Sobrevoamos a cidade com velocidade. Lá embaixo, eu sabia, apesar de não parar para ver, que Ralik deveria estar montado em Fenriz e correndo tão rápido quanto seriam capazes de se mover no solo.

    Os três prédios da academia surgiram primeiro, com cada uma das suas cores referente as suas torres chamando a atenção como se refletissem o brilho da lua e das estrelas de volta. Tudo parecia bem, indicando que eles se aproximavam pela costa, onde treinávamos com o alado.

    Precisamos ir mais rápido! — Normalmente Victoria reclamaria de eu lhe pressionar dessa forma.

    Ela deveria entender a gravidade da situação, já que ela realmente começou a voar mais rápido quando eu falei sobre isso, dando mais de si mesma enquanto batia as asas com velocidade.

    Kairin, vá na frente e descubra onde meu tio está. Eu preciso avisar a escola! — O pássaro-trovão mergulhou, perdendo altitude enquanto usava o momento para ganhar mais velocidade.

    Segurando firme nas escamas do dragão, virei um pouco meu corpo para olhar para trás, mas sem acesso aos sentidos aprimorados de Kairin, eu não conseguia enxergar nada além da silhueta das árvores e do brilho das estrelas enquanto nos afastávamos cada vez mais do ponto onde deveria ocorrer o conflito.

    Victoria pousou na entrada do pátio da escola, aquele mesmo onde eu havia encontrado Baplin, Ralik e Gakina pela primeira vez.

    Saltei em direção ao solo, reforçando meus joelhos e meus tornozelos com uma pequena parcela de energia vermelha para não sofrer nenhum tipo de desgaste e comecei a correr para dentro quando notei que meus amigos já estavam ali fora.

    Percebendo a forma como estavam próximos em um dos bancos do pátio, senti um pouco de ternura ao perceber que Gakina e Baplin deveriam estar em algum tipo de encontro, considerando a toalha colocada entre eles com diferentes tipos de alimentos.

    Minha chegada repentina os havia assustado e eles ficaram em pé, correndo até mim para me encontrarem no meio do caminho.

    — O que aconteceu?! — Baplin foi o primeiro a perguntar, parecendo buscar qualquer sinal de machucado em mim ou em Victoria.

    — Estamos sendo atacado pelos alados novamente! — Não tinha porque ficar enrolando, então já entreguei toda a informação de cara. — Minha avó e nosso professor de filosofia vão enfrentar eles enquanto nos preparamos. Precisamos avisar todo mundo!

    — O professor… de filosofia? O substituto? — Gakina perguntou, mas já estava em movimento.

    Ouvi o deslizar de garras sobre pedras e olhei para trás apenas para ver Fenriz chegando com Ralik montado em suas costas.

    — Você achou o general?! — Ele gritou de onde estava.

    Kairin? Achou meu tio? — Repeti a pergunta, agora para meu familiar.

    Ainda não.

    Repeti a resposta para Ralik enquanto me virava para Gakina e Baplin novamente:

    — Precisamos nos preparar, avisem os diretores para se prepararem para invasão!

    A menção da palavra invasão me fez lembrar de como estava Lazil quando chegamos: com suas casas destruídas, tudo em chamas e sem o sinal de vida por perto.

    Senti as unhas se enterrarem na palma das mãos enquanto cogitava aquela possibilidade acontecendo também com a academia ou a cidade e soube imediatamente eu lutaria até o fim para impedir esse final.

    Achei, estava na casa de vocês! — Kairin avisou.

    Imediatamente me virei e escalei as escamas de Victoria até ficar sobre ela novamente, me preparando para ir atrás do meu tio quando passei os olhos pelo horizonte e identifiquei a silhueta dos alados cortando o céu escuro e passando na frente das estrelas.

    Não… Não pode ser! Se eles estavam aqui, significava que o Caçador e minha avó não haviam sido capazes de lidar com eles. Não apenas isso, mas talvez eles… Me lembrei novamente da última visão da mulher, de costas, preparada para enfrentar um exército enquanto eu fugia.

    A mesma visão que havia se repetido nessa vida.

    Ela tinha morrido?

    Fosse porque eu não bloqueei nenhum dos meus pensamentos ou sentimentos ou porque Victoria pensava a mesma coisa, suas asas começaram a bater enquanto ela se virava na direção de onde tínhamos vindo.

    — Ralik, o general está na casa da minha avó! — Gritei e ele saiu apressado ainda montado em Fenriz.

    Eu preciso saber se minha avó está bem, Vic. — Deixei fluir através do nosso laço e tudo que encontrei foi o mesmo desejo do outro lado.

    A avó Ellen era tanto uma avó para ela quanto era para mim também. Havíamos sido criadas praticamente juntas por aquela mulher.

    Só tínhamos um problema: o exército voador que se deslocava em frente as estrelas estavam no meio do nosso caminho.

    Se o que o Caçador disse estava certo: Victoria deveria ser o alvo deles, agora que sabiam que ainda existia um dragão que não havia alcançado seu auge e era o momento ideal para eliminar a ameaça.

    Use minha energia para criarmos uma ilusão! — Victoria falou enquanto conectava seu prisma ao meu.

    Igual havíamos feito naquele mesmo dia, naquele mesmo lugar, durante o desafio de Danibor para saber quem seria seu time.

    Desde então, nunca havíamos tentado fazer isso novamente.

    Mas não tínhamos tempo para testar agora.

    Concentrei minha energia prismática e o externei através do azul, a cor responsável pelos aprimoramentos mentais. Era através dela que existia a possibilidade a alternar as formas, criar ilusões como eu havia feito antes. O amarelo era o que me permitia externar essas ilusões.

    Agora que eu entendia sobre as cores, sabia que aquilo não era o uso do verde: eu não estava misturando duas cores para criar uma nova, eu estava usando as duas cores separadamente sobre a tapeçaria chamada realidade.

    Puxando a energia de Victoria, criei a silhueta de um dragão: aquele mesmo dragão que ultrapassava o tamanho de Victoria em diversas vezes.

    A mesma imagem daquele dia se repetiu ali: um dragão em seu auge como adulto, com seu tamanho superior ao das próprias torres próximas, praticamente eclipsando a cidade com suas escamas e asas abertas enquanto se preparava para receber o exército de alados que se aproximavam.

    No topo da cabeça de Victoria adulta, estava uma versão minha: agora eu tinha quase sua altura, mas ainda não era como ela. Dessa vez, ela não empunhava mais um arco, já que eu havia parado de me imaginar como uma arqueira depois que parei de treinar com essa arma. Ela carregava aquela espada prateada, que eu havia pegado com os alados.

    Enquanto eu encarava aquela nossa versão futura, tirada diretamente do meu subconsciente da forma como eu imaginava que nos tornaríamos um dia, a verdadeira Victoria não perdeu tempo e se deslocou em paralelo, fazendo um círculo para não ir de encontro ao exército alado enquanto nos desviava de sua trajetória.

    Eu deveria ficar. Deveria lutar ao lado da escola e da cidade para proteger minha vida. Com Victória, Kairin e eu poderia existir uma chance de enfrentamos eles e ainda ganharmos, não poderia?

    A quem eu estava querendo enganar? Minha avó não tinha conseguido lhes segurar, como eu esperava ser capaz de fazer isso?

    Agarrei firme nas escamas de Victoria e me mantive enquanto ela se deslocava com velocidade para onde Ellen e o Caçador haviam ficado para trás.

    Torcendo para que estivessem bem.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota