Um homem grande forçava sua cabeça para cima, algo que demandava esforço em sua situação — afinal, ele estava empalado.

    Suh, suh!

    A pessoa que o segurava balançou aquilo que o empalou: uma lança gigante. Não, não era uma lança…

    — Uma flecha — disse a mulher, que vestia um chiton branquíssimo. — Uma flecha tão grande quanto uma lança. Ela é a sua filha, sabia disso?

    “Skiá…”

    Yoshiyuki assistia aquela cena de um lugar bem próximo ㅡ mais precisamente ao lado de Hera, a pessoa que segurava a Flecha de Skiá.

    — Gah… — Zeus, o empalado, cuspiu sangue. — O que você está fazendo, maldita…?

    — Ursupando o trono, meu marido infiel. Ascendendo na hierarquia! Subindo aos céus! 

    — Por que faz isso…? O que eu te fiz!? — indagou ele, sofrendo.

    — Muita coisa… — ela diabolicamente sorriu. — Bom, não há nada que possa ser feito. Só espero que você não reencarne como o mesmo desgraçado, talvez infeliz, que foi comigo.

    O rei do deuses estremeceu um pouco, e aquietou-se logo em seguida. Seus olhos perderam o brilho, ficou completamente estático.

    — Ele morreu — disse Hera, sem tristeza alguma. Ela…

    Ela estava sorrindo…

    ㅡㅡㅡ

    — Wah! — o rapaz de quimono roxo voltou à realidade. — O quê diabos foi que você me mostrou!?

    — O fato que a pitonisa previu, há tempos — disse a mulher loira à sua frente, que segurava seu punho com a mão dela.

    Na primeira das doze casas do monte Olimpo, a casa de Zeus, Yoshiyuki duelava, usando espadas, com a sua esposa…

    — Athena… não, Alter Athena. Foi você quem o empalou, e deixou que Hera se divertisse?

    — Claro que sim — respondeu ela, como se fosse óbvio. — Minha “mãe” não se daria a esse trabalho.

    — Então lutar contra você é em vão — disse Yoshiyuki, fazendo uma expressão séria. — Se o rei dos deuses já morreu, então não há nada que eu possa fazer.

    — Isso mesmo. Você usou o seu Past Recording em mim, para ver minhas memórias, e eu lhe mostrei a mais recente.

    Athena segurava uma espada cruzada, a que seu marido a presenteou de aniversário. O pobre homem não esperava que ela fosse usada contra ele!

    A Soru-kira, a katana de Yoshiyuki, pressionava a espada de Alter Athena.

    Ting, ting! Ting, ting, ting!

    Eles trocaram golpes!

    — O quê é você, Alter Athena? 

    — Irmão de Athena. Um que nunca chegou a ter corpo físico — ela disse. — Eu chamo a mim mesmo como “a parte má” de minha irmã, seu lado masculino, por assim dizer.

    “Algo como uma dupla personalidade…”, pensou o deus de Thero.

    — Pode me deixar avançar? — perguntou Alter. — Eu tenho uma rainha para eliminar.

    — Não está contente em só matar Zeus, seu pai!?

    — Claro que não… — falou ela, sem delicadeza alguma. — Ela tem capacidade para ser pior que Zeus. Agora você deve estar se perguntando o porquê de eu a ajudar…

    Yoshiyuki assentiu, segurando a Soru-kira com as duas mãos. Estavam há cinco passos de distância um do outro.

    — Simples: porque seria incrivelmente divertido vê-la sofrer, por ter estado tão perto de conseguir o que queria! 

    “Ele é louco…”

    — O quê exatamente você quer, Alter Athena? Apenas o caos? Só isso? — Yoshiyuki incomodou-se, já que sofreu por anos graças a ela.

    — Athena é a deusa da sabedoria, querido… mas isso não quer dizer que ela seja “apenas sábia”, entende? Ela também sente raiva e…

    — Foda-se? Eu perguntei o que VOCÊ quer, não ela! ㅡ ele já estava irritado.

    Ting, ting! Ting, ting!

    Yoshi avançou!

    “Movimento horizontal…”

    Ting! 

    Ele bloqueou!

    “Movimento ascendente…”

    Suh!

    Ele saltou para trás, desviando da lâmina adversária.

    — Nossa valsa será sem sentido, se você não me disser suas razões! — gritou o deus da morte.

    Ting, ting!

    — Ela é idolatrada como a encarnação da união entre beleza e sabedoria! — gritou Alter.

    Ting, ting, ting!

    Ele recuou um pouco…

    “Uou, essa passou perto, quase levou meu braço inteiro!”

    — Mas você sabe o peso que isso traz!? — ela se movimentava mais intensamente.

    Sasah! Ting!

    Mas Yoshiyuki bloqueou com a bainha da Soru-kira, usando a mão esquerda. Ele olhou para os lados, desconfiado.

    — O peso de não ser quem você realmente é! A obrigação de não poder acordar com uma carranca maldita, porque todos querem te ver sorrindo… você entende, Yoshiyuki!?

    Ting, ting!

    — Então você é o meio por onde ela esvazia seus sentimentos negativos… ela arrastada tudo para você! — afirmou Yoshiyuki, pondo a bainha e a katana uma na frente da outra, formando um “x”.

    — Isso mesmo! O pai, além de ter engolido a mãe, que estava grávida de nós… ainda por cima jogava todas as suas obrigações como rei dos deuses…

    Sah, ting!

    Alter, empurrando a lâmina, forçava a espada contra o “x” de Yoshiyuki!

    — E Hera, sua madastra, ainda por cima a discrimina por não ser sua filha legítima! Você entende o que significa ter sua vida atazanada por alguém mais poderoso que você!? 

    “É claro que eu entendo…”, ele pensou. “Mas não devo dizer isso.”

    — Então o seu objetivo é extravasar a irritação de Athena? — perguntou Yoshiyuki, calmo.

    — Não seja idiota — rebateu ela. — não é algo tão superficial assim!

    — O que é, então…?

    Ela forçava ainda mais! Ele estava cedendo!

    “Se eu não usar meu Kirei agora… estarei em apuros!”

    — Hera e Hades planejam matar não só Zeus… mas à mim e Athena também!! — gritou Alter, seus cabelos loiros balançavam como ondas.

    “Mas…”

    — Isso não é motivo para matar Hera — disse Yoshiyuki — Você acha mesmo… que isso resolverá a situação?

    “Eu não posso deixar que ela avance!”

    Suh!

    Ele deu um passo para o lado e…

    — Eu vou desarmar…! — porém…

    Shim! 

    — Gahaaaaaaaah! — ele teve uma de suas mãos cortadas!

    Trish!

    A mão esquerda caiu no chão, e sangrava muito.

    — Hey… o quê…!? — o deus se ajoelhou, rangendo os dentes, como um lobo.

    — Você não me deixou escolhas! — respondeu Alter.

    — Kirei! — e uma chama azulada cobriu o corpo de Yoshiyuki.

    A mão direita dele segurava a katana! 

    Shim!

    Ele a fincou no chão! Alguma coisa o incomodava, por isso…

    — Com as mãos nuas? É sério? Quer perder a outra? — provocou Alter. — Minha irmã pode te amar muito, mas eu não sou bonzinho para deixar esse deu descaso sair impune!

    — Tome isso! Doki…

    Sah!

    Ele avançou contra Alter, mas…

    — Aonde pensa que está mirando!? — exclamou ela.

    Ele passou direto!

    Tum!

    Ele acertou o vácuo!

    — Magia de invisibilidade não me engana, Hera, rainha dos deuses… — murmurou Yoshiyuki.

    Atrás de Athena, segurando a mesma flecha com que Zeus foi morto, estava a — agora ruiva — deusa do matrimônio…

    — Hera!? — espantou-se Alter.

    — Com a Matadora de Deuses… — analisou o deus. — Eu senti a sua presença desde que o duelo começou. Foi por isso que questionei…

    “Você acha mesmo que isso resolverá a situação” — foi o que ele disse, linhas atrás.

    O punho dele segurou a flecha!

    — E agora, Hera? O que vai ser? Você caiu na minha armadilha…

    Porém…

    — Quem caiu foi você… — uma doce voz, parecida com a da sua esposa, sussurrou em seu ouvido.

    Shim!

    Uma lâmina atravessou o abdômen de Yoshiyuki!

    Shim…

    Foi mais fundo!

    — Isso, minha querida Athena! — disse Hera, agradecida.

    Alter Athena o apunhalou por trás!

    Shim!

    E uma lança veio pela frente! 

    — Gah… — ele sentiu dor, mas não eram os ferimentos que o machucavam mais. — Por que… até o final… você foi ruim comigo… Alter Athena?

    — Porque eu não sou exatamente Alter Athena. Não que o leitor e você vão entender isso, é claro.

    — Eu… eu não entendo…

    — Não é para você entender, eu já disse.

    Hera retirou a flecha do abdômen de Yoshiyuki, e sentou no chão, ofegante, e disse:

    — Ele poderia ter me matado… obrigada.

    Os cabelos loiros de Alter Athena, agora, tinham pontas cor-de-rosa. Ela andou para frente, retirou a Soru-kira — que havia sido fincada —, e encarou o marido de sua irmã.

    — Você se enganou, meu bem, quando pensou que a “entidade”… Eu, que te perturbava, se dividia em três partes.. — ela apontou a katana ao coração de Yoshiyuki — Você achou que “mente” e “alma” eram diferentes, né? Pois você está enganado.

    Shim!

    — Guoh… — seu gemido foi fraco, e ele apenas cuspiu um pouco de sangue. — Enganado…? Heh…

    Suuuuh!

    As chamas azuladas que emanavam de Yoshiyuki…

    — Estão sendo sugadas pela espada dele… — murmurou Hera.

    Mesmo na dor, o homem sorria.

    — Eu posso falar com ela mais uma vez? Faz meses que não a vejo.

    — Ela não quer te ver — rebateu Alter. — E, mesmo se ela quisesse, eu não deixaria. Demorou tempo demais para a paciência dela não suportar mais a sua raiva, e eu poder assumir o controle.

    “Tudo bem…”

    — Diga a ela que eu a amo, pelo menos, seu filho da puta… ou “sua filho da puta”?

    — Sou ruim o suficiente para ser pior que um homem, mas também sou uma mulher — ela disse. — Tanto faz. Bom, ela sabe que você a ama.

    Suuuuh… shim! Tukuh!

    A alma dele fora sugada, ela retirou a espada, e apenas um corpo sem vida caiu ao chão.

    Shim!

    Ela apunhalou a si mesma!

    — O que está fazendo!? — gritou Hera.

    — Vou selar a alma da Athena também. Cansei dessa brincadeira de “Alter Athena”, “irmão”, “contraparte”… 

    — Então…

    Quem era ela? — essa era a pergunta.

    — A partir de hoje eu sou sua mestra — falou a mulher dos cabelos loiros, cujas pontas eram rosadas. —  E eu me chamo Sakai…

    A dourada alma da deusa da sabedoria e da guerra, Palas Athena, fora selada na espada Soru-kira.

    A mulher retirou a katana!

    — Junko — falou, em tom grave. — Eu me chamo Sakai Junko.

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