Capítulo 1.5: Eis a subtrama.
Um homem que não cumpre um compromisso não é confiável. Um homem que não honra um relacionamento não é um homem de verdade. Um homem que trai uma deusa é… imperdoável.
O vestido branco dessa divindade não servia apenas para lhe reforçar a beleza, mas para afirmar sua pureza. Pureza questionável, no entanto.
A deusa Hera, Rainha dos Deuses, sempre “perdoou” o seu marido. A contragosto, porque ela queria mesmo era sumir. Ser livre.
Foram tantas as vezes que Zeus a traiu, que ela não o perdoava por “acreditar nele”, e sim porque virou uma ação automática.
Houve uma vez em que ela orquestrou uma rebelião no Olimpo, a fim de castigar o seu marido infiel. Mas o seu plano fracassou, e ela foi aprisionada, como represália.
Zeus só a libertou depois de ela jurar sua lealdade. Daquele dia em diante, passou a temê-lo, sentimento que entrou para os motivos que tinha para se vingar.
Sentada em seu trono, na sua bela sala, cujo teto era sustentado por colunas imponentes de cor branca, a Rainha do Olimpo soltava ares de insatisfação.
“Quando não éramos casados, ele se apaixonou por mim. Fez de tudo para me conquistar e, quando conseguiu, me tratou, e trata, como se eu fosse uma ‘simples refeição’. Um brinquedo que o satisfaz”, pensou.
— Jurar lealdade e fidelidade a um homem que lhe tanto trai, quanto respira, deve ser doloroso…
— Quem foi que disse isso!? — assustou-se Hera.
A deusa sentiu algo pesar em seu ombro, e viu que era um passarinho. Ele alçou vôo, pousou em sua frente, e soltou uma fumaça roxa.
Quando a nuvem se dissipou, revelou uma linda mulher de Chiton roxo.
— Ah, é você, Eris… minha irmã.
A deusa da discórdia a encarou, sorrindo.
— Maninha, eu vim lhe propor uma ideia — ela disse.
— Uma ideia…?
Percebendo a expressão de desinteresse, a deusa do caos estalou os dedos, chamando a sua atenção.
— Uma que beneficiará nós duas.
— Me conte — pediu Hera.
Ela se aproximou. Seus olhos carmesins, como janelas de sua alma, revelaram uma escuridão que assustou a Rainha do Olimpo, por um momento. Era um olhar digno dela, pois desejava o caos e a discórdia.
— Meu irmão e seu marido é o homem mais infiel de todos, além de ser um criminoso. Um que sempre sai impune de seus delitos e infidelidades.
Hera concordou com a cabeça, apoiando o queixo em suas mãos, com o cotovelo encostado no braço de seu trono.
— Não concordo que ele saia impune. Porque eu mesma sou castigada por coisas que sequer fiz.
— E então? — questionou Hera.
— Proponho que unamos nossas forças. Eu, você e Ares, seu filho — explicou, com as mãos erguidas na altura da cintura, com as palmas viradas para cima.
Cof, cof, cof!
A deusa dos casamentos se afogou, ao ouvir isso.
— Você está falando sério!?
— Não tenho porquê lhe pregar uma peça, irmã — disse Eris, no tom mais confiável possível.
Como as duas quase não interagiam entre si, Hera não podia dizer que a conhecia bem. Confessou, por sua postura, inclinada para frente, que estava interessada.
Ela se levantou e encarou a dama caótica.
— Como você pretende por este plano em prática? E o que eu ganho, com você dando cabo de Zeus?
— O que você ganha, minha irmã? Você ganha o Olimpo, o universo e um homem digno de ti. Um leal, cavalheiro e que te dará a atenção que merece. Além disso, quem estará em uma mão será ele, na sua — disse Eris.
Um canto de sua boca esboçou um singelo, mas sincero, sorriso. O primeiro que foi honesto, desde que se casou com Zeus.
— Eu aceito…
— Sei que está relutante — notou a deusa da discórdia —, pois, no passado, já tentaste se rebelar, e falhou. Mas você só fracassou por um único motivo… — e fez uma pausa dramática.
Os olhos brilhantes de Hera revelaram o desejo de saber o porquê.
— Você não teve muito tempo e nem recursos. Não tirou todas as alternativas que Zeus tinha para vencer. É porque tu, irmã, não tens a mente estratégica necessária para tal.
O sorriso de Eris, apesar de diabólico, era belo.
— Mas eu tenho a mente. Eu, que já causei inúmeras guerras e disputas, sei muito bem como vencer qualquer um, até o Rei do Olimpo.
Hera recordou as histórias que ouvia sobre a irmã, por meio de Hermes, o mensageiro dos deuses. Ou seja, tinha uma base para confiar no que ela dizia.
— Vou acreditar em você, minha irmã.
— Deixe comigo. Não vai se arrepender — disse Eris, indo embora ao se transformar em passarinho.
Eis um dos piores erros de Hera.
ㅡㅡㅡ
Um homem alto, vestindo uma armadura dourada e capa vermelha, treinava golpes de espadas com um soldado seu.
— Ei, Ares! — chamou Eris.
Ele a ignorou por trinta segundos, tempo que usou para desarmar o oponente e o fazer se render.
Virou o rosto em sua direção e perguntou:
— Eris? O que faz aqui?
Ela desfilava por entre os soldados, que se ajoelharam por onde passava, em sinal de respeito. Nenhum deles a achava bela, e muito menos formosa… todos sentiam um único e simples sentimento, um tão forte quanto o amor: o medo.
Isso porque…
“Sempre que ela aparece, pode contar que teremos trabalhos. E os trabalhos de Eris são quase suicidas!”, pensou um soldado, o menor entre os colegas.
— Vim com uma ideia em mente — disse ela.
“Oh, merda…”
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