Capítulo 4: Ameaça e Bracelete.
O céu estava mais azul do que o normal. As nuvens tinham o mesmo formato. As aves voavam alegremente pelo céu e…
“A maldita da criança nasceu”, pensou Zeus.
Afrodite, por incrível que pareça, foi quem realizou o parto da criança. Foi a primeira a tê-la em mãos.
Eris, deitada na cama dela, estava ofegante.
— Arf… Arf… e agora?
— Agora… — Disse Afrodite, igualmente cansada. — Agora torça para a Hera se convencer com as suas desculpas.
A deusa da discórdia lhe deu uma piscadela.
“Entendi…”, Pensou Afrodite, “Vou tentar ser o mais convincente possível.”
Ela lavou o bebê e suas mãos em sua banheira, deixando o bebê com o pai. Após isso, se enxugou e disse:
— Vou conversar com Hera. Enquanto isso, Zeus, dê um jeito nesse bebê… Na verdade, seria mais conveniente se você o deixasse com Dédalo — e foi embora, subindo as escadas no fundo de sua casa.
As doze casas do Olimpo flutuam no ar, graças a criatividade de Aglaia, a deusa da criatividade e esposa de Hefesto, após masterizar a magia. A casa de Afrodite era a décima segunda, enquanto que a de Hera era…
O Palácio da Rainha.
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No Palácio, estava a real cabeça que controla o universo de Mornal. Ela, a deusa dos casamentos, se encontrava sentada em seu trono, lendo a carta que recebera de Eris.
— Você realmente veio… — Disse a rainha, guardando a carta. — “Algo que precisa ser discutido, mas que não poderei”… Do que se trata?
— Hera, vim aqui, em nome de Eris, lhe dizer que o real motivo para ela propôr uma vingança contra Zeus é porque…
Elas se encararam, com a bela e loira Afrodite em sua pose de imponência, mesmo que estivesse sentindo medo.
— É porque ela também foi uma das “vítimas”.
Trick!
O braço do trono de mármore rachou.
— Pobre irmã…
— Ah, e… Por mais que ela seja do jeito que é, Eris realmente se tornou uma mãe. Ela ama a sua criança e, por isso, com medo de a perder, decidiu dar um jeito nela antes da vingança — continuou.
Hera assentiu.
“Ela é tão compreensível assim? Quer dizer, talvez esteja confiando demais em Eris… Bom, isso não é problema meu.”
— De qualquer forma… eu estou de saída. Era só isso, mesmo. Até mais — e se retirou.
“Me pergunto qual será o desfecho disso…”
ㅡㅡㅡ
Naquele dia, Zeus forçou Hefesto a trabalhar um dia inteiro num objeto que pudesse garantir que Dédalo, seu neto, pudesse terminar a prisão o mais rápido possível.
Mas logo depois que o desesperado rei do Olimpo se foi, ele ficou ali, sem ideias.
— Um artista precisa pensar e refletir… — Disse Aglaia, que entrou no quarto onde seu marido trabalhava. — Mas, querido, você sabe o que existe entre o início e o fim?
— Ah… — Respondeu Hefesto, preparando seus materiais. — É o meio, não é?
— Isso! Para que algo vá do início ao fim, é preciso que exista o meio. Logo, para algo imaginário vire uma coisa concreta, é necessário que um precessão seja feito. No caso do artista, são as suas mãos!
Ao ouvir aquilo…
— As mãos! É isso! Muito obrigado, querida! — agradeceu Hefesto.
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No dia seguinte, o céu estava negro. Raios e mais raios atingiam inúmeros lugares na Terra. Ventava e chovia bastante… principalmente na vila de Dédalo.
As pessoas se esconderam em suas casas e, entendendo o que estava acontecendo, Hermes levou Eros e o artesão para algum lugar aberto.
“Ele está vindo…”
— Para onde estamos indo!? — exclamou Eros.
— Para o rio Roz!
— Ah, sim… Inclusive, gente, não acham isso injusto?
Dédalo, que estava de mal humor por ter sido interrompido em seu trabalho, perguntou:
— Injusto o quê, garoto?
— Acho injusto chamarem esse rio de Roz — disse Eros.
— Injusto? Mas ora… Por quê!? Tem algum problema com isso!?
— É porque havia duas náiades, antes de Roz vir e, unilateralmente, você e Hermes decidiram chamar o rio de Roz. — Explicou o deus do amor. — E você se importa com isso? Está irritado porque eu ofendi a sua “amadinha”, Dédalo?
Foi algo planejado.
— Ah… eh… quer dizer… — Gaguejou o semi-deus, corado. — Sim, eu fiquei um pouco irritado, mas…
— Então ela é sua amadinha, é?
— Uhum… espera, co-como assim!?
O cupido ria, enquanto que Hermes estava caminhando inquieto.
“Já temos o alvo da flecha apaixonante, então”, pensou Eros.
Ao chegarem na margem do rio, viram o senhor dos raios segurando um bebê, e tendo algo amarrado em sua cintura escondido em um saco pequeno.
— Como eu pensei… — murmurou o deus mensageiro.
Zeus não mostrava uma expressão muito amigável, no entanto.
Quando se aproximou, o que intrigou Eros foi uma marca no peito da criança.
“Parece um… um buraco. Mas não me é estranho…”
— Pretendo ser rápido. Dédalo, neto de Hefesto, conhecido como o Mestre das Artes… não é que eu esteja duvidando de você, mas… — disse, entregando o bebê nas mãos de Eros. — Preciso muito que termine esse trabalho. Do contrário, eu não serei o único que sofrerá com as consequências.
Aquele deus, dos cabelos e barba grisalhos, pediu que ele se aproximasse. Ele o intimidou, por ser alto e bem trabalhado fisicamente.
— Por isso, creio que você entenderá… — E tirou algo do saco. — O que estou prestes a fazer. Ande, me mostre suas mãos.
— Assim? — perguntou Dédalo, erguendo ambas.
— Assim mesmo… Isso! — exclamou o rei, nele pondo braceletes.
O artesão encarou os objetos, postos em seus pulsos.
— Em trinta dias, se você não terminar a prisão, esses braceletes se contrairão ao ponto de amputar as suas mãos — explicou do jeito mais calmo possível —, e o único jeito de evitar isso é ser rápido.
Todos estavam em choque.
— Um artista é inútil se não tiver mãos, assim como o início de algo não pode encontrar o fim, se não houver um meio.
— Isso… senhor, isso não é muito extremo? Haha, não… não acha, não? — indagou Hermes, nervoso.
Virando-se de costas, o deus dos trovões começou a caminhar e, antes de sumir ao ser atingido por um raio, disse:
— Extremo é o que Hera sentirá…
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Eris, ainda na cama de Afrodite, segurava uma flecha de um material que lembrava obsidiana.
“Graças a isso, agora a criança odeia o pai”, pensou.
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