Quando entrei na academia, vi o garoto com o gato dormindo logo depois da entrada. Levantei uma sobrancelha, cutucando Baplin com o cotovelo para mostrar a cena. Ele estava em um banco, encostado na parede e com o felino usando seus braços cruzados como uma cama que parecia muito confortável. Isso explica porque ele não voltou…

    O time formado pelo general foi composto por Ralik, que ele colocou como capitão e responsável durante sua ausência, Baplin, Gakina e eu. A princípio esse time parecia não dizer nada, já que Danibor foi embora logo em seguida para fazer algo que demandasse sua atenção. 

    Participamos do final da seleção das Origens e eu posso dizer que… Minhas expectativas não foram alcançadas. Eu esperava que realmente houvesse uma escolha, algo profético sobre as pessoas que somos e quem nos tornaremos no futuro, mas na verdade é muito mais sobre o conforto de nossos familiares do que de qualquer coisa assim. 

    Por que Gakina não ficaria na torre Azul dos Pistris? Sua familiar não vivia fora da água e não havia motivo algum para ela querer ficar longe dele. A verdade é que, se havia alguma escolha de destino ou algo relacionado a personalidade, essa escolha já havia sido feita há muito tempo. Por nossos familiares.

    Baplin ficou na torre Rubus, onde Barkot se sentia mais confortável por conta das árvores. Assim como Ralik e seu lobo.  

    Eu acho que poderia escolher ficar em qualquer uma das torres, inclusive a aquática. Victoria era uma excelente predadora mesmo embaixo da água e eu já ouvi falar de falcões que mergulham para capturar suas presas em um movimento muito rápido. Assim como poderiam viver e caçar na floresta. Ou nas montanhas, voando livremente. 

    Éramos três, então eu abri votação. Foi uma votação inútil, já que eles conseguiram enxergar minha vontade por trás das minhas palavras e os dois concordaram que seria melhor ficarmos em Rubus, na floresta, já que Baplin havia sido amigável e Ralik também estava lá.

    A Academia nos preparava para a vida em si. Não tínhamos a obrigação de sair dali e entrar para uma unidade específica dos exércitos. Alguns gostariam de fazer parte da guarda costeira e da marinha de Algator. Outros preferiam se tornar exploradores, indo a lugares onde os outros jamais foram e descobrindo novas coisas.

    Com a guerra que eu sabia que ia estourar a qualquer momento, a grande maioria acabaria ingressando nas fileiras do exército para proteger Algator. 

    Nosso mundo estava sendo invadido por criaturas de outros mundos. Os reinos de Valfaror e Lithas haviam sido os primeiros a cair, com sua proximidade da ruptura entre os planos. 

    Dois exércitos diferentes pareciam vir de um mesmo lugar e aquele pequeno arquipélago com quatro ilhas se tornou um campo de batalha destrutivo. 

    Era como se dois reinos tivessem entrado em guerra entre si, mas escolheram um terceiro reino – mais fraco e que não conseguia lidar com os outros dois – como palco de sua batalha. 

    Não sabíamos de onde aqueles dois exércitos eram, mas sabíamos que eram de mundos diferentes. E que seus esforços estavam focados em conquistar nosso mundo, mas para isso eles precisariam vencer um ao outro primeiro. 

    A proximidade da Ruptura com o continente de Orfeán os tornou o principal alvo, mas sabíamos que era apenas questão de tempo até que virassem sua atenção para nós. 

    Eu sabia exatamente quanto tempo seria. 

    A invasão viria pelo mar e Gávoia seria a primeira linha de defesa a cair diante dessa invasão. 

    Eu tinha vinte e um anos da última vez, não estava preparada e minha avó tinha se sacrificado para ganhar tempo para nós fugirmos. 

    Agora seria diferente. 

    Não, essa não é uma história sobre a vida escolar e o aprendizado nela. E cinco anos na academia se passaram tão rápido quanto um piscar de olhos enquanto tínhamos aulas de biologia, física, prisma, combate e outras. Eu fiquei muito próxima do meu esquadrão e, apesar da promessa velada de que Danibor aparecia para nos treinar de vez em quando, eu não o vi mais do que três vezes nesse tempo todo. 

    Como parte do plano para manter os invasores longe de nossas terras, ele precisava viajar por todo o continente para preparar os diferentes exércitos em suas funções. Os nahuales lutam de formas diferentes e cada exército vai ter sua própria peculiaridade. E cabia ao meu tio preparar cada uma dessas unidades para que agissem em conjunto ao mesmo tempo que não entrassem em conflitos tribais.

    Isso sem contar os humanos, que em questão numérica, estão cada vez maiores. Com pouco ou nenhum acesso a energia prismática, trabalham em armas cada vez mais sofisticadas para compensar sua defasagem. 

    Eu afasto a mão da árvore que fica no terreno da casa de minha avó logo após ter deixado um pouco mais de minha energia ali. Ela está linda agora, crescendo quase no mesmo tamanho do castelo e com seus galhos parecendo fazer uma linda moldura nas torres da construção, tornando um espetáculo para quem olha de frente. 

    Como a academia era próxima de casa, eu sempre dava um jeito de ir até lá visitar a vovó Ellen e ela insistia para que mantivéssemos nosso treinamento. 

    Eu já conseguia ouvir sua contagem no primeiro segundo, quando despertava o sentido da audição. Agora treinávamos cada um dos sentidos separadamente e eu conseguia controlar as diferenças entre eles sem muitos problemas. 

    O treinamento do Amarelo era mais complexo. Sua função ainda não era tão clara para mim, já que ele não parecia funcionar sozinho. Fazia sentido vovó não querer que eu o aprendesse antes de ter um controle maior do Azul e do Vermelho. 

    O Amarelo era como… Disparar energia, mas não funcionava sozinho. Com um pouco de Azul, eu poderia criar uma ilusão igual àquela que tinha feito de Victoria e Kairin, externando uma imagem mental. E isso não era tudo. Eu também era capaz de controlar as coisas com a força da minha mente. Minha avó chamava aquilo de Telecinese e era isso que estávamos praticando agora. 

    O garfo se apoiou sobre o pedaço de carne sobre meu prato com comida e a faca fez o movimento para cortar, mas eu não os segurava com minha mão. Minha energia prismática fazia isso. Se eu colocasse força de mais, podia quebrar o prato com a faca ou com o garfo. Se eu colocasse menos, não seria capaz de cortar o pedaço de carne. 

    Acho melhor você vir para cá, o Ralik foi desafiado de novo. — Kairin disse através do nosso laço. 

    Eu o havia deixado na Academia para o caso de alguns dos membros do meu time precisarem de mim. 

    Ele sempre é desafiado. — Rebati, tentando manter a concentração. 

    Isso era realmente difícil: era como se minha mente fosse dividida, parte em conversar com Kairin mentalmente e a outra parte em fazer a tarefa na minha frente, minha avó me olhando com expectativa. 

    É, mas ele aceitou lutar contra dois dessa vez. — Kairin complementou. 

    Coloquei um pouco mais de força no garfo e o prato se quebrou. Minha avó se adiantou e pegou a carne com as mãos antes que ela caísse no chão, a mordendo. 

    — Problemas na Academia? — Ela perguntou, arriscando um palpite. Ainda com boca parcialmente ocupada.

    — É, acho que o Ralik precisa de ajuda. 

    — Mesmo que ele não precisasse, você não ia deixá-lo machucar aquele rostinho bonito dele, né? — Minha avó brincou, um sorriso zombeteiro brilhando.

    — Vó! Ele é o líder do esquadrão, preciso manter ele bem. 

    Eu fiquei de pé, me virando para subir em Victoria.

    Cinco anos… Haviam sido o suficiente para ela se tornar grande. Grande de verdade. Agora ela deveria alcançar facilmente uns quatro metros de altura mesmo quando com as quatro patas no chão. 

    — Acabaram de definir o acordo. Vão poder usar os familiares também. — Kairin transmitiu um pouco mais de urgência. 

    — Mantenha ele bem, minha netinha. Nossa família precisa continuar. — Minha avó se despediu enquanto eu subia nas costas do dragão. 

    Era mais fácil do que escalar uma montanha ou a parede de um castelo, já que suas escamas davam alguns pontos seguros para subir e não demorei muito para chegar lá em cima. 

    Victoria se impulsionou para cima, batendo suas asas e voando baixo por alguns metros enquanto fugia dos galhos mais baixos da árvore antes de verdadeiramente ganhar altitude. 

    Estávamos bem próximos da Academia e eu chegaria lá, correndo, em menos de dez minutos. 

    Montando em Vic, eu deveria chegar em menos de dois. 

    Sobrevoamos as duas torres e seus diferentes biomas, entrando no espaço aéreo de uma águia gigante – para os padrões de um pássaro, com quase cinco metros de envergadura em sua asa -, que emitiu um piado de reclamação quando foi cortada. 

    Victoria bateu mais forte suas asas e soltou uma pequena baforada de fogo, não o suficiente para lhe queimar as penas, mas apenas para lhe assustar. Sim, agora ela era capaz de soltar fogo. E era territorial o suficiente para invadir o território dos outros e não aceitar reclamações por isso. 

    Quando você é um dragão, meio que tudo se torna seu, já que ninguém pode brigar pelo contrário. 

    Eu balancei a cabeça, sabendo que agora não era a hora de a repreender por isso. 

    Pousamos na entrada da floresta da torre Rubus, onde um grupo de pessoas estava em volta do campo aberto onde o combate aconteceria. A grama era um pouco alta e chegava na altura dos joelhos. E era o local preferido para o desafio dos alunos. 

    Desafios eram encorajados para criar camaradagem, competição e constante aprimoramento. Não havia muitos desafios inter-torres, já que as condições de batalha costumavam variar muito. 

    Várias cabeças se viraram em nossa direção enquanto eu descia das costas de Victoria. Cinco anos foram o suficiente para que a surpresa inicial dos outros em se estar perto de um dragão de verdade, ainda vivo, já não me incomodasse mais. Eu esperava que isso fosse passar em algum momento, mas parecia que nunca passava. 

    Encontrei Kairin sobre o galho de uma árvore próxima, de onde era capaz de ver o centro da arena. 

    Como está a luta? — Perguntei, correndo para lá. 

    Vai começar agora. Você chegou bem há tempo. 

    A dúvida era: cheguei há tempo de que? Se Ralik havia aceitado um desafio de dois contra um, era porque ele achava que dava conta. E eu não seria aquela que iria dizer o contrário, mas precisava ver isso. 

    Às vezes uma amizade não é sobre ajudar sempre, mas estar disponível para poder ajudar quando a necessidade surgir. 

    Cinco anos haviam sido o suficiente para que meu corpo se desenvolvesse. Meus cabelos ainda iam até a metade das costas, o vermelho se tornando amarelo conforme as pontas chegavam. Meus braços estavam mais fortes, assim como minhas pernas. E, bem, meu corpo também tinha mais curvas agora. 

    Conforme eu abria espaço entre o círculo para chegar na beirada da arena natural, os alunos se viravam para reclamar alguma coisa e, ao me reconhecerem, apenas abriam espaço. 

    Eu não tinha muitas oportunidades de lutar em desafios, já que costumavam evitar me chamar. 

    O que era o oposto do que acontecia com o rapaz no centro daquele ringue, de braços cruzados e encarando dois outros jovens. 

    Ralik também havia crescido. Seu cabelo curto e cinzento era selvagem, assim como aquela pequena juba que seu lobo tinha em volta do pescoço. Seus olhos verdes eram claros e, na luz do sol, pareciam quase azuis. O queixo era mais fino e, mesmo com a idade trazendo consigo a possibilidade dele deixar a barba crescer – igual a maioria dos garotos gostava -, ele mantinha o rosto limpo. Sua pele parda contrastando com tudo isso. 

    — Você veio correndo mesmo! — Baplin apareceu do meu lado, rindo. — Ele me deve três dias de janta. 

    O garoto também havia crescido. Seu cabelo preto era queimado pelo sol, então estava desbotado em alguns cantos. E ele estava tentando deixar a barba crescer, mas ainda tinha falhas. Barkot estava em seu ombro. O mico-leão-dourado não havia crescido tanto em tamanho, embora parecesse mais esperto e com seus pêlos mais longos também.

    — Vocês apostaram que eu viria? — Senti uma pontada de raiva aparecendo. 

    Gakina apareceu do lado dele, passando o braço em volta do seu pescoço em um tipo de abraço bem afetuoso. Barkot pulou do ombro dele para o dela. 

    — Eu fui contra a aposta, só para deixar claro. — Ela disse. Ainda usava os cabelos curtos, agora ainda mais do que antes e eles não chegavam a passar da sua orelha. 

    Todos nós, nahuales capazes de se ligar aos familiares, temos os olhos verdes, mas sempre variando em tom. O dela é claro igual o de Ralik, mas não tão claro. 

    E, sim, Gakina e Baplin estavam namorando. 

    Parece que é a sina de toda surtada estressada ficar com o brincalhão que não teme pela própria vida. 

    Um movimento no canto de olho chamou minha atenção e vi que a disputa havia começado. Não existia ninguém na Academia que fosse capaz de superar o Ralik em um combate físico, mas ele não era tão bom no controle da energia prismática e o fator de ser uma luta de quatro contra dois – considerando os familiares -, deixava tudo ainda mais complexo. 

    Era de se esperar que eu, com minha idade mental de… Trinta e dois anos, fosse o suficiente para me tornar mais adulta e experiente, mas eu sentia que aquela vida passada já não pertencia mais a pessoa que eu sou hoje. Isso, somado às mudanças de um corpo na adolescência e os hormônios, me fazia questionar o quanto eu achava Ralik bonito. 

    Seus dois oponentes estavam a uns cinco metros de distância, um ao lado do outro. O da direita era Theo, com o cabelo raspado e um olhar mais duro. Seu nariz era apontado um pouco para esquerda, da última vez em que desafiou Ralik e teve o nariz quebrado. Ele estava montando um lobo de pelo preto. E esse era o motivo dos constantes desafios dele: Theo e Ralik compartilhavam o mesmo tipo de familiar e pareciam que precisavam disputar pelo título de líder. 

    Ao lado de Theo, estava Alan. Ele também tinha o cabelo raspado, mas seu bronzeado era menos intenso e a pele parecia mais vermelha. O tipo de pessoa que, quando exposta ao sol, fica parecendo um pimentão. Ele também estava sobre um lobo. Os familiares dos dois eram irmãos, então era quase como se ambos também fossem. 

    Ralik não gostava de montar em Fenriz, mas ele continuava ao seu lado, a pelagem branca, marcada pela juba arrepiada e cinzenta. Fenriz não era um lobo qualquer. 

    Por que eles não começaram ainda? — Perguntei para Kairin. 

    Tem haver com você, na verdade. 

    Arqueei a sobrancelha e apurei meus sentidos, melhorando a audição para tentar ouvir o que os três estavam conversando. 

    — … eu fico com ela e a Téia fica com a alcateia. — Ouvi Theo dizendo os termos da luta. 

    O que? Ele havia me indicado quando disse ela?

    — Primeiro que você não vai vencer. — Ouvi Ralik dizendo e só de pensar que ele estava concordando com os termos, senti uma vontade gigantesca de lhe chutar no meio das pernas. — Segundo que, apesar dela estar sob meu comando, ela não é minha. 

    Senti a raiva amainar um pouco, sabendo que não era ele quem estava me usando como aposta. Agora era Theo quem iria se ver comigo. 

    — Agora que ela já chegou, vou usar seus dentes para diminuir a grama aqui e mostrar para ela quem que é melhor. — Theo agarrou firmemente os pelos escuros do seu lobo e ele avançou. 

    Ralik descruzou o braço. Eram apenas cinco metros que os separavam, então seriam rapidamente cortados por um lupino a toda velocidade. Assim que a loba de Theo esticou as presas para atacar, Ralik se abaixou e rolou sobre a grama alta. Fenriz a recebeu com os próprios caninos e ambos se envolveram em um amontoado de pelos cinzas e pretos, forçando Theo a saltar das costas da fêmea. 

    Antes que ele caísse no chão, Ralik se aproveitou. Você não pode se mover enquanto está no ar. Lembrei de uma de nossas lições enquanto o líder do meu esquadrão acertou Theo com um soco no estômago, expulsando o ar de seus pulmões. Antes que o desafiante caísse no chão, Ralik agarrou sua camisa e o puxou para mais perto, atingindo o nariz do oponente com uma testada e o deixando cair na grama finalmente. 

    Contanto que ninguém morresse, poderiam sempre ser curados depois que o desafio acabasse. 

    Alan chegou atrasado, saltando seu lobo sobre as costas de Ralik e envolvendo seu pescoço em um mata-leão bem aplicado. Ambos caíram na grama alta e eu apenas consegui ver onde estavam por conta do amassado, enquanto rolavam e a grama amassada sob seus corpos se deslocava de um lado para o outro. 

    A expressão da loba de Alan, tentando atacar, indicava que ambos estavam rolando um sobre o outro e ela poderia acabar atacando o próprio parceiro. 

    Ali perto, um ganido pode ser ouvido e, quando olhei, Fenriz estava com as presas envolvidas no pescoço de Téia, ameaçando apertar, mas ainda sem realmente mordê-la. Era uma clara mensagem que a mandava desistir antes que ele a matasse. 

    Como era o nome da outra loba mesmo? Tentei me recordar, mas não me importava tanto assim para saber como se chamava a familiar de Alan. 

    Ela, vendo que sua irmã estava em perigo e não conseguiria ajudar seu parceiro, trotou até ficar de frente com Fenriz, rosnando. Se ele avançasse, estaria expondo o próprio pescoço e seria atacado pela outra. Pareciam estar em um impasse, mas era melhor do que lutar contra as duas diretamente. 

    Seis metros dali, vi a hora em que Ralik finalmente conseguiu se levantar e deu uma cotovelada nas costelas de Alan, acertando uma segunda e uma terceira exatamente no mesmo lugar. 

    Theo se levantou, ainda segurando o nariz, e se aproximou dos dois que estavam ainda agarrados. Ralik, em clara desvantagem, não conseguiu se defender quando o primeiro soco lhe atingiu no rosto enquanto Alan continuava lhe segurando.

    Alan deu outros dois socos no rosto, antes de acertar um soco no estômago, mirando exatamente na região logo abaixo das costelas e um pouco acima do abdômen. 

    Vi quando Ralik pareceu perder a força, a pegada de Alan em seu pescoço muito mais firme que antes, agora que tinha Theo para ajudar. Seus olhos se fecharam, como se fosse realmente desmaiar e ele soltou o peso sobre as próprias pernas. Vi a hora em que Alan sorriu, vitorioso, largando o mata-leão. 

    — Não! — Theo tentou gritar, mas já era tarde demais. 

    Ralik havia fingido o desmaio, em uma tentativa de sair daquela pegada. Assim que caiu no chão, apoiou um dos joelhos no chão e girou a outra perna em um eixo próprio, atingindo o calcanhar de Alan e, sem esperar que ele caísse no chão, usou o joelho dobrado como impulso para dar um “bote” em Theo. 

    Deu dois socos no seu rosto, praticamente retribuindo os golpes que havia recebido antes, empurrando Theo para trás a cada novo passo. Alan, recuperado da rasteira que havia tomado, tentou lhe agarrar novamente igual da primeira vez, mas Ralik jogou a cabeça para trás com força, lhe acertando o queixo com a cabeçada. 

    Aproveitando o momento em que Alan ficou desnorteado, um pouco de sangue saindo por sua boca indicando que ele tinha mordido a língua ou a gengiva, Ralik continuou sua ofensiva em Theo. 

    Deu mais dois socos, mas encontrou a guarda do desafiante levantada, não conseguindo acertar seu rosto novamente. Recuou um pouco, ganhando espaço o suficiente e pulou no ar, girando o corpo enquanto flexionava a perna esquerda e deu um chute giratório na lateral de sua cabeça. 

    Theo caiu todo amolecido. 

    Ralik passou as mão sobre a camisa amassada, tirando uns pedaços de grama presos e se virou para Alan. 

    — Só eu e você agora. — Ouvi ele dizer enquanto caminhava na direção do inimigo. 

    O desafiante ainda de pé olhou de olhos arregalados para sua loba, que estava estática entre impedir Fenriz de atacar a irmã e não podia sair de lá também. Em seguida, viu Theo, que estava caído no chão, desacordado. 

    — Eu desit- — Suas palavras foram interrompidas por um soco que Ralik acertou em sua garganta. 

    Não o suficiente para lhe quebrar a traquéia, mas o suficiente para lhe impedir de falar e dificultar sua respiração. 

    — Eu e o Fenriz até aceitamos desafios de outros lobos. — Ralik dizia muito baixo, então tive que afiar um pouco mais meus sentidos para conseguir lhe ouvir. 

    O Vermelho da energia prismática se mostrando bem útil naquele momento..

    Ele acertou dois socos no rosto de Alan: um na maçã do seu olho direito e outro no nariz. Seus socos pareciam controlados, o suficiente para machucar, mas não para nocautear. 

    — Se pensarem em envolver ela em qualquer um dos desafios novamente, eu mato vocês. — Ele disse entre os socos e acertou um último golpe forte no queixo do desafiante, fazendo balançar o cérebro e o nocauteando. 

    Um desafio envolvendo familiares não acabava quando os parceiros nahuales desmaiavam, mas quando todos estavam derrotados. .

    Ralik andou até onde estava Theo, caído e desacordado e o agarrou pelo cabelo, levantando-o além da grama alta o suficiente apenas para mostrar a parte de cima do seu tronco. 

    — Desistam. — Ouvi ele dizer, olhando para as duas lobas em confronto com Fenriz. 

    Sua mão estava sobre a garganta de Theo, os dedos em formato de garras, com as pontas encostando em seu pomo de adão. 

    Ele não precisou fazer uma ameaça vocal do que aconteceria caso não desistissem. 

    Fenriz ainda estava com o pescoço de Téia entre suas presas, sem apertar o suficiente para lhe machucar, mas em cheque com o possível ataque que viria da irmã dela a qualquer momento. 

    Com exceção de Kairin, Victoria e eu, que dividimos o mesmo laço e podemos conversar nós três juntas, não é possível entrar no laço de outros familiares. Então não era possível conversar com as duas lobas também. Bem, eu suponho que talvez Fenriz possa, já que é um lobo também. 

    Depois de um longo segundo, a familiar de Alan escondeu suas presas e foi até onde ele estava, caído. 

    Ralik, vencedor, saiu do campo aberto, seguido por Fenriz. 

    Quando me viu, ele tentou piscar para mim, mas teve o azar de usar o olho que tinha levado um soco e estava começando a inchar. Mal pude notar qualquer coisa e acabei rindo com a cena. 

    — Dois contra um? É sério? — Lhe recebi, deixando que meus olhos buscassem por mais ferimentos em seu corpo. 

    Além do olho começando a inchar, seu pescoço estava marcado em vermelho onde Alan tinha aplicado o mata-leão. Não parecia muito ferido, tirando isso. 

    — Quase foi um desafio, né? Da próxima eu vou tentar com três. — Ele riu. 

    Percebi que seu lábio também estava inchado. O que deixou a risada dele um pouco mais engraçada. 

    — Eu deveria te dar um soco por ter apostado que eu não viria. 

    Ele lançou um olhar acusatório para Baplin, que subitamente se virou e saiu andando com a Gakina ao seu lado. 

    — Não pode me culpar. Era vitória ou vitória para mim, não era? — Ralik passou a mão nos pelos do Fenriz. — Ou você não vinha e eu ganhava uma jantinha a mais… Ou você vinha. 

    — Se você tentar piscar de novo com esse olho inchado, eu vou deixar o outro inchado igual. — Me adiantei. Cinco anos eram mais que o suficiente para começar a antecipar esse tipo de coisa. 

    — Grossa. — Ele remexeu nos bolsos da calça e tirou um papel bem amassado. — Eu vou passar na enfermaria. Pode conversar sobre isso com os outros? 

    Ele saiu andando, acompanhado pelo lobo, na direção da torre. 

    Desamassei a carta e tive um pouco de dificuldade em ler seu conteúdo logo de primeira. 

    “Partiremos no próximo final de semana. Já falei com a Academia para pegar a dispensa de vocês. Prepare todos e me encontrem no porto.” 

    Nossa primeira missão como esquadrão especial do general Danibor havia chegado. 

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