Capítulo 5.5: O pesadelo de Yoshiyuki.
“Que tipo de sonho será?”
Tudo parecia claro. Tão claro como se a escuridão e as sombras não existissem. Assim eram os sonhos de Yoshiyuki.
“Deveria ser habitual…”
Mas ele não sentia que sua mente havia deixado o corpo. Não, era como se estivesse em carne e osso, naquele lugar.
“Estranho, muito estranho…”
Estava em um lugar, como um templo grego, cujo teto era sustentado por colunas de mármore, do estilo jônico.
“Tenho passado por lugares assim ultimamente. Mas me pergunto o porquê de me sentir consciente, em um sonho. É como se a realidade se confundisse com o sonho!!”
Passou por um corredor cujas paredes não eram paredes, e sim estantes cheias de livros.
Seus olhos confirmaram: era como se ali não existissem sombras. Tudo era claro.
Após o atravessar, chegou ao centro da sala, onde uma espécie de sofá encontrava-se ocupado.
— Athena? — indagou.
Parecia, e muito. Porém…
— Ah, você finalmente veio… — ela disse. — Estava te esperando. Deverias ser o deus da pontualidade, Yoshiyuki!
“Isso é deboche ou sarcasmo!? E por que estou sonhando com ela!?”, pensou.
— E, a princípio, deus é só um título. Em teoria, sou o “primeiro homem”…
— O primeiro do seu universo? Interessante. Pois bem, sente-se — pediu ela.
“Os olhos de Atena não possuem essa cor… eram azuis, não? Estes são lilás… O pior é que eu não consigo raciocinar direito, quando vejo seu rosto… espere, o que eu estou pensando!?”
— Quando nos conhecemos, você usou um tal de Arcana…
— Arcane Pawa — corrigiu.
— Isso. Um poder interior que reside em cada um, eh? E o seu… o seu entra na mente dos outros.
Ele assentiu.
— Você é como um gato, Yoshiyuki.
— Hum… — Ele lambeu as costas da mão direita. — Miau?
— Mas cuidado, gatos morrem “de” e “por” curiosidade.
“Eita…”
Atena se aproximou, esticando a saia de seu chiton, e o fez deitar em seu colo. Seus olhos diziam algo como “sem piadinhas”.
— Você entendeu que eu quis fazer humor?
— Sim, apesar de ter falhado miseravelmente. Até quando disse que era casado — ela respondeu, com os dedos roçando as bochechas pálidas dele. — Eu entendi. Mas ela não.
— Ela…? — indagou o deus da morte.
A expressão sorridente da divindade, apesar de não ter sido óbvio, para ele pareceu ter tido algum “estalo”.
“Igual quando se diz algo que não deveria…”
— Ahaha… a “ela” me refiro a Athena do dia em que nos conhecemos. Mu… mudando de assunto, por que estamos no mesmo sonho?
— Ao que parece, estamos. Não mude de assunto e me diga: você por acaso é alguma outra Athena? — inconscientemente, ele iniciou um interrogatório.
— Tec… tecnicamente sim — concordou. — É que… veja bem, tudo está em movimento, não é mesmo? Quando digo “estou”, me refiro ao meu “estado”, e isso leva o tempo em consideração.
— Conversar com você é como estudar… — murmurou Yoshiyuki.
Com seus longos cabelos loiros, a deusa os jogou para trás, como se algo a deixasse inquieta.
“Isso é apenas uma insinuação, mas…”
— Tem algo de errado com você, Athena. Pelo andar da carruagem, sua próxima frase será: “eu estava tratando o meu ‘estado’ naquele dia como um ‘eu’, uma ‘outra Athena'”.
Ela estremeceu por um momento.
— Ahaha… você está certo… incrivelmente certo… ahaha…
“Até a risada é diferente.”
— Vo… você está pensando demais, Yoshi… — ela disse. — Talvez… olha, veja, eu… bom, pare de pensar, você calcula demais! Ou você suspeita que sou outra pessoa?
— Há algo de errado com você — repetiu. — Não te conheço há muito tempo. Fazem exatos quinze dias, desde que te conheci, mas de uma coisa eu sei…
Ele aproximou o seu rosto ao dela, inclinando o corpo para frente, a encarando.
— A sua risada normalmente é “ehe”, não “ahaha”. É seu padrão rir dessa forma.
Gulp!
Ele pôde ouvi-la engolir seco!
— O que há contigo, Athena? E esses olhos, as janelas de sua alma…
Eram diferentes do habitual! Mas antes que ele pudesse concluir o que estava dizendo…
Chuuuu~
Ela o beijou, e ele logo perdeu a razão. Até mesmo o toque de suas mãos eram diferentes! Mas a sua mente ficou branca. Deixou-se a deriva das emoções, fechando os olhos.
Foi algo demorado, até. Apesar de aquilo ser um um sonho, Yoshiyuki realmente sentiu que estava beijando alguém…
ㅡㅡㅡ
Mas quando abriu os olhos…
“Nahluna!?”, pensou, acordado.
Havia uma mulher um tanto jovem, cuja única coberta sobre o corpo era uma camisa larga…
“Me… me beijando!?”
Chu!
Os lábios se desencontraram.
— Até que você beija bem… — murmurou ela.
— O… o que você está fazendo aqui!?
— Xiu! Se acalme. Quando levantei para beber água, vi que sua porta estava aberta, e pude te ouvir falando sozinho, mas sério…
Como se tivesse mais alguém ali, de verdade.
— Você estava virado para a parede, me dando a impressão de que estava de conchinha com alguém. Mas quando me aproximei… você levantou muito rápido…
Ela olhou para o lado, com seus cabelos curtos se mexendo involuntariamente, como ondas.
— Meu coração bateu muito forte e…
— Boa noite — respondeu, e voltou a deitar-se.
Tomando a janela como referência, a porta estaria ao sul, e a cama estaria ao oeste. Nahluna estava sentada na beirada da cama.
— Você é irresponsável… roubaste o primeiro beijo de uma dama, e agora a ignora — disse ela, fazendo drama.
— Ah, vai me dizer que você se apaixonou? Não me venha com essa.
— Não obstante, traíste a pessoa com quem tu estavas antes — disse, cordialmente. — E que de repente sumiu.
Ele virou a cabeça para a olhar nos olhos, dizendo:
— Você sentiu… que tinha mais alguém aqui, além de mim?
Ela riu, corada.
— Não se faça de bobo. Pude até sentir uma segunda presença, e era uma totalmente diferente da de Nahleo, minha irmã…
“Então não foi um sonho…? Como… como assim?”
— De qualquer forma, eu vou dormir aqui, com você — concluiu Nahluna.
— Em que tipo de lógica você se baseia!?
— O primeiro passo para a gravidez é o beijo, Yoshiyuki…
Ele não insistiu em a expulsar. Afinal, agora não estava mais com sono.
“Como vou dormir sabendo que beijei duas mulheres na mesma noite!?”
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