Capítulo 132: Recipiente Espiritual de Planta Aberrante

Tudo estava indo conforme o planejado até Blola chegar ao Clã. Ele havia até preparado uma habilidade de uso único apenas para enganar os sentidos de Resha.

Ele desejava apenas vender o Musgo Espiritual em sua posse e comprar um pouco de pó de osso de Presa Empírea para construir seu corpo. Depois disso, pretendia cair fora e fugir para o Império Brimgan.

Com base na rota da manada, ele conseguiria encontrá-los em algumas décadas. Até lá, ele teria usado todo o pó de osso e também acumulado Musgo Espiritual suficiente para negociar mais uma vez. Esse era o seu plano.

Infelizmente para ele, as coisas começaram a ir ladeira abaixo a partir do momento em que o Rei Javali apareceu. Parecia que sua presença havia desencadeado uma reação em cadeia dentro dele.

Lembra da Semente de Parute que ele havia consumido? Aquilo se manifestou de repente dentro de seu Recipiente Espiritual.

Depois de se tornar uma Presa Empírea, seu Recipiente Espiritual havia assumido a forma de uma Presa Empírea adulta. Mas após o aparecimento da Semente de Parute, isso começou a mudar. Raízes brotaram da Semente de Parute e gradualmente preencheram as pernas da Presa Empírea.

Seu caule preencheu o corpo, enquanto uma flor desabrochou de seu tronco, transformando-se gradualmente em uma planta-jarro que podia florescer como uma flor, com as pétalas cobertas por dentes irregulares. De repente, assumiu qualidades aberrantes, aterrorizando Blola.¹

O processo inteiro aconteceu gradualmente ao longo de uma semana. Foi sutil e nem mesmo o alertou, crescendo como uma planta sem ser detectada por ninguém. Quando Blola percebeu, as coisas já haviam progredido além da recuperação.

Embora Blola tenha trilhado o mesmo caminho que Resha, o tempo deles foi diferente. Quando Resha consumiu a Semente de Parute, ele estava no Estágio Vital. O mesmo aconteceu quando ele obteve a Natureza Terciária de Cultivador de Musgo Espiritual.

Mas e quanto a Blola?

A primeira Natureza que ele obteve foi a de Cultivador de Musgo Espiritual. Isso foi quando ele estava no Estágio Espiritual. Em segundo lugar, ele também consumiu a Semente de Parute enquanto estava no Estágio Espiritual.

A Semente de Parute era algo que se formava ao fim de um milhão de anos. O que exatamente era uma Árvore Parute, como ela surgiu, etc., ninguém sabia.

Nem mesmo as Crônicas de Sumatra aprofundaram no assunto. O único relato sobre a Semente de Parute era da perspectiva de Resha. E aconteceu na reta final da história.

Logo depois que consumiu a Semente de Parute, Resha foi morto pelo Rei Javali. Então, se havia algum efeito oculto na Semente de Parute, era desconhecido, pois Resha foi morto antes que pudesse se manifestar.

E essa parecia ser a verdade aqui.

Resha estava no Estágio Vital quando fez isso, já construindo seu segundo corpo. Portanto, ele era resistente a mudanças, mesmo no nível genético.

Mas o caso de Blola era diferente, já que ele consumiu a Semente de Parute no Estágio Espiritual. Com seu Recipiente Espiritual vazio, rico em Prana, mas sem corpo sendo construído nele, a Semente de Parute o considerou o vaso perfeito para criar raízes.

Ela se manifestou ali e começou a crescer. Logo, cobriu o Recipiente Espiritual e tomou posse dele, começando a transformar sua forma também. Quando isso aconteceu, Blola inventou uma história às pressas e correu para buscar a ajuda de Raaha.

Se alguém pudesse ajudá-lo, seria Raaha, um membro do Clã Mamute que estava no auge de Sumatra. Isso nos leva ao presente.

‘Isso é mesmo uma Besta Prânica?’ Raaha observou o Recipiente Espiritual de Blola. ‘Exala uma sensação primordial diferente de tudo que já senti.’

“Isso ainda está sob seu controle?” ele perguntou.

“Sim.” Blola assentiu. “Mas estou aterrorizado com sua presença e aparência. Já engoliu minha Besta Prânica e mudou permanentemente meu Recipiente Espiritual.”

‘Isso pode se tornar uma bênção ou a maior das maldições.’ Raaha pensou e sondou mais fundo em seu corpo, logo se aproximando de seus espaços de Natureza e murmurando em confusão: “Espere, por que só existe sua Natureza Secundária de Cultivador de Musgo Espiritual?”

“O que aconteceu com sua Natureza Primária?”

“Foi engolida.” Blola chorou. Isso era o que mais o feria. Depois de passar por todos os esforços e sobreviver a inúmeros encontros com a morte, ele finalmente obteve o poder da Gravidade Inercial Interna, o poder mais potente que existe em Sumatra.

Mas agora, aquilo não existia mais. A planta aberrante o havia consumido. Como resultado, ele se desesperou. A Gravidade Inercial Interna era sua esperança de se tornar um dos cultivadores mais fortes do Continente de Sumatra. Mas essa esperança foi esmagada sem piedade.

“Não perca a esperança tão cedo.” disse Raaha enquanto continuava a observar. Uma das raízes da planta aberrante se estendeu antes de se enrolar na Natureza Secundária de Blola.

“Não! Não! NÃO! NÃÃÃOOO!” Blola estava enlouquecendo ao sentir aquilo claramente desta vez. Infelizmente para ele, a planta não parecia se importar com seus pensamentos. Como se absorvesse nutrientes do solo, as raízes da planta absorveram a Natureza Secundária de Cultivador de Musgo Espiritual.

Em poucas horas, o espaço ficou vazio. Blola havia perdido sua Natureza Secundária também. Seus olhos ficaram vagos enquanto ele olhava fixamente para o nada, com pensamentos suicidas passando por sua mente de tempos em tempos.

‘O que… eu devo fazer agora?’ Blola se desesperou. ‘Nada! Não há mais nada para mim. Por que eu deveria continuar lutando? Esta porra de planta vai comer tudo de qualquer maneira.’

“Você ainda tem controle sobre ela?” Raaha perguntou.

“Eu não posso fazer porra nenhuma contra ela!” Blola gritou. Mas um instante depois, seu corpo não conseguiu se mover um centímetro. Só então ele percebeu que estava falando com o Chefe do Clã Mamute, uma potência entre as potências, uma das razões pelas quais o Rei Javali não conseguiu matar nenhuma Presa Empírea de sua manada.

“Já se acalmou o suficiente?” Raaha perguntou calmamente depois de alguns minutos, sua voz coercitiva.² “Você ainda tem controle sobre ela?”

Por alguma razão, sua voz acalmou Blola, fazendo-o se concentrar instintivamente na planta aberrante que agora havia se tornado seu Recipiente Espiritual. Após um minuto de observação, ele disse: “Ainda é meu Recipiente Espiritual. Isso não mudou, apesar de eu não conseguir controlá-lo.”

“Então espere.” ordenou Raaha. “O que quer que ela deseje fazer, deixe seguir seu curso. Estarei de olho para garantir que você permaneça vivo.”

Diante de uma situação tão sem sentido, até mesmo essa garantia era suficiente. Enquanto Blola estivesse vivo, ele poderia reconstruir sua força mais uma vez. Se sua força de vontade conseguiria ou não suportar o processo, já eram outros quinhentos.

Mais algumas horas se passaram em meio àquela espera tensa, até que a planta estranha pareceu ter se estabilizado. Ela não fez nada depois de terminar seu crescimento. Mas, em contrapartida, uma fome intensa invadiu seu ser, e Blola sentiu como se estivesse enlouquecendo. “C-C-Com fome!”

“Estou com fome!”

1. No original, a expressão usada foi “Eldritch qualities”. “Eldritch” é um tipo muito específico de horror, popularizado pelo autor H.P. Lovecraft. Refere-se a algo que é assustador de uma forma cósmica e incompreensível, muitas vezes antigo, alienígena e com uma biologia grotesca (como tentáculos ou formas que desafiam a lógica). Por isso, decidi utilizar o termo “aberrante(s)”. A palavra vem de “aberração”, que significa um desvio grotesco ou monstruoso daquilo que é considerado normal e natural. Usar “aberrante” aqui reforça a ideia de que a planta não era apenas “estranha”, mas sim uma violação das leis da natureza, algo que não deveria existir e cuja forma e crescimento causam horror.[↩]
2. É uma palavra que vem de “coerção”. Significa usar força, autoridade ou pressão para obrigar alguém a fazer algo.[↩]