Capítulo 72: Gannala à Beira da Morte
A 44ª Presa Empírea prosseguiu em sua posição respectiva — a última fila, coluna esquerda — na manada. Mas, ao contrário das outras, seus passos eram um pouco mais lentos. Além disso, ocasionalmente, ela quase tropeçava. Se não fosse por sua Natureza Primária, tal tropeço teria criado um terremoto por todo o assentamento.
Prédios teriam desabado, todos os itens teriam se quebrado, e os cultivadores teriam sofrido ferimentos graves. Mas a Gravidade Inercial Interna protegeu todos e tudo, mantendo o status quo1 de estabilidade.
Claro, nem mesmo isso poderia impedir as preocupações de Bora Tusk. Ele ficou na entrada do Assentamento, posicionando-se no ponto entre a tromba e a cabeça.
Seus olhos estavam vermelhos e lágrimas escorriam sem parar. Ele não conseguia controlar sua tristeza, experimentando uma emoção mil vezes pior do que quando seu familiar mais próximo morrera.
Afinal, destacado em sua visão estava a tromba da 44ª Presa Empírea. E projetando-se ao lado dela, afiadas e ameaçadoras, estavam as presas, consideradas sua parte corporal mais resistente e o símbolo de orgulho tanto para uma Presa Empírea quanto para os membros do Clã Mamute.
Quando um membro do Clã Mamute provava seu valor, era recompensado com pó de osso gerado a partir da presa. Era voluntariamente liberado a cada ano pela Presa Empírea para o benefício do Clã. Os cultivadores que consumiam esse pó de osso e o fundiam em seu Recipiente Espiritual eram capazes de forjar os corpos de Bestas Prânicas mais resistentes para sua transformação no Estágio Corporal.
E, a partir de agora, isso se tornaria coisa do passado.
Enquanto ele olhava com absoluta tristeza, rachaduras se desenvolveram na presa esquerda da 44ª Presa Empírea. E a cada minuto, as rachaduras se alargavam. Logo, um pedaço de osso, com pouco mais de um metro de tamanho, se soltou da presa esquerda e caiu no chão.
Emitiu um som nítido ao colidir. Originalmente, devido ao seu peso, um pedaço de osso da presa, ao cair de tal altura, seria como um meteoro. Criaria uma cratera massiva abrangendo pelo menos trinta a cinquenta metros de raio.
O pedaço de osso não teria nem um único arranhão. Afinal, em termos de peso, um pedaço de presa com cerca de um metro pesaria milhares de toneladas. Os efeitos da Gravidade Inercial Interna existiriam dentro dele, tornando-o tremendamente pesado e ridiculamente resistente.
Mas agora, o pedaço caído se desfez, esfarelando-se em pedaços minúsculos do tamanho de pó. O som também não foi alto. A cratera mal cobriu um metro, e mesmo assim era rasa. Ao colidir, o pedaço de osso respingou como um líquido.
Sim, estava tão frágil. Como evidenciado pelos membros do Clã Mamute com Doença do Fragmento, os ossos de uma Presa Empírea eram frágeis. Era apenas a adição da Gravidade Inercial Interna que os tornava os materiais mais resistentes de Sumatra.
E o fato de um pedaço de osso ter caído da presa era um sinal claro. Era o começo da morte de Gannala. Sua Gravidade Inercial Interna estava começando a enfraquecer, incapaz de manter a integridade estrutural. Pouco a pouco, assim como suas presas se desfaziam, ela também seguiria o mesmo caminho.
“Por quê? Restava ainda um ano inteiro.” Bora Tusk tremia, desesperado. “Por que agora?”
Mas ele nem podia chorar em paz, pois uma Bomba de Prana atingiu seu rosto. Suas mãos agarraram a Bomba de Prana e a rasgaram com força, arrancando-a junto com uma camada de sua pele.
E com um puxão de sua mão, a Bomba de Prana se partiu, derramando o fluido de dentro.
“Esses desgraçados!”
Ele olhou ao redor, avistando pelo menos trinta a quarenta mil Zingers perto da cabeça da Presa Empírea. O número de Zingers pairando ao redor de todo o corpo era muitas vezes maior.
Ele olhou para a direita, notando um número semelhante de Zingers na 43ª Presa Empírea.
Bora Tusk olhou para frente, observando as costas da 42ª e 41ª Presas Empíreas. “O número de Zingers em nossos dois assentamentos é pelo menos três vezes maior que o resto. Os Zingers estão nos tratando como piada… não, tenho certeza de que eles já sabem.”
Tais ataques implacáveis já haviam cobrado um preço de suas forças. Embora as mortes em seus lados tenham sido mínimas, a perda era exorbitante. Eles estavam perdendo Prana rápido demais para os Zingers.
Os ataques aumentados dos Zingers pioraram a condição de Gannala. Agora, ela estava lutando para acompanhar a manada. À medida que sua força diminuía, suas presas, o símbolo de sua força, começaram a rachar e se desfazer pouco a pouco.
E a cada pedaço da presa que caía, a sanidade de Bora também se esvaía. “Meu lar… minha Deusa… está morrendo.”
“AAARGGHHHH!”
Ele chorou por um dia inteiro antes de se virar para entrar no assentamento. Ele havia proibido os membros do Clã Mamute de saírem do assentamento. Os únicos autorizados a sair eram os mestres.
Os mestres já haviam percebido a verdade, especialmente após verem a presa se desfazendo. Como resultado, eles foram encarregados de proteger as áreas da cabeça e da tromba.
“Duvara, quanto tempo… quanto tempo ainda devo esperar?” Bora Tusk murmurou. “Minha Deusa está morrendo. Sem ela, nosso Clã está acabado.”
Desde que Duvara retornasse com um filhote de Presa Empírea, uma cerimônia de iniciação poderia ser realizada, onde Gannala transferiria suas memórias, personalidade e presença para o recém-nascido. Dessa forma, o recém-nascido se tornaria a nova Gannala e manteria a tradição como a 44ª Presa Empírea.
Era assim que as Presas Empíreas passavam sua herança. E uma parte da herança era o sistema imunológico—os membros do Clã Mamute.
A marca nos membros do Clã Mamute mostrando sua origem como sistema imunológico de Gannala seria transferida para a nova Presa Empírea. Ou seja, eles poderiam viver na nova Presa Empírea sem problemas.
Sem uma Deusa recém-nascida para acolhê-los, Bora Tusk e seu povo não tinham futuro. E sem Gannala, lhes faltaria a força mental para lutar por um amanhã. Em Sumatra, isso equivalia a uma sentença de morte.
Lentamente, Bora Tusk chegou ao canal que conduzia ao coração, abrindo caminho finalmente por uma passagem restrita a todos — exceto ao Líder do Assentamento. Era um nó na aorta2 da Presa Empírea, uma concessão que a Presa Empírea fazia ao Líder do Assentamento como sua Arma Espiritual.
Através dela, o Líder do Assentamento conseguia perceber os pensamentos da Presa Empírea. Como não podiam se comunicar diretamente, esta era a única forma que o Clã Mamute tinha para sintonizar suas ações com as intenções da Presa Empírea.
Bora Tusk colocou sua mão na Arma Espiritual, sentindo o sangue correr sob seu exterior. Quando ele fazia isso no passado, sentia uma onda de emoção ao ouvir os sons estrondosos que eram semelhantes a um oceano inteiro fluindo como um riacho.
O sangue possuiria força vital suficiente para gerar um milhão de guerreiros do Clã Mamute sem sequer notar o consumo. Era a demonstração máxima da magnificência de uma Presa Empírea, uma Besta Prânica considerada incomparável, à altura dos próprios Céus. Mas agora, tudo isso pertencia ao passado.
O fluxo sanguíneo que restara não passava de um filete. Os outrora estrondosos rugidos haviam se reduzido a um centésimo de sua antiga intensidade. E o pior — enquanto Bora Tusk observava o sangue, tudo que lhe restava era suspirar. Sim, apenas suspirar. Ele se rendera ao seu destino.
Afinal, a força vital estava irremediavelmente diluída. O sangue de Gannala perdera tantas de suas propriedades que quase se assemelhava a água pura.
Pensamentos do Autor
A morte da Gannala está chegando T_T
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