Índice de Capítulo

    “Os dons de sonhar também eram presentes nela. Não bons e precisos como os meus, todavia existentes e poderosos… à sua maneira. Ouso dizer que atrapalhavam mais do que ajudavam, pois, além de difícil interpretação, tardou para lhes dar atenção devida, pois esquecia parte considerável deles assim que abria os olhos.”  

    Izandi, a Oniromante


    A escuridão cerceando um lugar incrivelmente pálido foi a primeira coisa que seus olhos viram. Hyd gemeu de susto. Ventos fortes e frios farfalharam suas roupas e cabelos como se fosse uma boneca de pano; sua trança se desfez e, como se estivesse coberta por uma película fria de gelo, abraçou-se. O frio mais intenso que já sentiu.

    Expirou com a boca pouco aberta, sem nenhuma nuvem de vapor e com as pálpebras sem nenhum peso; leve, leve como seu corpo por inteiro. Nunca sentira tão confortável

    Tijolos brancos entalhados com formas e padrões que não lembrava conhecer erguiam-se mais altos do que as paredes do castelo Beesh, abraçadas por galhos de grandes árvores azuis retorcidas como trepadeiras, salpicadas de folhas como de um azevinho ramoso. Sob seus pés, levantados sem tremedeira, uma alameda caiada com flores que nunca viu… 

    E ao céu, era como a bainha da saia de uma rainha do inverno, dançando em verde e azul à penumbra, se espalhasse deleitosamente. Lera nos livros dos navegadores que ao norte era assim todas as noites; banhadas por uma luz dançante e altiva, como divina. O céu, cheio de pontinhos prateados brilhantes; um céu onde as luas não tocavam. Um céu que se alastrava até os arredores do portão branco redondo, sob o chão e aos seus lados.

    Havia algum símbolo lá, entalhado em vermelho sobre a rocha púrpura. Talvez o de um dos seus Deuses? Porém Hyd não o reconhecia. Sentiu aroma de hortelã… e alecrim.

    Deu um passo à frente, então abriu seus olhos.

    — Filha!

    Sentiu seus ossos sendo esmagados com abraço apertado e as lágrimas geladas de sua mãe antes mesmo de notar os contornos e cores esbranquiçadas da ala do medista. 

    Mhãe?! — grasnou guturalmente como se alma saísse da boca. Estava quase vermelha.

    Sua mãe aliviou, mas não soltou; juntou sua bochecha à dela e quis ficar lá pelo resto da sua vida. “Por que estou aqui? Não é verão…”, pensou Hyd, depois de recuperar um pouco de ar. “Onde está aquela porta? Oh, era um sonho… Bem que o frio era bom demais para ser real.” Sua cabeça tumultuava, sentia pequenas pontadas no lado esquerdo.

    — Que bom que melhorou! — sussurrou Willmina, cobrindo as olheiras e choro com a mão direita. “Minha preciosa, minha estrelinha… minha vida! Deuses, rogo-Lhes que a protejam!” 

    — Ela não vai melhorar assim, senhora — avisou o velho medista, tamborilando seus dedos numa placa de vime. — Vai misturar o miasma, fazendo-a mal. 

    As palavras do velho cile deveriam ser uma ordem, mas Willmina não quis largar a menina nem quando o medista quis fazer os exames. Hyd passou a gostar disso depois de um tempo. O abraço era bom, e seu corpo não doía quase nada. A mãe cedeu somente depois da filha dizer “Estou bem, posso ficar sozinha”, acarretando-lhe uma crise de lágrimas.

    — Ai, ai, mães — riu-se o medista, de olhos fechados, vendo Willmina sair. — Deveria ser um pouco mais doce. Não houve um dia em que ela não estivesse aqui, pequena. 

    — …Eu acredito. Eu sei. — Sorriu. “Mamãe é boa e doce de todas as maneiras, até nos seus exageros.” 

    — Como se sente, garota?

    — Bem — respondeu, com a garganta seca. Logo o cile lhe ajudou a beber água e deu um remédio azedo. Sentiu a barriga tremer com a acidez, mas aguentou em silêncio. Assim que o gosto ruim saiu da boca, continuou: — Eu desmaiei por quanto tempo? 

    — Dormiu por pouco tempo, em comparação às outras vezes. — Saiu de perto e, sobre a placa de vime, misturou alguns pós de odor forte. — Acordaste ontem, por uns poucos minutos. 

    Os dois ficaram em silêncio. Hyd repousou a cabeça no travesseiro e passou a fitar a ala. “Não vejo as luzinhas”, notou depois de alguns segundos. “Devo perguntar para ele?”

    Talvez fosse pelos olhos cansados, ou porque tinha coisas estranhas guardadas em potes, ou porque fedia a ervas, porém concluiu ser melhor ficar calada sobre isso. Recebeu outra dezena de perguntas. Se lembra do seu nome? Repita-o completo. Consegue soletrá-lo? Como se pronuncia “hibisco” na língua antiga de Aarvier? Algum lugar dói? Consegue contar quantos dedos estão levantados? Outros momentos, pediu para que levantasse um dedo, tentasse mover uma perna ou a cabeça; logo dores voltaram, todavia nenhuma tão ruim quanto antes.

    O medista deu-a chá de cânho-salgueiro quando a tarde caiu. “Eu tenho mesmo que beber isso? Não tem outro jeito?”, perguntara, respondida com um sorriso mórbido do cile. Não sonhou com o portão mais uma vez. Nem no segundo dia, no terceiro e nem no quarto. No quinto, sua mãe deixou que Ereken entrasse primeiro, com um sorriso saudoso nos olhos e a bengala entre as mãos calejadas. 

    — Pai!

    — Hydele! — pigarrou. 

    Não esquecera nenhum pouco de como viu seu pai naquela noite; os olhos gigantescos e amarelados, redondos e escuros como uma lua enegrecida. “Herói”, lembrou. Esforçou-se para levantar os braços e recebê-lo, principalmente quando notou que estava mais cansado do que o normal.

    — Obrigada. — Era diferente do da mãe; quente, não cheirava docemente. Gostava de como fedia a suor e couro, todavia tinha algo a mais… seu nariz parecia mais afiado. Açúcar, trigo, alguma coisa agridoce; outra coisa férrica, e suas mãos estavam grudentas. — Estava treinando?

    — Sim, estava. E também fiz uma surpresa para você. — Levou a mão ao bolso interno do cardigã laranja.

    — Sério?

    O rosto aquilino de Hyd se contorceu numa súbita felicidade quando Ereken mostrou os doces enrolados numa pequena trouxa chanfrada. “Doce de inverno!”, notou pelo formato, as bolinhas destacando-se pelo pano. 

    O cile havia proibido comida difícil de mastigar — já não aguentava mais sorver sucos de ervas e frutas no desjejum, almoço e ceia —, mas os bons docinhos de inverno derretiam na boca. Fez o sinal de Ilasis antes de devorá-los sem piedade ou receio.

    — Estão deliciosos!

    — Fiz com ajuda de Rheider — disse, com um pouco de vergonha na voz. — Ainda bem que ficaram bons.

    — Eu gostei, e isso que importa!

    Ereken puxou um banco próximo de uma cama vazia. “Há menos de uma semana era impossível andar aqui”, recordou. “Tenho de ser grato ao cile e à ordenada-sérvil.” Quase três dezenas de pessoas com membros esmagados, feridos com a batalha. “Dissidentes malditos. Pra tão poucos, lutaram bem.” Por um instante, engoliu em seco; agradeceria até os deuses da esposa e ao seu. 

    Voltando para a filha, ajudou-a a sentar-se na cama. Seu torso magro e braço esquerdo estavam enfaixados, mas não reclamou de dor nenhuma. Ficou feliz. “Minha filha é forte. A morte não chegará.”

    Ficaram observando pela janela. Da quarta torre viam a muralha por cima, então a agora rochosa queda irregular até a floresta enrubescida em vermelho, laranja e cobre, cercando os meandros do rio Invertido; pedaços da Vila do Rio crescendo em sua direção. “As meninas já devem ter feito as roupas de Rainha da Primavera e da Rainha do Outono”, pensou Hyd, triste “, e talvez os rapazes já tenham feito o boneco do Rei do Inverno.’

    ‘Talvez não participe da Queima do Rei do Inverno.” 

    Menestréis vinham e surgiam de todos os cantos, a comida era boa, serviam vinho de lichia como se o mundo fosse acabar e o Versiculista sempre ficava enraivecido ao ver Hyd e as outras crianças a poucos goles de ficarem bêbadas. Era engraçado nos primeiros momentos, todavia, depois que o boneco queimava, a bagunça surgia; tumulto, brigas. Seus pais a tiravam de lá, mas quando o verão chegava em sua metade, muitos bebês surgiam. 

    Quando a tarde deitava-se — e os doces minguavam —, a ordenada-sérvil avisou a Ereken para deixar Hyd descansar. Deixando a bengala ao lado da cama e um beijo na testa da filha, foi indo embora como se nada mais pesasse nas suas costas.

    — Acho que vou estar bem no meu segundo batismo! — Hyd gritou em voz de sussurro para o pai; sorrindo. “Vou estar melhor”, pensou, fitando às suas pernas e braços.

    — Vai sim, posso confirmar isso — avisou também a ordenada-sérvil, mexendo na pequena franja à mostra em sua touca. 

    Respondeu as duas com um sorriso de orelha a orelha, então disse: — Dou seu presente lá.

    “Não eram os doces?”

    Quando as luas fizeram a paisagem pelo janelão tomar fracos tons prateados, a escuridão não parecia afetar seus olhos. Era como se não fosse noite, um dia qualquer cheio de nuvens. Sentiu suas costas pesarem e barriga doer. Com ajuda da ordenada-sérvil, Ciasse, trocou de faixas e roupas depois de um banho a seco, mas não tirou seus olhos da floresta.

    Queria sentir aquele frio de novo. Os vaga-lumes coloridos e lentos… A voz tão doce que pedia “Se acalme”. 

    Viu Ciasse ir embora quando as velas foram apagadas, cada detalhe da escuridão densa se manteve. Fechou seus olhos, pesados e inchados como na floresta. Tateou-os com a mão direita. “Os do papai estavam enormes também.”

    O chá de cânho-salgueiro esfriava na estante ao lado da sua cama. Pensou em tomá-lo e dormir; acordar e ficar melhor… Então a porta tremeu. “Mais um?” Sentiu sua pele esquentar e seu coração doer de medo.

    — Nanica! — gritou Bert em voz de sussurro. Hyd virou sua cabeça tão rápido que sentiu o pescoço estalar! 

    “Muito pior que um terremoto: um imbecil!”

    — Noite, irmão — falou com um sorriso amarelo. — Não grite, há outros aqui… dormindo. Hã?

    Bert parecia mais grávido — e vermelho — do que sua mãe. Vestia um tabardo longo de veludo e brocado sobre a calça, além do cachecol se misturando com os cabelos cor de maçã. Hyd estranhou; viu, na escuridão quase completa, silhuetas de dedos, marcas de pontas de sapatilhas se destacando no padrão vermelho e laranja, e cabelos trançados cor de maçã pelo pescoço.

    De súbito o rapaz pariu. Deslizou por sua barriga uma garota com quase metade do seu tamanho — Bert era quase tão alto quanto Ereken, e prometia crescer mais —, dona de duas tranças e um rosto femininamente magro, todavia das maçãs do rosto proeminente e olhões castanhos que pareciam brilhar no escuro, tão quão o rosto enrubrecido. Era pouco mais velha do que Hyd, tendo já marcas do busto crescendo no vestido azul plissado.

    — Nia!

    — Xii! Mais baixo! — Saltou para a amiga, com o indicador na boca. — Finalmente consegui vir — balançou os braços magros, coberto até o pulso por mangas e pulseiras. — Está bem? 

    — Melhor a cada dia! — Abraçou a moça, que tinha se aproximado.

    — Ótimo; já não suporto aturar as filhas de Bijik sozinha. 

    Bert se aproximou, fitando as duas de braços cruzados, e sentou no banco. Nianna Beesh sentou-se ao lado de Hyd.

    — Temos que ser rápidos — avisou Bert, com voz de desdenho, procurando de soslaio uma certa mulher por lá —, Rheider não vai conseguir enganar aquele velho chato pra sempre. 

    — Verdade! — Segurou as mãos de Hyd, olhando-a nos olhos. — …Estão maiores? Não sabia que olhos cresciam. Parece uma coruja… Uhum! Seu Bert, por favor.

    — Não sou tão velho pra ser chamado de “Seu” não, hein — riu, puxando uma saca de linho. — Aqui, ó.

    Nianna pegou-o com velocidade, desempacotou e pôs o colar de imediato no pescoço de Hyd. Era quase como o que sua mãe sempre usava.

    — Tenho pressa demais por agora, mil perdões!

    Hyd ficou sem reação, porém entendeu. Pior que o Versiculista, só aquele velho cile quando se enfurecia — houve uma vez que impediu todos do castelo de comerem açúcar e gorduras por mais de um mês. Os dois foram embora devagar, até que Bert voltou correndo.

    — O que foi?

    — Não podia ficar sem fazer isso — um sorriso diabólico surgiu.

    Hyd engoliu em seco, vendo a morte chegar como duas mãos tempestuosas sobre seus cabelos; a linda trancinha que sua mãe tinha feito.

    — Malditooo!

    — É mais forte do que eu!

    E correu sem olhar para trás. Se Hyd conseguisse correr, e tivesse força, teria jogado seu irmão pela janela.

    Tomou o chá amargo cheia de raiva, segurando sua bengala. Se sonhasse mais uma vez, queria ter ela para andar. Queria sentir aquele frio de novo, ver aquele lugar de novo. À medida que uma letargia pesada e agradável tomava seus sentidos, o inchaço nos olhos empalidecia e o peso acordava.

    Respirou em seco, pareceu não haver ar. Abriu os olhos marejados e dolorosos; seus joelhos bateram no chão e sua cabeça pareceu ser furada por meia centena de espadas e sabres. “AAAAHGH!” Quis gritar, mas sua boca sequer abria. 

    Caiu ao assoalho gélido com a dor de ter seus pulmões espetados por aço gelado, de todas as posições, de todas as formas, de todos os ângulos. Seu coração não tinha qualquer compasso; uma mão fervente o agarrava e espetava.

    — GGHHHHHHH!

    Então parou. 

    Hyd arfou até a turbidez sumir, seu coração, porém, não esqueceu de nada. Cada pontada de dor tinha deixado seus pelos ouriçados, os olhos afiados e a garganta pronta para gritar por seus pais… até ter acostumado com a escuridão.

    — Aaah…

    As paredes retas e lisas da ala estavam esverdeadas, tortas, seus contornos vacilavam e se misturavam com os biombos e camas e doentes. Hyd levou as mãos a boca e tossiu até a garganta arder, todos ali começaram a tossir. Escuro; claro; escuro; claro; verde e branco. Estava escuro demais, estava claro demais; de pé, aos lados; estava de pé nos muros, correndo pelas paredes; quente, quente, quente.

    — Aaaahhg… 

    “Quente, quente, quente…”

    — Aaaaahgg!

    Jogou-se para frente. Verde, turvo. Frente, frente; perna à frente de perna; tudo misturado. Verde. Quente, quente, quente. Seus joelhos tremeram. Verde, verde, quente, quente; sentiu farpas entrando na sua mão. Respirou o verde; dor. Agulhas nos dedos e nas mãos…

    Frente. “À frente!” Uma cama se misturou com uma parede. Agulhas invadindo o nariz. “Se acalme!” Tampou a boca e nariz. Peso. Pernas tremendo. “Anda, anda, anda!” “Perna na frente de perna!” Se agarrou em alguma coisa. “Perna à frente de perna! Anda, anda, anda!”

    Suas mãos alcançaram a moldura. Navalhas surgiram nos músculos. “Quente, quente, quente…”

    Prata, frio. As luas engoliram o verde ao abrir o janelão. Hyd teve as pernas cedendo, segurando-se à moldura com as pontas dos dedos, então bateu os joelhos no chão e a testa na parede. Respirou agulhas e um vento frio, observando o verde escapar devagar pela janela; à sua direita, viu os contornos misturados com menos intensidade.

    Ainda doía. Se acalme.

    — Ahf, ahf… ahf…

    “A porta. O cile pode me salvar…” Arfou. “Anda!”

    Jogou um braço ao norte, enfiou os dedos contra o chão que subia e descia. Rastejava como uma cobra enlameada. Se acalme… 

    — Oh, sim — Hyd ouviu. — Está tudo correto, por enquanto.

    Era uma voz esquisita, um tenor grave que parecia ter alguma coisa rasgada no meio; ecoava em tons pelas paredes. Continuou a rastejar. Poderiam ajudá-la.

    — Tenho medido as doses perfeitamente; toda noite libero um pouco.

    — Não há risco de acordarem? 

    — Lhes é dado cânho-salgueiro toda noite, antes de irem dormir. E, se acordassem, voltariam a dormir de medo, pois a substância é paralisante.

    Hyd engoliu em seco.

    — Bom saber. 

    Hyd deu um passo para trás, batendo em alguma coisa leve e quente, que se quebrou como porcelana.

    — …Paralisante, você diz? Abra esta porta, agora!

    Foi como se seu coraçãozinho parasse de bater. Jogou-se para trás vendo o teto se misturar à porta, ao teto e até às suas pernas enfaixadas.

    — Não podemos, a substância está lá agora; viraremos vítimas!

    — Não eu, sou exposto à  desde vivo!

    — Isto não é perallhe… — Hyd ouviu as trancas da porta dupla tremerem como um cão no frio.

    “Isso não é bom, não é!”

    Rastejou de biombo a biombo, qual era sua cama? Onde estava sua cama?  

    — Onde está a chave?!

    — Na mesa, mas não te darei! Não podes entra…

    — Cale a droga da boca!

    Ouviu o tilintar do latão. Agarrou a primeira cama que conseguiu alcançar. Gemeu e mordeu seu lábio, atirando-se. Ouviu passos. Jogou o cobertor em cima de si. Os passos pesaram. Estavam perto.

    — Viu? Eu disse que não havia ninguém acordado — sussurrou alguém. Estava misturado as paredes, ao teto, as pessoas, biombos e camas. — Alguém deixou o janelão aberto e, como é de sabedoria comum, venta muito contra as montanhas de cá.

    Hyd deixou os olhos pouco abertos, de soslaio.

    Mas os via, mesmo não sabendo o que via rodeados de luzinhas inquietas.

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