, mas um elfo.
Não apenas um elfo, mas o rei deles. O tirano de Wehsuto, Takatsukasa Kurono.
Ele segurava a droga de uma katana.
— Poxa, pensei que ficaria feliz em morrer achando que estava em casa — falou o corno. — Não foi o suficiente, pelo visto.
O que aquilo deveria significar? Aquele maldito…
— “Devia estar morto”, não é? — previu o que eu ia dizer. — É uma pena pra você, mas tenho chances de alcançar a vida eterna. Tenho um meio!
— A vida eterna?! Mas nós destruímos tudo no QG. O laboratório, os livros mágicos, as anotações…
Ele ergueu seu dedo indicador, fazendo-o apontar para mim.
— O meio para isso é você — sentenciou.
Homúnculo… projeto secreto…
— Preciso retalhar! — exclamou. Correndo em minha direção, agindo igual a Kakeru, balançou a lâmina. — Retalhar essa sua maldita alma desse corpo!
Seus passos espirravam a água fria e suja.
“Que maldito… que filho da puta! Maldito velho imorrível!”
Cerrei o punho e avancei, fazendo o Hold the Tchan correr ao meu lado.
Senti o vento cortante roçar os meus cabelos, quando me joguei no chão, dando uma rasteira naquele maldito rei.
— Gah! — gritou ele, assustado.
O robô o apanhou com suas garras enquanto caía. Mas antes que eu pudesse fazer alguma coisa…
— Tem… hehe… tem certeza? — indagou o bastardo.
Tijolos flutuavam ao meu redor. Nos lugares de onde vieram só restaram buracos.
Mas eu apenas cuspi no chão, dizendo:
— Esse é o meu mundo mental. Minha mente…
Fiz rapieiras surgirem. Elas voavam em um sentido circular, me tendo como centro.
— Minha mente, minhas regras!
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