Capítulo 1183 - Reino Secreto
『 Tradutor: Crimson 』
Montanha Heiming.
Bem abaixo da pedra e do silêncio, jazia uma base subterrânea escavada no centro da montanha.
Luzes tênues tremeluziam sobre uma mesa de aço onde um homem de cabelos dourados com mechas roxas permanecia imóvel, com sombras envolvendo seus ombros como uma capa.
Vashno.
Diante dele estava um homem alto, de ombros largos e cabelos ruivos, com a postura tensa, como se o peso de toda a montanha o oprimisse.
Vashno não ergueu os olhos enquanto falava. Sua voz era baixa, baixa demais.
“Quantas pessoas perdemos?”
O ruivo engoliu em seco, o som alto no silêncio.
“Senhor… o número de vítimas já chega a quase dez mil.”
Um silêncio mortal tomou a sala.
Lentamente, Vashno ergueu o olhar. Uma expressão sombria e indecifrável contraiu-se em seu rosto enquanto a magnitude da perda se instalava como uma pedra fria e pesada entre eles.
Eles não podiam abandonar tudo e fugir para o desconhecido. O resto do continente também estava sofrendo, perseguido pelo Exército da Gula a cada passo. E mesmo que a fuga fosse possível, não conseguiam se conformar em deixar as pessoas daqui para enfrentar a ameaça sozinhas.
“O que devemos fazer?”, murmurou Vashno, com a voz baixa e pesada.
Raven respondeu sem hesitar: “Mais um reino secreto… É claro que lutaremos por ele.”
Um reino secreto significava oportunidade, vastos acervos de conhecimento, recursos mágicos e poder que poderiam elevar toda a organização. Era o tipo de chance que ninguém podia se dar ao luxo de ignorar.
Mas o risco era enorme.
Diversos reinos secretos emergiram nos últimos meses, cada um mergulhando a terra no caos. Cada aparição desencadeou confrontos brutais, lutas desesperadas pelo controle e rios de sangue. Inúmeras vidas foram perdidas em cada uma delas.
“Eu irei pessoalmente até lá…” Declarou Vashno.
Raven parou, virando-se bruscamente em sua direção.
“Você?”
Vashno sustentou seu olhar e assentiu firmemente com a cabeça.
…
Um dia depois.
Doranjan e Eztein atravessaram para a cidade vizinha, um lugar marcado pelo medo e pelo conflito. A fumaça se agarrava aos telhados como uma lembrança persistente das batalhas de ontem. Cada rua carregava o mesmo ritmo inquieto: vozes sussurradas, passos apressados, olhares vigilantes.
A guerra entre Anjos e Anjos Caídos deixou cicatrizes profundas nesta terra. Aqui, ninguém caminhava sem cautela.
Ao percorrerem a cidade, a verdade tornou-se inegável. Os relatos que tinham ouvido não eram exagerados — eram até otimistas.
Batalhas eclodiam todos os dias.
Às vezes, ao longe.
Às vezes, a algumas ruas de distância.
Às vezes, tão perto que dá para sentir o cheiro de carne queimada.
Doranjan e Eztein pararam num canto tranquilo, encostados numa parede de pedra, enquanto observavam a cidade.
“Mesmo neste lugar…” Eztein murmurou, estreitando os olhos e dizendo: “Há especialistas escondidos à vista de todos.”
Doranjan cruzou os braços.
“Deveríamos falar com eles?”
“Sim. Vamos confrontar um diretamente.” Eztein se afastou da parede com um baixo suspiro.
Eles percorreram as ruas até que seus sentidos os guiaram até uma taverna meio escondida nas sombras. Lá dentro, o ar estava denso de álcool e combustão. Escondido em uma mesa de canto, um homem alto com uma armadura de couro surrada bebia sozinho, como se tentasse desaparecer na escuridão.
Doranjan e Eztein se aproximaram, sentando-se em frente a ele sem dizer uma palavra.
O homem ergueu o olhar lentamente. Sua expressão não mudou, mas seus olhos se tornaram mais penetrantes.
“O que você quer?”
Eztein inclinou-se ligeiramente para a frente, encarando-o diretamente.
“Qual é a situação atual nesta terra? Acabamos de chegar. Precisamos da verdade.”
O homem os estudou, tentando sentir sua força, buscando qualquer indício de aura. Sua testa se franziu quando não sentiu nada.
Impossível.
“O que exatamente você quer saber?”, perguntou ele, cautelosamente.
“Tudo”, respondeu Eztein e afirmou: “Conte-nos o que você sabe. Se tivermos perguntas, interromperemos.”
Os lábios do homem se contraíram.
“Não é de graça.”
Eztein deslizou uma pequena pilha de moedas de prata pela mesa.
Um som metálico nítido e claro ecoou entre eles.
“Ótimo.” O homem puxou as moedas para a mão com a rapidez de um batedor de carteiras. Então começou a falar.
Ele falou de cidades devastadas, de anjos caindo do céu com asas rasgadas ou em chamas, de Anjos Caídos espreitando a noite como sombras vivas. Descreveu territórios instáveis, confrontos imprevisíveis e figuras poderosas escondidas entre civis comuns, cada uma à espera do momento certo para atacar.
Doranjan e Eztein escutavam em silêncio, interrompendo apenas para esclarecer detalhes, nomes, padrões, movimentos, figuras-chave. Sua presença era pesada, como duas tempestades disfarçadas de viajantes.
Passou-se uma hora antes que o homem finalmente parasse, com a voz rouca.
Eztein deixou cair algumas moedas extras na mesa para pagar as bebidas do homem e se levantou. Doranjan o seguiu, e juntos saíram da taverna, a porta se fechando atrás deles com um rangido.
Momentos depois, um homem magro entrou na cabine, com os olhos seguindo o casal.
“O que há com esses dois?”, Sussurrou ele.
O homem alto expirou lentamente, ainda encarando a porta.
“Não se aproxime deles”, murmurou ele.
Sua voz havia perdido toda a arrogância, substituída por algo mais próximo do medo.
“Esses dois não são comuns… Eles são perigosos.”
…
–Swoosh!!
Eztein e Doranjan rasgaram o céu como relâmpagos, o vento uivando ao seu redor enquanto corriam em direção ao reino secreto que estava prestes a despertar.
Momentos depois, desceram para um vale acidentado. O ar ali parecia mais pesado. Ficaram lado a lado no topo de uma saliência rochosa, com os olhos fixos no brilho ofuscante à distância.
Um pilar de luz surgiu, inundando o vale com mana pura. O chão tremeu. O ar se distorceu e cintilou como se estivesse fervendo. O próprio espaço se contorceu ao redor do feixe, deformando a paisagem como ondulações em torno de uma estrela cadente.
“Um reino secreto…” Murmurou Eztein e disse: “Este fenômeno não é normal. Este é gigantesco.”
“Deveria ser”, respondeu Doranjan, estreitando o olhar e dizendo: “Algo tão grande assim atrairá todos os especialistas deste país.”
Eles não avançaram. Ainda não. Ambos permaneceram imóveis, observando a violenta distorção à distância. Sabiam que não deviam se precipitar, especialmente com tantas facções à espreita, prontas para atacar ao menor dos sinais.
“Prepare-se”, disse Eztein, com um sorriso irônico e dizendo: “Desta vez, vamos fazer uma grande jogada.”
“Sem problema”, respondeu Doranjan calmamente.
Isso fazia parte do plano deles. Se Vashno estivesse por perto dessa região, ele ouviria falar deles assim que causassem alvoroço suficiente dentro do reino.
A expressão de Doranjan escureceu.
“Tenho uma sensação estranha… este reino secreto não surgiu por acaso.”
“Eu também”, admitiu Eztein e dizendo: “Esses reinos começaram a se abrir um após o outro alguns meses atrás. É como se alguém os tivesse colocado aqui de propósito.”
Os dois observavam o horizonte distorcido, a luz ficando cada vez mais intensa, quase faminta.
Algo estava para acontecer. E desta vez, não seria algo pequeno.
O tempo passou rápido.
Cada vez mais pessoas convergiam para o fenômeno — guerreiros, andarilhos, mercenários, fanáticos. Suas forças variavam enormemente, mas seu propósito era o mesmo: apoderar-se de qualquer tesouro, conhecimento ou poder que ali estivesse guardado.
O ar estava carregado de tensão, como uma tempestade prestes a desabar.
No entanto, ninguém fez nada.
Todos compreendiam a regra tácita: a luta começa dentro do reino secreto.
Assim que ultrapassassem o portão, toda a contenção seria abandonada.
Eztein e Doranjan observavam de longe, silhuetas contra os penhascos distantes.
–Ohm!!
A luz no coração do vale resplandecia, aumentando em intensidade. Ondas de energia irrompiam, sacudindo a terra como uma pulsação viva. O espaço se contorcia, se dobrava e então se abria.
Um portal apareceu.
Uma fenda cintilante na realidade, pulsando com um poder ancestral.
Todos entenderam o que isso significava.
O reino secreto se abriu.
–Boom!!
Naquele instante, inúmeras auras irromperam simultaneamente, violentas, radiantes e avassaladoras. Como um vulcão em erupção, a força avassaladora de suas energias combinadas sacudiu o vale.
Dezenas, depois centenas de figuras avançaram em disparada, correndo em direção ao portal recém-formado. O céu escureceu e trovejou enquanto ondas de poder passavam.
Eztein e Doranjan não se mexeram.
Eles permaneceram em silêncio, observando o caos se desenrolar.
As forças mais poderosas, os Anjos e Anjos Caídos, moviam-se como duas ondas gigantes, cada facção marchando com uma confiança inabalável. Eram os governantes incontestáveis de seus territórios, temidos e reverenciados em todo o mundo. Quando ascenderam, toda a multidão instintivamente se afastou.
Um após o outro, os grupos desapareceram no portal.
Somente depois que as facções mais importantes entraram, depois que o chão parou de tremer com a passagem dos exércitos, Eztein e Doranjan finalmente trocaram um olhar.
Então, sem pressa, decolaram e voaram em direção ao portal.
Atrás deles, restaram apenas alguns especialistas de menor importância — aqueles com pouco apoio, pouca influência e poucas chances.
O campo de batalha à frente não lhes seria nada amigável.
…
Eztein e Doranjan emergiram do outro lado do portal e se viram suspensos sobre um oceano sem limites.
Ondas se estendiam em todas as direções, uma imensidão azul cintilante que engolia o horizonte. Não havia terra, nem ilhas, nem construções. Apenas água e céu.
“Será este… o reino secreto?” Eztein murmurou, olhando para o céu brilhante e anormalmente claro.
“Muito provavelmente”, respondeu Doranjan. Seus olhos se estreitaram enquanto ele analisava o ar, a mana, as sutis restrições entrelaçadas no mundo.
“Este reino é enorme. Nem consigo ver seus limites. Mas uma coisa é certa: as leis aqui não são estáveis o suficiente para sustentar um ser de nível divino.”
Eztein baixou o olhar para as ondas abaixo. Algo se moveu sob a superfície.
“Sinto vida”, disse ele e explicou: “Mas apenas monstros de baixo nível. Até agora, nenhuma presença inteligente.”
Um silêncio estranho se instalou entre eles.
Sem inimigos.
Sem aliados.
Apenas o sussurro do vasto oceano abaixo.

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