Capítulo 2: A náiade dos olhos vermelhos.
Haviam certos espíritos femininos que possuíam forte apreço a algo da natureza, como um local. Elas eram chamadas de ninfas, as belas mulheres a quem muitos na região da Mesopotâmia referiam, quando lhes perguntavam sobre seus ideais de beleza.
As Náiades são ninfas que guardam rios de água doce, semelhantes às sereias quanto ao físico. Mas são diferentes, pois não fariam mal a ninguém, desde que este não fizesse algum a elas ou ao rio em que moram. Algumas podiam assumir uma forma humana completa, tendo pés.
Elas eram belas. Tudo nelas remetia à harmonia, podendo até trazer a paz ao coração para aqueles que ouviam seus cantos. E seus rostos eram simetricamente belos.
Eram obras de arte em forma de organismo vivo. Pensar em um dia conseguir criar uma obra que gerasse um fascínio tão grande, quanto o que sentia por elas, era o maior desejo de Dédalo, o mestre-artesão.
Ele se sentia vivo quando observava as Náiades de um certo rio, na Sicília, onde no futuro seria a Itália. Nelas, ele encontrou a paz que havia perdido desde que aceitou o pedido do Rei Minos de Creta, que consistia na construção de um labirinto para um monstro.
Na época em que Hermes e Eros foram até ele, a pedido de Zeus, o homem tinha quarenta anos. Não demonstrava os sinais de que estava envelhecendo, talvez por causa da descendência divina.
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Mesmo sabendo que a vida de Hermes, o deus dos viajantes e das rotas, se encontrava em suas mãos, Dédalo se via num impasse.
Sua mente estagnou numa encruzilhada. Um dia se passou desde o pedido, e ele ainda não havia decidido que rumo seguir.
Hermes até tentou o ajudar, mas ele não era o deus que guiava os mortais por caminhos mentais, que os ajudava a escolher a “estrada espiritual” que deveriam rumar. Ele não tinha essa capacidade.
Mesmo a motivação de Eros não contribuiu tanto, porque lhe plantou outra semente de dúvida.
“Uma beleza que não conheço… não consigo tirar isso da cabeça!”, pensava Dédalo.
Encostados num carvalho, há dez metros de distância, os dois deuses encaravam o velho mestre, que cumpria a sua rotina de sempre: contemplar as Náiades no final da tarde.
— E agora… o que farei? Oh, céus… o que farei? — Lamentava-se Hermes — Nem minha amante poderia lutar contra o Pai… estou perdido.
— Logo você, o deus das estradas? — brincou o cupido.
Foi ouvindo os suspiros de dúvida que, de forma bela, uma voz começou a cantar. Era calma como as ondas daquele rio, fazendo os ouvintes de barcos, e induzindo-os a velejar serenamente.
Tendo a alma acalmada por aquele canto, Dédalo olhou em volta, e sentiu algo tocar as suas pernas, que estavam em parte submersas na água.
Era uma Náiade que não conhecia. Ela não se parecia com nenhuma das outras, que também a estranharam. Ela tinha uma presença diferente.
— Um mistério… — sussurrou Dédalo, já encantado.
Era como ele disse. Apesar da boa atmosfera que criava, a mulher introduziu um ar sutil de mistério. Seus longos cabelos castanhos, ondulados como as ondas do rio, convidaram Dédalo a neles mergulhar.
Mas o que mais o interessou, ou enfeitiçou, foram os olhos. Aquelas íris escarlates que pareciam esconder um oceano de segredos.
— Seus olhos são vermelhos… vermelhos como rosas — falou Dédalo, em tom vago —, por isso te chamarei de Roz.
Ela sorriu. Aquelas “janelas da alma”, de cor vermelha, pareciam saber o que se passava em sua mente. Sabia como se fosse algo óbvio.
A mulher se aproximou, elevando o corpo e ficando face a face com o artesão.
Ela, com aquele sorriso cuja simetria faria Aristóteles bater palmas, disse:
— Vá à Montanha das Oréades. Lá, onde uma amiga dizia ir quando precisava arejar a cabeça. — Aconselhou a Náiade — Ela sempre voltava com uma ideia nova.
Pôr se encontrar numa situação onde não conseguia pensar em nada, mesmo querendo, Dédalo aceitou a sugestão.
— Muito obrigado, Roz. Isso será útil — agradeceu o artesão.
Com um inocente aceno dado por ela, e o retribuindo da mesma forma, Dédalo virou-se para os três.
— Vamos.
— Estamos à seu dispor, senhor — disse Dédalo.
— E a minha cabeça está à sua mercê — murmurou Hermes, chutando uma pedrinha.
A montanha a qual Roz apontou ficava à esquerda, o que significava que eles apenas deveriam andar na direção contrária a do fluxo do rio. E assim o fizeram.
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— Mestra, os teus ensinamentos de magia serão postos à prova! — exclamou Eris, que acompanhava o trio, sob a forma de um francelho.
O pássaro do porte de um falcão parecia ganir, para os ouvidos de Dédalo e companhia.
Mas ela deveria tomar cuidado, pois lidaria com Hermes, o amante de sua mestra em magia, a Deusa Hécate.
Este que também era bem versado em magia, principalmente a da luz e dos ventos.
— Tenho receio, mas… Estou confiante o suficiente! Preparem-se, porque para o meu próximo truque… eu farei as suas vidas desaparecerem!
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