Índice de Capítulo


    『 Tradutor: Crimson 』


    O estilo arquitetônico das casas ao redor de Alice era desconhecido, completamente diferente de tudo que ela já tinha visto antes.

    De repente, o cenário mudou mais uma vez. Alice se viu parada dentro de uma casa. Ela olhou para baixo e viu que o chão era feito de madeira envelhecida, e a luz fraca no corredor lançava longas sombras, dando ao espaço uma atmosfera assustadora, quase horripilante.

    “Onde estou?” Alice murmurou baixinho, seus olhos examinando o ambiente escuro.

    –Hic… Hic…

    Um fraco som de choro chegou aos seus ouvidos. Atraída pelo barulho, Alice caminhou em direção a uma porta e espiou para dentro. O que ela viu fez seu coração apertar.

    Dentro da sala, uma mulher estava sentada no chão, segurando uma criança nos braços, seu corpo atormentado por soluços. Hematomas marcavam seu rosto, braços e pernas, evidência de uma agressão doméstica.

    “Eu… eu sinto muito…” A voz da mulher tremia, suas palavras abafadas pelos soluços enquanto ela se agarrava à criança.

    A criança, um menino, estava sentada em seu colo. Seu rosto estava assustadoramente inexpressivo, impassível diante da dor da mulher. Ele olhava para frente, seu olhar distante, como se não pudesse — ou não quisesse — reconhecer as lágrimas da mãe que chorava diante dele.

    “Me desculpa, Souta… Sua irmã está…” A mulher continuou a soluçar, sua voz falhando a cada palavra.

    “Huh?” A respiração de Alice ficou presa quando ela ouviu as palavras da mulher. A língua era desconhecida, mas o nome era inconfundível.

    Souta…? A mente de Alice correu, confusão rodopiando em seus pensamentos. O que estava acontecendo? Por que esse garoto e lugar está conectado a Souta?

    Ela olhou para o jovem garoto no abraço da mulher, seu coração batendo forte. Sua expressão vazia e distante parecia dizer tudo, mas ao mesmo tempo nada.

    Se isso é real, então-

    Um barulho repentino vindo de baixo interrompeu sua linha de pensamento. O som inconfundível de passos ecoou pela casa, fazendo a mulher congelar. Ela rapidamente enxugou as lágrimas do rosto, sua mão tremendo levemente.

    Ela olhou para o garoto, sua expressão suavizando por um momento antes de forçar um sorriso.

    “Seu pai está aqui… Eu tenho que ir agora.” Sua voz estava trêmula, como se cada palavra carregasse um peso.

    O garoto, Souta, não respondeu. Ele apenas continuou a encarar a mulher, seu olhar frio e inflexível, como se não se importasse se ela ficaria ou iria embora.

    A mulher, aparentemente tentando reunir alguma aparência de normalidade, deu um tapinha gentil na cabeça do garoto. Com um último olhar para ele, ela se virou e correu escada abaixo.

    Alice observou a figura da mulher se afastando até que ela desapareceu no andar de baixo. Então seu olhar se voltou para o garoto, Souta. Ele ficou ali, olhando para os próprios pés, seus pequenos punhos firmemente cerrados em uma expressão de angústia silenciosa.

    “Estou na mente de Souta, então essa deve ser sua memória… Ou talvez um produto de sua imaginação.” Alice murmurou suavemente para si mesma.

    “Mas não acho que ele desejaria fortemente que uma memória como essa se manifestasse. Então, há uma grande chance de que isso seja algo de seu passado.”

    Se isso fosse mesmo uma memória, então a criança parada diante dela tinha que ser Souta.

    ‘Sua vida passada?’

    Os pensamentos de Alice dispararam. Se isso fosse uma memória, então Souta deveria ter se lembrado de sua vida passada. Tal cena não teria aparecido em sua mente se ele já não estivesse ciente dela.

    Um peso pressionou fortemente o peito de Alice quando ela percebeu o significado disso. Ela olhou para Souta e uma profunda tristeza cresceu em seu coração. Ela queria dizer algo, qualquer coisa, para confortá-lo, mas nenhuma palavra veio. Em vez disso, ela se virou e desceu as escadas, sua mente ainda cambaleando com a revelação.

    –Bang!!

    O som de um impacto violento fez Alice congelar. Ela correu para dentro da sala bem a tempo de ver o homem — o pai de Souta, talvez — golpear a mulher de antes. A força do soco a fez bater em uma mesa próxima, derrubando tudo que havia sido colocado em cima dela.

    O homem olhou para ela, seu rosto contorcido em uma mistura de raiva e desprezo.

    “Quantas vezes eu tenho que te dizer? Hein?!” O homem gritou, sua voz áspera e cheia de raiva.

    “Eu farei isso…” A mulher murmurou fracamente enquanto tentava se levantar, sua expressão normal tentando não mostrar a dor que estava sentindo. Alice não conseguia entender suas palavras — a língua era estranha para ela — mas a violência em suas ações falava muito. Pelo comportamento deles, ela podia dizer que eram todas pessoas comuns, presas em um ciclo de abuso.

    “Um sub-mundo… Isso não é no Universo Mãe. Provavelmente é de uma dimensão inferior.” Alice analisou a situação, sua mente afiada juntando os detalhes.

    “Não há mana no ar, e as leis e conceitos são muito frágeis para serem do mesmo reino. É diferente… fracas.”

    Alice ficou nas sombras, observando enquanto o tempo passava, mas as cenas de abuso nunca pararam. Dia após dia, ela testemunhou o pai de Souta atormentando a mulher, sua crueldade fria e implacável.

    Seu peito apertava a cada dia que passava, a desesperança pesando em seu coração. Então, um dia, Alice viu algo que fez seu estômago revirar violentamente. Seu sangue ferveu de desgosto enquanto uma onda fria de intenção assassina tomava conta dela.

    O pai voltou para casa, acompanhado por vários amigos. O homem trocou palavras com eles, a conversa entremeada de risadas. Eles lhe entregaram algo — drogas, talvez — e então se moveram em direção ao quarto da mulher.

    A risada do pai ecoou pela casa, um som que fez o sangue de Alice gelar. Ele saboreou o que quer que tivesse obtido, sua voz grossa de satisfação enquanto os sons de gemidos e choros vazavam pelas paredes do quarto da mulher.

    “Haha, deixe esse quadril mais mole! Nós pagamos por isso, então você vai nos satisfazer hoje à noite!” Um dos homens zombou enquanto agarrava rudemente as mãos da mulher, forçando-se sobre ela.

    “N-Não…!!” A voz da mãe falhou, cheia de dor e medo.

    Os olhos de Alice se fecharam de repente, seus punhos se fechando tão fortemente que suas unhas cravaram em suas palmas. Cada fibra de seu ser queria parar com isso — acabar com suas vidas pelo que estavam fazendo — mas ela estava impotente aqui. Ela não podia intervir nessa memória distorcida e cruel.

    Isso era pior do que ela jamais havia imaginado. Nenhum homem deveria fazer isso com sua esposa, com ninguém.

    Seu coração gritava por justiça, mas ela estava presa nessa memória, forçada a testemunhar esse tormento sem a capacidade de agir. A raiva queimava em seu peito, mas ela era impotente para agir dessa forma. O desgosto retorcia suas entranhas.

    No dia seguinte, o abuso continuou.

    O pai, embriagado de poder e violência, golpeou a mulher com toda a sua força. Ele deu um soco forte no estômago dela, fazendo-a ofegar por ar antes de bater uma garrafa em sua cabeça.

    –Bang!!

    O som da garrafa quebrando ecoou pela casa enquanto a mãe desabava no chão, seu corpo ficando mole. Sangue escorria do ferimento em sua cabeça, acumulando-se ao redor dela como uma prova sombria de seu sofrimento.

    “Bem feito para você”, disse o pai, sua voz cheia de malícia enquanto casualmente sentava no sofá e terminava: “Eu já te mandei calar a boca.”

    Alice virou a cabeça, seu coração doendo ao ver Souta parado ali, encarando sua mãe com uma expressão vazia e oca. Seu rosto não mostrava nada — nem raiva, nem medo, apenas uma completa ausência de emoção.

    “Ei, pirralho! Me traz um copo d’água. Só eu trabalho nesse caralho de casa, sabia?” O pai mal olhou para ele enquanto falava, dispensando-o como se não passasse de um garoto de recados.

    –Tsk!

    O pai estalou a língua em aborrecimento quando Souta não respondeu rápido o suficiente. Ele pegou um controle remoto e ligou a televisão, de costas para a criança.

    Um momento depois, Souta retornou, silenciosamente oferecendo ao pai um copo de água. O pai pegou o copo sem nem olhar para ele.

    Mas então, algo inesperado aconteceu.

    Uma dor aguda e agonizante atingiu o pescoço do pai. Ele gemeu, sua mão instintivamente alcançando sua garganta. Sua visão ficou turva, e ele cambaleou para trás, agarrando a fonte da dor. Seus olhos se arregalaram quando ele percebeu o que tinha acontecido. Havia uma faca alojada em seu pescoço, sangue pingando do ferimento e manchando suas roupas.

    “V-Você…!!” Os olhos do pai se estreitaram em um olhar mortal, uma mistura de raiva e descrença. Ele se virou, seus punhos cerrados em fúria, e atacou Souta.

    Com uma força terrível, ele começou a desferir soco após soco, acertando golpe após golpe com brutalidade selvagem, sem se conter nem um pouco.

    –Ugh!!

    Souta cambaleava a cada golpe, seu corpo incapaz de protegê-lo dos golpes.

    –Bang! Bang!

    À medida que os socos continuavam, a força do pai começou a desaparecer. Seus golpes ficaram mais fracos, seu corpo ficou mais lento e a fúria em seus olhos se transformou em confusão. Seus membros tremeram e sua visão começou a ficar turva.

    “S-Seu… maldito filho da puta…”

    Dizendo suas últimas palavras, o pai caiu no chão, seu corpo se contorcendo enquanto a morte o tomava.

    Alice observou a cena se desenrolar, seus olhos se estreitando ao ver o olhar frio e vazio de Souta.

    Era um olhar que ela conhecia muito bem — a mesma expressão arrepiante que ela já tinha visto inúmeras vezes antes, pouco antes de ele acabar com uma vida. A calma repentina e brutal antes da tempestade.

    A polícia chegou logo depois, seus uniformes tomando conta do cenário. Eles começaram a investigar, tirando fotos do chão manchado de sangue e dos dois corpos. O ar estava pesado com o cheiro da morte, mas os policiais eram profissionais, seus movimentos rápidos e precisos.

    Alice observou o caos, seu olhar vagando pela cena. Era quase surreal — ninguém parecia notar o jovem garoto parado no canto. Souta ficou ali, imóvel, sua figura se misturando às sombras da sala como se fosse invisível.

    Era estranho. Ela tinha certeza de que podia vê-lo, mas ninguém mais conseguia. Os oficiais trabalharam ao redor dele sem nem o verem, seus olhos deslizando sobre ele como se ele não estivesse lá.

    Ele tem uma habilidade? Alice se perguntou. Ela examinou a área, mas não havia sinal de energia emanando de Souta. Nenhuma mana, nenhuma aura, nada que indicasse um poder ou força de qualquer tipo.

    Impossível… Ninguém aqui tem mana. O mundo ao redor deles era desprovido da essência mágica com a qual ela estava tão familiarizada. Então como era possível Souta ser tão invisível para eles?

    A mente de Alice correu com perguntas enquanto ela continuava a observar a cena se desenrolar.

    “Ele tem alguma habilidade?” Ela perguntou.

    “Uma pequena liberação de energia é mais do que o necessário para matar todos aqui.”

    Enquanto Alice estava perdida em pensamentos, a porta se abriu com um rangido.

    Um velho entrou na casa, sua presença surpreendente em sua rapidez. Ele se moveu silenciosamente,

    E assim como Souta, ninguém pareceu notá-lo. Os oficiais continuaram seu trabalho, alheios para o recém-chegado.

    O velho se ajoelhou na frente de Souta, seus olhos estudando o garoto com um olhar quase conhecedor.

    “Você tem algum parente?”, Ele perguntou, com a voz suave e gentil.

    Souta olhou para ele, sua expressão vazia.

    “Eu não sei.”

    O olhar do velho nunca vacilou.

    “Qual é seu nome?”

    “Souta Yamazaki.”

    O velho continuou a fazer várias perguntas, cada uma delas respondida de forma simples e banal.

    Mas havia algo estranho na maneira como os olhos do velho nunca deixavam o menino, um brilho de conhecimento neles, como se já tivesse entendido tudo. Depois de alguns momentos, o velho estendeu a mão em direção a Souta.

    “Você vai esquecer tudo o que aconteceu aqui”, ele disse em um tom baixo e reconfortante antes de continuar: “De agora em diante, você é meu neto.”

    Os olhos de Souta tremeram e, com um suspiro suave, desmaiou, caindo nos braços do velho. O velho se levantou, segurando o garoto inconsciente como se ele não pesasse nada. Quando o velho se virou para sair, seu olhar mudou de repente. Seus olhos se fixaram nos de Alice.

    Por um breve momento, o mundo ao redor de Alice pareceu ficar parado. Seu coração pulou uma batida. O velho não estava olhando para os oficiais ou para a sala – ele estava olhando diretamente para ela.

    Ela podia sentir o peso do olhar dele, um reconhecimento silencioso que lhe causou um arrepio na coluna.

    “Ele sabe que estou aqui.”

    O pulso de Alice acelerou, e uma sensação de desconforto tomou conta dela. A expressão do velho não mudou, mas algo em seu olhar lhe disse que ele não era apenas um espectador. Ele estava consciente dela, e isso só podia significar uma coisa: ele era muito mais do que aparentava.

    Isso não pode ser…

    Se for esse o caso, então esse velho é…

    “Sim, eu sou um Deus…” A voz do velho, calma e prática, confirmou o que Alice temia.

    O peso de suas palavras afundou, e Alice ficou congelada, processando as implicações. Alice sempre soube que os deuses existiam além do reino dos mortais comuns, mas para encontrar alguém que estava ciente de sua presença neste mundo fragmentado de memórias era algo completamente diferente.

    O velho estreitou os olhos, como se estivesse vendo através dela, seu olhar penetrante.

    “Você está olhando através da memória do meu neto, e você não esperava me ver aqui.” Ele falou como se isso fosse apenas uma interrupção inconveniente.

    “Você não veio desta linha do tempo, mas do futuro. Parece que meu neto realmente chegará lá.”

    A voz do velho ficou mais fria, sua expressão endureceu enquanto ele continuava: “O que você está fazendo aqui? Para você, isso é apenas como passar pelas memórias do meu neto, mas para mim, isso é real.”

    Suas palavras fizeram um arrepio percorrer a espinha de Alice. Não era apenas uma memória que ela estava olhando; era uma realidade viva e pulsante para o velho. Ele existia aqui, neste espaço, assim como ela.

    Alice respirou fundo e se forçou a acalmar os nervos. Ela podia sentir que essa situação estava se encaminhando para um território desconhecido, que poderia facilmente quebrar sua concentração.

    Se ela não mantivesse a mente limpa.

    “Eu sou Alice, não, Alicia Remeri Lucifer”, ela disse, curvando-se levemente em respeito, embora o peso da situação a pressionava fortemente.

    “Eu sou amiga de Souta…”

    “Lucifer…? Alguém da Raça Demoníaca?” O velho virou a cabeça ligeiramente.

    “Sim, senhor. Estou aqui porque Souta está em uma situação terrível. Ele perdeu o controle de si mesmo, então eu tive que entrar em sua mente para fazê-lo voltar a si”, Alice respondeu educadamente.

    “Perdeu o controle…” O velho ergueu as sobrancelhas enquanto olhava para a criança em seus braços. Ele estendeu a mão e estalou o dedo. Depois de um momento, ele estreitou os olhos e murmurou: “Parece que já está acontecendo… Não consigo ver o que está além, nem um pouquinho.”

    Alice olhou para o velho com uma expressão confusa. Percebendo o olhar de Alice, o velho disse: “Bem, vou explicar para você, já que preciso lhe perguntar algo. Veja, eu sou Kryvon leshi, o Patriarca do Clã leshi.”

    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.

    Nota