Capítulo 15: A profecia se concretiza.
Um homem grande forçava sua cabeça para cima, algo que demandava esforço em sua situação — afinal, ele estava empalado.
Suh, suh!
A pessoa que o segurava balançou aquilo que o empalou: uma lança gigante. Não, não era uma lança…
— Uma flecha — disse a mulher, que vestia um chiton branquíssimo. — Uma flecha tão grande quanto uma lança. Ela é a sua filha, sabia disso?
“Skiá…”
Yoshiyuki assistia aquela cena de um lugar bem próximo ㅡ mais precisamente ao lado de Hera, a pessoa que segurava a Flecha de Skiá.
— Gah… — Zeus, o empalado, cuspiu sangue. — O que você está fazendo, maldita…?
— Ursupando o trono, meu marido infiel. Ascendendo na hierarquia! Subindo aos céus!
— Por que faz isso…? O que eu te fiz!? — indagou ele, sofrendo.
— Muita coisa… — ela diabolicamente sorriu. — Bom, não há nada que possa ser feito. Só espero que você não reencarne como o mesmo desgraçado, talvez infeliz, que foi comigo.
O rei do deuses estremeceu um pouco, e aquietou-se logo em seguida. Seus olhos perderam o brilho, ficou completamente estático.
— Ele morreu — disse Hera, sem tristeza alguma. Ela…
Ela estava sorrindo…
ㅡㅡㅡ
— Wah! — o rapaz de quimono roxo voltou à realidade. — O quê diabos foi que você me mostrou!?
— O fato que a pitonisa previu, há tempos — disse a mulher loira à sua frente, que segurava seu punho com a mão dela.
Na primeira das doze casas do monte Olimpo, a casa de Zeus, Yoshiyuki duelava, usando espadas, com a sua esposa…
— Athena… não, Alter Athena. Foi você quem o empalou, e deixou que Hera se divertisse?
— Claro que sim — respondeu ela, como se fosse óbvio. — Minha “mãe” não se daria a esse trabalho.
— Então lutar contra você é em vão — disse Yoshiyuki, fazendo uma expressão séria. — Se o rei dos deuses já morreu, então não há nada que eu possa fazer.
— Isso mesmo. Você usou o seu Past Recording em mim, para ver minhas memórias, e eu lhe mostrei a mais recente.
Athena segurava uma espada cruzada, a que seu marido a presenteou de aniversário. O pobre homem não esperava que ela fosse usada contra ele!
A Soru-kira, a katana de Yoshiyuki, pressionava a espada de Alter Athena.
Ting, ting! Ting, ting, ting!
Eles trocaram golpes!
— O quê é você, Alter Athena?
— Irmão de Athena. Um que nunca chegou a ter corpo físico — ela disse. — Eu chamo a mim mesmo como “a parte má” de minha irmã, seu lado masculino, por assim dizer.
“Algo como uma dupla personalidade…”, pensou o deus de Thero.
— Pode me deixar avançar? — perguntou Alter. — Eu tenho uma rainha para eliminar.
— Não está contente em só matar Zeus, seu pai!?
— Claro que não… — falou ela, sem delicadeza alguma. — Ela tem capacidade para ser pior que Zeus. Agora você deve estar se perguntando o porquê de eu a ajudar…
Yoshiyuki assentiu, segurando a Soru-kira com as duas mãos. Estavam há cinco passos de distância um do outro.
— Simples: porque seria incrivelmente divertido vê-la sofrer, por ter estado tão perto de conseguir o que queria!
“Ele é louco…”
— O quê exatamente você quer, Alter Athena? Apenas o caos? Só isso? — Yoshiyuki incomodou-se, já que sofreu por anos graças a ela.
— Athena é a deusa da sabedoria, querido… mas isso não quer dizer que ela seja “apenas sábia”, entende? Ela também sente raiva e…
— Foda-se? Eu perguntei o que VOCÊ quer, não ela! ㅡ ele já estava irritado.
Ting, ting! Ting, ting!
Yoshi avançou!
“Movimento horizontal…”
Ting!
Ele bloqueou!
“Movimento ascendente…”
Suh!
Ele saltou para trás, desviando da lâmina adversária.
— Nossa valsa será sem sentido, se você não me disser suas razões! — gritou o deus da morte.
Ting, ting!
— Ela é idolatrada como a encarnação da união entre beleza e sabedoria! — gritou Alter.
Ting, ting, ting!
Ele recuou um pouco…
“Uou, essa passou perto, quase levou meu braço inteiro!”
— Mas você sabe o peso que isso traz!? — ela se movimentava mais intensamente.
Sasah! Ting!
Mas Yoshiyuki bloqueou com a bainha da Soru-kira, usando a mão esquerda. Ele olhou para os lados, desconfiado.
— O peso de não ser quem você realmente é! A obrigação de não poder acordar com uma carranca maldita, porque todos querem te ver sorrindo… você entende, Yoshiyuki!?
Ting, ting!
— Então você é o meio por onde ela esvazia seus sentimentos negativos… ela arrastada tudo para você! — afirmou Yoshiyuki, pondo a bainha e a katana uma na frente da outra, formando um “x”.
— Isso mesmo! O pai, além de ter engolido a mãe, que estava grávida de nós… ainda por cima jogava todas as suas obrigações como rei dos deuses…
Sah, ting!
Alter, empurrando a lâmina, forçava a espada contra o “x” de Yoshiyuki!
— E Hera, sua madastra, ainda por cima a discrimina por não ser sua filha legítima! Você entende o que significa ter sua vida atazanada por alguém mais poderoso que você!?
“É claro que eu entendo…”, ele pensou. “Mas não devo dizer isso.”
— Então o seu objetivo é extravasar a irritação de Athena? — perguntou Yoshiyuki, calmo.
— Não seja idiota — rebateu ela. — não é algo tão superficial assim!
— O que é, então…?
Ela forçava ainda mais! Ele estava cedendo!
“Se eu não usar meu Kirei agora… estarei em apuros!”
— Hera e Hades planejam matar não só Zeus… mas à mim e Athena também!! — gritou Alter, seus cabelos loiros balançavam como ondas.
“Mas…”
— Isso não é motivo para matar Hera — disse Yoshiyuki — Você acha mesmo… que isso resolverá a situação?
“Eu não posso deixar que ela avance!”
Suh!
Ele deu um passo para o lado e…
— Eu vou desarmar…! — porém…
Shim!
— Gahaaaaaaaah! — ele teve uma de suas mãos cortadas!
Trish!
A mão esquerda caiu no chão, e sangrava muito.
— Hey… o quê…!? — o deus se ajoelhou, rangendo os dentes, como um lobo.
— Você não me deixou escolhas! — respondeu Alter.
— Kirei! — e uma chama azulada cobriu o corpo de Yoshiyuki.
A mão direita dele segurava a katana!
Shim!
Ele a fincou no chão! Alguma coisa o incomodava, por isso…
— Com as mãos nuas? É sério? Quer perder a outra? — provocou Alter. — Minha irmã pode te amar muito, mas eu não sou bonzinho para deixar esse deu descaso sair impune!
— Tome isso! Doki…
Sah!
Ele avançou contra Alter, mas…
— Aonde pensa que está mirando!? — exclamou ela.
Ele passou direto!
Tum!
Ele acertou o vácuo!
— Magia de invisibilidade não me engana, Hera, rainha dos deuses… — murmurou Yoshiyuki.
Atrás de Athena, segurando a mesma flecha com que Zeus foi morto, estava a — agora ruiva — deusa do matrimônio…
— Hera!? — espantou-se Alter.
— Com a Matadora de Deuses… — analisou o deus. — Eu senti a sua presença desde que o duelo começou. Foi por isso que questionei…
“Você acha mesmo que isso resolverá a situação” — foi o que ele disse, linhas atrás.
O punho dele segurou a flecha!
— E agora, Hera? O que vai ser? Você caiu na minha armadilha…
Porém…
— Quem caiu foi você… — uma doce voz, parecida com a da sua esposa, sussurrou em seu ouvido.
Shim!
Uma lâmina atravessou o abdômen de Yoshiyuki!
Shim…
Foi mais fundo!
— Isso, minha querida Athena! — disse Hera, agradecida.
Alter Athena o apunhalou por trás!
Shim!
E uma lança veio pela frente!
— Gah… — ele sentiu dor, mas não eram os ferimentos que o machucavam mais. — Por que… até o final… você foi ruim comigo… Alter Athena?
— Porque eu não sou exatamente Alter Athena. Não que o leitor e você vão entender isso, é claro.
— Eu… eu não entendo…
— Não é para você entender, eu já disse.
Hera retirou a flecha do abdômen de Yoshiyuki, e sentou no chão, ofegante, e disse:
— Ele poderia ter me matado… obrigada.
Os cabelos loiros de Alter Athena, agora, tinham pontas cor-de-rosa. Ela andou para frente, retirou a Soru-kira — que havia sido fincada —, e encarou o marido de sua irmã.
— Você se enganou, meu bem, quando pensou que a “entidade”… Eu, que te perturbava, se dividia em três partes.. — ela apontou a katana ao coração de Yoshiyuki — Você achou que “mente” e “alma” eram diferentes, né? Pois você está enganado.
Shim!
— Guoh… — seu gemido foi fraco, e ele apenas cuspiu um pouco de sangue. — Enganado…? Heh…
Suuuuh!
As chamas azuladas que emanavam de Yoshiyuki…
— Estão sendo sugadas pela espada dele… — murmurou Hera.
Mesmo na dor, o homem sorria.
— Eu posso falar com ela mais uma vez? Faz meses que não a vejo.
— Ela não quer te ver — rebateu Alter. — E, mesmo se ela quisesse, eu não deixaria. Demorou tempo demais para a paciência dela não suportar mais a sua raiva, e eu poder assumir o controle.
“Tudo bem…”
— Diga a ela que eu a amo, pelo menos, seu filho da puta… ou “sua filho da puta”?
— Sou ruim o suficiente para ser pior que um homem, mas também sou uma mulher — ela disse. — Tanto faz. Bom, ela sabe que você a ama.
Suuuuh… shim! Tukuh!
A alma dele fora sugada, ela retirou a espada, e apenas um corpo sem vida caiu ao chão.
Shim!
Ela apunhalou a si mesma!
— O que está fazendo!? — gritou Hera.
— Vou selar a alma da Athena também. Cansei dessa brincadeira de “Alter Athena”, “irmão”, “contraparte”…
— Então…
Quem era ela? — essa era a pergunta.
— A partir de hoje eu sou sua mestra — falou a mulher dos cabelos loiros, cujas pontas eram rosadas. — E eu me chamo Sakai…
A dourada alma da deusa da sabedoria e da guerra, Palas Athena, fora selada na espada Soru-kira.
A mulher retirou a katana!
— Junko — falou, em tom grave. — Eu me chamo Sakai Junko.
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