Capítulo 11 - Resgate
Seis alados caíram de uma única vez. Como se as flechas tivessem acertado exatamente ao mesmo tempo, todas elas buscando pontos exatos de suas asas, impedindo-os de continuar balançando-as no alto enquanto caíam em direção ao chão, o peso da armadura fazendo-os ganhar velocidade.
O Caçador havia mirado naqueles que estavam voando, fazendo com que o dano fosse maior.
Todos olharam em sua direção, inclusive aquele que estava na frente de Danibor.
Agora!
Com a adaga nas mãos, invadi a clareira e corri na direção de meu tio. Enquanto isso, ouvia mais corpos caindo no chão enquanto o Caçador continuava mirando aqueles que estavam no ar, aproveitando que também eram alvos fáceis.
Pela direção que olhavam, descobri que ele tinha escolhido se deslocar um pouco mais para a direita, obrigando-os a olharem em outra direção para que não me vissem chegando.
Eram aproximadamente quarenta inimigos e ele tinha apenas vinte flechas na aljava. Mesmo que acertasse todas – e esse parecia ser o caso até agora -, ainda restaria quase metade deles para poderem me impedir.
O alado que estava conversando com Danibor ficou parado, olhando na direção e subitamente se virou para mim, como se me ouvisse correndo em sua direção.
Ele puxou uma espada que estava embainhada em sua cintura e se preparou para me receber, entrando em guarda.
Apertei firmemente o cabo da adaga e senti o momento em que Kairin passou por mim como um relâmpago, deixando um rastro amarelo para trás e atacou – com suas garras – o inimigo. Isso serviu para abaixar sua guarda, então eu avancei atacando enquanto procurava espaços nas juntas de sua armadura: ombros, cotovelos, pulso, joelhos. Todos pareciam bem protegidos por um material secundário abaixo do metal prateado.
Revesti meu corpo com o Vermelho, aumentando a potência dos meus golpes. Passar esse revestimento para armas era um pouco mais difícil, mas era para isso que existia o Amarelo.
Finalmente consegui penetrar a lâmina através de um espaço em seu ombro, fazendo que escorresse sangue por ali.
O alado pareceu se enfezar com meu êxito obtido e girou a espada em volta do próprio corpo, afastando tanto a mim, que tive que me defender usando minha adaga, quanto Kairin que fugiu saindo do seu alcance.
— Você tem coragem, criança. — Ele falou, sua voz rouca ganhando vez sobre o ambiente desorganizado.
Eles falavam a mesma língua que nós? Não eram para ser criaturas de outro mundo? Nós não falávamos a mesma língua nem entre nós mesmo desse mundo, o continente de Orfeán sendo fragmentado e possuindo quase cinco línguas diferentes da que usamos em Algator.
Pensando agora… O Caçador também falou comigo na minha língua.
Outros alados caíam, mas a maioria havia pousado no chão para não serem mais alvos fáceis.
— Divisão sete, vão atrás desses arqueiros! Lothael e Miniel, vamos ajudar o capitão! — Ouvi a ordem sendo dada atrás de mim e, com o canto de olho, enxerguei três alados vindo em minha direção.
Tirei um único segundo para refletir que eles achavam que eram múltiplos arqueiros que estavam nos atacando e não apenas um.
Ativei meus olhos veridianos, fazendo-os brilhar em um verde mais intenso enquanto me revelava mais detalhes sobre a batalha. Suas armaduras prateadas brilhavam mais intensamente, como se estivessem recheadas de energia prismática, assim como suas espadas e suas asas.
Uma flecha zumbiu, atingindo um dos três que vinha em minha direção. Ele gritou, um berro abafado por baixo do elmo que protegia sua cabeça e tentou se virar e eu vi que ela estava fincada em sua asa. Parecia um ponto que causava muita dor, já que ele não conseguia mais avançar.
Restavam três: aquele que era o capitão deles e os outros dois que vieram ao seu auxílio.
— Vic, pegue o general e fuja com ele daqui!
Ela caiu sobre um dos alados, esmagando-o com suas garras traseiras enquanto as dianteiras lhe dilaceravam com facilidade. A armadura prateada e suas asas brancas rapidamente foram tingidas de vermelho.
— Não vou te deixar para trás. — Ela parecia apenas me informar.
Ela atacou o outro inimigo com a cauda, mas ele pulou para fugir do seu alcance e bateu as asas, ficando no ar enquanto a encarava.
— Impossível! Os dragões deveriam ter ido embora! — Gritou o capitão deles.
Kairin, dando a volta em um longo rasante, atacou seu rosto com as asas assim que ele me encarou. Suas garras, diferente da primeira vez, encontraram êxito na segunda. Com um urro de dor, o alado bateu com a mão enluvada no pássaro-trovão, o afastando.
Não pareceu um golpe forte o suficiente para lhe machucar, embora sua asa estivesse batendo um pouco mais… Pesada?
— Você está bem?
— Sim! Ganhei um souvenir. — Satisfação veio junto com suas palavras.
O capitão dos alados estava com a mão sobre o rosto, a face suja de sangue do lado esquerdo. O souvenir de Kairin haviam sido um dos olhos do alado.
O som de metal se chocando com o solo me chamou a atenção e vi que Victoria havia conseguido acertar o segundo inimigo que lhe enfrentava, amassando a armadura em seu peito de uma forma que me dizia que ela mais estava lhe atrapalhando do que lhe ajudando.
Agora quem estava sozinho era o capitão, que se viu encarando a mim, um dragão e um pássaro-trovão que estavam prontos para continuar a batalha.
Ele rangeu os dentes e se impulsionou para o alto, batendo suas asas para ganhar mais altitude, como se estar ao alcance do arqueiro fosse menos perigoso do que ao alcance Victoria.
— Retornem agora! Matem esse dragão!! — Ele gritou alto o suficiente para que os alados retornassem.
E eles retornaram. Alguns vinham por terra e outros vinham voando baixo, a menos de dois metros do chão. Deveria ter pelo menos uns quinze ainda.
— O que você está fazendo, garota? Deveria ter fugido. — Danibor falou, caído no chão ali próximo.
Só agora reparei que os seus ferimentos não eram apenas graves, mas seriam fatais também. Ele precisava ser tratado por um curandeiro imediatamente.
Procurei no meu bolso e achei o comunicador que eu havia tirado antes, quando o coloquei no ouvido, já fui recebida com uma enxurrada de informações.
— Gakina acabou de chegar com as crianças no barco. Vamos agora, Baplin! — Era Ralik falando e, por um segundo, pensei que eles estavam me abandonando para trás.
Foi um sentimento conflitante: resgatar as crianças que Baplin queria e ir embora depois era o certo a se fazer e sequer havia um único argumento contra eles fazerem isso. Eu já havia rompido a hierarquia de comando ao ignorar as ordens de Danibor e de Ralik, quase que juntos. Me deixar para trás era o certo a se fazer. Mas…
Antes que eu concluísse meu pensamento, vi um lobo cinzento com quase dois metros de altura pulando sobre um dos alados que vinha em nossa direção. Ele o mordeu pelo braço e balançou a cabeça, movimento característico usado pelos canídeos para desmembrar seus alvos. A armadura do seu alvo parecia o suficiente para lhe proteger desse destino, mas ele ainda foi arremessado para o lado e caiu rolando.
Eles não estavam indo embora.
Vieram para me ajudar.
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