Capítulo 4.5: A visita de Afrodite.
A princípio, ele não era casado.
Ao chegar em seu mundo, ou universo, chamado Thero, Yoshiyuki sentia alguma coisa pesar em sua consciência. E não sobre o fato de Atena ter conseguido, inconscientemente, criar uma memória falsa….
— Caramba! Que azar! Muito azar! O que foi que eu fiz!? — exclamava, enquanto batia a cabeça contra a ponte de pedra.
— Para quê tanta agressão contra si mesmo, ó mancebo esbelto?
— É porque eu contei uma piada, e minhas piadas não tem graça! — Lamentou, ajoelhado no chão. — O pior de tudo é que, além de não rir, as pessoas acabam levando a sério!!
Ele nem mesmo se preocupou em saber quem estava falando com ele, aliás.
— E a quem você contou piadas? — perguntou a pessoa.
— A Atena, uma deusa por quem me afeiçoei e decidi flertar…
A mulher, esta com quem ele conversava sem olhar para trás, riu.
— Quem diria! A séria Atena conseguiu fazer um homem se encantar por ela!
— E-e por que não me encantaria? Uma mulher linda, inteligente, carismática… — disse Yoshiyuki, listando tudo de bom que poderia falar sobre a deusa.
A mulher continuou rindo e, parando na frente dele, revelou-se ser uma linda e loira jovem. Era alta, os bustos tão avantajados que pareciam os de Atena… mas havia uma diferença.
“Os olhos dela… o que há com esse olhar?”
Ela parecia o “engolir”.
— A-A princípio, quem é você? Ninguém aqui em Thero veste esse tipo de vestido… — Analisou. — Isso é… Isso é um chiton! Você veio de Mornal, não? Do mundo de Atena!
— Sim, sou a tia dela. Me chamo Afrodite, e sou a deusa do prazer e, nas horas vagas, do amor.
“Nas horas vagas…?”, pensou o deus.
— Achei você interessante, jovem Yoshiyuki. E por isso te seguir. Sem querer acabei ouvindo Atena aos suspiros, aqueles bem… “suspirados”, digamos assim! E ela murmurava algo como “por que ele tinha de ser casado?”.
— Ela disse isso? — indagou Yoshi, corado.
Ela concordou com a cabeça, e seus seios balançaram, fazendo os olhos dele serem “magneticamente” atraídos.
— Ei! Você deveria olhar assim para Atena! Ah, e ao contrário de você, eu sou casada! — disse Afrodite, em tom de brincadeira.
— Casada?
“Como uma casada sai por aí, atrás de um homem que nem conhece?”, foi o que passou na cabeça dele.
— Mas para você, posso fazer uma excessão… — Murmurou. — Ok, chega de brincadeiras! Vim aqui a fim de saber se você era casado, mesmo. Quero ajudar Atena porque, afinal, não é todo dia que um homem sente algo por ela que não seja medo ou admiração.
E eles seguiram juntos, caminhando pela ponte de pedra. Passaram por uma cidade construída numa montanha e, ao chegarem no cume, ficaram frente a frente com uma mansão.
— Moro aqui, senhorita Afrodite.
— Você quer devagar ou rápido? — indagou ela, pondo o dedo indicador no lábio inferior, tentando o provocar.
— Não entendi. Se for sobre a visita, pode passar o tempo que quiser.
“Poxa, mas que cara sério!”, pensou ela.
E entraram, empurrando as portas de carvalho.
ㅡㅡㅡ
A mansão tinha nove cômodos, com três em cada andar. O mais importante era o quarto de Yoshiyuki, que era usado como sala de estar. Lá, haviam duas almofadas amarelas, que serviam de bancos, um tapete bem fofo ao centro e um objeto que seria o equivalente “mágico” da geladeira.
Sentadas nas almofadas, duas belas mulheres olhavam para o teto.
— Essas são Nahluna e Nahleo — apresentou Yoshiyuki.
— Suas esposas? — indagou Afrodite.
A de cabelos alaranjados e quimono vermelho saltou, e de seus ouvidos pareciam sair fumaça!
— Esposa dele!? Nem aqui e nem em Kenai-kuda!! — exclamou ela.
Yoshiyuki aproximou o rosto ao ouvido da deusa do prazer, dizendo em baixo tom:
— Kenai-kuda é um mundo bem longe do nosso. Seria o sexto, tomando o seu como referência.
— Aaaaah! — reagiu.
Afrodite tapou a boca com uma mão, e riu.
— E que tipo de relacionamento vocês tem, para com ele?
— Nahluna e eu éramos uma só entidade. Juntas, éramos Mahda, a deusa que criou esse universo. — Explicou a de cabelos laranjados. — Yoshiyuki é o primeiro “ser” que fizemos à nossa imagem, mas sem muita semelhança.
O deus olhou para o lado, ficando irritado por um momento. Afrodite achou isso interessante.
— A que veio antes dele era para ser sua esposa, mas ela acabou o odiando. Disse algo sobre “perder sua autonomia e liberdade”, caso se casasse com ele, e por isso apenas o usou para engravidar — disse Nahluna, a de cabelos azuis e camisa cinza e larga.
Fingindo sentir pena, a deusa do prazer pegou Yoshiyuki pelo rosto e o pôs no peito, lhe fazendo cafuné.
— Ela apenas te usou… pobrezinho! Mas não se preocupe! A Atena nunca faria isso!
Nahluna, a deusa que parecia vestir apenas uma camisa larga, se levantou e foi até eles.
— Atena? Quem é essa?
— Vou te responder, assim que me dizer o que acabei de querer saber — respondeu Afrodite.
A deusa da Lua cruzou os braços, fingindo não sentir ciúmes de sua criação.
— E o que seria?
— Quantos filhos ela teve? — perguntou a deusa grega.
— Teve gêmeos. E esses gêmeos tiveram quadrigêmeos, ao se relacionarem. E os quadrigêmeos, dois meninos e duas meninas, tiveram, cada casal, quadrigêmeos e, assim, se formou a humanidade…
Afrodite ia criticar esses casos de relações entre pessoas da mesma família, mas acabou guardando a fala para si. Afinal, ela era casada com Ares, seu sobrinho.
— Atena é minha sobrinha. Somos deusas de Mornal, o mundo para onde Yoshi foi…
Ela soltou o deus, pegou Nahluna pelas mãos, a arrastou até Nahleo e, com um gesto com a cabeça, pediu para que Yoshiyuki não se aproximasse.
— Nos faça um suco de laranja, enquanto isso — pediu a deusa lunar.
Como bom submisso que é, ele logo foi o fazer. Afrodite explicou a situação, e os olhos das três deusas brilharam de alegria.
— Ele anda depressivo desde que foi chutado por ela. Isso vai ser interessante! — disse Nahleo, a de cabelos laranjados.
ㅡㅡㅡ
O fato é que Afrodite estava ali por mais de um motivo. Ela e aqueles olhos de sedutora escondiam tantos segredos, que talvez até visões futuras lhe foram reveladas.
— Por enquanto, não conte ao Yoshiyuki o que vou dizer a vocês, Nahluna e Nahleo.
Elas assentiram.
— Aconteceu de, por eu estar interessada em ajudar Atena com seu “romancinho”… — Disse, em voz baixa, enquanto olhava para o deus atrás delas, que servia suco de laranja. — Acabei consultando uma vidente. E ela me revelou uma coisa um tanto surpreendente.
— Diga-nos — pediu Nahleo, ansiosa.
— “O assassino e o justo estão relacionados por laços carnais, sentimentais e espirituais. Mesmo que a verdade seja revelada, os fios que os conectam continuarão firmes para todo o sempre.” — Contou a visão. — Era só isso.
As duas apenas acharam curioso, mas não duvidando das visões, Nahleo pediu a Nahluna que guardasse-a num papel. Ela o fez, e guardou em algum lugar nos seus aposentos.
— Agora sabendo que ele não é casado, posso dizer a pobre deusa da sabedoria que não precisa se preocupar. Apareço qualquer dia desses! — E foi embora.
Yoshiyuki, após terminar o suco e ter pego copos, foi interrompido por Nahluna.
— Nossa visita já se foi.
— Mas já!? — Exclamou o deus. — Ela nem teve a chance de saborear meu suco!
“Se ela ficasse mais tempo, com certeza iria saborear outra coisa…”
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