Capítulo 12: Nada a ser sentido
“Havia uma canção em Flassam que dizia assim: ‘Pobrezinhos roedores! Pulinhos na neve, congelando! Dançando na chuva, não sentem dores? Que triste brincar, assim, roendo!’”
Izandi, a Oniromante

Inspirou até o máximo dos seus pulmões. Detestava a sensação do couro apertada contra os olhos e nariz, mas desta vez queria ir até mais longe. Imaginou os seis de sempre — e desta vez, começara contra o gigante. “Fios massudos”, sussurrou-se. “Grande, maior que o castelo, maior que uma nuvem.” O vento raspou seu rosto como uma flecha. “Maior que um lobo!”
Agarrou o couro ríspido da Dente de Hiena e desviou de uma onda de choque. As muralhas foram derrubadas pela perna do gigante, uma perna alva, peluda e com garras. Bert não deu tempo para qualquer outro movimento seu. “Agilidade não basta.” Disparou-se de novo. Dardos flamejantes vieram em sua direção. Seus pulmões doeram. Não conseguia respirar.
“Não consigo respirar há dezessete anos! Todos à toa!”
Mudou de estratégia e concentrou sua força nos pés sem os livrar do estresse, e quando aplicou seu pulo contra o disparador dos dardos, sentiu que suas pernas estavam em chamas. Cada fio de seus músculos pareciam romper. “Está tudo bem”, dilacerou a garganta alva, grossa e cheia de pelos. “Não errei ainda. Posso vencer. A dor não perfura a mente; uma espada sim!”
Mudou seu ponto de equilíbrio e atacou sua frente.
— Ahh! — gritou uma mulher, com uma voz tão estridente que se assustou também. A lâmina corria rápida, porém Bert conseguiu pará-la a tempo.
Sua visão ainda era escura, mas lhe parecia uma mulher segurando uma lamparina com luz forte como as das luas.
— Duas vezes em menos de dois meses! — Deu um longo passo para trás e embainhou Dente de Hiena. — Qual a dificuldade de não atravessar uma área de treino quando tem alguém nela?! — Esfregou os olhos e focou em respirar até a branquidão sumir.
A mulher fora aos poucos tomando forma. Não reconheceu os gritos, mas não percebeu não ser Jenna por não ter brandido junto ou Hydele, por não ter ameaçado-o — e bem mais alta. Sentou no chão, a fim de se livrar da letargia.
— Tem tal tom de voz com qualquer um? — Não reconheceu a voz. Bert respirou fundo e forçou seu corpo a ficar de pé. — Mas está tudo bem, sinto que mereci o susto. Eu não deveria estar aqui, e você? A madrugada é um momento bom para treinos? Não gosto de lutas, todavia até consigo afirmar que deste um bom golpe no meu irmão.
— …Princesa? — Empalideceu.
— Não é qualquer mulher no reino que tem três cores na cabeça, meu corpo e minha voz, então sim.
Ainda não conseguia enxergá-la, então se ajoelhou e virou o rosto.
— Mil… perdões.
— Está tudo bem — abaixou-se e pôs a mão sobre o ombro suado de Bert —, já disse que mereci o susto. Me acompanha, senhor Zwaarkind? Está frio e não sei vagar pelo castelo. É muito diferente do meu.
“Ser bonito é um castigo… Até já sabe meu nome…”
— Não acho boa ideia. — “Uma princesa é demais até pra mim.”
— Ah, se pensa sobre o que fez ao meu irmão, não ligo e até gostei, confesso. — Estendeu sua mão a Bert. “Macia”, pensou ao tocá-la.
Levantou-se sem pôr força e logo a soltou. Notou que ela apontou para um banco — que nunca tinha percebido ter ali —, onde a princesa logo se sentou. Bert não fez o mesmo. Aproveitou que sua visão estava quase perfeita e voltou a brandir contra o vento. Os tempos da madrugada eram, para si, os melhores. Resfriavam os músculos que ardiam com o ahvit, e a sensação, para si, era indescritível.
— Senhorita Hyd disse a mim que sabe usar ahvit e que é muito bom com a espada.
— Ela disse isso?
Resvalou o rosto. Não queria mostrar o sorrisinho patético se formando no canto da boca. Bert executou um golpe horizontal como os dos membros da Ordem dos Ventos. Sempre lhe pareceu simples. Quando viu um dos membros da Ordem realizar um durante o Torneio de Ferro, teve certeza de que era simples. A execução precisou de muito mais força no abdômen do que imaginou.
— Sim, sim. — O rapaz projetou mais um golpe flexível, então parou. — Elogiou-te bastante, tanto que fiquei curiosa para conhecê-lo. — Reparou que ela ficara com os joelhos à face. — Sinto que fiz uma boa amiga, senhor Zwaarkind.
— Só me chama de Bert, princesa. — Parou de brandir e quase ficou animado com o que viu. Podia ser pouco mais velha do que Hydele, todavia era de cativar seus olhos. Não era a mulher mais atraente que Bert já conhecera; tinha curvas muito leves e era até alta para sua idade. Um vestido de linho branco e algodão e um xale longo de algodão cobriam-lhe o corpo, e seus cabelos estavam desgrenhados e brilhantes, mesmo na escuridão das Luas.
A princesa corou e desviou o rosto. Bert coçou o cabelo e voltou a brandir, como tivesse feito nada. “Olhei demais.”
— Dou-lhe permissão real para chamar-me somente de Salile, então, Bert. — Bateu as palmas, de olhos fechados. — Posso ter feito mais um bom amigo! Aliás, por favor, peço que não use ahvit contra meu irmão… e, por favor, me leve ao meu quarto. Saí, pois não conseguia dormir e de chiste vim parar aqui. Estou perdida, genuinamente! Este lugar é muito alto e íngreme, e tudo parece igual!
“Mas que… Vou ignorar isso.”
— Eu não vou lutar contra seu irmão, princesa, nem vou lutar! — Embainhou Dente de Hiena e chutou um montinho de neve.
— Eu sei, o que é uma pena — abrira somente um dos olhos. “Parecem joias”, pensara Bert rapidamente. — Porém no caminho para cá, vi que fizeram duas cadeiras na frente do pátio da terceira muralha. Eu bateria nele, e você?
— …
— Tudo bem, vê-lo-ei mais tarde. Aliás, sua irmã tem uma voz linda como as escamas do meu Meevel. Espero que sua família inteira seja cheia de talentos tal qual ela é para o canto e poesia.
“Ela falou o nome de um dragão-real pra um plebeu com tanta facilidade assim?”, pensou Bert, com um sorriso tacanho. Salile levantou-se e deu passos com as costas para o caminho de volta.
— E, por favor, vista-se bem. Até. Dou um jeito de me achar.
“Mulher maluca”, riu.
O resto da noite de Bert fora boa. Fintou dezenas de anões atrofiados e gigantes sem pelos e invadiu seu quarto pela janela ainda a tempo de pegar Hydele tendo um pesadelo. “Verde, verde, verde!”, ela gritava. Foi a cozinha da casa e esquentou um copo de água, e depois jogou-o fora e pegou o mais gelado que conseguiu.
— Aqui.
— Obhiga… Obrigada…
Sentou-se na cama.
— Não quer me contar nada?
Porém ela dormiu assim que terminou de ouvir. Bert riu e apenas se deitou pelo pouco de noite que ainda tinha. “E, por favor, vista-se bem.” Dormiu bem mais do que o costume, acordando somente com Hydele batendo no seu rosto com a bengala. “Você ajuda a criança pra isso?!”, pensou, e ela parecia estar com raiva. “Bem, é culpa minha.”
— Vai se arrumar, boboca! O dejejum está pronto e mamãe tá com raiva de você!
— Cala a boca, cabeçuda! — Agarrou-a pelas axilas e jogou no ar por alguns segundos. Hydele gritara e Bert a jogou até sua trancinha ficar desengonçada como um galho de espinheiro.
— Mham-mhaaan-mae!
— Tá, tá, faz silêncio! — Sentou-a na cama e pegou o pente na escrivaninha. Não ajudou muito, tanto que Hydele somente levantou-se com o pente preso na cabeça e foi embora, puxando um olho pra baixo e mostrando a língua.
“Essa manhã vai ser boa”, riu.
Abriu seu baú e pegou algumas roupas. “Não tem nada de muito rico aqui, hã.” Vestiu uma calça limpa sob um gibão longo que não usava há mais de um ano e pegou seu cachecol. “Assim tá bom.” Seria um dia vaziamente cheio. Não deu a mínima atenção aos dizeres do rei, porém tinha certeza de que o duelo aconteceria somente depois do banquete.
— De toda maneira, já sei como isso acaba. Vitória de Erekeeen! — cantarolou, calçando os sapados. Tinha observado muito bem cada um dos cavaleiros que vieram com o rei antes de bater no príncipe. “Não faria aquilo se tivesse certeza de que venceria… Se venço eles, Ereken vence com as duas mãos atrás das cosas!”, bravejou consigo.
Vestiu luvas e pendurou Dente de Hiena no cinto. Não estava a fim de seguir a tradição de ficar com fome até a hora da festa, então aproveitou que Willmina e Hydele banhavam-se para roubar algumas frutas da mesa e comer o dejejum feito para ele e a irmã.
— Cadê o tio? — Mordeu a maçã-gigante-da-montanha. — Tch, doce demais. Não tem ninguém com a língua boa aqui?
Pensou em sair. “Até eu tenho meus modos, Bert”, pensou. Ficou no deitado no sofá à espera das duas, e não se arrependeu. Willmina trajou o rico branco de sempre, porém este vestido tinha tons de dourado e um pequeno justilho que nada apertava, com tiras pintadas com o símbolo de alguma deusa, cujo nome não se lembrava, caindo sobre a barriga inchada. Já era seu quarto mês de gestação — não parecia ter mudado muito.
Já Hydele deixou sua trancinha à frente do vestido verde-esmeralda e, além de uma crespina, estava com o colar de quinalfero-âmbar e o azul presenteado por Nianna, quase idêntico ao que Willmina também usava, luvas como as da mãe e sapatilhas da cor de sua bengala. “Que inveja do tio. Se eu continuar aqui por mais um instante, vou querer me casar também!”
— Mãe, o Bert penteou o cabelo. A gente vai morrer?
— Retiro o que pensei.
Willmina e Hydele riram como se Bert fosse um cão mostrando a barriga por afagos. Sentiu-se corar e mordeu seus dentes com força para quebrá-los, então deu as costas para as duas e abriu a porta. Sua mente tinha vacilado. Lembrou-se de uma mulher. “Se for pra ser com alguma, que fosse com ela… Droga.”
— Cadê o tio?
— Com o duque — respondeu Hydele, já subindo nos braços da mãe. Desceram as escadas e foram até a terceira muralha, que, como já esperavam, estava cheia. Os servos já haviam terminado de preparar toda a liça.
Cobriram o chão com cascalho e sal após retirarem a neve e a cercaram com pedras pouco polidas e baixas. Instalaram pequenas fogueiras para os observadores. Fizeram um estrado em pouco tempo, grande o suficiente para que toda a família real e ducal ficassem elevadas, com uma boa vista para o duelo. O que fez Bert ficar desconfortável foi justamente a princesa não ter mentido.
Sobre um segundo e menor estrado, havia dois cadeirões, um onde o príncipe já estava sentado. Um manto de pele de lobo branco cobria os ombros, ricamente adornados com fios de ouro e prata sobre o tabardo de veludo. Ao notar Bert, pediu para que abrissem caminho na multidão para ele, que seguiu sem medo dos olhares.
— Pronto para ver seu pai morrer?
— Sua bochecha não está roxa o suficiente. Deveria ter posto mais força — sentou-se —, covarde.
— Eu confesso minhas fraquezas. — Cruzou os braços. — Não vou lutar quando mal sei segurar uma espada, uma lança ou um arco ou mal consigo montar um cavalo. Faz parte de ser um homem. Ter autocontrole também.
— Não encher o peito de fumaça enquanto viaja também faz parte de ser homem — provocou, apoiando o queixo na mão.
— Nunca fiz isso!
— Oh, sim, então o cheiro de vinho barato e fumaça que senti ontem saíram da minha bunda. — Levantou a sobrancelha.
— … — Corou e fitou o chão, cerrando os dentes com força para rachá-los.
“Que lugarzinho de merda.”
Estudou o lugar com mais atenção. Notou que deram cadeiras para as grávidas e crianças se sentarem, que alguns servos carregavam bandejas com carne seca e copos de água quente, que havia bandeirolas e mais alguns nobres que não conhecia. “Ainda mais do que ontem.” Pessoas estavam chegando o tempo todo para verem a Casa Real Bloemennen, coisa que Bert não conseguia entender.
— Apresentam-se Sua Majestade e Sua Alteza e seus vassalos: o Duque Beesh, seu herdeiro e nossa futura rainha!
A multidão abriu o caminho ajoelhada, muitos dos nobres erguendo suas lâminas em honra da passagem dos mais velhos e da Guarda Real. “Esqueci que são heróis de guerra.” Rei Rheider Bloemennnen e duque Theolor Beesh foram as principais figuras nas guerras há menos de duas décadas. Foram eles que tomaram a faixa do norte e aniquilaram a invasão de Eztrieliz, e quebrarem o cerco de Bertter Bloemennen, o Sanguinário.
Havia nobres desde o sul aos do norte de Aarvier ajoelhados, mas Bert não recordava de qualquer um se comportando assim para duque Theolor. “Deve ser bom tanta gente de joelho, hã… Dito isso, cadê o tio?”
Príncipe Howan logo ergueu-se e prestou uma saudação a seu pai. Preferia olhar para o chão, ao menos até ver Nianna e a princesa. Ambas usavam a mesma cor de vermelho no vestido, com longas mangas e gola alta, que complementava os corpos de poucas curvas, além de tranças jogadas à frente dos ombros com flores em suas pontas e pelagens de ursos. Sentiu o coração acelerar. “Droga.” Alguma coisa surgiu no seu peito, e quando deu olhos para Nianna com mais atenção, foi como se essa coisa se inflamasse.
— Espero que esteja feliz, Howan — disse o rei, e logo sentou-se
“Para proteger a honra que nem quis que protegessem, quem não?”, crocitou o príncipe consigo, fitando o chão.
Sentados, não precisaram esperar muito para que os combatentes fossem anunciados.
— À esquerda e em favor do príncipe, Sua Alteza Coroada — anunciou —, Gherrit, o Cavaleiro Cinza!
O cavaleiro entrou em silêncio e com passos pesados. Usava uma armadura completa, simples e em um cinza quase preto, sem nenhum detalhe de destaque além da espada com a lâmina longa e tão alva quanto a neve. Não havia adornos em si, mas Bert tinha os olhos estranhamente atraídos por aquele formato — por aquele homem. “Alto!”, bramiu “Essa espada também é enorme…” O observou melhor. Deu atenção para cada junta do homem enquanto ele se movia para a liça, então chegou à conclusão de que já tinha perdido.
Chegaria longe no Torneio de Ferro, mas não ganharia de Ereken.
— À direita e em favor do desafiante, Cei Ereken Zwaarkind, o Herói da Barragem!
Subitamente, foi quase como se centenas de pássaros levantassem voo e crocitassem ao mesmo tempo. As orelhas de Bert — provavelmente a de todos ali — doeram com tanto barulho. Já tinham ouvido epítetos que deram para Ereken em suas incursões: Fúria Laranja, Duas Espadas, Cavaleiro do Duque… Carrasco do Duque. “Herói” fora a primeira vez.
“Combina.”
Abriu a mente. Ereken usava um peitoral de ferro sobre a armadura de cota, que caia até as coxas como um vestido sobre suas roupas, porém, como Bert nunca vira, tinha um escudo de carvalho no braço esquerdo. “Finalmente um pouco de entretenimento”, pensou com felicidade, mas isso não durou muito.
Fora anunciado que, em homenagem à festividade de mais tarde, o combate seguiria regras amistosas. Não haveria sangue derramado, haveria rodadas e usariam espadas de ferro cegas. O rapaz cruzou as pernas e suspirou. “Não tem nada para ver aqui.” Logo trouxeram armas velhas, enferrujadas e que, se talvez usadas por uma montanha, cortassem um pouco de manteiga.
Assim que a bandana foi tirada dos olhos dos dois combatentes e o duelo foi iniciado, com justa permissão dos Quinze evocada pelo rei, Ereken prestou sua guarda em uma postura defensiva: elevou o escudo até o nariz, posicionou a espada como um lanceiro e recuou a perna destra. O cavaleiro de cinza ergueu a espada e a inclinou para o chão, espaçando entre as duas mãos que seguravam o cabo. Então moveu-se pela sua direita com um longo passo, seguido de outro devagar.
“Aposto que vai tentar golpear pelo lado cego do escudo”, suspirou. Descontrolar-se contra alguém que falava mal de Hydele ou de qualquer outra pessoa costumava valer mais a pena
Ereken permaneceu parado. O cavaleiro agarrou a espada com as duas mãos, movendo-se diagonalmente e devagar até ter espaço para golpear. Sua lâmina era maior; seu corpo, mais alto. Logo executou um golpe vertical. Vento foi expulso e o cascalho tremeu com a força.
Ereken projetou seu braço para frente e, quando a espada colidiu com o escudo, moveu-se como um furão das castanheiras e rodopiou para trás de Gherrit, que somente conseguiu se equilibrar por muito pouco. “Por que não golpeou? Tinha um espaço perfeito nas costas dele!”
Bert cruzou os braços de novo. Já sabia como essa luta acabaria desde antes dela começar. Para ele, a vitória do seu pai emprestado era mais do que óbvia desde o começo. Nunca viu nenhum homem poder contra ele. “Mas bem que poderia ser um demônio por baixo da armadura…”, desejou, melancolicamente. Todavia, seu coração logo acelerou.
Cei Gherrit correu com a velocidade que sua armadura jamais permitiria e golpeou horizontalmente como uma arte da Ordem dos Ventos. Ereken desviou com uma alta pirueta felina para trás, mesmo com o escudo, porém o cavaleiro não o deu tempo para desviar uma segunda vez.
Atacou-o com ainda mais velocidade do que no primeiro golpe, e o terceiro fora ainda mais forte contra o escudo. “Está o mantendo recuado? Que mentira!” Bert saltou da cadeira com os olhos saltando das órbitas. O espaço entre os dois não era mais do que meio metro e menos de um passo para fora da arena.
O quarto golpe veio da esquerda para direita. Bert notou seu tio libertar o ar dos seus pulmões como se o mundo ficasse mais devagar. E ao menos para os dois — Bert e Ereken —, estava. Viu, como se todos fossem tartarugas, Ereken soltar o aço no ar e jogar todo seu peso para a própria cabeça.
A espada brilhou como a fraca luz da Lua Branca riscando o ar, mas de repente a perna direita de Ereken pisou forte o chão e girou, tomando controle de todo seu corpo desequilibrando e o projetou à direita para detrás do adversário.
Mal teve tempo para piscar.
Ereken posicionou seu pé esquerdo na parte detrás do joelho do cavaleiro e o puxou com tanta força que jogou Cei Gherrit para trás, então se jogou para o alto. Agarrou sua espada em pleno ar e tocou os pés no chão a pouco mais que dois metros do cavaleiro caído de joelhos, com sua espada tocando a cota cinza do pescoço.
— Haha! Esse é meu Cei! — urrou o duque.
“Não tem nada para ser visto aqui.”
Levantou-se, mesmo como figura de honra no duelo por sua causa, e fora embora antes que o segundo turno fosse anunciado. Não que alguém tivesse percebido; estavam calados, fitando Ereken como o Mestre que era. Enquanto isso, Bert rangeu os dentes. Tinha certeza de que também venceria facilmente aquele homem, mas um movimento daqueles numa situação de ter sido recuado?
“Usar o inimigo como espaço onde não se tem espaço, com um inimigo muito maior e mais forte? Treino com um homem do tamanho das montanhas toda maldita noite…!” Cerrou os dentes cheio de raiva, chutou um balde cheio de água quente que viu no caminho. “Um gigante não basta. Não basta um. Nem dois.” Pela primeira vez, amaldiçoou não prestar atenção nas aulas de história do cile. Não se lembrava de nenhum outro monstro, fosse dos mitos de eras antigas ou qualquer outra coisa. “Hydele saberia… Droga!”
Quando se deu conta, já estava bem longe da arena feita as pressas.
Estava próximo do grande salão de festas do castelo, mais próximo ainda da pequena quiesa que Willmina e Hydele iam para rezar em dias de neve pesada. Poucas vezes o lugar era aberto, pois havia outro, muito mais espaçoso e com formas e símbolos dos Quinze muito mais adoráveis há poucos quilômetros de viagem. Mal havia neve direito, todavia havia alguns servos entrando e saindo, carregando turíbulos.
“Nunca vi um turíbulo dentro do castelo desse velho, faz ele passar mal”, lembrou. Duque Theolor Beesh não fora ao terceiro batismo de seu primogênito e nem no de Rheider graças a isso. Decidiu entrar e perguntar o porquê.
Esperou um momento em que ninguém mais saiu ou entrou.
Não vira nada fora do normal. Bancos espalhados paralelamente em direção do cetro de granito, que era a única fonte de luz, vinda de candelabros acesos, que refletiam no assoalho limpo. Bancos estavam espalhados ao redor do estrado com quinze curtas pilastras leitosas em cada ponta, enfeitadas com os Sinais de cada um dos Quinze. O ar tinha cheiro de lavanda. “Lavanda e mais alguma coisa…”
De repente tossiu um pouco. Sentiu seu corpo enfraquecer, como uma letargia de horas de treino mental. A letargia fora mais rápida do que sua reação. Só pôde reagir virando o braço quando uma coisa pontuda furou-lhe as costas.
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