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    Em um túnel longo e estreito, fracamente iluminado por musgo, fluía um riacho de água com apenas três metros de largura. Um barco viajava por ele, movido por suas fracas correntes. Suas bordas eram irregulares, cobertas por musgo e danificadas pelo uso prolongado. A textura era áspera, com pequenos espinhos do tamanho de fios de cabelo saindo do material devido ao desgaste, afiados o suficiente para furar dedos.

    Sentado nele estava Blola, exalando uma aura de depressão. Ele estava naquele ambiente monótono e úmido há seis meses, piorando ainda mais sua já sombria aura. No barco, havia alguns quilos de Musgo Espiritual, um tesouro valioso o suficiente para cultivadores matarem por ele.

    Mas agora, eles estavam ali, negligenciados. Blola não consumiu nada além de Musgo Espiritual nos últimos seis meses, já enjoado. O Musgo Espiritual não era saboroso desde o início. E consumi-lo por tanto tempo praticamente matou suas papilas gustativas.

    Com a língua morta, sua depressão só piorou. Porém, esses eram problemas menores diante de seus ganhos.  

    Em primeiro lugar, o consumo de Musgo Espiritual fortaleceu seus Recipientes Espirituais, permitindo que ele acumulasse Prana em um ritmo acelerado enquanto compensava os problemas causados pela Doença do Fragmento. Como resultado, Blola já havia atingido o pico do Estágio Espiritual, possuindo agora 100 Prana.

    Seus Recipientes Espirituais eram tão robustos que, mesmo quando abalados por algo, não rachavam. Ele havia consumido Musgo Espiritual suficiente para não se preocupar com a ruptura de seus Recipientes Espirituais em seu estágio atual de cultivo.

    No futuro, porém, quando a quantidade de Prana em seu corpo fosse muito maior que a atual, a pressão sobre seu Recipiente Espiritual seria significativa. Ele teria que consumir mais Musgo Espiritual para suportar esse nível de pressão. Mas isso era um problema para o futuro.

    Blola já tinha uma solução para isso.

    Natureza Secundária — Cultivador de Musgo Espiritual!

    Ao consumir apenas Musgo Espiritual por seis meses enquanto cultivava sua Arte Óssea Mística sem parar, ele obteve essa natureza.

    A Natureza de uma entidade era basicamente como ela existia em seu estado natural. Um peixe nadava na água. Um pássaro voava. Uma aranha tecia sua teia. Essa era a maneira como existiam inatamente, sua natureza primária.

    A Natureza Primária possuída pelas Bestas Prânicas era basicamente isso, seu estado de existência manifestado por seu Prana.

    Portanto, a maneira mais definitiva de obter uma Natureza era se submeter a um ambiente extremo e se adaptar a ele. Uma vez que o corpo se adaptasse ao ambiente, sobreviver ali se tornava parte dele.

    Assim, seu Prana manifestava isso em uma Natureza. Mas isso exigia um caso extremo, onde todo o corpo se concentrasse apenas em se adaptar àquela extremidade.

    Blola fez exatamente isso, sobrevivendo com uma dieta exclusiva de Musgo Espiritual. Claro, uma grande contribuição para o sucesso foi a Arte Óssea Mística, que lhe permitiu consumir e assimilar grandes quantidades de Musgo Espiritual.

    Era uma das melhores técnicas de cultivo por um motivo. E os membros do Clã Mamute podiam obter Naturezas de situações extremas relacionadas ao consumo. Isso já era um fato comprovado.

    Porém, viver nos Assentamentos não era uma situação extrema. Portanto, os membros do Clã Mamute nunca exploraram essa vantagem. Claro, também era por ignorância. Tendo vivido toda a vida em uma Presa Empírea, onde as condições ambientais eram perfeitas para sua sobrevivência, eles nunca exploraram esse aspecto da Arte Óssea Mística.

    Depois que a 44ª Presa Empírea morre e os 20 sobreviventes do 44º Assentamento precisam se virar sem a ajuda de uma Presa Empírea, eles acabam descobrindo isso. Mas leva um século para que o façam.

    E Resha foi quem descobriu, obviamente. Pouco antes do Quarto Grande Desastre começar, após invadir vários Ninhos de Víbora de Lama para refinar sua toxina em um Elixir, Resha chega às Planícies Ennoudu.

    Lá, ele se depara com este túnel cheio de Musgo Espiritual e passa os próximos anos nele. Ao se sustentar com uma dieta exclusiva de Musgo Espiritual, ele acaba obtendo a Natureza Terciária de Cultivador de Musgo Espiritual.

    Um cultivador podia obter três Naturezas no total. Não havia diferença entre as Naturezas Primária, Secundária e Terciária. Eram apenas nomes para os espaços. Geralmente, pelo esquema de nomenclatura seguido em Sumatra, a Natureza Primária era reservada para a habilidade obtida ao se fundir com uma Besta Prânica.

    Para as Bestas Prânicas, era a natureza com a qual nasciam, daí o termo primário. Bestas Prânicas Mutantes ganhavam uma Natureza Secundária. E poucos indivíduos que satisfaziam requisitos extremos obtinham uma Natureza Terciária.

    Como Resha já havia obtido Cultivador de Musgo Espiritual como Natureza, não havia necessidade de experimentar. Blola apenas seguiu o que estava escrito nas Crônicas de Sumatra e eis que ele também a obteve.

    Cultivador de Musgo Espiritual era uma habilidade semicombutiva.1 Se Blola a ativasse em uma Besta Prânica, uma camada de Musgo Espiritual cresceria no alvo, consumindo sua carne e Prana.

    Quanto maior for a qualidade da Besta Espiritual, maior a qualidade do Musgo Espiritual obtido. Mas como precisava estar viva, havia certa complexidade no uso da Natureza Secundária.

    Porém, se necessário, Blola poderia ativar a habilidade em árvores. Mas o Musgo Espiritual cultivado dessa forma seria inútil. Mesmo para um estudante, os efeitos do consumo não valeriam a pena.

    O Musgo Espiritual teria que continuar crescendo nas árvores por um longo período, de um século a alguns séculos. Só então atingiria o nível do Musgo Espiritual que ele vinha consumindo.

    Se ele o cultivasse no corpo de uma Besta Prânica de Grau Prata, o tempo de maturação seria de apenas alguns anos.

    ‘Não preciso me preocupar com isso por enquanto. Já consumi o suficiente para durar dez anos do meu crescimento.’

    Seus Recipientes Espirituais agora eram robustos o suficiente para suportar dez anos de Prana que ele acumularia no futuro.

    Enquanto tinha esses pensamentos, a corrente de água desapareceu. Blola sentiu seu humor melhorar ao perceber que havia chegado ao fim do túnel — uma caverna em forma de cúpula.

    A caverna em forma de cúpula era enorme, com alguns quilômetros de raio. A maior parte do solo era coberta por um lago. A água do riacho alimentava esse lago. Musgo luminescente cobria o fundo do lago, fazendo-o brilhar e mantendo a caverna bem iluminada.

    Blola inalou o ar fresco, sentindo seu Prana se agitar em resposta. Havia traços fracos de Prana no ar, algo que nunca acontecia em qualquer lugar de Sumatra. “Isso só ocorre por causa desse fenômeno.”

    No centro do lago havia uma ilha, com pouco mais de duzentos metros quadrados de área. Nela crescia uma árvore velha e murcha, o alvo da empolgação de Blola. “Está aqui.”

    “Um dos encontros fortuitos de Resha!”


    1. Decidi adaptar o termo “semi-combative” adaptando pra um neologismo a partir da mistura de “semi-“ (parcial) + “combustiva” (que queima). Seria como uma combustão parcial. O musgo gruda no alvo e corrói carne e energia devagar, como um ácido ou um fogo lento. Não mata instantaneamente, mas consome tudo até virar pó. Basicamente, é um parasita mágico que drena vida e mana do azarado que cair nas garras do Bilola.[]

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