Capítulo 4: Sala cheia de espelhos.
As rapieiras simplesmente cortaram os tijolos em pedacinhos.
— Hoh, uma batalha entre mentes!
Uma terceira voz veio de algum lugar acima de nós.
— Desculpa, Takatsukasa… ou melhor… — Tossiu. — Rei demônio. Esse corpo já é dividido com alguém: eu.
Ele vestia um uniforme wudang, um roupão de monge taoísta, vermelho e em suas mãos estava a minha… digo, a nossa espada. Nayu ria.
— Rebelde…
Aqueles longos e vivos cabelos ruivos ondulavam ao vento…
— …Carmesim? — murmurou o rei.
Ele estalou o pescoço e saltou, aterrissando atrás do Hiua. Estendendo a mão esquerda para frente, como num sinal de “pare”, em seguida elevou Nayu e a posicionou como uma lança que faria um movimento para baixo e perfurar uma coxa.
— Tem mais um espaço nessa luta aí? — indagou meu mestre.
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Um vulto saiu do Rei, em uma escuridão em forma de esfera, e se modelou para virar algo próximo de uma pessoa. Era uma réplica…
“…Minha?! Mas que merda tá rolando?!”
— Eu luto com o Rei Demônio, você vai com você mesmo — ordenou o rebelde.
Um bloco voou até as mãos de Kurono e virou uma espada cruzada. Com isso, ele e o meu mestre avançaram um contra o outro, iniciando um combate.
Enquanto a mim, minha réplica saiu correndo pelo beco.
“Que filho da mãe…”
Eu o segui.
— — —
Após uma longa corrida, ele parou no meio da estrada. Não havia carros e nem pessoas passando por nós. Era como se a cidade tivesse sido evacuada.
— Edward… — murmurou ele. — Está tudo bem as coisas acabarem assim?
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Ele estava de costas para mim e, após dizer aquilo, fechou o punho. O mundo ao meu redor se transformou de novo. Agora, o chão refletia minha imagem dos meus pés à cabeça.
Não…
Eu estava em um quarto. Na parede esquerda, na direita, na da frente, na de trás, no chão, no teto… haviam espelhos. Espelhos sem borda. Eles me refletiam. Mas a minha imagem neles não se comportava do jeito que eu estava agindo.
Ele andava nas pontas dos pés.
— O que foi? Eu não faço o que você está fazendo? O que você quer?
Eu não faço o que quero…
— Hey, você vai confundir a narrativa, se continuar com isso…
— Ueh, mas quem tá narrando sou eu, não é? Não me trate como se eu fosse outra pessoa.
— Mas… mas você é!
— Não há um “outro” quando se está em uma sala cheia de espelhos. Só há você… — E sorri de um jeito perverso.
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— Não! E espera, você já tá distorcendo a narrativa! Ali era pra ser “sorriu ele”, não “sorri”!
— É que você está saindo do personagem.
— Se está dizendo que não pode existir um “outro”, por que diabos está me tratando como “você”?!
— Porque esse é o meu personagem — E parou, apoiando o queixo no punho direito. — Eu trato a mim mesmo como duas pessoas diferentes.
— Eu não sou esse tipo de louco! E não estenda esse diálogo, precisamos de descrições!
— Descrições? Por que? Já não disse que estamos em uma sala cheia de espelhos? O que mais você pode dizer além disso?
— É, mas os leitores não vão gostar disso!
— Os que não gostaram não seguiram até aqui, não acha? Você mesmo sabe que fez coisas que desagradaram o público.
— Hah, ora essa! — zombei e cruzei os braços. — Tipo o quê, hein?!
— Não tratando o que devia ser importante, não narrar de forma épica os acontecimentos que deveriam ser épicos, narrar momentos legais entre você e os seus amigos, sua falta de aprofundamento em relação aos seus sentimentos para com Kazuhito… há muitas falhas na sua narrativa.
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— Mas isso é…
— Não foi o que você quis? Hoh, então não questione o que estou fazendo! E você sabe o motivo.
— Eu sei…?
— Claro que sabe! Você sempre faz o que não quer. Você criou uma réplica de si, uma personalidade, um personagem que não faz o que você quer, e a quem pode culpar por qualquer coisa!
— Eu te criei…?
— Eu sou a imagem que o espelho reflete de você.
— Isso é loucura, pensei…
— Viu? Perdeu-se tanto no personagem que até esqueceu das aspas. E pensamentos não são falas, você sabe.
— Você só pode estar brincando! Eu só queria narrar a minha história…
— A história de um garoto que foi para um outro mundo após morrer, né? Que foi pra sua Pasárgada. Onde és amigo do rei.
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— Sim! Por que eu faria algo diferente disso?!
— Você pode até fugir de si mesmo, mas para onde você for, você está.
— O que isso deveria significar, imbecil?! E isso é a fala do Tiririca!
— A sua narrativa se perde em você mesmo, Edward. Não há como você tratar a si mesmo como um personagem. Até tentou, mas, eis-me eu.
— O que tá querendo dizer com isso?! — E tentei socar o espelho, mas nada aconteceu. — O que… — Tentei de novo — …Você… — E de novo — …Quer dizer com isso?!
— Não há como tratar essa história como uma jornada épica. Ou mesmo um isekai ruim sobre um moleque qualquer com o objetivo de salvar uma princesa e o mundo.
— Mas… mas por quê? — E me ajoelhei.
— Por que é você quem está narrando, Ed — Falei. — Você nunca faz o que quer. Os seus sentimentos sempre se sobrepõem às suas intenções.
— Os meus sentimentos…?
— Não é como se a história que você gostaria de escrever fosse ser melhor que qualquer outra novel isekai ruim. E você sabe disso. Mas não é, também, como se quisesse que o resultado fosse esse.
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— Esse?
— A sua falta de experiência também é um fator a ser levado em conta, mas… no final, você agiu e narrou como se fosse uma história que não era sobre você. O que é engraçado — E ri.
— Engraçado… engraçado por que?!
— Porque sempre entrava em contradição. Mesmo que essa história fosse sobre alguém que não é você, pois isso foi no passado, Eduardo Ventura não consegue exaltar Edward Venture e sua epopéia. Você sabe que nada daquilo importava pra você.
— Mas que…?
— O que importava não era os acontecimentos, mas o que você sentia sobre eles.
— Isso quer dizer…
— …Que você tentou colocar a culpa em sua outra personalidade, no seu personagem, Ed Venture… mas acabou se confundindo nele. Porque ele é você. O cômico disso é que, no final, nunca houve um “ele”. Eu não sou Edward Venture…
— Eu sou Eduardo Ventura…
— Essa história sempre foi sobre você, não sobre o personagem cujo ponto de vista você narrava.
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— E o que eu deveria fazer…?
Minha imagem botou o pé para fora do espelho.
— Aceitar…
— Aceitar?
— Aceitar que o seu eu de antes e o de agora ainda são os mesmos. Que nada te mudou. Que você ainda é o garotinho ressentido e triste.
— Ressen… tido?
— E mentiroso.
— Mentiroso?!
— Sim, um grande mentiroso. “Os pais de Kazuhito não me culparam por ela ter desaparecido”… vai se danar, eu sei muito bem. Eles me odiaram, me odeiam tanto… mas tanto, que me surraram e botaram para fora da casa deles.
— Não…
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— Que os meus pais acham que a culpa é minha!
— Cala essa boca… isso não é verdade…
— Que os meus colegas me chamaram de assassino!
— Não… não…
Bam!, e dei um soco em mim mesmo.
— Foi assim que o tio dela me socou, né? Ele era policial.
— Não…
Bam!
— “Eu sei que tu matou minha sobrinha, filho da puta!”
Bam!
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— “Aonde que tu escondeu o corpo da minha filha, seu resto de aborto?!”
Bam!
— “A sua filha…?”, perguntei.
Bam!
— “Ah, merda…”, ele resmungou.
Bam!
— “Vai dar uma merda bem grande se o meu irmão descobrir…”
Bam!, como eu estava no chão, ele chutou minha barriga.
— “Eu vou te matar aqui mesmo. Sendo assim… você é o único que saberá que eu senti um tesão do caralho quando seduzi a esposa do meu irmão. Ela é muito boa na cama.”
Bam!
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— “Nunca que ele teria uma filha tão linda quanto a Kazu! Hahaha! Bem… chega desse interrogatório de merda. Vou só dizer que você tentou me matar, usando o seu poder sobrenatural, e eu apenas reagi em minha defesa.”
Bam!
— Ele sacou a colt.44 dele, engatilhou, apontou em minha cabeça e, como uma sentença final, falou: “Isso é porque você matou a minha filha, seu merda.”
Todos os espelhos apontavam suas armas, e eu estava quase aceitando o meu destino, mas…
Quase… quase… bem “quase”, mesmo. Não fosse a imagem de Nathan me vir ao pensamento.
“O que ele diria numa hora dessas…? Ah… ‘enquanto você estiver vivo, sempre dá de superar o seu passado dando um chute bem no saco dele’… algo idiota assim.”
Eu me mataria ali mesmo… se fosse eu ali.
Antes, ele alterou as minhas lembranças. Lembrei disso. Minha luta com Kakeru Jikan não aconteceu rapidamente como Takatsukasa Kurono fez parecer.
Bang!
Sendo assim, eu lembro muito bem de não ter morrido durante o interrogatório do tio da Kazuhito. Pai dela, na verdade.
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— Mas… o quê? — surpreendeu-se ele.
— Que coisa… uh! — Me levantei, ainda dolorido. — Hahaha… sério, essa ilusão foi boa.
Eu tinha uma pistola em minhas mãos.
— Como diabos você…?
— De onde eu tirei isso? Ah, é o Hold the Tchan. Esqueceu? Você pode ter alterado alguns eventos, mas eu lembro muito bem que, para me salvar, manifestei o Hold the Tchan em sua forma física — Apontei para a cabeça dele. Os espelhos refletiram minha arma apontada para suas cabeças. — Foi a primeira vez em que eu fiz isso.
E sorri.
— Foi como sacar uma arma letal no último segundo, não acha?
Bang!, e, com o corpo do meu “suposto” reflexo no chão, os vidros se estilhaçaram. Eu não dei um chute no saco no meu passado, mas um balaço no estômago e bem no meio da testa dele.
A ilusão que Kurono criou…
“Era uma réplica do meu ‘eu’ até hoje.”
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Foi como vencer o meu passado.
— — —
Com a sala cheia de espelhos destruída, voltei ao meio da rua. Diante de mim, o Rebelde Carmesim enfiou Nayu na cabeça de Kurono, fazendo-o desaparecer como gelo seco esfumaçando.
— Agora sim! Mortinho da silva! — exclamou a espada.
— Bom trabalho, Eduardo — agradeceu meu mestre, apertando minha mão. — Agora estou orgulhoso de ti.
“Fi… finalmente!”
Quando íamos nos abraçar, abri os olhos. Eu estava deitado em uma cama dura, e uma mulher de capuz marrom estava sentada ao meu lado.
— Pesadelo? — indagou ela.
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