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    “Para uma terra tão fria e escassa, não imaginei quando vi — e estive lá — que fosse tão cheia de vida. Não me surpreendeu quando vi que também estava cheia de doenças. E de sangue sobre a neve.”

    Izandi, a Oniromante

    Era uma mulher de sono leve. O piar de uma coruja, um bloco de neve caindo ou o passo de um eunuco de guarda passando perto do seu quarto a fazia acordar, mas sempre voltava a dormir. Agora estava pesada. Não sabia dizer se estava afundada em um sono profundo, como se águas pesadas puxassem para o fundo de um escuro lago, ou se estava acordada, tentando fugir para os sonhos depois de um dia cansativo. Foram dois. Dois dias inteiros.

    Foi o parto mais complicado que já fiz, dissera a parteira dos Vladein. Seu filho recusava-se a sair. Pusera toda força do mundo, suara e sangrara e gritara e apertara mãos e pedaços de madeira até que quebrassem. A dor foi tanta que chegara a desmaiar duas ou três vezes. Já nem conseguia se lembrar direito. Força! Faça força!, a parteira gritara. E obedecera. No segundo dia, já não conseguia por mais nenhuma força imaginável, mas continuou. Força!, gritara também Mirta. Você consegue! 

    Suas pernas sangraram, conseguiu ouvir o barulho de algum osso quebrando ou um tendão sendo rasgado, mas continuou a tentar. Quebrou a mão de alguém, algum homem que se ofereceu para ajudar, e continuara se esforçando até o ponto que a trouxeram um boi, um tão raro animal nas Ilhas Frias, para que o segurasse pelos chifres.

    Quando pôde enfim ouvir o chorar do menino, não teve tempo para ficar feliz ou aliviada. Somente desmaiou por um breve instante. E foi tão bom segurá-lo nos braços… Voltara a dormir, tendo dificuldade para ficar acordada nos primeiros dias após o parto. Imaginou que não acordaria por nada. Um exército de coelhos invadiu e sujou todo o quarto, mas não acordara. 

    O quarto estava em silêncio. As peles felpudas de coelhos a cobriam, o vento era fraco lá fora e o braseiro aceso estava tão fraco que sequer ouvia crepitares das fagulhas douradas do fogo. Sentia-se enovelada, esquentada como as tais ovelhas que Mirta e Auta lhe contaram. Confortável… e inquieta.

    Surgira uma inquietação no peito. Suas orelhas tremeram, como se de súbito ouvisse o maior barulho do mundo; abriu os olhos de chofre. A escuridão pairava pelo quarto. Mirta dormia ao seu lado, coberta por várias pelagens até o pescoço, com seus cabelos despenteados atirados em todas as direções. Faina achou uma visão agradável e preciosa, todavia não calara a inquietação no peito.

    No mesmo instante, fitou à esquerda. Também jazia coberto por poucas pelagens seu belo e tão, tão amado e sortudo menino, tão belo que a fizera sorrir mesmo com o fedor de suor impregnado na pele. “Tão, tão precioso”, rira, e sem notar um sorriso como não fazia há meses surgiu no seu rosto. Estava escuro, mas apoiou a cabeça na mão e fez questão de olhá-lo sem cansaço, como se contemplasse o pouco de pele que as mantas deixavam à vista. 

    Amava o nariz arredondado, pequeno como o da sua avó e os seus; amava os poucos fios de cabelo branco que brotavam da cabeça como um ramo; amava os lábios finos, que não eram como os seus, nem os de sua mãe; amava as bochechas grandes… Aproximou o rosto mais uma vez, tão perto que sentia a respiração quente do menino.

    Estava saudável, e era grande. “Grande”, sussurrou-se. De todas as suas quinze Noites, essa era a mais feliz da sua vida.

    Mas a inquietação não sumira. Faina sentiu como se uma bola de vento rebatesse em suas costelas por dentro; não doía, mas era desconfortável e incômodo. “Ela irá acordar”, pensou. “Está cansada deveras.” De súbito, deu uma curta rolada para o lado oposto ao filho, ergueu as costas e desatou o nó que juntava as partes do roupão, e fechou os olhos. O menino começou a chorar, mas a mãe não deixou que fosse por muito tempo. Tomou-o ao peito.

    — Bom menino — sussurrou e o observou. “Comera agora há pouco… Você tem fome como um homem”, riu “, mas não lhe falta comida nenhuma. Toma tudo e toma à vontade, meu lindo… ”

    Subitamente, ele abriu os olhos. A primeira vez que esteve acordada com seu filho com olhos abertos, e eles eram lindos e amáveis. Um tom amarelo brilhante, lindos e vivos de dourado. Desabou de volta a cama, cada osso e músculo desfazendo-se em água de tanto alívio. “Sortudo”, pensara “, forte e lindo. Te darei um nome assim que o mal do frio passar! Prometo-te! E será um nome forte como tu mordes meu seio, meu filho!”

    E o deixou lá, e o fitou e o amou enquanto saciava a fome. Beijou-o a testa e beijou-a de novo, então o devolveu para a cama. Amarrou o laço e descansou a face. “Amo-te, mil vezes amo-te! Agora me deixe dormir!” 

    À medida que esperava, o menino fechou os olhos e caiu em sono pesado. Faina sorriu e fechou os olhos. Esperou, ignorando as dores que ainda não tinham sumido e se encostando no conforto das peles e da pele. Esperou; o sono não via mais. “Talvez já esteja de dia”, imaginou. Viu os arredores. 

    Era um quarto do mais luxuoso que o Chefe Vladein pôde lhe oferecer, o onde ele dividia seu sono com as esposas: um grande quarto redondo, com uma grande cama de pelagem de dezenas de raposas, coelhos e ursos; com as paredes forradas com grossa pele de baleia-gritadeira e com dois braseiros acesos, com lenha o suficiente para esquentar o recém-nascido. Tinha uma janela ao leste de Faina, feita de tiras finas de bétulo que podiam girar. 

    Faina se levantou com cuidado e silêncio. Não havia luz para que se movesse sem cuidado, pois os braseiros quase não tinham fogo, mas se voltou em direção da janela. Com cuidado, voltou e pôs um galho seco no braseiro à esquerda, o mais próximo do filho, e então girara as tiras que trancavam a janela. 

    A luz quase perpétua do Sol, o Olho do Deus Fogo, que se fechava para descansar pelos sete meses onde suas servas e guerreiros — Viynezir e Sajanter, os Luas — vigiavam o mundo. Agora o Olho luminoso quase se fechava, e privava as Ilhas Frias do pouco calor que as restava. Os guerreiros se preparavam, preparando suas armas e as fazendo ter brilho para guiar a Noite. 

    A luz dos Luas pintava de cinza e prata as casas e casebres dos da Tribo Vladein, e no canto do olho direito Faina pôde ver a primeira pessoa saindo do casarão do Chefe. Notou ser um escravo, carregando consigo um filhote de cavesão. 

    Tinha cabelos loiros, mas não via a sua face. Percebia somente que tinha coleiras e correntes pelo corpo, e tremia por não ter roupas além do ferro frio. Esforçando mais os olhos… percebeu que suas costas e nuca estavam queimadas, e que a seus membros emanavam o roxo do frio dos mortais quentes, sem o sangue ou benção dos Arrundria.

    Virou as tiras de volta. 

    Mirta tinha acabado de virar o rosto. Achou tê-la acordada, mas já estava muito disposta para isso. 

    — Bom dia, Oy rassa.

    — Viynezir e Sajanter estão quase rentes ao céu — falou. — É praticamente Noite, Mirta! Boa noite.

    — “Dia será quando acordar, noite serás quando dormir” — riu — é o que dizem. Pois boa… — bocejou. Faina riu em silêncio.

    Mirta se levantou. Era somente oito anos mais velha que Faina, todavia era muito mais baixa — não alcançava o plexo solar da amiga e mestra, mas tinha consigo cabelos com cachos mais uniformes, belos e negros, que caiam pelos ombros como resquícios de onda sobre escarpa, mas fluíam sobre as costas. 

    Achava Mirta especialmente bela, e a forma como a servia mesmo sem obrigações lhe era admirável. “Queria que fosse mais minha amiga do que serva”, pensou. “Não sou descendente dos deuses dela.” Independente, admirava-a.

    Faina sentiu as pernas enfraquecerem. Voltou para a cama.

    — Como se sente, Oy rassa? — Cobriu-se com as mantas e correu para os pés de Faina. — Alguma dor? Enjoo? Tristeza? Sente desejo por alguma comida? Como está o menino? — De súbito, seus olhos saltaram das órbitas. Segurou os pés alvos da amiga com delicadeza e sorriu. — Há duas coisas muito boas que noto hoje, Oy rassa!

    Xiiu! Vai acordá-lo! — gritou em voz de sussurro. A forma como Mirta tampou a boca aprazou-a muito. Tocou o rosto da amiga e sorriu. — Me diga o que notou, Mirta. Estou feliz hoje. Quero ouvir somente coisas boas.

    — Já estão passados os quatorze dias do nascimento, Oy rassa. O mal do frio passou! 

    À Faina foi testemunhar um Dia de Fogo, a explosão de chamas líquidas escorrendo das bocas das montanhas negras e púrpuras. Saltou da cama fazendo da dor piada, tomou Mirta pelas axilas e a jogou para cima em um abraço! Quis gritar de felicidade, mas o instinto maternal lhe proveu o silêncio para não acordar o filho. 

    Ainda assim, a sobreforça não durou muito. Compartilhou da felicidade com a amiga até a dor se revelar mais forte; estava feliz com a perda de peso — por mais que ainda tivesse muito restando —, todavia as pernas ainda estavam feridas e fracas. Sequer deveria ter ficado de pé. 

    Cedeu à cama.

    “Terá um nome!”, pensou, olhando o amado com um olho fechado. “E crescerá forte.”

    Sua barriga grunhiu alto, tão alto que imaginou que o filho acordaria. Ao mesmo tempo, percebeu um fedor surgindo pelo recinto.

    — Eu — falara Mirta, já tendo nas mãos um vestido de zibelina e pelagem — cuido disso, Oy rassa. Mas, se não conseguir andar, posso trazer a comida para você. Tenho certeza de que…

    — Quero comer com você e com meu filho — cortou, em um tom chiste e, ao mesmo tempo, rijo. O sorriso no rosto de Mirta contorceu-se de uma forma que ela mesmo não entendeu. Mas serviu. Ajudou a mestra a trocar os lenços do bebê, e depois vestiu-a.

    Faina tomou o bebê próximo ao pescoço. Mirta tomou uma madeira acesa como archote e se deu de muleta, então saíram do quarto, deparando-se com uma sala circular tão grande quanto o recinto onde dormira. As paredes de caibros escurecidos e envernizados estava coberta por peles de ursos brancos e espadas e flechas de pedra, com o pouco espaço entre elas ocupado por archotes cuspindo filetes de fumaça.  

    Vindo da direita como um feixe, as duas sentiram o calor e odor de alguma coisa ainda não reconhecível sendo preparada. Logo as duas foram em direção, dando silenciosos passos pelo assoalho coberto por um tapete de pele de baleia-gigante, alvinegra e mal iluminada por tochas. Em pouco andar, ambas chegaram a uma longa mesa de abeto, e duas escravas acorrentadas traziam tigelas ainda vazias. Quando repararam Faina e Mirta, ajoelharam-se, abaixaram a cabeça e as trouxeram cadeiras. Voltaram ao labor enquanto a mãe observava-os prepararem alguma coisa.

    Em poucos minutos, os odores passaram a ser distinguíveis: sentia cheiro de aveia, de broto de nevadeira e mel; Faina começou a salivar. Ficou muito feliz ao sentir os dedinhos do filho se mexendo pelo seu ombro. As escravas apareceram mais uma vez, trazendo consigo duas tigelas quentes com um mingau de aveia e um broto cozido adocicado com mel, além de pão e leite de cavesão, mais amarelo do que branco.

    — Obrigada — dissera, sorrindo, e as escravas logo saíram de perto, como se estivessem se escondendo das duas. Faina entendia, até certo ponto. “Bárbaros?”, imaginou. “Fugiram de nossa aliança e da nossa benção. Mas estas aí não tem os membros congelados. Devem ser escravas de cama.” Suspirou. “Onde está minha mãe?”

    Esperara um instante, mas Auta não apareceu. A sacerdotisa abaixou a cabeça e proferiu algo na sua língua, tão rápido que Faina não entendeu, então passou a comer. A mãe ali quis brincar mais com o filho, e deu-se conta de que teria dificuldades para comer e segurar o filho no ombro, mas conseguiu a proeza se alimentando primeiro só do mingau. Mirta sorriu para eles.

    Ao terminar, Faina levou o broto cozido até a margem da tigela e forçou a colher até que ele se partisse, depois rasgou o pão com os dedos e recheou com os pedaços, suculentos, do broto. O filho seguiu dormindo, mas sua mãe sentia-se estranhamente constrangida. As escravas trouxeram mais pão e fatias de queijo e leite, e pouco depois, ouviram passos vindo do corredor.

    Auta e um homem, que Faina logo reconheceu ser Skjá Vladein, chegaram acompanhados das esposas do Chefe e de escravas mais bem vestidas. O homem tinha em torno de quarenta e cinco anos, pensara Faina, tendo a aparência que um Chefe deveria ter na sua cabeça: vestia-se em vastas camadas de pele e tecido grosso para esquentarem o corpo altivo; com uma silhueta quase quadrada no queixo barbudo, hirsuto, loiro e grisalho. Mas, apesar de que sentia o cheiro de sangue vindo dele, o Chefe passava alegre ao lado de Auta. Entrando por inteiro no cômodo, deixou Auta passar e disse:

    — Oy rassa — cumprimentara, fechando os olhos em respeito por um instante. Faina se levantou, sentindo um pouco de dificuldade e fraqueza nas pernas

    — Obrigada por me ceder seu quarto, Chefe Vladein. É muito confortável. — Aumentou o sorriso na face. — É tão confortável que meu querido filhinho dorme com um sorriso no rosto.

    — Só retribui um favor para a sua mãe, Oy rassa. Eu estou feliz de que o parto foi bem. — Logo sentou-se à mesa. Auta se sentou ao lado dele. — Posso vê-lo?

    Faina hesitou, mas depois de um instante, beijou a testa do menino e entregou-o para as mãos de Skjá. “Pesa”, pensou o Chefe. Tinha quase quatro quilos quando nascera, e continuou a aumentar desde então. A criança passou a chorar assim que a mãe o soltou.

    — É… um bom menino — afirmou ele, o devolvendo, mas invés de Faina quem o tomou foi Auta. “Mãe está calada”, pensou Faina, notando que seu filhinho parou de chorar no mesmo momento que sua mãe o tocou. — Ay raza, seu neto será um homem grande e poderoso.

    — Sim! Um maravilhoso, e receberá um nome hoje. Mas ainda estou pensando em qual dar. Penso em Nikol, em homenagem ao meu pai; ou em Radazid, em homenagem ao Rieq que baniu os Caras-Queimada ao mais sul que as Agulhas… — falou Faina, percebendo de soslaio que as Bárbaros escravas tremeram de medo e empalideceram ao ouvir aquele nome. — Onde está Razin? Não o vejo desde que saímos do porto.

    — Razin está em caçada. Foi com os amigos aproveitar o que restava do Dia e até agora não voltou.

    — Ele pode estar em perigo.

    — Meu filho sabe se cuidar. É o melhor guerreiro desta cidade, com o sangue divino dos Arrundria correndo no coração. Pode não ser alto ou de cabelos brancos, mas é um guerreiro nato. — Agarrou a coxa de uma das escravas. — O treinei desde que nascera e quando venceu meu primogênito, o entreguei a primogenitura, já que também era primeiro filho de minha terceira esposa.   

    Faina parou de dar atenção ao orgulho do pai e a voltou para sua mãe: Auta observava calmamente o rosto sonolento do neto, que não parecia estar nenhum pouco incomodado com a bela avó. “Este sabe o que quer. Querer… Grande e poderoso.”

    — Krazv… Não, Draz… Krazdoro. — Saltou de supetão, de modo que assustou todos à mesa. Auta ergueu a cabeça, não compreendendo o que Faina queria fazer. Mas a mãe tomou o filho da avó e o ergueu e disse: — Se chamará Krazdoro Carlo Arrundria, que significa “guerreiro forte e indomável” e “senhor do mar”, pois será forte como um Arrundria e viajará comigo pelos mares, e ele… 

    Subitamente ouviram um estrondo seguido de passos fortes e uma respiração desesperada, como se alguém tivesse entrado a cavesão pela porta. O Chefe Vladein se ergueu de chofre e voltou a mão para a espada, se pondo à frente das mulheres, e Auta tomou o neto em mãos com a feição de uma ursa após o parto. O coração de Faina saltou e ela também agarrou Krazdoro.

    As sombras pareceram se mexer, mas Skjá se manteve parado como uma parede em guarda alta. Um vulto tomou silhueta conforme corria no escuro corredor, e passo a passo, mais Skjá se preparava para derramar o sangue do invasor. De repente o Chefe deu um passo para trás, roubou a colher de madeira da tigela de Faina. 

    E a disparou.

    Ouviram a colher riscar o vento, e então ela colidindo com alguma carne; porém não ouviram bramido de dor. Skjá preparou a espada mais uma vez, porém respirou de alívio e a embainhou.

    — Quantas vezes eu te falei para entrar em casa como uma pessoa normal, Imanyn?! — brandou ele, com a voz pesada em raiva para o rapaz. Faina sentiu pena.

    — Perdão, pai!

    Era um homem completo de talvez quase trinta anos, com barba e cabelos longos de um loiro quase dourado, com olhos de um azul-escuro deprimente. Vestia-se contra o frio, e tinha um hematoma roxo no canto do olho direito. “A colherada?”, Faina pensou, mas o inchaço parecia ser mais antigo. Imanyn se abaixou, então tirou do colete uma pele de coelho sem pelos, que estava enrolada ao redor de uma pequena tira de madeira.

    — Recebi uma notícia urgente, meu pa… Chefe Vladein.

    — E o que seria, seu inútil?!

    Imanyn engoliu em seco e ignorou o pai. Quis entregar a tira diretamente para Faina.

    — Leia, Oy rassa, por favor… E meus pêsames…

    Era uma pequena tira, menor que sua mão em largura e pouco mais larga. Faina não conseguia enxergar, então deu passos dolorosos para perto de um archote. Mirta se aproximou e a ajudou, e quanto a amiga terminou de ler, fora a primeira a abraçar. 

    Primeiro fora um filete, leve como uma gota de suor, mas depois saíram mais uma e outra enquanto cada palavra entalhada na madeira pisoteava seu coração, que mal tinha se recuperado e já estava sendo esmagado novamente. Mesmo que o fogo crepitasse perto de seus olhos, foi como se uma pequena parte do mundo tivesse virado escuridão.

    — Lubojacz está… morto… Foi morto por um… — fungou. Rios de lágrimas passaram a escorrer dos olhos agora avermelhados de Faina, tal qual gelo em calor; mas as lágrimas tinham dor. Suas pernas e braços viraram água em igual, e ela caiu no chão, despedaçada em choro. Skjá socou o queixo de Imanyn.

    Auta tentou consolar a filha, mas pegou a mensagem primeiro. Não sentia nada por Lubojacz, mas amava a filha e por isso o amava também. A tristeza lhe foi taciturna. Levantou-se e deixou Mirta ajudando a filha, então leu em voz alta na melhor pronúncia que conseguia:

    — Lubojacz caçou um bando de Caras-Queimada que fugiram das Agulhas quando foram atacados por animais, então pegos com uma avalanche… Faina terá de rugir no seu lugar.

    Embaixo da última palavra, havia uma mancha de sangue ainda líquido, mesmo naquele frio. Sabia o que aquilo significava, enchendo-se de desgosto. “É verdadeiro…’

    ‘Faina será Rieq.”

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