Capítulo 14: Antes da tempestade.
Yoshiyuki estava preparado para abrir um portal, usando a sua espada, Soru-kira. Mas antes…
— Pai, como devo me apresentar?
— O que há com essa pergunta? — rebateu o homem de quimono roxo. — “Kezu, filho de Yoshiyuki” está bom.
— É que, em nossa jornada para treinar, eu conversei com uma garota. Ela se chamava Yohana von Stahl.
— O que tem essa garota? Você gostou dela ou algo do tipo? — indagou o pai, embainhando a espada.
— Ah… não, lógico que não — respondeu o garoto, firme na voz, apesar de infantil. — Esse “von Stahl” é um sobrenome, né? “O sobrenome indica de qual família você é”, ela me explicou assim.
Eles ainda estavam na floresta de carvalhos negros. O sol, alto no céu, esquentava a terra sem pudor — mesmo deuses podiam sentir o seu esquentar. Os dois sentaram num tronco caído, de onde nasciam pequenos cogumelos.
— Só não entendi porque isso seria importante, agora — reclamou Yoshi. — Você sabe, nossa situação provavelmente será de vida ou morte, assim que nos separarmos.
— É justamente por isso que devemos conversar, pai — falou o menino, seus cabelos castanhos brilhando com o raiar do sol. — Me chamar de “filho de Yoshiyuki” é como não considerar mamãe importante.
— Eu não acho… afinal, é só um nome — cruzou os braços.
— Não concordo com isso — falou Kezu. — O senhor sabe o porquê de se chamar “Yoshiyuki”, papai?
— É porque Nahluna e Nahleo quiseram que eu me chamasse dessa forma — respondeu, como se fosse óbvio. — É apenas uma identidade, filho.
— Não gosto desse seu comportamento e pensamento simplista, papai — reclamou a criança, franzindo a testa. — O senhor é tão sem graça quanto ovo frito sem sal.
— Deve ser porque sou adulto — ele riu.
Kezu se aproximou, encostando-se nele.
— Às vezes o senhor parece infeliz, papai. Seus olhos são mornos, seu rosto… incrivelmente seco… e os cabelos sem brilho. Até mesmo o seu corpo parece sem energia — analisou o menino. — O senhor evoca a morte.
— É porque eu SOU o deus da morte.
— Mas é da vida, também — comentou ele —,um deus da morte e da vida.
— Aonde você quer chegar com tudo isso?
O garoto suspirou e encarou o pai, olhando para cima.
— O senhor parece distante. Mesmo perto, a sensação que eu e mamãe temos é de que está há quilômetros de nós. E eu sinto que o fato de não termos sobrenome, um nome que identifica nossa família, representa isso — explicou Kezu. — Era com esse intuito que vim falar desse tópico.
— Entendo… — Yoshiyuki olhou para as árvores. — Talvez seja por causa da energia que essa magia me exige.
— Magia?
“É, a magia que usei para selar minhas memórias”, pensou, “apesar de ela enfraquecer algumas vezes, e eu poder contar algumas histórias ao Kezu…”
— Sabe, filho, algum tempo atrás, eu vim a esta floresta, e treinei… porque meu espírito estava perturbado.
— E ele continua perturbado? Parece que sim — afirmou o garoto.
— Coisas aconteceram no passado. Vi coisas que eu não deveria sequer ter pensado existir… e elas me perturbam até hoje — olhou para a mão direita, sério. — Nenhuma delas posso contar a vocês, sinto muito.
— Não tem problema, só queremos que o senhor esteja mais próximo de nós.
“Um sobrenome, huh?”
— Dias — disse Yoshiyuki. — Nosso sobrenome será algo relacionado a “Dias”.
— Por que?
— Você não teria nascido se eu não tivesse vivido aqueles dias — explicou o pai, sorrindo. — Apesar de tudo, eu não teria me apaixonado pela sua mãe, se não fosse por eles. Bom, decidimos isso em outro momento, estamos demorando demais.
Kezu se levantou e ergueu o punho ao alto, sorrindo com aparente determinação.
— Façamos uma promessa — falou o garoto. — Se algum dia eu viver algo que me faça entender o que o senhor sente, pai, nós mudaremos nossos nomes.
— E o nosso sobrenome será “Dias”?
A criança assentiu, sorridente.
— Uma promessa é uma promessa — sentenciou o pai. — Cumprirei minhas palavras.
Eles juraram, juntando os dedos mindinhos um do outro.
— Esta é uma promessa de homens, pai e filho. Quem estiver mentindo, que seja varrido! — disse Kezu, em voz cantada.
Enfim, Yoshiyuki se levantou e sacou a espada. Com dois cortes, abriu dois portais.
— Como combinado ontem, eu irei ao Olimpo e confirmar o que você disse, enquanto…
— Eu vou à casa de Nahluna e Nahleo, conhecê-las e ver se os artefatos estão bem — previu o garoto.
O pai lhe fez um cafuné, dizendo:
— Boa sorte — e se separaram.
“Meu filho está crescendo muito rápido… isso mostra que eu não devo ficar parado. Preciso corresponder a evolução dele…”
Era seu dever como professor, mestre e pai!
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