— Alcançar o céu, você diz… — murmurou Hera, a deusa do matrimônio.

    — Sim, senhora. Alguns mortais surgiram com uma ideia de que, para alcançarem a sabedoria máxima ou a paz eterna, devem buscar o céu.

    Ambas as deusas estavam vestidas apenas com toalhas. Entre elas, no “sofá”, estava um homem de aparência asiática, cabelos longos e negros, e pele pálida — e usando um quimono roxo.

    — Vocês… vocês poderiam se trocar, antes de termos essa conversa séria? — indagou o asiático, Yoshiyuki, deus da vida e da morte no mundo de Thero.

    — Uma discussão é boa enquanto as ideias forem frescas, menino — respondeu Hera, brincando com seus longos cabelos cor de trigo.

    Ele suspirou.

    “Fiquei curioso com o sonho que tive”, pensou Yoshiyuki. “Mas quando cheguei, elas já estavam ali, e acabaram me envolvendo neste diálogo.”

    — Mas por que o céu? — perguntou o deus.

    — Também me perguntei — disse Hera. — Mas acho que entendi… houve o caso da Torre de Babel, não? O dos mortais que quiseram alcançar um… deus? 

    Athena riu, e seus bustos balançaram de um jeito que Yoshiyuki foi tentado a acompanhar.

    — Sim, um deus chamado “Deus” — disse a deusa da guerra. — Um deus único. Era disso que eu estava falando. Esse deus estaria no Céu, que seria, metaforicamente falando, acima do céu que os homens vêem.

    “Um céu acima do céu?”

    — Deve haver uma razão para ele estar lá — afirmou Yoshi. — E quais seriam os atributos desse deus?

    — Onipresença, onipotência e onisciência. Estaria em todo lugar, teria todos as capacidades imagináveis e saberia de tudo.

    Até a rainha do Olimpo se assustou, com tais qualidades.

    — E por que eles deveriam o alcançar? Por que ele não faria como você, Athena, que vai até o mundo dos mortais, abaixo do Olimpo? Ele deve ser preguiçoso — disse a divindade do casamento, rindo.

    A sábia apenas suspirou, um tanto irritada.

    — Acho que isso se deve a “elevação”. Pensem: alguém inteligente está num patamar acima… elevado em relação a um idiota. Ou seja, simbolicamente, tudo que é bom e perfeito… — Yoshiyuki olhou para Athena, que sorria um tanto corada. — Está num patamar acima. O céu… representaria a perfeição.

    Athena bateu palmas.

    — Exatamente! 

    — Eles querem chegar aonde estamos, então? — indagou Hera. — Quanta prepotência. Não se chega ao Olímpio por simplesmente querer. Uma pedra não vira um diamante.

    Ela se levantou, andou até a entrada da casa de Athena, e, com o queixo elevado, disse:

    — Além de cultuarem um deus que não existe, pretendem alcançar-nos? Vermes rastejantes como vocês nunca… nunca terão asas, humanos tolos — e riu, gargalhou malignamente. — Pelo menos reconhecem que o perfeito se encontra acima do céu!

    Ela desceu as escadas, e se foi.

    — O que foi que eu fiz… — murmurou a deusa da guerra. — Essa conversa só serviu para elevar-lhe o ego… — e direcionou o rosto para a esquerda, encarando Yoshiyuki. — O que foi? Desde que chegou, me parece avoado!

    — A… avoado? Eu? Não… não, eu estou bem. Apenas não dormi direito, noite passada.

    O corpo dele tremeu, de repente.

    “Estou alucinando, ou… quando ela se virou para mim, a cor de seus olhos mudou para lilás?”

    ㅡㅡㅡ

    Enquanto sua “amiga” se trocava, Yoshiyuki decidiu andar para trás do sofá. Passou por um pequeno quarto — aonde foi Athena —, e encontrou uma escada.

    “Ao leva?”

    Ele subiu, e viu-se em outra casa. Andou para frente, e encontrou uma nova escada. Ao que parecia, cada casa, de cada um dos deuses olimpianos, estavam ligadas por meio de degrais de mármore — que pareciam flutuar no ar.

    Andou bastante. Subiu muitas escadas. Entrou em exatas onze casas e, na décima segunda, viu um único móvel: um trono.

    E nele estava sentada…

    — Senhora Hera?

    — Oh, Yoshiyuki, não? Athena te deixou falando só, suponho.

    — Não, ela estava se trocando.

    Ela grunhiu. Antes dele chegar, a mesma parecia olhar para o vazio. Ao seu redor, sentiu que um ar pesado havia se estabelecido.

    “Pressão… que presença é essa? Ela parecia outra pessoa, perto de Athena.”

    — Você ouviu.

    “O que?”

    — Esse seu olhar… “o que?”, você deve ter pensado. Tudo bem, não é nada. Estava eu aqui, pensando na minha vida, e em como e porquê me casei com um homem que… me trairia com minha própria irmã.

    “Ela pensava em Zeus e Eris. Fiquei sabendo do que aconteceu… que vergonha.”

    — Eu devo ser fiel, ele não. Eu devo ser submissa, e ele o governante. Não só o universo, como eu também estou no seu domínio…

    De um jeito provocante, inclinou o corpo para frente, e sorriu para o seu visitante.

    — Eu estou acima dos mortais, mas estou sob as vontades do mesmo governante. O autoritário Zeus, meu marido. Estou acima dos mortais, e até do próprio céu, então por que…

    E se levantou, andando até Yoshiyuki. Ele quis mexer-se, mas a pressão da presença daquela que estava ali o paralisou.

    — Por que me submeto?

    Ela o abraçou, e mordeu seu pescoço.

    — Acho que agora entendo minha sobrinha — disse.

    “O… o que… o que está…”

    — Você é um bom ouvinte. O teu rosto, os olhos puxados, passam uma calma e serenidade que nos são transmitidas pelo olhar! — falou Hera. — Eu seria submissa, se meu esposo fosse você.

    De relance, ambos viram que alguém vinha subindo as escadas, mas logo decidiu dar meia volta.

    — Estou acima dos céus. Não há nada acima de mim — ela afirmou. — Obrigada. Você… você me ajudou a enxergar isso.

    Seus rostos estavam bem próximos.

    — Eu te beijaria, mas estaria agindo como o parasita que chamo de marido. Ele é um deus, de fato… — soltou Yoshiyuki, e desfez a pressão a qual seu corpo estava sob efeito. — Mas “Deus”… Eu quem o sou!

    O deus da vida e da morte caiu de joelhos, ofegante e assustado.

    “Aquela pressão… a energia espiritual desta mulher… é… é muito negativa!”

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