Noctavellis estava viva, marcada pela fuligem e pelos buracos nas muralhas, mas não derrotada. Retornei da floresta com a espada ainda vibrando e os ombros tensos. A cidade estava silenciosa, mas não pela morte; havia expectativa nas janelas e nos becos. O povo, que havia consumido ilusões, ansiava por algo real. Eu lhes daria isso.

    A reconstrução não começou com presença. Antes de organizar engenheiros e trabalhadores, fui sozinho até a praça central. Eu estava sem cortejo, sem armadura, apenas com minhas roupas negras de mana, a espada embainhada na cintura e as mãos vazias. Vi os olhares me seguindo das janelas e das sombras: crianças descalças, velhos com os rostos marcados, soldados escorados em suas lanças. Subi em um caixote de madeira e falei.

    — Esta cidade é uma invenção minha. Mas vocês a tornaram real. Sobrevivemos ao cerco não porque eu sou um imperador. Sobrevivemos porque vocês recusaram morrer. Então, a partir de hoje… reconstruiremos juntos. E Noctavellis renascerá não como um castelo de ficção, mas como um símbolo eterno de resistência.

    As palavras causaram choro, alívio, e deram fé. Perséfone apareceu minutos depois, caminhando com a mesma solenidade de sempre. Ela segurou minha mão sem dizer uma palavra, mas o toque bastou. O povo entendeu a mensagem não dita: a Imperatriz da Morte estava ao lado de seu imperador, e mesmo assim, a vida seguiria.

    Começamos pelos poços e fontes. A água havia sido envenenada por magias ilusórias de Abaddon. Elder Senn, agora recuperado, liderou necromantes e encantadores para purificar as cisternas com runas de reversão mágica. Eu mesmo desci ao primeiro poço com um grupo de operários, usando minha mana para cristalizar os detritos. Viam cada copo d’água ser purificado como um milagre.

    Em seguida, vieram as padarias e forjas. Transformamos o antigo templo dos Deuses Inexistentes em um centro de produção comunitária. Os fornos da cidade foram realinhados por Maximus, que redesenhou as caldeiras com canalizações de calor feitas com mana endurecida. O cheiro do pão voltava a circular pelas ruas.

    As casas mais pobres receberam prioridade. Abri os depósitos secretos do palácio e mandei distribuir madeira, mantos e pedras encantadas de calor. As ruas que haviam sido dominadas pelo medo agora carregavam o som de martelos, preces e crianças correndo. As muralhas foram reforçadas com mana morta sólida. Eu mesmo ergui as mãos e deixei que as serpentes negras se entrelaçassem nas rachaduras, formando costuras mágicas que se moviam levemente, alertando sobre qualquer intrusão mágica. Lucan de Braxus, mesmo com o braço enfaixado, treinava novos guardas.

    Na Avenida das Máscaras, onde outrora havíamos desfilado ilusões, criamos um novo monumento. Uma estátua coletiva. Não minha. Não de Perséfone. Mas do povo. Milhares de rostos esculpidos em um único bloco cinzento, representando a cidade inteira. As crianças ajudaram a modelar o rosto de suas mães, os aprendizes moldaram os de seus mestres. A estátua era imperfeita, assim como nós, mas era real.

    Perséfone e eu caminhávamos entre os escombros reconstruídos. Ela me encostava em uma parede de tijolos frescos, olhava nos meus olhos e dizia:

    — Você está renascendo junto com ela.

    Eu acreditava. Na última luz do sexto dia, subimos na muralha norte para observar o horizonte. A fumaça dos acampamentos inimigos havia recuado, mas eu sentia que a guerra dele havia apenas mudado de forma.

    Perséfone apoiou a cabeça em meu ombro.

    — Eles não entenderam o que construímos aqui, amor. Eles acham que é uma cidade. Um ponto no mapa. Mas é muito mais.

    — O que é, então? — perguntei.

    Ela olhou para mim, com o sorriso de quem já sabe o fim da história.

    — É um coração. E agora que voltou a bater… vai ser impossível matá-lo.

    Lá embaixo, Noctavellis respirava de novo. Não como um castelo de ficção, mas como um império de alma.


    No dia seguinte, o último dia desse império de faz de conta, o aroma do chá de flores escuras pairava no ar. A luz dourada da manhã escoava pelas janelas do quarto imperial, filtrando-se por entre as cortinas translúcidas. Meu corpo ainda trazia as marcas da reconstrução: calos nas mãos, hematomas que não tive tempo de curar e músculos enrijecidos. Por um instante, porém, havia paz. A mesa era simples, com pão rústico, manteiga feita na cidade e frutas frescas. Meu chá era amargo, o dela tinha o aroma de flores escuras.

    Perséfone sentava-se na ponta oposta da mesa, com as pernas dobradas sob si, os cabelos brancos bagunçados e um dos meus mantos escuros cobrindo os ombros nus.

    — Amor… — sua voz era morna, baixa. — Se você continuar encarando essa manteiga por mais cinco minutos, acho que ela vai se declarar.

    Sorri.

    — Estava tentando lembrar como era nossa primeira manhã juntos. Antes disso tudo.

    — Hm. — Ela se esticou como uma gata, fechando os olhos. — Era mais silencioso. Você mal falava. Só me olhava como se tivesse medo de estar sonhando.

    — E hoje?

    — Hoje você ainda olha assim. Mas agora tem coragem de tocar.

    Coloquei minha xícara sobre o pires e estendi a mão. Nossos dedos se entrelaçaram com naturalidade, e por um momento o mundo lá fora deixou de existir.

    — Quando tudo isso acabar — murmurei — vamos tirar um tempo. Só nós dois. Sem política. Sem batalhas. Talvez visitar aquele campo de lavanda que você me mostrou uma vez nos sonhos.

    — Eu vou te cobrar essa promessa. — Ela sorriu, mas havia tristeza na borda do sorriso.

    Antes que eu pudesse responder, três batidas secas e precisas cortaram o ar. Um silêncio denso se espalhou. A mão dela apertou a minha com força.

    Levantei-me. O homem diante de mim vestia um manto escarlate com o símbolo queimado de um círculo invertido. Não era um mensageiro comum. O cheiro de enxofre o acompanhava, e seus olhos eram como brasas incandescentes.

    — Mensagem de seu senhor? — perguntei, já sabendo a resposta.

    Ele inclinou a cabeça com formalidade vazia e ergueu um pergaminho selado com mana negra solidificada. Peguei o rolo. O selo se desfez em fumaça púrpura no meu toque, e as palavras saltaram à minha mente com uma voz gritante:

    “Imperador Hades. Venha. Enfrente-me. Um duelo entre reis. O vencedor governa. O perdedor se curva ao esquecimento. Amanhã, ao amanhecer. No campo que separa seus muros da morte. — Abaddon, Filho do Caos.”

    Fechei o pergaminho e olhei para o emissário.

    — Vá. Diga ao seu mestre que estarei lá.

    — Ele já sabia que aceitaria.

    As brasas em seus olhos brilharam. E então ele se desfez como cinzas pelo vento.

    A sala do trono estava repleta de conselheiros, generais, nobres e sobreviventes. Todos olhavam para mim com um misto de respeito e terror.

    Maximus estava sentado à minha esquerda. Perséfone permanecia à direita, calada.

    — É obviamente uma armadilha — disse a conselheira militar. — Se você for, cairá em algum truque. Se não for, dirão que é covarde. Mas ainda assim estaremos vivos. A cidade estará viva.

    — E se eu for e vencer?

    — Então teremos salvo Noctavellis por mais um dia. Mas a que custo? Sua vida é o símbolo deste império.

    Maximus pigarreou e se levantou. A luz da sala marcava seu rosto em duas metades: uma coberta por cicatrizes de guerra; a outra, pela glória.

    — Ouçam bem. — Sua voz era uma muralha. — Um imperador que se esconde não é digno de sua coroa. O povo o seguiu por causa de sua coragem. Pela justiça. Pela esperança. Se ele recuar agora, perderá tudo o que construiu. Não amanhã, mas hoje, aqui.

    Ele me encarou.

    — Se você lutar… lute para matar. Não por honra. Não por espetáculo. Lute como se Perséfone estivesse presa entre as mãos dele. Porque, no fundo, é isso que estará em jogo.

    Os conselheiros murmuraram, mas ninguém mais se opôs. A decisão estava tomada.

    Voltamos ao quarto naquela noite,. Perséfone deitou-se comigo em silêncio. O vento era frio lá fora, mas seu corpo era quente contra o meu. Estávamos deitados de conchinha, mas ela tremia.

    — Está com medo, amor?

    Ela demorou a responder.

    — Não do duelo. Estou com medo… de não ouvir mais sua voz depois. De não sentir seu toque. De não saber se o sol vai nascer amanhã sem você ao meu lado.

    Virei-me e a puxei para cima de mim. Toquei seu rosto, acariciei os fios brancos.

    — Eu volto. Porque eu prometi. — Meus dedos tocaram os dela. — E eu nunca quebro promessas feitas a você.

    Ela chorou, mas sorriu entre as lágrimas. E então me beijou com a urgência de alguém que queria prender a alma na memória de um instante. Não dormimos. Apenas nos ouvimos respirar juntos, como se fosse a última vez.


    Ao amanhecer, vesti minha capa escura e saí para o campo. Maximus me acompanhava em silêncio, enquanto Perséfone observava de longe, dos portões. O campo entre Noctavellis e o vazio era um mar de cinzas endurecidas, rachado e marcado por crateras da guerra passada.

    No centro, Abaddon me esperava. Sua pele era negra como carvão. Chamas brotavam de seus ombros, distorcendo o ar ao redor. Seus olhos pareciam absorver a luz. Ele trazia uma lança feita de ossos trançados, e a armadura se fundia ao seu corpo.

    — Belo traje, pequeno Deus. Está pronto para sangrar pela sua ilusão?

    — Estou pronto para enterrar a sua.

    Não houve cerimônia. Apenas o estrondo de uma batida metálica. Ele avançou.

    Ergui a Vontade da Deusa, minha espada feita de mana morta, que pulsava. Raios negros em forma de serpentes explodiram ao meu redor, buscando qualquer fresta para atacar. As lâminas colidiram. A explosão de energia foi tão forte que os primeiros espectadores caíram de joelhos.

    Recuei meio passo, girando o pulso para desviar seu golpe seguinte. Usei o teleporte, surgindo em suas costas para um golpe vertical. Mas ele girou a lança instintivamente. A lâmina dele bateu na minha com um estrondo, e fui lançado para trás, rolando no chão até cravar os pés.

    Abaddon ergueu a mão livre, e fragmentos de metal caíram do céu como meteoros, corrompendo o campo e deixando cicatrizes na terra. Invoquei uma dezena de serpentes de mana morta condensada, que dispararam contra ele. Elas foram engolidas pela sombra de sua capa.

    — Eu te conheço — ele disse, finalmente. Sua voz era o som de correntes arrastadas por milênios. — Você ainda acha que pode vencer com humanidade.

    — Não. — Olhei nos olhos vazios. — Eu sei que posso vencer apesar dela.

    Disparei contra ele novamente, teleportando de ponto em ponto. Ele me seguia, calculando cada ângulo. No último instante, enganei-o: surgindo dentro da sombra dele, invoquei um campo de silêncio absoluto. Ele gritou. Pela primeira vez, vi Abaddon recuar. Minha lâmina cortou parte de sua armadura. Um brilho espectral escapou, como se houvesse um espírito enclausurado ali.

    Ele rugiu. Uma onda de mana profana explodiu ao nosso redor, me lançando contra um dos pilares do campo. Minha armadura trincou. A dor irradiou pelo meu ombro. Cuspi sangue, mas me levantei.

    Lutei com tudo o que aprendi. Lembrei-me dos treinos com Maximus, usando a aura para golpear com propósito. Cada movimento era um cálculo. E o pensamento de Perséfone me lembrava que eu lutava por mais do que a minha vida.

    Consegui feri-lo no ombro, abdômen e joelho. Mas ele ainda se erguia.

    Então, a armadilha se revelou. Círculos de runas ocultas que eu não percebi se acenderam ao redor da arena. Um ritual oculto, traçado com sangue antigo, começou a drenar a mana de todos os soldados do império, mesmo à distância. Uma barreira ergueu-se ao redor de mim e de Abaddon.

    — Você acha que esse duelo é só por território? — Abaddon ergueu a lança ensanguentada. — Eu vim aqui para fazer você escolher. Ser rei de um cemitério… ou soldado de um trono maior.

    Minhas pernas pesavam. A barreira drenava minha mana a cada segundo. As serpentes desapareceram. A espada parecia mais pesada do que nunca.

    — Você sangra, imperador. E seu povo verá o quanto é fraco.

    — Talvez. Mas eles também verão que não me ajoelho.

    Minhas veias de mana morta pulsaram com força. Ativei meu domínio de morte. O mundo ficou em tons de cinza. Meus movimentos se tornaram previsões. Cada golpe que ele dava, eu enxergava antes.

    Mas ele ainda avançava com o poder de um abismo inteiro.

    O mundo ao redor parecia pulsar em câmera lenta. No alto das muralhas, Perséfone me observava com os olhos fixos. Eu sabia que ela confiava na minha vitória, mesmo com meus joelhos tremendo.

    Abaddon avançou de novo. Sua lança negra estalou ao cortar o ar. Bloqueei com a Vontade da Deusa, mas o impacto me lançou para trás, abrindo uma cratera sob meus pés. A serpente de relâmpago que me envolvia sibilou e se desfez momentaneamente.

    — VOCÊ NÃO É UM IMPERADOR — bradou Abaddon. — É UM ECO. UM SOMBRIO REFLEXO DE SONHOS PERDIDOS.

    Cuspi sangue.

    — …Sou o que resta depois que tudo arde — respondi, baixando a lâmina. — E às vezes… o que resta é o que vence.

    As serpentes de raio mordiam seu torso e suas pernas. Ele revidava com socos que faziam o ar explodir. Nossa luta era pura fúria e destino.

    Desapareci na névoa negra. O teleporte foi instantâneo, mas ele já esperava. O cotovelo de Abaddon acertou meu rosto como uma rocha em queda. Meu corpo rodopiou no ar antes de atingir o chão com violência. As serpentes de mana chiaram, se retraindo. Cada batida do meu coração fazia minha visão embaçar.

    Ergui o corpo num salto, canalizando a mana morta ao redor. Minhas veias queimavam. As serpentes retornaram, avançando em linha reta. Abaddon girou a lança. Um ciclone escarlate o envolveu.

    Mas uma única serpente passou. Rasgou sua armadura no ombro, provocando o primeiro fio de sangue.

    — FINALMENTE.

    E saltou como um cometa invertido. Desapareci de novo, surgindo acima dele, espada em punho. Ele se virou no ar, travando o golpe com o cabo da lança, e então desferiu um chute que me atirou para cima, quebrando as nuvens.

    No céu, sobre o mundo, eu vi a cidade. Vi os olhos de Perséfone. E gritei.

    A queda foi rápida. Desci com a espada em chamas negras. Um corte diagonal. Abaddon fincou a lança no chão. Uma detonação de fogo carmesim me atingiu em cheio. Caí como um meteoro.

    A poeira baixou, e eu estava de joelhos. Minhas roupas rasgadas. Sangue escorrendo da boca. A espada tremendo na minha mão. Abaddon caminhava em minha direção, ileso e triunfante.

    — VOCÊ JÁ PERDEU, HADES. ACEITE O FIM COM A DIGNIDADE DE UM IMPERADOR.

    Tentei levantar. As pernas fraquejaram.

    — Eu ainda… — respirei. — …não terminei.

    Abaddon hesitou. Então, do alto das muralhas, a voz dela ecoou:

    — Levante-se, amor. Mostre a ele o que significa enfrentar o Escolhido da Morte.

    Meus olhos se ergueram. A serpente rugiu. Minha aura explodiu. Eu levantei. A luta não havia acabado.

    Abaddon recuava pela primeira vez. Avancei, veloz como uma sentença. Minha espada cortou o ar com um uivo. Abaddon ergueu a lança, mas eu me teleportei, surgindo atrás dele. Um corte diagonal. Abaddon cambaleou. Outro golpe.

    Abaddon girou com um rugido, as asas deformadas se abrindo. Nossas armas colidiram outra vez. Ele tentou me empalar, mas girei por cima da lança e cravei o joelho em sua mandíbula. Ele cambaleou. Cortei seu braço esquerdo, mas no mesmo instante, seus dedos agarraram meu peito e uma explosão ígnea me arremessou contra os escombros.

    Senti as costelas cederem. Levantei, cuspindo sangue.

    — A morte me ama — respondi, cuspindo no chão. — E eu a amo de volta.

    Avancei. Ele também. E tudo virou movimento. Cortamos o ar, cortamos o chão. As serpentes de raio mordiam seu torso. Ele revidava.

    Ambos recuamos, ofegantes. Nenhum dos dois sorria.

    — Chegamos ao ponto em que toda escolha é dor — sussurrei.

    — Então que doa. Até o último suspiro.

    Ele ergueu os braços. Pilares de energia dançavam ao redor, e suas asas demoníacas se abriram. Eu deixei minhas serpentes se soltarem, fincando-se no solo, preparando A Ceifa Absoluta. O próximo movimento decidiria tudo.

    Minha aura negra queimava, e as serpentes de relâmpagos escuros dançavam em torno do meu corpo. Abaddon recuava. Avancei, veloz. Minha espada cortou o ar com um uivo. Abaddon ergueu a lança, mas eu me teleportei para suas costas. Um corte diagonal. Abaddon cambaleou. Outro golpe. Ele caiu de joelhos com um grito de dor que sacudiu as muralhas.

    Eu ergui a mão livre, e dezenas de serpentes de raios negros surgiram do chão, enrolando-se em torno de Abaddon. O demônio tentou resistir, mas as serpentes puxavam, sufocando magia. Cravei os pés no chão. Uma esfera de pura mana morta nasceu sobre a minha cabeça.

    — Esse é meu julgamento.

    Arremessei a esfera. O impacto foi brutal. Abaddon foi lançado dezenas de metros para trás, soterrado por poeira e destroços.

    Silêncio. Eu mantinha a postura, ofegante.

    — Levante-se, Abaddon… Eu sei que você ainda está vivo.

    Um rugido cortou a nuvem de poeira. O redemoinho se dissipou, revelando Abaddon. Agora, de pé diante de mim, estava sua verdadeira forma. Humana.

    Ou quase. Seus cabelos eram dourados, longos e selvagens. Seus olhos eram azuis, e sua pele, de um branco pálido, parecia talhada em mármore. Os chifres, longos e curvados, ainda estavam ali.

    — Forma humana… — murmurei. — Então agora você para de brincar?

    Abaddon sorriu, um sorriso humano e odioso.

    — Eu só uso isso quando alguém me obriga. Mas você me deu um bom motivo, Hades. Fazia tempo que eu não sangrava… e gostei da sensação.

    A mana ao redor dele se ergueu, e o chão começou a rachar. O céu se fechava pouco a pouco, nuvens densas e cor de carvão girando sobre nós.

    — Isso não é uma guerra, Hades — disse Abaddon. — Isso é um duelo de essência. Você quer ser Imperador. Eu nasci para ser Rei.

    — Então vamos ver qual de nós merece esse trono.

    Disparei, cortando o ar com minha espada. As serpentes se alongaram, tentando cercar sua forma. Mas Abaddon moveu-se com elegância assassina. Ele ergueu o braço. Um círculo de terceiro grau brilhou, e de sua palma emergiu um feixe de luz branca e sangue, que colidiu com meu peito. Fui lançado para trás.

    Cuspi sangue.

    — Num piscar, me teleportei para suas costas. Minha espada desceu. Ele virou antes que eu o acertasse e segurou minha lâmina com a palma aberta. Me lançou ao alto com uma onda de força bruta, e me atingiu com um golpe. Fui arremessado para cima, atravessando as nuvens.

    No céu, a guerra virou arte. Trocamos golpes como se a gravidade tivesse deixado de existir. Cada movimento, um cálculo. Eu atacava, ele desviava. Ele contra-atacava, e eu o parava com as serpentes que se transformavam em escudos.

    Caímos do céu em uma espiral de sombras e luz. No impacto com o chão, uma cratera ainda maior se formou. Me ergui de dentro da poeira. Ele também. Nossos corpos eram mapas de hematomas e cortes.

    — O fim se aproximava.

    Ele ergueu os braços. Duas asas demoníacas se abriram. Eu deixei minhas serpentes se soltarem, fincando-se no solo, preparando A Ceifa Absoluta. Quando nossos olhos se encontraram de novo, sabíamos. O próximo movimento decidiria tudo.

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