— Que tipo de convocação é essa? — Barkot estava segurando a carta Baplin ler, mas estava de cabeça para baixo.

    E ainda sim, de alguma forma, Baplin estava lendo normalmente. 

    Gakina estava em um mergulho junto com seu familiar e nós dois estávamos sentados em uma rocha, vendo o mar enquanto a esperava. 

    O horizonte se estendia e não era possível enxergar nada além do mar que se encontrava, no infinito, com o céu azul. Nenhuma ilha próxima ou outra terra acessível por perto. 

    Exceto por um pequeno barco pesqueiro que estava muito próximo da costa que Gakina estava flutuando ao lado dele, aparentemente batendo boca com o pescador lá dentro. 

    Apesar da forte ligação com a natureza e com os animais, os nahuales não deixam de se alimentar com eles. Exceto por aqueles que escolhem seguir essa dieta, como é o caso de Baplin. 

    Ainda assim, pescar tão perto do território da Academia não é recomendado: não porque você pode acabar ferindo um familiar sem querer, mas porque pode acabar sendo ferido por eles por invadir seu espaço. 

    Familiares não são animais comuns que se ligam a nós, são criaturas especiais. Assim como nem todos os mortais possuem energia prismática, nem todos os animais podem fazer essa ligação, apenas aqueles que possuem predisposição para gerar sua própria fonte de energia. 

    O azul da torre Pistris estava presente não apenas na água do rio e do mar, mas também na bandeira com o símbolo de um tubarão. Sempre achei estranho escolherem um tubarão como símbolo, enquanto Arashi usa uma montanha e Rubus usa uma floresta. O habitat faz muito mais sentido que escolher um animal. 

    — Não faço ideia. O Ralik deve chegar para explicar melhor para nós depois. — Respondi. 

    Eu estava sozinha agora. Não havia muitos perigos dentro da área da Academia para que Victoria e Kairin ficassem sempre comigo, mas eu sabia que chegariam ali bem rápido caso a necessidade surgisse. 

    Estava mais preocupada com outra coisa. 

    Não sabia até que ponto eu via com bons olhos o fato de Ralik ter impedido o Alan de desistir, embora eu mesmo quisesse bater naqueles dois por terem sequer tentado me envolver na aposta. 

    Eu vejo com muitos bons olhos. — Kairin falou, sua voz meio abafada indicando que estava longe. 

    É claro que sim, você é uma águia.

    Nossa. — Ele respondeu. — Que piadinha horrível. Você está andando muito com esse moleque do macaco.

    Apesar disso, consegui sentir que ele estava se divertindo enquanto falava. 

    Gakina saiu da água um pouco depois, vindo direto até nós dois. 

    Esse era apenas o nome de sua família. Era como me chamar de Veridion. Não estava totalmente certo, mas não era errado também. 

    Era assim que ela preferia, no entanto.

    — Será que um dia eu vou conseguir conhecer a vespinha? — Baplin perguntou assim que ela chegou. Ele parecia estar olhando para a água do mar, tentando ver a familiar dela.

    — O nome dela é Nex. E ela disse que se você chamar ela de vespinha de novo, vai almoçar macaco no café da manhã. — Gakina se sentou ao lado dele, se esticando no sol para secar seu corpo. 

    Admirava ela conseguir nadar apenas de biquíni mesmo com qualquer um podendo olhar. A maioria dos outros alunos que iam para água para passar um tempo com seus familiares costumavam usar roupas de mergulho. 

    — O Barkot disse que ela pode tentar. — Baplin deu uma risada quando o mico-leão-dourado puxou sua orelha, brigando com ele. Quase como se dissesse que não era exatamente isso que ele havia dito. 

    O rapaz lhe entregou a carta amassada que estava nas mãos do macaco para que ela pudesse ler também. 

    — Já não era sem tempo, né? — Ela devolveu a carta depois de ler. 

    Ralik chegou um pouco depois. O cabelo estava molhado e ele usava o uniforme padrão da academia: uma camisa verde, com um tom parecido com o de uma folha na primavera, e uma calça preta. A única diferença que existia entre as camisas era o símbolo no ombro que indicava qual era a Origem. 

    Era estranho ver ele sem Fenriz por perto. 

    — Parece que te consertaram direitinho. — Falei enquanto ele se aproximava, vendo que seu olho já não parecia tão inchado quanto antes. 

    Com o Vermelho, alguém experiente seria capaz de curar a si mesmo ou curar os outros. Exigia muita prática. Prática que ainda não tínhamos. E nunca saia completamente perfeito. Mesmo com o uso da energia prismática, um corte profundo ainda deixaria uma cicatriz. 

    Ele deu de ombros e se sentou também, tirando um minuto para olhar para o mar. 

    — Queria ser um pato, mas pato não posso ser. — Balin começou a falar do nada. —  Pato fica na água, no ar e na terra. E eu só quero ficar com você. — Ele estava olhando fixamente para Gakina.

    — Você o quê? — Ela respondeu, perplexa. 

    — Era para ser romântico. — Ele se justificou. — E sabe… Ficar na água… Com você?

    Barkot pulou do seu ombro para o ombro dela. Como se estivesse lhe abandonando.

    — Calma ai, amigão. Essa foi boa. Não foi não? — Baplin olhou para mim e para Ralik, procurando apoio. 

    Massageie os olhos com a mão e respirei fundo, escolhendo ficar em silêncio. 

    — O próximo final de semana é tipo… Amanhã? — Perguntei. 

    — Sim, amanhã de manhã vamos até o porto. — Ralik se remexeu na rocha, ficando de costas para Balin e Gakina. 

    Ele ainda ficava desconfortável com a facilidade que ela tinha em mostrar tantas partes de sua pele. Ele não era alguém que havia nascido em Gávoia e não estava acostumado às pessoas que moravam próximo a praia, e no porto em si, ficarem com menos roupa por conta do calor excessivo. 

    — Você está se arriscando muito. — Falei, depois de um tempo. — Sabia que tínhamos uma missão e aceitou um desafio contra dois de uma só vez? 

    Ele não desviou o olhar para mim enquanto me ouvia, seus olhos se mantendo fixos no mar. 

    — Acho que vão tentar me desafiar em três, da próxima vez. 

    Arqueei a sobrancelha, perplexa. 

    — É só recusar, né? 

    — Seria bem mais fácil recusar mesmo. 

    A forma como ele respondeu, me deu indicou que ele não queria mais tocar nesse assunto e eu respeitei sua decisão. 

    Ano que vem seria nossa formatura da Academia. 

    Para se formar, era preciso completar o vínculo familiar. Até agora, apenas o que nos ligava, eram nossas energias prismáticas. 

    Completar o vínculo era o ato de ligarmos nossas vidas. 

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