Capítulo 13 - Correr ou Morrer
Meu corpo brilhou em azul, depois em amarelo, até atingir um tom verde. Meu equilíbrio estava longe de ser tão perfeito quanto o daquele alado e meus olhos me indicavam isso, como um professor que grifa todas as partes erradas de um texto de forma gritante.
Há cinco anos, eu criara uma ilusão de minha versão futura. Aquilo havia drenado muito mais do que eu esperava na época, mas agora eu era alguém mais experiente.
Claro, uma imagem daquele tamanho ainda iria me exaurir bastante. Ainda mais depois de tanto tempo com meus olhos veridianos ativos, usando energia para potencializar meus golpes.
Então eu criei uma dúzia de imagens pequenas iguais a mim. Repliquei tanto a mim, quanto a Kairin.
E cada uma de nós correu em uma direção diferente, nos embrenhando na floresta.
As árvores nos deram as boas-vindas, suas copas nos garantindo proteção contra aqueles que vinham voando, os obrigando a pousarem ou a perderem-nos de vista.
Kairin voava baixo, circulando os troncos das árvores e desenhando um caminho para que eu o seguisse. Com sua visão aguçada, eu imaginei que ele saberia encontrar o melhor caminho.
Saltei sobre as raízes de uma árvore que estavam mais elevadas, tomando cuidado ao posar para não torcer meu tornozelo ou tropeçar em alguma outra parte do chão. Um alado apareceu pela direita imediatamente, o barulho de sua armadura me revelando sua posição antes mesmo dele chegar.
Assim que sua espada me atacou em horizontal, enquanto eu corria em sua direção, eu a rebati com a minha espada — se Kairin me deu, agora era minha — e continuei correndo.
Dentro da floresta, com as árvores tão próximas, era difícil atacar com lâminas longas como aquelas, então os alados precisavam se posicionar em locais específicos e preparar os ataques com certa antecedência, o que me dava certa vantagem: tudo que eu queria era fugir.
De repente uma flecha atingiu meu ombro de trás, atravessando e saindo na parte da frente. A dor irradiou dali quase que imediatamente, por todo o membro e amolecendo minha pegada sobre a adaga. Eu nem sabia que esses malditos tinham arcos! Apesar de que fazia sentido se tivessem. Se fosse de uma raça com a capacidade de voar por conta própria, mantendo distância dos inimigos simplesmente ficando longe do solo, a melhor forma de atacar seria com projéteis.
Para não derrubar minha adaga, guardei ela novamente em sua bainha na minha cintura e continuei correndo, mas agora eu deixava um rastro de sangue para trás. Muito mais fácil para ser seguido assim.
Olhei para trás, apenas para me assustar com o quão perto estavam apesar de usarem armaduras completas. Dois alados corriam a pouco menos de dois metros de mim, acompanhando minha corrida quase que nos mesmos passos enquanto mantinham suas asas fechadas.
Outra flecha zuniu acima da minha cabeça e essa quase acertou Kairin que voava um pouco mais à frente, liderando o caminho. O risco que aquela seta causou a vida do meu familiar me deixou com mais raiva do que aquela que ainda estava atravessada em meu ombro, doendo e me fazendo sangrar.
— A verdadeira está fugindo para as montanhas! — Ouvi um dos alados gritando atrás de mim.
Ele estava perto demais.
E não tínhamos chegado nem na pior parte do trajeto ainda: a subida da montanha. Apesar de ela não ser tão íngreme ao ponto de precisar escalar, ainda seria uma ladeira grande para se correr enquanto era perseguida pelos inimigos.
Passei por uma árvore mais fina, que não deveria ter chegado na fase adulta ainda, e cortei seu tronco com a espada que eu ainda carregava na mão direita. O resmungo que veio de trás me indicou, imediatamente, que havia acertado um dos dois perseguidores.
Restava apenas um agora.
— Tem uma parte, antes de chegar na montanha, que não vamos ter as proteções das árvores. Uns cem metros. — Kairin me preparou para o que poderia ser a pior parte.
Uma súbita rajada de dor surgiu em minha coxa direita. Rolei no chão, perdendo o impulso da corrida e me choquei contra uma das árvores na minha frente. Olhei para minha perna, confirmando a minha suspeita de que tinha outra flecha cravada ali. O sangue escorria pela minha coxa, mas agradeci que não tivesse atravessado nenhuma artéria.
Me levantei com dificuldade, apoiando em uma árvore ao meu lado com a mesma mão que eu segurava a espada roubada.
O alado que estava a poucos passos de mim continuou sua corrida, avançando com velocidade e segurou sua espada com as duas mãos, preparando uma estocada que, eu sabia, iria me pregar no tronco da árvore.
Tentei entrar em guarda, mas a flecha no ombro mandou uma nova onda de dor que me fez ver estrelas e quase senti a consciência ir embora. Estou perdendo muito sangue. Correr com o ferimento do ombro havia sido uma péssima decisão.
Assim que o alado estava quase me alcançando, sua lâmina a centímetros de minha pele, um vulto branco pulou vindo do meu lado direito e se chocou com ele, levando-o embora. Fenriz?!
É claro. Ele estava lutando contra um dos alados quando Ralik foi carregado por Victoria, então ele acabou ficando para trás. Não que Vic fosse conseguir carregar o lobo gigante também, então realmente não havia outra solução.
Fenriz e o alado rolaram por alguns segundos, seus corpos se chocando contra as árvores. O alado tinha derrubado a espada durante o choque e agora lutava com os próprios punhos.
E ele parecia muito forte.
Fenriz tentou lhe abocanhar no braço, mas ele se esquivou para o flanco do lobo e deu um soco nas costelas dele, causando um ganido do animal, que se virou rapidamente e lhe deu uma mordida, agora acertando seu ombro. O lobo cravou as garras no chão e sacudiu sua presa com força, rosnando alto enquanto aumentava a força de sua mordida.
Um estalo seco ecoou e pensei ser a armadura, mas era o ombro do alado se rompendo. Quando Fenriz deu um novo puxão, com a força revigorada, o membro foi puxado junto com a armadura que protegia os braços, deixando apenas a ombreira para trás.
Aparentemente a armadura era mais resistente do que eu esperava.
O soldado gritou, colocando a mão no ferimento enquanto seu sangue escorria e manchava a armadura prateada. Ele olhou assustado para o lobo, deu dois passos para trás e bateu suas asas para ir embora.
Outra flecha atingiu a árvore em que eu estava apoiada, a centímetros da minha cabeça. Dei um pulo para o lado, tentando me esconder enquanto identificava de onde tinha vindo o disparo.
Quando olhei, vi o momento em que um alado empunhando um arco prateado puxava uma nova flecha e a apontava para mim. Devia ter uns trinta metros nos separado. Era um disparo difícil, mas ele parecia ser muito bom nisso.
Estava prestes a disparar a flecha quando um soco lhe atingiu no rosto, derrubando-o para fora do meu campo de visão. Em seguida, reconheci o cabelo vermelho do Caçador quando ele apareceu onde antes estava o alado atirador. Ele parecia estar roubando suas flechas, assim como seu arco.
O Caçador olhou para mim, acenou como se estivesse dando tchau e sumiu novamente.
Fenriz encostou seu focinho molhado em minha bochecha, me chamando a atenção. Não tínhamos tempo para ficar aqui parado. Já haviam dado a notícia de que eu era a verdadeira e tinha um rastro de sangue para trás.
O lobo se abaixou, como se estivesse dando permissão para que eu o montasse. Peguei um galho no chão e coloquei entre os dentes e então quebrei a haste da flecha que atravessava minha perna, a parte pontuda. Imediatamente uma nova onda de dor me atingiu com força, o que também fez com que meus sentidos fossem despertados novamente.
Subi no lobo, ainda segurando a espada em minha mão direita, e deixei que ele me guiasse.
Agora que não precisava mais me concentrar em correr, percebi que parte do meu cansaço não era apenas físico. Minha energia prismática estava acabando muito rapidamente. Escolhi desativar os olhos veridianos por enquanto, concentrando uma pequena parcela da minha energia na coxa e no ombro ferido para que eu aguentasse aquela dor.
Eu não era a única ferida. A corrida de Fenriz parecia compensar para um lado, onde ele tinha tomado aquele soco do alado. No mínimo, tinha trincado sua costela. Eu torci para que fosse apenas isso. Se estivesse quebrada e ele ficasse correndo daquela forma, me carregando como peso extra, apenas iria agravar ainda mais o ferimento.
— Muito obrigada, Fen. — Agradeci enquanto tentava me segurar nele com uma mão só.
Kairin continuou em nossa frente, uma luz dourada nos guiando pelo caminho mais rápido. Finalmente alcançamos a parte desmatada que ele havia dito e eu ousei olhar para trás, apenas para ver que um grupo de cinco alados ainda voavam em minha direção.
Fenriz foi rápido o suficiente para que aqueles míseros cem metros, que seria muito para mim que estava cansada e ferida, ficassem para trás com velocidade.
— Os dois já estão no barco. Estou voltando para te buscar! — Vic me falou.
E por mais que eu quisesse que ela ficasse longe daqueles que tinham ordens para lhe matar, não consegui evitar o sentimento de alívio por saber que ela estava voltando.
Um brilho prateado zuniu do céu, aterrissando algumas dezenas de metros na nossa frente. Ele não estava usando um elmo e sua armadura prateada não parecia estar no auge de outrora.
Uma mancha de sangue seco descia no lado direito do seu rosto, um ferimento feito pelas garras de Kairin revelando que ele não tinha mais aquele olho.
Era aquele que havia capturado Danibor. O capitão deles.
Da última vez, só consegui enfrentar ele porque estava com Victoria e Kairin ao meu lado. Eu mesmo sequer tinha apresentado qualquer ameaça para ele. E Vic não estava aqui agora para me ajudar.
Eu, Fenriz e Kairin tínhamos que ser o suficiente.
O alado empunhou a espada, entrou em guarda e se preparou enquanto avançávamos em sua direção.
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