Capítulo 88: Tantos problemas, tanto cansaço.
O corpo do falecido líder da alcateia havia sumido, não que isso fizesse diferença para o Hobgoblin, o gosto não havia sido particularmente bom então a carne não tinha o seu interesse. Os membros do grupo por sua vez se reuniram de volta ao abrigo e voltaram seus olhos cheios de desconfiança para o monstro verde quando este entrou no recinto. Os olhos amarelos dele foram diretos a um dos Homens Lobos transformado em uma imitação incômoda do que deveria ser uma pessoa humana. Animal demais para ser humano e humano demais para ser animal, uma forma que não enganaria ninguém naquela floresta.
— Quais ordens do líder? — Questionou o monstro transformado.
“Ele” mostrou uma expressão de surpresa que logo escondeu, então seria daquela forma que os lupinos iriam agir. Sua liderança, no entanto, acabaria por ser no máximo temporária se não conseguisse a lealdade deles de alguma forma. Teria no máximo alguns dias até decidirem que não importava sua vitória ou não, seguindo assim para o assassinato do novo e indesejado lider.
Friamente analisou a aparência daquelas feras para além do óbvio, tentando enxergar através e dentro deles. O que eles precisavam que o Hobgoblin pudesse oferecer? Evidentemente não era abrigo, pois tinham aquele lar e tampouco segurança, uma vez que apesar de estarem magros ainda podiam se defender suficientemente bem.
Magros.
Eles não comiam bem?
Seu olhar analítico se voltou para a pilha de frutas, era o bastante para todos e por mais de um dia e mesmo assim, a alcatéia se mostrava distante de parecer suficientemente alimentada. Então qual a razão de colher tantas frutas se eram tão ineficientes? A resposta se tornou óbvia em questão de segundos e “Ele” se condenou internamente por não a saber desde o início.
Eles não caçavam porque não era possível que o fizessem, porque não havia o que predar e se houvesse, não sabiam onde encontrar. A região em que estavam, não era a deles, seu real lar foi abandonado devido a presença humana, seja porque era perigoso ficar por perto ou porque a caça fugiu por medo. Eles precisavam de comida, necessitavam de carne que se mostrava cada vez mais escassa.
“Ele” precisava de um plano e embora aspectos principais do objetivo já estivessem em sua vista, ainda não era o suficiente para saber o que fazer e seu tempo era curto, devia ser rápido se quisesse aqueles lupinos sobre o seu comando.
— Eu vou em busca de comida para vocês, carne de verdade, não frutas e após isso, encontrar uma maneira de me livrar dos humanos na floresta. — duas promessas vazias, mas que se cumpridas trariam ótimas recompensas.
Os lobos conversaram entre si através de seu dialeto rude composto a base de rosnados, qualquer significado tendo escapado dos sentidos do Hobgoblin. No final, o olharam com o claro semblante de incredulidade, mas dispostos a deixarem o Monstro Verde seguir o seu rumo. Por suas cabeças animalescas passou o pensamento de que o Hobgoblin fugiria para nunca mais voltar e o dito cujo estava disposto a fazer dessa ideia uma realidade se nenhum plano se fizesse criado. A alcateia não realmente se importava naquele momento, o luto era um fator difícil de ignorar e até mesmo a fome se fez um empecilho, eles se recusaram a perder mais um membro nas mãos daquele que deveria ter sido apenas um prisioneiro dócil e dessa forma ninguém se opôs a sua partida em prol de evitar qualquer conflito.
Um único guia foi o que o suposto líder exigiu e em questão de algumas horas já estava de volta às planícies durante o anoitecer. “Ele” tomou seu tempo descansando da longa caminhada e depois tomou seu rumo em direção aonde sabia ficar o acampamento dos pseudo-centauros. Levariam mais algumas horas e o Monstro Verde era uma criatura de hábitos noturnos com a capacidade de ficar longos períodos sem dormir.
Então era incomum que estivesse com tanto sono, porém não tão estranho ao se repensar as situações exigentes pelas quais passou desde que entrou naquele maldito tunel de centopéia, a vida naquela floresta nunca podia ser facil, pelo menos não para “ele”.
Passou no lago onde virá a bruxa pela última vez e não encontrou sinal algum de vida além do buraco naquela altura já quase coberto que usou para iniciar aquela sequência de escolhas das quais já se arrependia e que ocorreram sucessivamente nas últimas horas de sua vida.
A lua já estava em seu ponto mais alto quando chegou ao acampamento dos equinos e foi recebido com aquela hospitalidade tão estranha aos habitantes normais da floresta e tão comum aos pseudo-centauros. Apesar de toda educação, as crianças não hesitaram em apontar como ele parecia horrível e nem mesmo Lauany foi capaz de evitar um comentário que apesar de educado e polido, apenas transmitia a sensação de “Você parece miserável.”
Claro que o Hobgoblin não se incomodou, afinal ele era um ser de elevada paciência (e realmente parecia horrível) que resolveu apenas deitar na primeira esteira oferecida e dormir. Apesar do cansaço, o sono demorou a vir, principalmente devido a questões que assolavam sua mente desdes as mais triviais como onde estava a bruxa (ela podia se cuidar muito bem sozinha) até as mais importantes como os elfos e humanos, indo até as mais urgentes como os últimos acontecimentos.
Repousou sem as respostas para seus problemas, mas não estava preocupado, o monstro encontraria uma solução, “Ele” sempre encontrava.
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