Índice de Capítulo

    Tradução: Nimsay


    Pic. Uma gota de água caiu da ponta de uma estalactite.

    Olhei para cima, onde uma luz fraca penetrava por um buraco no teto. 

    A temperatura estava mais baixa do que o esperado. Baixa o suficiente para que, sem camadas extras de roupa, uma pessoa começasse a tremer de frio.

    Sentei-me em uma pedra saliente no canto da caverna e engoli uma poção. Esta foi minha segunda garrafa. Com isso, eu havia esgotado todas as poções de cura que tinha.

    No entanto, a dor latejante que parecia vir de dentro do meu corpo, provavelmente devido ao uso prolongado do Exceder, permaneceu inalterada.

    — …

    Olhei para o lado. Em frente ao lago, no meio da caverna, Pria estava agachada, sentada.

    — As tropas…

    — Estão mortas, provavelmente — respondi brevemente. Não tinha sentido esconder a verdade.

    O exército de Assinis, enviado à ilha flutuante para recuperar a chave, foi completamente exterminado.

    Todos os oficiais, incluindo Delphin, foram mortos, e as tropas restantes no acampamento foram massacradas sem um comando central.

    ‘Isso é problemático.’

    Levei o frasco de poção vazio à boca.

    A missão de fuga teve sucesso de alguma forma. Saber as rotas de fuga com antecedência ao explorar o acampamento foi uma grande ajuda.

    A ilha flutuante Asrank tinha passagens subterrâneas quase tão vastas quanto a superfície.

    Uma das centenas de entradas era em um penhasco. No entanto, o penhasco onde a caverna estava localizada era bem cortado, então tive que realizar uma façanha quase acrobática de escalar de milhares de metros acima do solo.

    Coloquei o frasco de poção no chão.

    Embora a fuga tenha sido bem-sucedida, não consegui retornar para a Sala de Espera, e o portal dimensional também não abriu.

    Eu ainda estava preso.

    ‘Esta ainda é uma missão pessoal?’

    Olhei para o lado direito do meu campo de visão. A janela do objetivo da missão, que deveria estar lá, estava vazia. Não houve notificações de missões ou objetivos.

    Eu já havia vivenciado missões desconhecidas antes, mas nunca nessa extensão.

    Nem a mensagem de conclusão tinha aparecido. Eu não tinha ideia de em qual andar eu estava ou que tipo de missão era essa.

    O que deveria ser isso?

    Mordi meu lábio.

    Três entidades de nível de chefe apareceram simultaneamente, e as séries de Fragmentos que normalmente apareceriam no octogésimo andar, apareceram. Isso excedeu qualquer nível de dificuldade.

    Poderia até ser chamado de erro no sistema.

    ‘Ela não disse algo sobre transcender?’

    Lembrei-me das palavras de Persene. Transcender e libertar todos os que sofrem.

    Se a situação atual era intencional, eles eram claramente irregulares.

    ‘Isso é tão problemático… Que dor de cabeça.’

    Não houve uma melhora. Era impossível convocar os membros da Sala de Espera e nem havia contato.

    Pelo visto tenho que prosseguir com a missão do jeito que estou. Sem poder receber suprimentos ou poções.

    ‘Por ora…’

    Segurei minha cabeça latejante. Tenho que organizar as tarefas que preciso fazer e priorizá-las. Não há tempo a perder.

    Se os monstros dentro do ovo fossem despertados, a situação ficaria muito pior. O tempo não estava do meu lado.

    Compilei as informações que ouvi de Delphin, Adel e Pria. Embora a janela da missão não estivesse visível, eu conseguia entender o objetivo.

    Colete a última chave em algum lugar do subterrâneo e retorne o ovo na superfície para seu lugar original. O limite de tempo é antes que aquela coisa ecloda.

    ‘O problema é… Eu não consigo entrar em um confronto direto.’

    Eu não posso garantir uma vitória contra nenhum dos três.

    Se ao menos fosse um dos comandantes, seria um pouco administrável. Mas eles comandavam milhares de soldados. Por outro lado, eu estava sozinho sem as pessoas do meu grupo.

    Tenho certeza de que eles também sabem o objetivo da missão. É por isso que não estavam me perseguindo diretamente, mas me esperando em um local adequado.

    Porque era eu que estava com pressa.

    — Uhhh. — Um suspiro escapou naturalmente. Já fazia tempo que eu não me sentia assim.

    ‘Nenhuma resposta.’

    Um confronto direto era impossível. Não consegui pedir suporte. O que eu deveria fazer? Realizar um ataque suicida?

    ‘Se pelo menos houvesse alguns sobreviventes…’

    Se houvesse, poderia usá-los como isca e me infiltrar. Entretanto, a julgar pela situação do cenário, a probabilidade de sobreviventes era próxima de zero.

    As forças inimigas consistiam em milhares de soldados bem treinados e três monstros que ultrapassavam o nível padrão.

    Enquanto aqui… havia apenas um herói de quatro estrelas ferido e uma personagem não jogável não-combatente.

    ‘Eu me pergunto o que Qlqr1 pensaria.’

    Se ela entrasse à noite, seria capaz de entender a situação e como estava indo a missão. Depois disso, poderia enviar um relatório de erro para Mobius.

    Na minha tese, analisando centenas de missões, nunca houve um caso assim.

    É impossível. Isso é o que meus instintos de mestre me disseram. A probabilidade de sucesso nesta missão era inexistente.

    ‘Caramba.’

    Cerrei os dentes.

    Então, eu deveria morrer aqui? Quando foi que eu comecei a me mover com base na taxa de sucesso?

    — Han. — Desviei meu olhar. Os ombros de Pria, agachados em frente ao lago, encolheram. — O que devemos fazer?

    — …

    — Se as tropas foram mortas, poderemos recuperar a chave?

    — Não saberemos até tentarmos.

    — Eu sou tão inútil. Eu sinto muito.

    — Não olhe para baixo. Ainda não acabou. Temos que tentar o que podemos.

    — Desculpa.

    Isso é frustrante.

    Aproximei-me de Pria, que estava agachada abraçando os joelhos. Suas pequenas mãos brancas tremiam.

    — Eu vou sair, então fique parada. Se algo acontecer, grite.

    — Onde você está planejando ir?

    — Precisamos comer.

    O interior da caverna era bastante frio, logo precisaríamos de lenha.

    Pria assentiu levemente.

    Desembainhei minha espada até a metade e vi uma rachadura clara ao longo da lâmina. Essa era uma réplica do Bifrost, que foi bastante danificada na batalha.

    ‘Isso também não vai durar muito.’

    Embainhei a espada e saltei para a rocha alta. Escalei as pedras salientes e as estalactites e pulei pelo buraco no teto.

    Uma densa floresta apareceu imediatamente, era a região noroeste da ilha flutuante.

    Decidi pensar nas consequências mais tarde e resolver o que poderia fazer primeiro.

    Essa missão seria de longo prazo. Para preservar minha condição, precisava montar um acampamento onde pudesse descansar.

    ‘Encontrar comida e lenha não será muito difícil.’

    Peguei um punhado de pedras do chão. Um coelho que estava prestes a pular a raiz de uma árvore chamou minha atenção.

    Depois de um tempo, joguei uma rede no chão. Ali continha dois coelhos, um esquilo e um pardal. Todos estavam mortos ou inconscientes. A rede elástica era um equipamento de sobrevivência que eu havia embalado antes da missão começar.

    Meu braço esquerdo estava cheio de lenha. 

    Cobri a entrada com arbustos e entrei na caverna.

    Empilhei a lenha em um círculo e esfreguei-a para acender o fogo.

    Eu estava prestes a me preparar para o abate quando Pria interferiu.

    — Eu também vou ajudar. — Ela se aproximou. — Não posso deixar você fazer todo o trabalho sozinho. Pelo menos isso eu deveria fazer.

    — …

    — Não se preocupe. Tenho muita experiência em acampamento.

    Pria sorriu levemente e abriu uma parte da rede.

    Se ela quisesse fazer isso, tudo bem. Eu lhe entreguei uma adaga afiada.

    Logo. Pria habilmente cortou a garganta do coelho. Sangue começou a escorrer imediatamente.

    ‘Eu também devo ajudar.’

    Agarrei o pardal pela asa e puxei-o para fora. Este ainda não tinha sido morto, estava apenas inconsciente.

    Decidi cortar sua garganta. Peguei a adaga, segurei-a em um aperto reverso e…

    — …?

    O pardal estava tremendo.

    De repente, o pardal pulou como um peixe voador, e um relâmpago vermelho escuro brilhou.

    ‘O que é isso?’

    Ele estava claramente inconsciente. Segurei o pescoço do pardal e pressionei a adaga.

    < Espere! Não me mate! >

    — …

    < Não me mate, eu disse! Sou eu, eu! >

    — Quem é você?

    < Eu sou o grande governante dos tempos antigos, Halkion Syraos! >

    — Que nome complicado.

    Eu movi a adaga.

    — Pìiii! — O pardal abriu bem os olhos e escapou das minhas mãos. Ele levantou as asas como se quisesse me ameaçar.

    — Han, o que está acontecendo?

    — Nada.

    — Uhm!

    Agarrei o bico do pardal, levantei-o e coloquei a criatura se contorcendo debaixo do meu braço. Este não parecia o lugar certo para falar. Havia outra pessoa ali ouvindo.

    Movi meu corpo para trás de um pilar na caverna.

    < Você é insolente! >

    Quando coloquei o pardal no chão, ele balançou as asas ferozmente.

    — Eu disse para você não agir assim.

    — Piiip! — O pardal, atingido por um amendoim, rolou no chão.

    < …Seu temperamento continua o mesmo. >

    — Como você chegou aqui? Eu não te trouxe comigo.

    Eu havia instruído Isel a mantê-lo sob vigilância rigorosa. Certamente, ele deveria ter sido trancado em um galinheiro no estábulo.

    < Hmph, você acha que uma gaiola surrada pode me parar? >

    — Não seja arrogante e explique.

    < Eu posso transcender. >

    — Explique em termos simples.

    Essa foi outra anomalia. Esse cara deveria ter ficado preso na Sala de Espera.

    < A barreira entre a Torre e Taoni diminuiu. >

    — …O que você quer dizer?

    < Você causou uma grande confusão. >

    O pardal riu.

    < Originalmente, há uma parede intransponível entre a Torre e este mundo. Você sabe disso, certo? A Torre de Mobius é uma dimensão mais alta que Taoni. É por isso que o tempo flui de forma diferente, e os eventos se repetem várias vezes. >

    — …

    < Essa diferença foi reduzida. >

    A diferença diminuiu.

    — Você está dizendo que estamos fisicamente mais próximos?

    < Você poderia dizer isso. Não está errado. >

    O pardal assentiu.

    — Isso deveria ser possível?

    < Não. Assim como vocês, heróis, não podem escapar das restrições da missão, os monstros não podem escapar de seu destino. Este lugar foi projetado dessa forma. Normalmente. >

    ‘…Normalmente.’

    O pardal dobrou as asas e olhou para mim.

    < Parece que você precisa da minha ajuda. >

    Eu não podia negar. Afinal não tinha ideia do que estava acontecendo.

    < Você não está curioso do porquê a dificuldade de Taoni ser tão confusa, por que vários erros estão aparecendo nas missões e como as entidades de nível de chefe estão pulando andares? >

    — …

    < Hmph, eu vim aqui para te contar sobre isso. Eu  me arrisquei para fazer isso. >

    — Como você sabe?

    < Eu estava no mesmo lugar que eles. >

    O pardal continuou a dizer.

    < Há uma área chamada Prisão no subsolo da Torre. Assim como a Torre confina os heróis, a Prisão confina os monstros. Eles são criados lá e convocados para o campo quando necessário. Após morrerem, eles são regenerados. >

    Prisão. Era um termo que eu estava ouvindo pela primeira vez. Ter outro espaço embaixo da Sala de Espera também era novidade para mim.

    Mas, pensando bem, faz sentido. Se monstros fossem convocados para os cenários como heróis, eles precisariam de um lugar para ficar.

    < A Prisão é estritamente dividida por andares. Um monstro de um andar superior nunca pode descer. O inverso também é verdade. É uma prisão inescapável. >

    — …

    < Esta é uma característica comum das cem milhões de contas existentes no Mobius. >

    Eu me levantei  e vi que Pria estava grelhando carne atrás de mim.

    Caminhei em direção a um caminho lateral na caverna.

    ‘Há algumas regras simples em Escolha-me!.’

    Os monstros são sacrifícios para que os heróis fiquem mais fortes. Eles não podem sair da área designada, e monstros comuns são ressuscitados diversas vezes. Mesmo monstros com nomes especiais, se ressuscitados, são devorados pela Masmorra do Advento.

    Portanto, a maioria das missões em Escolha-me! são estruturadas como batalhas de extermínio.

    Existem algumas variações, mas o objetivo é matar monstros e ficar mais forte. Não há monstros na missão que não possam ser mortos ou conquistados.

    Lembrei-me da lista de missões que havia vivenciado em Taoni.

    De fato…

    — Isso é estranho.

    Taoni estava desalinhada.

    < Vou te contar uma velha história. >

    — Eu tenho que ouvir?

    < Claro. A resposta está dentro dela. >

    — Então vá em frente.

    Cheguei a um ponto onde não entrava luz.

    Sentei-me e o pardal começou a falar.

    < Taoni originalmente não era um lugar só. >

    — …

    < Era meramente um espaço caótico onde os limites das quatro dimensões se torciam e se encontravam. As quatro dimensões são… >

    — Halkion, Lantia, Assinis, Shutenberg.

    < Correto. Eu, ou melhor, nós, éramos originalmente os governantes de cada dimensão. >

    O antigo governante de Halkion, Syraos, agora como pardal, dobrou suas asas e pousou no chão.

    Seus olhos pareciam distantes.

    < Estávamos destinados à extinção. Os limites das dimensões estavam se entrelaçando, engolindo tudo. Estávamos em maus termos também. Se deixados sozinhos, teríamos travado guerra até que um lado sobrevivesse. O lado sobrevivente também não teria durado muito. >

    — …

    < Naquele momento, um homem apareceu de dentro da fronteira. >

    Syraos continuou.

    < Ele era um homem humano comum, insignificante e fraco. Ele nem sabia de onde veio ou o que fazia. >

    — …

    < Aquele homem se tornou o primeiro imperador do Império. >

    O pardal olhou para mim.

    < E você… realmente cheira como ele. >


    Eitaaaa… Senta que lá vem a história! *Som de trombetas do Castelo Rá-Tim-Bum*

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    Até a próxima~~

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