Índice de Capítulo

    “Mesmo vivendo anos na carne e mente de vários homens, há alguns que, mesmo com esforço, não consigo compreender. Alguns têm sede no coração por coisas a mais do que água ou amor, e fogem atrás de saciarem-se; muitos deles, para minha curiosidade, sabem que precisam de amor e da água.

    Por que não voltam? Por que fogem? Dessas coisas, confesso, não entendo.”

    Izandi, a Oniromante

    Desde o momento que a hoste do rei saiu das muralhas do castro dos Beesh, Bert conseguia imaginar ao menos doze caminhos muito mais rápidos para tomarem. “Mas, não, tinha que ser a droga da Estrada dos Tijolos Dourados!”, grasnou-se. “Por que fugir dos pântanos?!”

    Os cavalos pisotearam a neve devagar e as rodas a jogaram para cima; e Bert meneava a cabeça, fechava os olhos e encurvava as costas de tédio quanto mais percebia que já poderiam estar longe.

    Ainda assim, ficou calado. Quinze eram as carruagens dos nobres e mais de cinco de servos e cavaleiros — e todos tinham perdido alguém. A hoste se movia devagar, cansada.

    E assim seguiram. O agora Cei Rheider Beesh tinha tomado dianteira quando atravessaram a ponte para o Pomar Branco, mas voltou para o meio do séquito logo assim que tomaram a noroeste na Estrada, que abaixava em relevo. O Planalto Cinzento era alvitamente deixado aos passos dos equinos, que marchavam como moscas com frio.

    — Ei, Rheid — puxou Bert, fazendo sua égua diminuir a velocidade. Estavam em decida, e pelo vento e as rochas talhadas espalhadas ao redor da Estrada, Bert deduziu que estavam chegando ao Ode dos Pássaros.

    — O que foi? — Rheider também abaixou a velocidade. Estava vestido com roupas grossas e seu cavalo era o mais musculoso (e cansado) de toda a hoste. Tinha feito a barba.

    — Esse caminho foi ideia sua, não? — Apontou com o indicador. — Se tivéssemos ido pelo nordeste, chegaríamos em portos do Canal do mesmo jeito; e bem mais rápido!

    Rheider exibiu um sorriso no canto da boca, alegre como o orvalho no início da primavera.

    — Miserável. — Fez um sorriso no canto da boca. Era uma felicidade que Bert não sabia compreender. “Sequer teve ela ainda”, pensara.

    Bert afagou a égua e acelerou o trote. Após seis quilômetros chegaram a uma curta e plana colina; e os animais cansaram-se mais do que era previsto. A floresta desenhava-se a curta distância no horizonte, antiga e com faias nuas e altas, talvez até mais do que os pinheiros, azevinhos e teixos; tudo coberto pelo tapete invernal.

    “Aqui Vil e Bernel conheceram o Pai Árvore, obedeceram seu pedido, mataram o Rei do Inverno e viraram estrelas no céu”, pensou, fitando a floresta de longe. De repente sentiu seu coração pulsar. “Onde está Hydele quando se precisa de um bom músico?” Sabia que ela não lhe negaria um canto.

    Vil e Bernel mentirosos eram! Bernel e Vil azarados eram!

    A hoste do rei, no entanto, não ficara comovida de estar onde um conto de cavaleiros tão honrosos havia começado. Os servos ergueram o acampamento rapidamente e acenderam fogueiras.

    O que surpreendeu Bert foi que alguns estavam removendo a neve de uma área muito grande e acendendo archotes grandes e pesados, e sob a neve, estava com um solo cinzento e esbranquecido, como cascalho. Foi beber um pouco de vinho na sua tenda, mas antes que tirasse a rolha, ouviu passos e lamúria.

    Bebeu um único gole e retirou-se como um coelho saindo da toca ao raiar da primavera.

    O rei estava sobre um estrado baixo, rodeado de seus vassalos e servos. Vestia um longo manto de cetim e couro, uma túnica castanha e sua coroa: um grande aro de ouro e marfim com elevações na forma de bicos encrustados com rubis, topázios e zircônios castanhos.

    — Meus irmãos e vassalos — chamou o rei, cujos olhos estavam escuros, esperando atenção de todos. — O que nos aconteceu não é nada senão… coff!, desastroso, vil e… cruel. Coff! coff! coff! Não os teria convidado coff! para a comemoração de noivado do meu herdeiro caso tivesse conhecimento disso; teria dado minha vida para impedir, como fiz há quatorze coff! anos, afim de parar os atos do meu irmão. Os Quinze confirmariam.

    Ergueu a mão direita.

    — Vamos a nossas casas, rezar pelos nossos mortos. Antes de sairmos, contatei Irmãs dos Perfumes para manterem os corpos em estado imaculado com seu ungimento: nenhum perecerá ao tempo antes de seus devidos funerais. Não antes deste mês, mas antes do inverno acabar, terão seus parentes e amigos para a ascensão. Toda a Casa Bloemennen compactua com suas dores.

    De súbito, servos substituíram bandeiras e tapeçarias pelo Cálice de Ilasis e a Espada de Fuinvol. Bert sorriu por um instante, mas logo voltou ao seu estado de tédio.

    — Mas, agora, espero sobrepor um pouco de suas dores. Os Seis principais membros de minha Guarda sempre foram cavaleiros escolhidos a dedo… coff! — Parou, buscando uma das estranhas bolotas, mas desistindo. — Coff! Ainda assim, o ato infame, de culpado dissidente já punido, levou um deles à maca, à Ilasis e coff! …um a renunciar temporariamente seu cargo.

    Saiu do estrado, fitando Bert e Cei Rheider Beesh. Logo voltou seus olhos para todos aqueles que o rodeava, incluindo o príncipe. Um justilho de couro sobre um tabardo castanho, pelagens de raposas ruivas e calças amarelas como ouro, adornadas com penduricalhos e uma espada, exultavam as cores de sua Casa.

    Em especial, pôs-se ainda mais ricamente; invés da coroa de príncipe, amarrou os cabelos com uma argola de diamante detrás da cabeça, e seu tabardo era cheio de correntes de prata, além de ter o brasão de sua Casa entalhado na gorjeira.

    O Flor do Dragão pôs a mão no ombro do rapaz, que continuou:

    — Que os Deuses escolham os novos três membros através do combate justo e limpo! — Pôs a mão no peito, com olhos amainados de tristeza. Bert ergueu as sobrancelhas. — E que vosso luto seja, mesmo que só por esta noite, esquecido.

    Bert saltou para trás e estralou os dedos. Respirou fundo e suspirou, buscando a princesa no olhar. Por sorte, não precisou andar muito. Montaram um estrado maior, de frente para a arena escavada, e puseram lá cadeirões para o rei e o príncipe, além de um longo sofá onde a princesa estava sentada, rodeada de outras senhoritas da nobreza.

    Estava trajada contra o frio; desde o vestido vermelho grosso às pelagens e a crespina; mas as duas colegas sentadas ao seu lado…

    Elas fitaram Bert com afinco, e ele percebeu e estralou a língua. Belas gêmeas de cabelos escuros e olhos claros, talvez beirando os vinte anos, cada uma a um lado da princesa e com decotes como se o inverno não existisse. Não queria participar, pensava. Não sabia dizer se gostava de Silale o suficiente ao ponto de fazer juras aos joelhos do rei para protegê-la com sua vida. Todavia, uma das gêmeas fez um gesto curioso, o observando com a voracidade de uma donzela curiosa.

    Buscou seu amigo na multidão, mas foi como se Rheider tivesse desaparecido. Deu um sorriso para a mulher, e, após alguns segundos, encontrou o amigo a alguns metros, de costas escoradas em uma tenda. Deu passos abafados pela neve, dando olhadelas para trás de momento em momento. “As maldiçoes de ser bonito…!”

    — Vai participar? — puxou Cei Rheider, mordiscando um bolinho de neve, e Bert quase saltou para trás de susto. — Dessa competição?

    — …. — Olhou para trás; a gêmea acenava e a princesa sorriu de volta. — É, acho que vou sim. — Juntou as mãos e esticou os braços para trás, deixando estralos a serem ouvidos como pedras deslizando num terremoto, então pegou em Dente de Hiena na sua cintura. — Não vai querer o título de Guarda-Real pra mostrar pra Jeanny?

    Rheider suspirou, olhando por trás do ombro.

    — Dessa vez… Dessa vez eu passo. — Sorriu. — Não sou muito bom com a espada. — Olhou para baixo e cruzou os braços. Ele, que era um Beesh, nem carregava uma espada consigo. — Não sou tão bom como meu irmão. E se duvidar, talvez até Nianna seja melhor nisso do que eu…

    Deu uma lufada, deixando uma nuvem lânguida no ar. Bert suspirou também, sentando-se ao lado do amigo.

    — Pois então vou perder — respondeu. — Vai ser divertido competir um pouco.

    — Viciado em adrenalina.

    — Melhor do que em gordura.

    — Hehahaha!

    — Hum. — Ergueu-se, tirando a neve da bunda. — É isso. Torça por mim, meu nobre cavaleiro!

    O amigo ergueu o punho.

    — Espero que seja humilhado.

    O outro bateu punho no punho.

    — Espero algo bem pior que isso.

    Bert saltou sem sair do lugar, então bateu no peito. A noite já tinha caído completamente, com a Lua de Prata sem qualquer nuvem a cobrindo. Uma noite clara, sem sinal de neve ou névoa. As corujas e estrelas os fitavam, e logo as fogueiras crepitavam e grunhiam o cheiro de gordura de porco e vinho era aberto.

    Reparou na aparência de todos os nobres ali: não os contou, mas imaginava que de adultos haviam ao menos uns cem; e desses cem, contou que tinha menos de vinte com cabelos esbranquiçados.

    Caminhou até a arena. Era um espaço amplo o suficiente para que ao menos vinte homens se matassem ao mesmo tempo. O triplo disso se apresentou, com armaduras montadas as pressas.

    Bert suspirou enquanto esquadrinhava cada um dos cavaleiros ali. Homens altos, acostumados a lutarem com armaduras, espadas e escudos, alguns que eram gigantes. Havia um tão alto quanto Ereken, um tão gordo quanto Rheider Beesh, e com certeza dos mais de cem, ao menos uns dez poderiam usar ahvit, ele pensou.

    “Vou exibir um pouco”, decidiu.

    — Cavaleiros! — proclamou o príncipe, e havia no seu tom de voz uma seriedade que irritou Bert. “Cadê o moleque que propôs à noiva bêbado?”, pensara, percebendo que seu peito encandecia de raiva somente de pensar na proposta e nele humilhando Hydele. — Àqueles que quiserem a candidatura à Guarda Real, à frente!

    Todos os trinta homens e Bert deram esse passo, e logo começaram a lutar; um de cada vez. Alguns eram lutadores muito bons, e Bert forçou-se a admitir isso com olhos bem abertos, mas errou na previsão de quantos sabiam as artes; estava otimista demais. Não havia um usando, porém poderiam estar escondendo.

    Ele se esgueirou até um servo e pegou um pedaço de carne quando chegou a sua vez de lutar. Na arena, havia entrado um cavaleiro grande, com uma armadura completa — enquanto Bert vestia uma brigantina mal amarrada no cinto e seu cachecol — de várias placas de aço e uma lança tão bonita que pensou ser herança de uma Casa Marquesa.

    — Diga-me seu nome — falou o cavaleiro, fechando o visor do elmo. Bert saltitou e balançou o pescoço, de olhos fechados; reparou que a princesa tinha dito algo engraçado e as mulheres ao seu redor concordaram. — Não vai me responder? Muito bem. Lutemos!

    O cavaleiro preparou sua lança, mirada contra o pescoço de Bert. O rei moveu o braço para cima.

    Porém Bert apertou o braço esquerdo com o direito e fitou o cavaleiro um pouco mais. Em seguida, desembainhou Dente de Hiena, a mirou contra ele — então a fincou no chão. Os nobres o fitaram com a sobrancelha erguida, mas ele não ligou — e conseguia sentir seu oponente cerrando os dentes. Invés disso, ele se aproximou do sofá onde estavam as donzelas.

    A princesa, meio deitada, sorriu, cobrindo o rosto com o véu da crespina; outras donzelas saltaram os olhos e endireitaram suas costas. E as gêmeas, a quem Bert travou o olhar, sorriram vorazmente com os olhos.

    — Este humilde cavaleiro suplica uma prenda, belas donzelas.

    No mesmo instante, Silale o jogou um lenço vermelho como seu cachecol — como se já esperasse que ele fosse fazer isso. Bert o pegou ainda no ar, então prestou uma vênia profunda, ajoelhou-se e amarrou-o no pomo da Dente de Hiena. Ele enfiou a mão nas pedras no chão, e sorriu tão arrogantemente quanto planejava agir. O cavaleiro ergueu a lança e deu um passo forte.

    Bert saltou para trás, raspando a Dente de Hiena no chão.

    — Entre em riste! — bravejou o adversário, mas Bert se mantinha parado como uma árvore, fitando o caminho que a espada deixara.

    O cavaleiro atacou com a lança pela vertical; Bert desviou à direita, arrastando a espada, e então desviou de mais um golpe amplo e espalhafatoso com um salto ainda mais longo.

    “Quer se exibir também, moleque?!”, perguntou-se Bert. Seu oponente segurou a lança com as duas mãos, então atacou; mas o mais novo sorriu e deu um salto felino para longe, ficando a espada no chão. “Está seco o suficiente?”, se perguntou. Ouviu o adversário ofegar, então segurou sua espada pela lâmina.

    — Heh!

    Encostou a ponta de Dente de Hiena no chão e a segurou com as duas mãos. A bateu uma, duas vezes; o adversário entrou em riste de uma vez, e Bert avançou riscando o chão. O alcance da lança era um poder magnífico, Bert sabia, mas uma armadura atrapalhava. Deu um passo em força total, e assim que o lanceiro golpeou para frente, Bert se abaixou.

    O lanceiro saltou para trás, mas Bert foi mais rápido. Fincou Dente de Hiena no chão, então bombeou o ahvit pelas suas pernas; fluiu como um estrondo, e toda aquela força se converteu em um sorriso arrogante no mais jovem. Agarrou o pomo da espada e a puxou como um arar do chão.

    E faíscas cuspiram do solo, acompanhando a espada de Bert.

    Ele tentou se defender, pondo a lança na horizontal; e Dente de Hiena subiu encandecida. No momento da colisão, as faíscas atingiram a armadura do cavaleiro e ele gritou e fechou os olhos.

    Bert, que tinha a arma mais leve, recuperou-se mais rápido soltando a espada e chutando o peito do cavaleiro. Sentiu o vigor do ferro reverberando pela sua perna, mas o adversário soltou a lança e gritou de dor, caindo de joelhos e agarrando o peito.

    Quando ergueu cabeça, percebeu o mogno da lança tocando o lado direito do seu pescoço enquanto Dente de Hiena ardia no lado esquerdo.

    — Entre em riste! — achincalhou Bert, sorridente como uma criança ao ganhar um brinquedo. Jogou a lança no chão e embainhou Dente de Hiena, então rei Rheider anunciou sua vitória; e notou o príncipe o mirando com o lado direito do lábio caindo e olhos semicerrados.

    Bert não teve tempo para comemorar. Imediatamente foi cercado por dois escudeiros muito jovens, meninas e meninos e nobres querendo contratá-lo. E, para piorar, era difícil fugir por ser alto demais — mas foi uma vantagem. Viu uma das gêmeas de pé, ao lado de uma tenda; ao perceber que era o foco da sua visão, ela sorriu e balançou os dedos.

    — O duelo foi-me proveitoso, mas cansativo. Peço que permitam-me descanso, por favor — pedia, com voz singela e calma.

    Subitamente, o rei se aproximou dele e fez um gesto para que o dispensassem. Assim que ficaram somente os dois, tentou, mas não conseguiu alcançar o ombro de Bert. Encostou o punho no seu peito e o olhou seriamente.

    — Conheço o fogo nos seus olhos, Zwaarkind. Proteja meu herdeiro pelo próximo um ano e receberás grandes riquezas, um título próprio e secretamente o dever de proteger sua irmã.

    Bert engoliu em seco. De repente se sentia muito feliz.

    O rei deu uma batida fraca no peito do jovem, então o deixou. Bert o observou sair de perto e voltar para seu cadeirão; então voltou-se a tenda. Não encontrou Cei Rheider nem a princesa ou o príncipe. Seu caminho fora surpreendentemente limpo até a tenda — escura, erguida baixa e sem detalhe de família.

    “Uma tenda de plebeu?”, pensara, entrando. Era ainda menor por dentro, mas havia um troféu digno da sua vitória chamejante: numa cama iluminada por algumas velas, uma das gêmeas estava sentada.

    — Quis falar com você desde que chegamos no castelo! — ela disse. Bert se aproximou. Vestia ela um manto longo e azul de cetim, só não mais azul que seus olhos e mais fino que seus sedosos cabelos, que mais pareciam fios de seda ao pouco vento que entrava.

    Ela se aproximou, segurando os ombros dele, puxando-o ligeiramente para baixo.

    — Não imaginei que seria um lutador tão bom. — Ela sorriu, mas seus olhos tinham outro tipo de fome. Apontou para a mesa. — Pegue o vinho.

    Bert obedeceu com um sorrisinho fumegante de escárnio. O líquido escuro e espesso deslizou para as taças, fumegante. Quando se voltou, cinco velas já haviam sido apagadas, e o vestido dela… ela fez questão de desfazer laço por laço.

    Por um instante, ele hesitou. Mas seu olhar percorreu aquelas curvas, a cintura delgada que pedia por suas mãos, os seios parcialmente expostos que se erguiam com a respiração acelerada dela. Ele engoliu o vinho num único gole, sentindo o calor do álcool arder sua garganta. A escuridão se aprofundou quando a última vela morreu num sopro risonho.

    Então, ela desceu de joelhos, fitando-o de baixo com um sorriso travesso. Bert sentiu a respiração suspensa, um arrepio percorrer sua espinha antes de sentir a boca dela deslizar lentamente em seu membro. O calor e a umidade, a destreza da língua explorando-o, fizeram-no cerrar os dentes enquanto bebia mais um gole. O vinho não era o único a deixá-lo tonto.

    Seus dedos deslizaram pelo rosto dela, e quando ela se afastou, os lábios úmidos e a respiração entrecortada, ele lhe ofereceu a taça. Ela bebeu devagar, o líquido escorrendo pelo canto da boca enquanto sentia os dedos dele viajarem entre suas coxas. Um suspiro escapou de seus lábios.

    — Ah… — a taça tremeu em sua mão antes de escorregar para o chão, esquecida.

    Em um movimento firme, Bert a ergueu, deitando-a sobre o colchão macio. Seus olhos eram os de um predador à beira do ataque, mas então, uma fisgada apertou seu peito. “Nianna”, seu pensamento ecoou como uma sombra. Algo dentro dele hesitou.

    Mas então, dedos femininos deslizaram por suas costas, um toque leve, familiar. Uma boca quente encontrou seu pescoço, e um corpo pressionou-se contra ele.

    — Sem mim, não, irmã.

    A voz foi um sussurro embriagado contra sua pele. Ele se virou, e a viu — a cópia perfeita da mulher sob ele. Mesmos olhos, mesma boca ávida. Mas o sorriso era ainda mais provocador. Ela usava apenas um anel de safira, a pedra azul reluzindo no brilho fraco da tenda fechada.

    Antes que ele pudesse processar, os lábios dela tomaram os seus em um beijo profundo. O desejo o tragou como um redemoinho, e quando sua atenção retornou à primeira, já estava dentro dela, sentindo o aperto quente envolvê-lo.

    — Tem força para nós duas, né? — ela riu; uma provocação. Bert amava o quanto odiava ser provocado.

    “Merda…”

    O suor frio desapareceu. A segunda gêmea recuou, indo até o vinho. Pegou o jarro e bebeu direto, até que sua boca ficou roxa e gotas escorreram por seu queixo. Então, ela se aproximou, os olhos semicerrados de prazer ao ouvir os gemidos da irmã. Sentou-se ao lado, aguardando sua vez.

    Bert perdeu a noção do tempo, perdido no ritmo, nos sons, no calor de dois corpos que pareciam se entrelaçar ao redor dele como serpentes. Quando, enfim, seu ápice tomou conta, a primeira virou-se, ofegante, deixando espaço para a outra.

    Ele tentou recuperar o fôlego, mas não teve tempo.

    Ela o puxou, derrubando-o sobre a cama.

    E montou sobre ele.

    Seu corpo deslizou contra o dele com impaciência e domínio, cavalgando-o sem dar-lhe trégua. A irmã, ao lado, apertou-lhe o peito, provocando-a, arrancando dela gemidos que faziam o sangue de Bert ferver novamente.

    Quando os primeiros raios de sol entraram na tenda, Bert já estava acordado e vestido — e o chão estava sujo de vinho e suor até onde conseguia olhar. As duas dormiam como pedras, satisfeitas até no sorriso. Saiu escondido e quase deu graças aos deuses por não ver ninguém, então correu para sua tenda e trocou as roupas. Não se lembrava de muita coisa além do prazer, mas quando se esforçou, começou a se sentir triste.

    E essa tristeza — um gosto amargo que não saia nem com outras visitas às gêmeas ou mais vinho — não passou. O acampamento foi desfeito três dias após a competição. Tomaram caminho da Estrada de Tijolos Dourados a passos mais alegres, e Bert via em seu amigo um trote cada vez mais alegre, enquanto o seu, cada vez mais desgostoso.

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