Capítulo 16: Medo
“Ah, que tamanha escuridão é o medo
Que retorna o homem às suas raízes!
Vil segredo, das dores infelizes!”
Izandi, a Oniromante

O âmago de Ereken estava contorcendo-se de dor. De repente tudo ficou era escuro. Uma miríade de tons de penumbra densa, com um ar viscoso e sombrio que ocultavam até seus bons olhos. Um fio de espada parecia correr por suas veias, uma espada fria que enchia seu peito e mente de dor. Rapidamente deixou de ser um frio e se tornou queimar. Sua cabeça estava em chamas, como se algum fogo tentasse consumir suas memórias. Ou talvez as encontrar.
Estranhou, com um ardor crescente nos braços. Conseguia se lembrar: estava coberto de felicidade, de orgulho. Então era de medo. Medo… Não conseguia não sentir o odor ao redor, não conseguia ver sua pequena, não conseguia agir rápido o suficiente. Medo… Há quanto tempo essa sensação não era sentida? O medo o dominou, domou até seu corpo indomável…
Sempre tarde demais, sussurrou uma voz que ele conhecia muito bem, uma voz que fez seu coração bater com a força de um castelo despencando.
Seus olhos contraíram de dor pela súbita e forte luz de uma veleteto armada em cima da sua cama. Se levantou de uma vez com seu estômago se revirando, logo aproveitou do balde posto ao seu lado. Ao terminar, caiu de volta a cama, arfando pesadamente. “Não conheço este teto”, pensou, todavia reconhecia os biombos brancos. Conhecia o lugar muito bem.
Deixou a guarda alta assim que tocou a mão esquerda na cama.
— Cile! — gritou, interrompido pela garganta inchada e sequiosa. Porém não foi respondido; havia somente barulho de passos, gemidos de dor e grunhidos de desconforto.
Havia passos, muitos deles. Pôs força nas pernas, tentando se levantar. Sua cabeça ia e vinha. “Fui golpeado?”, imaginou. “Não, é impossível. Não aqui.” De repente, percebeu o joelho direito quase tocar o chão, então agarrou a cama mais uma vez; o vento parecia lhe jogar para o chão. “Minhas pernas estão bambas demais.” Pôs-se numa posição boa. “Preciso respirar.”
Respirou fundo. O ar logo fluiu traqueia aos brônquios, seguindo aos alvéolos e enriqueceu os pulmões. Ereken sentiu-os inchando, e com a batida do seu peito, o ar foi enriquecido por seu ahvit e seguiu como uma gota caindo em água parada, ondulando por seu corpo, fluindo, fluindo…
“Estou hirto em muitas partes, ainda mais rijo em muitos músculos. Por outro lado…”, tentou mover a mão esquerda, a mão cheia de calos; não reagiu a nenhum pensamento “, estou mole demais em outras.” Apertou um ponto próximo de seu ombro para aumentar a força do seu coração. “Por agora deve bastar.”
Deu um passo para fora da cama e suou frio. Não era só ele. Com uma rápida olhada notou as filhas e netas do barão Bijik, nobres do norte que não conhecia — principalmente os mais novos —, a ordenada-sérvil, metade dos cavaleiros da Guarda Real e outros cavaleiros do rei, os menestréis e a princesa Salile deitados em camas, com veletetos penduradas quase tocando seus rostos pálidos. “Hydele! Mina!” Manejou sua mente para onde havia maior perigo, no entanto…
— Volte à sua cama, seu Bert!
— Cale-se! — Bert deu um fraco empurrão em Nianna. Ereken rapidamente foi socorrê-la, mesmo que ela (e ele) mal tivesse saído do lugar. — Desculpa…! — seu filho continuou, cobrindo os olhos com as mãos. — Desculpa…
Bert estava com o torso inteiro enfaixado, manchado de vermelho, e fedia a suor e a alguma coisa que não conseguia reconhecer. Ereken sentiu a cabeça latejar como se estivessem martelando um prego no seu cérebro; suas pernas tremeram e o mundo pareceu virar água e cair como orvalho, mas ele se recompôs e arfou:
— Está bem… senhorita Nianna? O que faz aqui?
— Mais importante — disse ela em tom firme —, precisa ver meu pai… — Andou até ele e apertou suas mãos, de um jeito sério que não correspondia sua idade. — O senhor não gostará de ficar aqui.
Sempre tarde demais, soou na sua mente.
Mais uma vez, foi como se uma agulha encandecida atravessasse seu crânio. Suas pernas bambaram de novo, mas Bert saltou do banco, segurando Ereken por baixo do ombro como uma muleta.
— Já que quer tanto sair, Bert, leve o senhor Zwaarkind até o duque — ela cruzou os braços, vestidos com a longa e apertada bata de medista e os cabelos marrados de um jeito que matavam sua beleza. — Continuarei ajudando os outros… São muitos.
— Onde estão Hydele e Willmina? — questionou Ereken. Sua cabeça ardia e seu peito pulsava.
— É melhor o senhor não saber, ao menos não agora.
— …O que aconteceu?!
O calafrio mais enregelante escalou as costas dos dois como milhares de pequenas formigas. Nianna deu um grito de susto e ficou pálida, Bert jogou-se na frente dela e levou a mão ao cinto sem espada e suou frio. Nem com todas as coisas que fez durante a juventude vira Ereken com tamanha raiva desenhada no rosto! O homem de armas sentiu o inchaço nos olhos e os controlou de volta.
“Isso é insignificante agora?!”
— O duque lhe contará, tio Ereken. — Nianna moveu os braços para se desvencilhar de Bert. — Por agora, por favor, vá vê-lo… É melhor saber por ele do que por mim. O cile também está lá. Me tornei sua aprendiz e estou fazendo o trabalho dele… o melhor que posso. Por favor, vá ter com meu pai, barão.
— …Perdo…
— Está tudo bem — interrompeu Nianna, indo em direção de Bert e dando-o um beijo na bochecha. — Agora vão. Por favor.
Bert deu um sorriso amarelo. Não pôs uma camisa em nenhum momento enquanto iam para o escritório do duque Theolor Beesh, mas ainda se deu de apoio para o pai. O selo do silêncio estava preso na porta. Ambos entraram abrindo as portas duplas com força total, deparando-se com os homens Beesh, o rei e seu filho e o cile, Henri — todos com um rosto cansado, como se fossem muito mais velhos do que eram.
Seu filho se sentou de imediato na cadeira mais próxima; Ereken ainda prestou uma mesura ao rei, a mais educada que sua cabeça lhe deixou. Fitou o lugar com calma.
— Onde está o barão Sgaan?
— …Morto — respondeu o duque. Seu rosto tinha olhos marejados e olheiras de quem não dormia há semanas.
Ereken deu um fraco passo para trás. Seu truque não lhe pareceu mais efetivo, pois sua vista voltou a enturvecer.
— E min…
— Sua esposa e filha estão vivas — respondeu o medista, estralando os dedos velhos. — Sirvo este lugar desde que Sua Graça o duque era um rapaz, mas em nenhum momento vi algo assim.
— O que isso quer dizer?!
Ereken cerrou os dentes. “Aqui não é lugar para gritos!” Apertou os punhos e se forçou a ficar de pé. “Te mostrarei assim que sairmos daqui”, foi tudo que o rei Rheider Bloemennem permitiu que o cile falasse antes que, coçando o pescoço e os olhos inchados e pálpebras escurecidas, interrompesse:
— Isso não é importante, agora que sabemos que ambas estão vivas.
— Entrou em um péssimo momento, amigo — disse o duque. — Um horrível. Deveria ter dormido mais um pouco. Nossas decisões foram jogadas fora, fomos feitos de imbecis dentro de minha própria casa.
— …Eztrieliz.
— Não temos certeza, ainda… — murmurou o grande Rheider Beesh, que logo corou quando todos o olharam. — Digo, não pegamos o culpado pelo vento verde… Podem ter sido só bandidos…
— Bandidos que invadiram MINHA casa e, com um plano MUITO elaborado, mataram boa parte de meus vassalos e pôs suas crianças para dormirem!
“Hydele e Willmina…”
Ereken golpeou uma rachadura na parede; grãos de rejunto saltearam e uma rachadura meandrosa como uma rede de aranha se espalhou. O “vento verde” já havia esclarecido bastante na mente enuviada, todavia o bravejar do duque deixou suas memórias como novas. “Desmaiei assim que respirei da névoa! Mais uma vez falhei em salvar os meus!”
— Dane-se quem foi, temos que executar os criminosos! — crocitou o príncipe, com as pernas tremendo e voz mudando como a de um garotinho. — Todos vocês viram o que eles fizeram com a minha garota! Viram os braços e pernas dela! — “Nianna estava bem”, pensou Ereken, mordendo os dentes. — Estava ensanguentada até a cabeça, à beira da morte!
— Cale-se! — bravejou Ereken ao príncipe. O príncipe se levantou da cadeira e tentou gritar de susto, mas antes que abrisse a boca, a majestade do reino esbofeteou sua face. Os olhos e bochechas do príncipe ficaram mais vermelhas do que seus cabelos tricolores.
— Eu disse coff!, que isso não era importante no momento. — Voltou a se sentar. — Quando coff!, for, você pode falar da herdeira coff!, do barão Zwaarkind o quanto achar necessário para esta situação. Agora sente-se, barão — apontou para uma cadeira vazia —, teremos coff!, coff!, coff!, uma manhã péssima e longa.
Houve um forte batido na porta; Ressen Alegre a abriu, trazendo atrás de si um guarda qualquer.
— Sire! — ele gritou ao duque, se ajoelhando. — Sire, meu senhor duque!
— Chega de bajulação! Fale logo!
— Sim, sire! — Se levantou, cabisbaixo e tristonho. — Nós fechamos os portões assim como Vossa Graça ordenou quando o sol raiou. Ninguém entrou! Ninguém saiu!
— Então o que está esperando?! Leve todos no castelo até a porcaria do pátio principal!
— S-SIM!
Rei Rheider Bloemennen, porém, não esperou a saída do guarda para continuar:
— Está deixando os reais problemas fugirem de suas mãos, duque.
— Problemas reais?! Problemas reais! — golpeou sua mesa com força para rachá-la. — Você ficou surdo, Rheider?! — O rei continuou com o rosto impassível; lembrou Ereken de seu pai, dando-o um gosto amargo na boca. — Que parte do que venho gritado não entendeu?!
— Buscar um culpado aqui não levará pontualmente a nada! Já sabemos coff!, o culpado — rapidamente vasculhou uma bolota dentro de seu manto, branca como cal, e a engoliu. — Coff! Coff! Coff! — Rheider Beesh foi em direção do rei para ajudá-lo, porém foi impedido pelo rei. — Coff!, hfhhh — arfou, levantando o rosto. — Precisamos na verdade saber as causas, e são muitas, e nos comos.
— A causa para mim é mais que óbvia — rugiu o duque. — Nos matar! A ti, os que trouxe contigo e teus filhos, os meus vassalos e os meus filhos!! — bateu o braço contra a mesa, com os dentes estralando de ira e olhos parecendo cuspir sangue. — Se minha filha não tivesse rasgado seu vestido para cobrir o nariz, poderia estar morta!
— O ovo está seguro? — continuou o rei com tom enregelante.
— Você quer falar da droga de um ovo?! — Theolor Beesh se levantou de supetão e agarrou sua mesa; no outro instante, ela estava sendo jogada pela janela. A vidraça voou sonoramente ao mesmo tempo em que ele agarrou o colarinho do rei.
— Largue meu pai!
— Cale-se, Howan! Não lhe dei permissão para falar!
Ereken torceu o nariz e fitou seu sire com um olhar sério. O duque largou o rei antes que cometesse traição e voltou ao seu cadeirão.
— Foi o suficiente… Coff! Coff! — pigarrou. — Tomei minhas decisões reais. Príncipe Howan.
— …Sim, pai…
— Escreva a seguinte carta — o rapaz de imediato tomou um papel da primeira estante que achou e usou-a de apoio —, destinada aos reis de todos os Cinco Reinos e ao id Baene: eu, rei Rheider IV Bloemmenen, rei de Aarvier, senhor dos Pântanos Floridos às Planícies das Águas, das Montanhas Fronteiriças ao Planalto Cinzento, sangue legítimo dos Farenos e Veranos e filho de falecido rei Ruihejer Bloemennen, alerto as Casas Reais, Suas Majestades Godwill, Troikg, Wehreisen-Hart e Myson que fui, a mim, meus filhos e vassalos, atentados contra a vida por meio de vil tentativa de envenenamento, precisa e cruel. Que tenho o estado de minha filha em desconhecimento e os rumores de bárbaros eztrielizianos atacando minhas vilas por todo meu reino são agora consideráveis como verossímeis. Invoco o Conselho dos Cinco em plenos direitos de guerra. O lugar será o Ninho do Dragão em Mão da Queda.
O rei retirou-se de sua cadeira e tomou mais uma das bolotas do tamanho de uma castanha. Príncipe Howan dobrou a carta e a entregou para o pai — Ereken observou que suas olheiras e papo estavam ainda mais escuras —, que a selou com cera e a marca do sinete real.
Em seguida, o rei se sentou novamente, desta vez, fitando Ereken.
— Agora, quanto à sua criança coff! — cobriu a boca e parou de falar. — Sua criança, barão Zwaarkind, salvou a todos nós.
Ereken ficou com os olhos abertos como os de uma boneca; sua vista enturveceu.
— Por que não nos disse que sua filha, a pequena Hydele Zwaarkind, era um mago?
— Porque ela não é! — respondeu Bert.
— Eu sei o que vi — afirmou o rei. — Não fui atingido pelo veneno, nem a mim e nem meu filho e o duque. Confirmam ambos. Pode questioná-los.
Ereken fitou seu sire com o coração desacreditado. Não havia mentira nas suas feições, nos traços do rosto agrisalhando do seu senhor.
— Não é possível! — argumentou Ereken. — Eu estava com ela quando o cile fez o teste!
— Isso é verdade — alegou cile Henri para os da sala, prestando uma mesura velha e educada ao rei. — Se me permite, Vossa Graça, Vossa Majestade, eu mesmo fiz o teste com a menina, tal como fazemos com todos os feiticeiros que se candidatam à Ocas Ciled. Furei o dedo de seu pé esquerdo, seu mindinho direito e o peito e coletei sua saliva para o teste da erva-forte. Nenhuma aptidão para as ciências da feitiçaria. Nenhuma.
— Eu sei o que eu vi: ela foi coberta por uns símbolos estranhos na bela pele, juntou o veneno em bolas nas suas mãos e as expulsou pelas janelas! — bravejou o príncipe, batendo o pé no chão. — Foi magia!
— Isso é verdade — afirmou uma voz feminina e viril. Jenna entrou no escritório com um olhar machucado e o ombro enfaixado. Ela prestou uma mesura ao duque, então continuou: — Estava do lado de fora, fazendo uma ronda, quando vi turíbulos acesos e as portas do salão obstruídas e estranhei. — Prestou ajoelhamento ao rei.
— Continue — ele disse.
“Jenna, o que está fazendo?! Minha filha não tem essas capacidades! Se tivesse, não estaria viva! Seu corpo mal aguenta uma caminhada num dia quente!”
— Me aproximei, pois era bem conhecido que o duque tinha um nariz sensível à fumaça, tanto que não participou do terceiro batismo do primeiro filho. — Ficou de pé. — Eles já estavam quase apagados e não havia ninguém por perto, e quando de repente peguei neles, alguma coisa brilhante zuniu, as janelas ficaram claras como deveriam ser e senhorita Hydele estava ao ar… O vidro foi explodido pela rajada verde que veio em seguida. Desviei do vento, mas um caco raspou meu ombro…
— Eu também vi isso — afirmou Rheider Beesh. — Foi por um vislumbre, um instante, mas vi…
“Não…”
— Isso… Isso é impossível! — gritou Bert, mas seu próprio tom de voz não conseguia acreditar no que disse.
— Agora faz sentido — disse o cile, coçando o queixo careca. — Ter aguentado aquela queda…
Ereken não conseguia reagir. Suas mãos estavam fracas e mal conseguia respirar.
“Nós erramos, Mina… Ele virá até nós. Agora ele saberá.’
‘Não…’
‘Ele com certeza já sabe.”
Jenna se levantou e os olhares caíram sobre o barão, fitando o chão. Quase todos ali viram agir como um guerreiro quase heroico há menos de um dia. Dos cinco momentos do duelo, todos foram vencidos contra o cavaleiro de cinza como se combatesse uma criança. O admiraram e festejaram por ele.
Agora estava com os olhos arregalados, cabelos desgrenhados e rosto vermelho de suor frio e medo.
Sempre tarde demais. Fazia tempo desde a última vez que a voz de seu pai suava tão alto na sua cabeça. Tarde demais mais uma vez, meu herdeiro. Odiava como ela tinha razão. O fazia sofrer.
— Levem ela para Ocas Ciled — arfou, levando até o rei a quebrar o rosto impassível. — Por favor, Vossa Graça, Vossa Majestade, dê-a um novo nome, mesmo que apenas durante os anos de estudo, e a deixe segura com poucos e bons cavaleiros… e a deixe longe de mim.
— Ereken! — rugiu o duque. — O que pen…
— Eu farei isso — afirmou a mestra de armas. — Vou com ela, senhor Ereken. É a minha pupila.
— Pois a decisão está tomada — afirmou o rei. — A futura mago-real Hy…
— Mago-real?! — bradou o Zwaarkind. — Não foi isso que…
— Barão Zwaarkind, sabe quantos feiticeiros de guerra tenho disponíveis para proteger este reino? — Ereken ficou em silêncio, com os olhos quase sangrando de raiva e tristeza. — Menos de vinte. Sabe quantos têm disposição e velocidade para agir como ela fez naquele momento? Dois, e ambos já tem a vida cobrada pelo tempo. Hydele Zwaarkind, sob um nome falso, será enviada à Ocas Ciled, onde estudará até os vinte anos de idade na formação de um entalhe de lírio e os assuntos de preferência própria e do reino. Terá esta permissão em favor de mim e minha Casa, como também em benção minha por sua graça e erudição.
“Isso…” Sempre tarde demais. “Se…”
Sentiu seus olhos marejando. “Sou incapaz até disso…?”
O rei suspirou.
— Sei que consegue lidar com os problemas no Sul, duque — arfou, levando a mão para o pescoço. Tossiu brevemente, então logo ingeriu mais uma das bolotas. — Mas muitos de meus homens caíram.
— Eu vou contigo — Rheider Beesh afirmou, levantando de supetão —, Vossa Majestade. — Pôs a mão no peito e emitiu um tom grave. Bert traçou um sorriso arteiro no rosto. — Conheço toda região do sul, por mais que não pareça… Vou levar uma cavalaria comigo, meu rei, e lhe protegeremos até o final do sul…
— Você fica aqui, Rheider — bravejou o duque.
— Sei o que estou fazendo, pai. — Ergueu o pescoço e o deu um sorriso confiante. — Não sou tão idiota.
O duque suspirou e finalmente se sentou, coçando a cabeça. Ele observou o sorriso no canto da boca do filho; seus olhos arregalaram.
— Maldito — sorriu fracamente. — É bom que o arme cavaleiro então, meu amigo.
— Que seja — o rei falou, ocultando um sorriso amarelo. Rheider Beesh se ajoelhou frente ao rei, que tirou a espada de sua bainha. — Rheider Beesh, segundo filho do duque Theolor Beesh e herdeiro do ducado, por tua bravura e lealdade, consagro-te aqui e agora com as esporas e bençãos de um cavaleiro. — Traçou, lentamente, o Sinal de Fuinvol, com a ponta da lâmina no peito erguido, na boca calada e na testa do garoto. — Que teu coração siga a bater com honra, que tua boca prenuncie boas novas e tua mente não ceda às tentações da corrupção e desonra. Juras proteger os fracos?
— Juro pelo Pai e pelos meus ancestrais.
— Juras proteger a honra de teu rei, de teus senhores e do teu povo acima de tudo, sacrificando tua vida pelo bem maior e nunca ceder a qualquer mal?
— Juro por Fuinvol e por todos os Quinze que jamais cederei ao Mal!
— Erga-te, Cei Rheider Beesh.
Rheider se levantou e tomou em mãos a espada do rei.
— Irei protegê-lo, meu senhor.
— Então eu também irei para longe — afirmou de súbito Ereken.
— Desertará o reino? — o rei o fitou impassivelmente de novo.
— Não. Vou protegê-la no lugar correto. — “Longe dela. Longe delas.” Agarrou a mão letárgica. “Sinto medo. Ele se apossou de mim.” — Vou à fronteira. Para a Fortaleza-Montanha. — Suspirou. “Não deixarei que me vença uma terceira vez.’
‘Não cometerei o mesmo erro uma terceira vez. Irei agir antes do Lobo sinta o cheiro do meu medo.”
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