— Guh… 

    Plic, plic… 

    “Aonde eu estou…?”, pensou Yoshiyuki. “Uma sala escura? Não…”, analisou o lugar. “Estou em uma gruta. Amarrado em uma estalagmite…”

    Plic… plic…

    “Cheiro de sangue…”

    Snif, snif.

    “É, é sangue fresco. Mas de onde?”

    E ficou em silêncio, por um tempo — chegou a um estado tão silencioso, que o único som, além do pingar da “água”, era o do seu coração.

    Seu espírito conectou-se ao lugar. Foi então que soube dizer de onde vinha o cheiro, dizendo em seu pensamento:

    “Noroeste. Vem de noroeste… na mesma direção do pingar. Não quero acreditar nisso, mas…”

    Talvez…

    — Talvez o pingar seja de um corpo… 

    Ele não vestia nada além de uma cueca.

    “Está frio… bem frio. E esse cheiro de sangue…”

    Ele se perguntou o porquê de estar ali. E sua cabeça doía, quando tentava forçar a lembrança.

    “Alguém me derrotou? Ou talvez… ou talvez… me envenenou? Não, se fosse veneno, eu teria morrido…”

    Algo que o fez dormir — essa foi a conclusão.

    “O que eu estava fazendo, mesmo? Ah, sim…”

    — Au… desgraça…! — ele sentiu a dor.

    “Eu estava voltando pro meu mundo. Isso mesmo. Três dias haviam se passado, tempo suficiente para o Hermes e o Eros lerem os meus manuscritos…”, pensou. “Porém, Nahleo e Nahluna me disseram que ambos haviam ido ao mundo deles, avisando que me esperariam lá.”

    E ele sabia que tinha ido.

    “Acho que agora lembro mais ou menos…”

    ㅡㅡㅡ

    Quatro horas antes…

    Ele estava subindo as escadas. Ao seu lado, Athena parecia ter um ar…

    — Uma atmosfera diferente — disse Yoshiyuki. — Alguma coisa está diferente em você.

    — Ahaha! Você acha?

    — Acho. E sua risada não é “ahaha”, mas “ehehe” ou “ehe” — comentou, desconfiado.

    Ele vestia um quimono branco, cuja “calça” era azul. Em sua cintura, estava embainhada a sua katana — a “Soru-kira”.

    — A propósito, Yoshiyuki, como eu confio em você, e… tratando essa informação como uma “troca de informações” entre fiscal e representante… 

    Ela o parou, segurando-o pelo pulso.

    — A náiade que hoje é casada com Dédalo, na verdade, é Eris… a deusa da discórdia.

    — Oh, interessante. Guardarei em minha mente — respondeu ele, indiferente, continuando o passo.

    Mas Athena, aparentemente fingindo inocência — ressaltada pelo simples vestido negro que ele a presenteou —, o interrompeu novamente.

    — Sei que atualmente sou representante do meu mundo, que você nomeou Mornal Alfa, mas… não acho que alguém envolvido em guerras seja adequada para tal cargo, este que promove paz.

    — Áries é o deus da guerra. Aquele que a promove. Você promove a luta contra essa guerra, logo, também é a deusa da paz — respondeu Yoshiyuki. — Agora me deixe subir. Eros me disse que estaria na casa de Hera.

    Estavam na primeira casa do Olimpo — e a da senhora dos deuses era a décima segunda.

    — Mas espere, Yoshi…

    — Athena — ele finalmente se virou para trás —, você não está se ajudando. Seus olhos estão em cor lilás. Sua atitude está mais agressiva, e impulsiva, contrária ao habitual…

    Ele sorriu, como se quisesse que essa situação tivesse acontecido.

    — Não, como se não fosse você. Não é natural seu… ser desse jeito — afirmou, pondo a mão no cabo de sua espada. — Você não é a Athena.

    Ele pôde ouvi-la engolir a própria saliva.

    — Se aproxime de novo, e sua cabeça rolará escada à baixo — ameaçou, preparado para o ataque. — Todos os indícios mostram que nos encontramos de novo, Alter Athena.

    — De… de novo!? — ela indagou, quase caindo de costas. — Então você se lembra do sonho!?

    — Claro que lembro, e é por isso que agora eu…

    GAAAAAAAAAAAAAAH! — um grito horrível ressoou, aparentemente vindo de casas acima.

    Os olhos de Alter Athena se arregalaram, e isso lhe mostrou…

    “Que está envolvida nisso!”

    Shim!

    Ele sacou a katana!

    — Corra, maldita! — gritou. — Vá na frente, e não se atreva a olhar para trás!

    A mulher o fez, e subiu as escadas na maior pressa possível. Depois de alguns minutos…

    — O que está acontecendo!? — exclamou Afrodite, os parando quando passaram por sua casa, a décima.

    — Venha! — ordenou Yoshiyuki. — Exatos três minutos se passaram desde o grito, e talvez o assassino não esteja longe!

    Os outros deuses não estavam ali — as casas estavam vazias.

    — Aonde os outros estão? — indagou o deus da morte.

    — Foram ao encontro de Hades, que disse ter criado uma magia que poderia matar Zeus! — respondeu Afrodite.

    Ela estava diferente, desde a última vez que ele a vira — seus cabelos agora eram azuis claríssimos, os olhos de cor âmbar, e vestia um chiton rosa claro.

    — Foram ao submundo, então… — murmurou Yoshiyuki, subindo os degraus. 

    O que significava…

    “Esse maldito pode estar envolvido!”

    Já na décima segunda casa… um corpo pequeno exibia-se sentado no trono de Hera, com um livro no colo, e o abdômen…

    “Perfurado…”

    Ele analisou a parte de trás do trono, não encontrando vestígios de ter sido perfurada.

    “Mas Eros…”

    — Esfaqueado… O MEU FILHO FOI ESFAQUEADO! O MEU FILHO! O MEU FILHO! — gritava Afrodite.

    ㅡㅡㅡ

    — Itai, itai… — sua cabeça doeu muito. — Mas isso ainda não explica como parei aqui.

    Plic, plic…

    “Ah, não há nada que eu possa fazer. Está escuro mas talvez… talvez amanhã o sol ilumine.”

    Ele acreditou nisso, e dormiu. No dia seguinte…

    — Certo… — acordou, e já estava planejando se soltar. — Talvez o meu sequestrador não pensasse que eu poderia…

    Olhou para cima…

    — Sa… sair — na direção de onde pingava sangue, viu dois corpos pendurados pelo pescoço, juntos, em uma estalactite.

    Afrodite e Eros! Mãe e filho! Mas os seus rostos…

    — Parece que tomaram um banho com o próprio sangue… — disse ele, incrédulo.

    “Magia de vento…”

    — Lâmina de ar! — exclamou, e uma espécie de lâmina de vento surgiu em sua frente. — Corte!

    Ela cortou a corda que o amarrava fortemente à estalagmite. De pé, Yoshiyuki se alongou e quase vomitou — afinal, vira dois corpos violentamente ensanguentados.

    A caverna tinha mais estalagmites do que estalactites — isso ele pôde ver graças a luz do Sol, que agora a iluminava. A diferença é que a primeira crescia no chão, e a segunda no teto.

    — Preciso abrir um portal… — disse em baixo tom, porém se decepcionou. — Tô com pouca energia.

    Mas conseguiu, e fugiu.

    ㅡㅡㅡ

    O corpo dele tremia. Sua respiração era pesada, e sentiu que havia escapado de uma ameaça maior que ele mesmo. Seu suor era frio, até.

    “Eu posso ser morto, se voltar agora”, pensou.”Vou sumir por algum tempo…”

    Em sua casa, avisou à Nahluna e Nahleo que estaria ausente por um período indeterminado de dias…

    — Mas por quê!? — gritou Nahleo, com seus cabelos alaranjados brilhando.

    — Estou perturbado, Nahleo, perturbado! Perturbadissimo! Preciso dar um tempo! Um tempo! — respondeu o deus da vida e da morte. — Preciso me recuperar daquilo…

    — “Daquilo” o quê, seu idiota!?  — indagou Nahluna, o pegando pelo pulso.

    Por instinto, ele puxou o braço agarrado, e se esquivou. O olhar assustado de Yoshiyuki as espantou.

    — Eu realmente preciso dar um tempo — ele afirmou, e abriu um outro portal.

    Ofegante, passou para o outro lado e… desde lá, Nahleo e Nahluna não o viram durante doze anos.

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