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    Arf… arf…Orakha ofegou, buscando ar após ser revivido pela segunda vez. Encarou a figura de Raaha parada diante dele e curvou-se em resposta: — Minhas saudações ao Chefe do Clã Mamute!

    — Você me conhece? — Foi a vez de Raaha se surpreender. — Não creio que já tenhamos nos encontrado antes.

    — Sim, é verdade. — Orakha lançou um olhar sutil para a árvore carnívora ao seu lado e fez sinal para conversarem mais longe. Como a planta estava em processo de desenvolver uma segunda fruta, Blola não conseguiria ouvir a troca de palavras.

    Raaha levou Orakha para longe e ergueu uma barreira de energia ao redor deles, impedindo que detalhes da conversa vazassem. Então, fixou o olhar em Orakha e indicou para que falasse:

    — Conte o que você sabe.

    — O Devorador Transcendente de Blola não está totalmente do nosso lado — disse Orakha. — Enquanto eu era revivido, pude acessar as informações armazenadas no Devorador Transcendente. Renduldu, o Tentáculo Místico, não conseguiu apagar totalmente a vontade da criatura. Portanto, quanto mais tempo Blola permanecer transformado, maior será o crescimento do parasita. Com o tempo, ele apagará a mente de Blola e assumirá o controle do corpo.

    — Que provas você tem do que diz? — perguntou Raaha.

    — Por favor, permita-me reviver algumas dezenas de vezes — respondeu Orakha. — Até lá, você será capaz de observar mudanças na mentalidade de Blola.

    — Muito bem, vá em frente. — Ao dizer isso, Raaha estendeu a mão e apontou para Orakha, vaporizando-o num instante.

    Ele então se aproximou do Devorador Transcendente de Grau Ouro e ordenou:

    — Continue a reviver Orakha.

    — Entendido. — A resposta veio assim que a fruta pertencente a Yennda terminou de se formar. Logo ela eclodiu, revelando um Yennda confuso.

    — Eu… falhei — murmurou Yennda, desapontado. — Como pude pensar que seria diferente?

    — Você é o Yennda? — Raaha o encarou, observando-o com uma pontada de decepção.

    “Senti interesse na presença de Orakha. Ele tem uma mente forte, a ponto de eu querer ver o que está tramando. Mas esse tal de Yennda é… medíocre.”

    Durante a fusão, Raaha notara algumas coisas. Primeiro, a declaração do Rei Javali para Resha. Segundo, as estranhas existências que se assemelhavam mais a uma Presa Empírea do que a um Membro do Clã Mamute, apesar de serem membros do Clã.

    O ponto crucial eram os sete Condenados à Morte do Assentamento de Gannala. Tendo alcançado o auge do cultivo como Membro do Clã Mamute e acessado o segmento final da Arte Mística Óssea, pertencente ao Estágio Transcendente, Raaha era capaz de conversar com todas as Presas Empíreas.

    Por isso, ao discutir com elas, percebeu que a manada de quarenta e quatro Presas Empíreas fora criada sozinha por Gannala. Aquilo parecia impossível.

    Uma Presa Empírea, ao longo de toda a sua vida, era capaz de dar à luz, no máximo, duas vezes. E isso se aplicava apenas às mais fortes entre elas. As mais fracas só obtinham sucesso uma única vez.

    Mas Gannala dera à luz quarenta e três Presas Empíreas? Mesmo que quisesse alegar ser mentira, a verdade estava diante dele. Presas Empíreas nunca mentiam. E como todas contavam a mesma história, não teve escolha senão acreditar, concluindo que Gannala era diferente das demais.

    Além disso, ela demonstrava apoio explícito a sete de seus filhos, aqueles com a Doença do Fragmento. Ao saber disso, Raaha ficou curioso e começou a observá-los.

    Então, viu a figura de Virala caminhando furtivamente para as profundezas do Cânion Dieng, seguido por Resha. Justo quando sua curiosidade aumentou sobre o que pretendiam, surpreendeu-se ao ver Resha tentando matar Virala.

    “Não posso permitir isso.”

    Como ainda não havia descoberto a verdade, impediu Resha. Em qualquer outra situação, se outro Membro do Clã Mamute tivesse feito o mesmo, ele o teria punido severamente.

    Mas sua curiosidade teve prioridade, especialmente porque a presença que sentiu vindo de Resha e Virala era diferente de tudo que já testemunhara.

    Resha emanava a presença de uma Presa Empírea mais do que as próprias Presas Empíreas. Da mesma forma, Virala emanava a presença de um Membro do Clã Mamute mais do que todos os membros do Clã.

    Grehha possuía a capacidade de nutrir um bebê Presa Empírea, elevando a taxa de sucesso para perto do máximo. Isso significava que qualquer Membro do Clã Mamute com a Doença do Fragmento poderia dar à luz uma Presa Empírea com sucesso.

    Com a presença dele por perto, a taxa de sucesso era de cem por cento.

    Raaha não sabia muito sobre Inala. No entanto, o incidente anterior que observara o fez formar uma opinião mais sólida sobre ele.

    Assim que a fusão começou, a voz da Pequena Gannala ressoou em meio à manada, alertando todas as Presas Empíreas. Mas a distância era grande demais para percorrerem em pouco tempo.

    Apesar disso, elas desejavam se mover. Afinal, a manada agora era forte o suficiente para proteger sua recém-nascida. Porém, ao agirem, notaram o Rei Javali correndo em direção à fonte primeiro.

    Mesmo que quisessem detê-lo, não podiam, devido à vasta distância. E a velocidade do Rei Javali era superior à delas.

    De tempos em tempos, ouviam a voz da Pequena Gannala, um som de dor. Mas, de repente, quatro dias depois, perceberam o que acontecia assim que o Rei Javali chegou à origem do som.

    A voz era uma farsa. As Presas Empíreas eram mais inteligentes que um humano. Rapidamente descobriram que Inala tinha preparado uma armadilha para o Rei Javali, e que este caíra nela.

    Foi a primeira vez que um deles fez o Rei Javali de tolo daquele jeito, levando a manada de Presas Empíreas a cair na gargalhada. Claro, a frequência do som produzido pelo riso delas não podia ser sentida pelo Clã Mamute.

    Apenas Raaha conseguia ouvir, compreendendo que Inala também era alguém em quem valia a pena ficar de olho. Isso o deixou curioso sobre o restante dos Condenados à Morte.

    Além disso, em seu nível, ele conseguia ver através de todos os Membros do Clã Mamute. Se quisesse, poderia acessar todas as informações em seus corpos como fazia através de uma Lâmina Óssea, pois era isso que um cultivador que dominasse a Arte Mística Óssea podia fazer.

    Por isso, Undrakha conseguiu extrair todas as informações de Brangara no passado — porque Brangara estava usando a Arte Mística Óssea.

    Quando Blola se aproximou aterrorizado, embora não demonstrasse externamente, Raaha estava fervendo de raiva. Ele sentira claramente a presença de uma Presa Empírea em Blola — não semelhante à que emanava de Resha e Virala, mas uma obtida ao matar uma Presa Empírea.

    Blola ganhou o poder de uma Presa Empírea ao assassiná-la. E aquela Presa Empírea era o bebê roubado de sua manada.

    Mas ele teve que controlar sua ira, pois nenhuma das Presas Empíreas reagiu, embora todas pudessem sentir também. Por isso, Raaha se conteve e assumiu a tarefa de observar Blola, e consequentemente, Orakha e Yennda, agora que haviam sido revividos.

    “Não senti a presença de Inala, então não posso julgá-lo. Mas, pelo que senti, Orakha tem a segunda presença mais forte, logo depois de Resha.”

    Ele então olhou para a árvore carnívora e para a figura entristecida de Yennda próxima a ela.

    “E esses dois têm a presença mais fraca. Parecem pouco especiais, devendo tudo ao que quer que Gannala tenha feito.”

    Enquanto pensava, sua expressão tornou-se sutilmente fria ao encarar a árvore carnívora:
    “Mas não importa o que aconteça, matar uma Presa Empírea assina a própria sentença de morte. Estarei de olho em você, Blola.”

    “Torne-se sequer um pouco inútil para o Clã, e serei o primeiro a descartá-lo.”


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