O céu estava mais azul do que o normal. As nuvens tinham o mesmo formato. As aves voavam alegremente pelo céu e… 

    “A maldita da criança nasceu”, pensou Zeus.

    Afrodite, por incrível que pareça, foi quem realizou o parto da criança. Foi a primeira a tê-la em mãos.

    Eris, deitada na cama dela, estava ofegante.

    — Arf… Arf… e agora?

    — Agora… — Disse Afrodite, igualmente cansada. — Agora torça para a Hera se convencer com as suas desculpas.

    A deusa da discórdia lhe deu uma piscadela.

    “Entendi…”, Pensou Afrodite, “Vou tentar ser o mais convincente possível.”

    Ela lavou o bebê e suas mãos em sua banheira, deixando o bebê com o pai. Após isso, se enxugou e disse:

    — Vou conversar com Hera. Enquanto isso, Zeus, dê um jeito nesse bebê… Na verdade, seria mais conveniente se você o deixasse com Dédalo — e foi embora, subindo as escadas no fundo de sua casa.

    As doze casas do Olimpo flutuam no ar, graças a criatividade de Aglaia, a deusa da criatividade e esposa de Hefesto, após masterizar a magia. A casa de Afrodite era a décima segunda, enquanto que a de Hera era…

    O Palácio da Rainha.

    ㅡㅡㅡ

    No Palácio, estava a real cabeça que controla o universo de Mornal. Ela, a deusa dos casamentos, se encontrava sentada em seu trono, lendo a carta que recebera de Eris.

    — Você realmente veio… — Disse a rainha, guardando a carta. — “Algo que precisa ser discutido, mas que não poderei”… Do que se trata?

    — Hera, vim aqui, em nome de Eris, lhe dizer que o real motivo para ela propôr uma vingança contra Zeus é porque…

    Elas se encararam, com a bela e loira Afrodite em sua pose de imponência, mesmo que estivesse sentindo medo.

    — É porque ela também foi uma das “vítimas”.

    Trick!

    O braço do trono de mármore rachou.

    — Pobre irmã…

    — Ah, e… Por mais que ela seja do jeito que é, Eris realmente se tornou uma mãe. Ela ama a sua criança e, por isso, com medo de a perder, decidiu dar um jeito nela antes da vingança — continuou.

    Hera assentiu.

    “Ela é tão compreensível assim? Quer dizer, talvez esteja confiando demais em Eris… Bom, isso não é problema meu.”

    — De qualquer forma… eu estou de saída. Era só isso, mesmo. Até mais — e se retirou.

    “Me pergunto qual será o desfecho disso…”

    ㅡㅡㅡ

    Naquele dia, Zeus forçou Hefesto a trabalhar um dia inteiro num objeto que pudesse garantir que Dédalo, seu neto, pudesse terminar a prisão o mais rápido possível.

    Mas logo depois que o desesperado rei do Olimpo se foi, ele ficou ali, sem ideias.

    — Um artista precisa pensar e refletir… — Disse Aglaia, que entrou no quarto onde seu marido trabalhava. — Mas, querido, você sabe o que existe entre o início e o fim?

    — Ah… — Respondeu Hefesto, preparando seus materiais. — É o meio, não é?

    — Isso! Para que algo vá do início ao fim, é preciso que exista o meio. Logo, para algo imaginário vire uma coisa concreta, é necessário que um precessão seja feito. No caso do artista, são as suas mãos!

    Ao ouvir aquilo…

    — As mãos! É isso! Muito obrigado, querida! — agradeceu Hefesto.

    ㅡㅡㅡ

    No dia seguinte, o céu estava negro. Raios e mais raios atingiam inúmeros lugares na Terra. Ventava e chovia bastante… principalmente na vila de Dédalo.

    As pessoas se esconderam em suas casas e, entendendo o que estava acontecendo, Hermes levou Eros e o artesão para algum lugar aberto.

    “Ele está vindo…”

    — Para onde estamos indo!? — exclamou Eros.

    — Para o rio Roz! 

    — Ah, sim… Inclusive, gente, não acham isso injusto? 

    Dédalo, que estava de mal humor por ter sido interrompido em seu trabalho, perguntou:

    — Injusto o quê, garoto?

    — Acho injusto chamarem esse rio de Roz — disse Eros.

    — Injusto? Mas ora… Por quê!? Tem algum problema com isso!?

    — É porque havia duas náiades, antes de Roz vir e, unilateralmente, você e Hermes decidiram chamar o rio de Roz. — Explicou o deus do amor. — E você se importa com isso? Está irritado porque eu ofendi a sua “amadinha”, Dédalo?

    Foi algo planejado. 

    — Ah… eh… quer dizer… — Gaguejou o semi-deus, corado. — Sim, eu fiquei um pouco irritado, mas…

    — Então ela é sua amadinha, é?

    — Uhum… espera, co-como assim!? 

    O cupido ria, enquanto que Hermes estava caminhando inquieto.

    “Já temos o alvo da flecha apaixonante, então”, pensou Eros.

    Ao chegarem na margem do rio, viram o senhor dos raios segurando um bebê, e tendo algo amarrado em sua cintura escondido em um saco pequeno.

    — Como eu pensei… — murmurou o deus mensageiro.

    Zeus não mostrava uma expressão muito amigável, no entanto.

    Quando se aproximou, o que intrigou Eros foi uma marca no peito da criança.

    “Parece um… um buraco. Mas não me é estranho…”

    — Pretendo ser rápido. Dédalo, neto de Hefesto, conhecido como o Mestre das Artes… não é que eu esteja duvidando de você, mas… — disse, entregando o bebê nas mãos de Eros. — Preciso muito que termine esse trabalho. Do contrário, eu não serei o único que sofrerá com as consequências.

    Aquele deus, dos cabelos e barba grisalhos, pediu que ele se aproximasse. Ele o intimidou, por ser alto e bem trabalhado fisicamente.

    — Por isso, creio que você entenderá… — E tirou algo do saco. — O que estou prestes a fazer. Ande, me mostre suas mãos.

    — Assim? — perguntou Dédalo, erguendo ambas.

    — Assim mesmo… Isso! — exclamou o rei, nele pondo braceletes.

    O artesão encarou os objetos, postos em seus pulsos.

    — Em trinta dias, se você não terminar a prisão, esses braceletes se contrairão ao ponto de amputar as suas mãos — explicou do jeito mais calmo possível —, e o único jeito de evitar isso é ser rápido.

    Todos estavam em choque.

    — Um artista é inútil se não tiver mãos, assim como o início de algo não pode encontrar o fim, se não houver um meio.

    — Isso… senhor, isso não é muito extremo? Haha, não… não acha, não? — indagou Hermes, nervoso.

    Virando-se de costas, o deus dos trovões começou a caminhar e, antes de sumir ao ser atingido por um raio, disse:

    — Extremo é o que Hera sentirá…

    ㅡㅡㅡ

    Eris, ainda na cama de Afrodite, segurava uma flecha de um material que lembrava obsidiana.

    “Graças a isso, agora a criança odeia o pai”, pensou.

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