Yoshiyuki havia meditado durante algum tempo, em seu quarto. Fez algumas anotações, e acabou chegando à uma hipótese.

    Uma que o fez estremecer.

    — A profecia… em quase todos os universos do Arucosmos, existe alguma passagem ou profecia, nas religiões que cultuam os deuses, onde é dito algo que se relacione ao fim deles e de seus respectivos mundos — murmurou.

    Ele havia memorizado cada uma dessas histórias que ouviu, quando viajou por cada um dos trezentos e sessenta e cinco universos.

    — E, em todos esses mundos, senti a presença do que por ora chamarei de “escuridão”. — Em sua mente, as imagens de Athena e Hera lhe vieram. — Em Mornal “Alfa”, o universo de Athena, senti essa tal escuridão mais evidente em Hera… e na própria deusa da guerra.

    Apesar de que, no caso de sua amada, sentia algo estranho.

    — A única escuridão que dela senti foi naquele sonho, onde nos beijamos — ele disse, corado. — O “estranho” nisso é que…

    Ela não pareceu a Athena que conhecia.

    — Era como se fosse outra pessoa. E isso me lembra, também, o episódio em que tentei usar o meu Pasting Recording — o seu Arcane Pawa. — Ela não só me barrou de sua mente, como também criou uma memória falsa.

    Em um papel, usando uma pena com tinta na ponta, escreveu três nomes: “Alter Athena”, “Hera” e “Profecia”.

    — É o mesmo padrão! — exclamou, com os cabelos eriçados. — Em todos os mundos há esse padrão de a escuridão se manifestar em três seres!

    Com alguns bichinhos que pareciam slimes, ele prendeu os papéis nas quatro paredes do seu quarto. Ao final…

    — Trindade. Tríade. Triângulo. Três pontos…

    — O que essas palavras juntas deveriam significar? — alguém perguntou.

    — Mente, corpo e espírito. O corpo é a parte material do ser. A mente controla o corpo, como um montador conduz um cavalo. E a alma é quem dá o movimento a esse cavalo. Uma existência precisa dessas três coisas para estar viva — ele disse, com os olhos arregalados.

    Se ele sentiu que essas coisas pareciam “estar surgindo”, ou “nascendo”…

    — É porque algo está induzindo a criação desse ser… é a escuridão!! — ele exclamou, quase louco.

    Afinal…

    — Você usou o seu poder em si mesmo, não é, seu retardado? — zombou a pessoa que ali estava.

    Era Nahluna, a deusa da lua — e a mulher que ele beijou, inconscientemente.

    — Você sabia que usar esse Arcane Pawa em si mesmo pode distorcer a sua noção de tempo, né? Confundirá as memórias e a realidade, se forçar — ela disse.

    — Pormenores, Nahluna, pormenores. E o quê você faz aqui?

    — Ah… ah, eu? Ah, nada. Só aconteceu de eu coincidentemente passar pelo seu quarto, e te ouvi falando sozinho — respondeu a deusa.

    “Não fale isso estando vestida assim!!”, gritou em seus pensamentos.

    Ela não parecia vestir nada além daquela habitual camisa de mangas compridas que, provavelmente, não era do seu tamanho — era quase um vestido.

    — Enfim, eu já entendi tudo — disse Yoshiyuki. — Apesar de ser só uma hipótese, e eu posso estar muito, mas muito errado… pode ser que um ser esteja criando receptáculos seus, em cada um dos trezentos e sessenta e cinco mundos do Arucosmos — estava perturbado, o corpo tremendo, temendo que aquilo fosse verdade.

    — Um “ser”? Você o chamou de “escuridão”, então ele é como um “opositor” de algo? Não que eu defenda essa ideia de oposição entre luz e escuridão. É muito simplório — falou Nahluna, sincera.

    — É. Algo… algo como a contraparte de uma entidade da “luz”. Talvez…

    Talvez a criadora ou criador do Arucosmos — essa era a sua ideia.

    — Olha, você está sendo muito expositivo com essas suas ideias. Confesso que não entendi bulhufas — reclamou Nahluna, fazendo beicinho.

    — Mas é claro. Estou há três dias e três noites trancado nesse quarto, vasculhando minhas memórias usando meu poder, e ligando os pontos.

    — Em resumo, você ficou aí usando drogas, dando à luz a ideias totalmente zoadas e… quase nenhum sentido aparente.

    Ele tossiu.

    — Esse é o vocabulário da deusa que me criou… — disse Yoshiyuki, em voz baixa.

    — Você vai ficar doente, se ficar pensando nessas neuras aí por tempo demais — ela avisou. — O que você faria, se eu não tivesse aparecido? Tentaria provar que é verdade, e iria agora mesmo à Mornal Alfa para investigar a vida dessas três pessoas?

    Nahluna se aproximou, e o pôs contra a parede, dizendo:

    — E o que faria, se estivesse errado? Ou melhor, sabendo que está errado? Não tem como isso tudo que você diz ser verdade, Yoshi. Pense nisso.

    — Não… não tem como? — ele indagou.

    — Não tem. São trezentos e sessenta e cinco universos, no Arucosmos. Apesar de possuírem semelhanças entre si, não há como inferir a existência de duas entidades que se opõem, e que sejam onipresentes — ela o contestou. — Seria um absurdo isso ser verdade.

    “Seria um absurdo, huh?”

    — Agora anda — Nahluna o empurrou, levando-o para fora do quarto. — Vai tomar um ar, beijar alguém, sei lá! Só saia desse quarto! Não quero morar na mesma casa que um lelé da cuca!

    Ele foi expulso do próprio quarto.

    — Mas… você pode estar certo. Não é porque é um absurdo, que não pode ser verdade… ah, não quero me contradizer! — e fechou a porta.

    ㅡㅡㅡ

    Sem muita ideia de para onde ir, Yoshiyuki abriu um portal para a casa de Athena e entrou. Lá, sentou no sofá e esperou.

    — Ah… andei pensando nisso por dias… ah, esqueci de uma coisa.

    Abrindo um portal e nele enfiando a mão, Yoshiyuki tirou um livro enorme — um grimório.

    — Entrego um exemplar desse pra cada representante dos mundos. É necessário.

    Ele se deitou, finalmente sentindo o cansaço físico e mental.

    — É a primeira vez que vou dormir, em três dias… ou talvez quatro? Não sei mais. 

    Sniff, sniff!

    Ele cheirou o sofá.

    — Tem o cheiro de Athena. É bom… muito bom… — e adormeceu.

    Algum tempo se passou, e ele enfim abriu os olhos. Sentiu que sua cabeça estava sob algo macio demais, não reclamando, no entanto.

    Estava deitado no colo de Athena!

    — Você dormiu uns cinco dias, neste sofá — ela disse, com os seus olhos azuis a brilharem. — Eu li o livro que deixou na estante. Como era de magia, decidi dar à Hécate. Ela é a deusa da magia, afinal.

    — Who .. whoa!!

    Ele logo se levantou e sentou corretamente.

    — Desculpe por isso — disse Yoshiyuki.

    — Ehe, não tem problema. Você é fofinho enquanto dorme… — comentou a deusa da guerra. — Eu quase te bei… ah, ehehe…

    Seu rosto, rubro, tentava conter as suas palavras.

    “Os olhos…”

    Os olhos dela eram azuis!

    “Que bom… talvez a Alter Athena, a dos olhos lilás que vi em um sonho… fosse somente um sonho.”

    ㅡ Por… por que me olha tanto? Assim fico sem jeito…

    — É que você também é fofa — ele disse, aliviado.

    ㅡㅡㅡ

    Enquanto isso…

    ㅡ Hoooh! Que incrível! Esplêndido! Mas esse livro é estupendo! — disse Hades, o deus do submundo, vestindo um chiton negro.

    — Não é? Foi o tal Yoshiyuki, conhecido como “assassino de almas” que deu a Athena, e ela repassou à mim — disse uma mulher de cabelos rosados e chiton vermelho.

    — Um incrível livro de magia! Que incrível! Posso ficar?

    — Claro… 

    — Quero fazer alguns… experimentos, se é que me entende — ele disse, em tom malicioso.

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