— Tem certeza… de que isso dará certo? — perguntou o artesão, o encarando com desconfiança. — Sinto calafrios daqui…

    Ele se estremeceu.

    “Só saberei tentando”, pensou Yoshiyuki.

    Dédalo e o deus da morte theriano estavam de pé, encarando os degraus abaixo deles. Tudo estava muito escuro, tão escuro que o portador da Soru-kira sentiu um pingar de arrependimento…

    “Em ter vindo.”

    Tuh… tuh…

    Passos vagarosos vinham de baixo!

    Suuuuh!

    Uma brisa gélida e carregada de um sentimento pesado os atingiu. A tocha que Dédalo carregava não tinha apenas o fogo trêmulo, mas a própria base de madeira também.

    — Zeus… devo… matar… — dizia uma voz infantil, vinda da mesma direção.

    Tuh… tuh…

    Ela ia aparecendo: uma garotinha pálida como uma vela, vestindo um chiton negro. Descalça, ela subia aqueles degraus tingidos com o sangue dos pés.

    Trish!

    O deus a agarrou pelo braço, e disse:

    — Revele, Past Recording!!

    Zuuuuwoooon!

    ㅡㅡㅡ

    Memórias deturpadas eram disparadas aos olhos de Yoshiyuki!

    — Suba as escadas… — dizia uma voz rouca e grossa. — Zeus…

    “Que diabos…!!”

    — Zeus… deves matar!

    Sah!

    O que ele via era como se inúmeras visões lhe fossem reveladas, uma a uma, numa velocidade alucinante! Como se quadros e quadros se revelassem, na velocidade da luz!

     Mas uma se fixou, e nesta, um homem de cabelos lisos e esbranquiçados, dos olhos semi-cerrados e negros, vestindo um manto negro…

    Enclinava o rosto sobre ela, a encarando no fundo dos olhos.

    — Ouça-me, criança, o homem que te pôs ao pé desta escada se chama Zeus — ele disse. — Eu me chamo Hades, e sou inimigo dele. 

    — Eu… 

    — Eu usei um “artifício” para você entender o que digo — interveio. — Voltando, seu objetivo, Skiá, é matar esse tal Zeus.

    — Matar…?

    “E ela por acaso sabe o que significa matar!?”, gritou Yoshiyuki, em seus pensamentos. “Esse maldito realmente estava envolvido! Sem dúvidas!”

    — Isso! Ele quem te deixou aí, isolada! Incapaz de viver normalmente com sua família! — disse Hades, com pesar fingido.

    — A minha… família…?

    Ele juntou as mãos e, abrindo-as, criou um espelho mágico — e desta magia, foram mostradas imagens de famílias, com suas crianças, se divertindo.

    — Zeus te impede de ser feliz, Skiá! Te impede de deixar a solidão! Não apenas isso, como ameaça a vida do teu pai!

    — O meu… pai? O meu pai!? — ela exclamou, já irritada.

    — Sim, Skiá, ele matará o seu pai, se ele te tirar daí! A única que pode o salvar é você, criança!

    — E o que eu devo fazer, senhor Hades!? — perguntou a menina, com os punhos serrados.

    — Subir as escadas! Deve subir! E quanto mais você querer o matar, mais força terá para alcança-lo!

    “Não, ela apenas fará sua energia negativa crescer… BASTARDO! Como ele pode fazer isso com uma criança!?”

    — Eu subirei as escadas, e matarei Zeus! Zeus devo matar!

    — Muito bem, muito bem… — respondeu Hades, batendo palmas. — Boa sorte.

    E desapareceu, andando de costas.

    Zuuuuuuuh!

    Mais flashes foram disparados em Yoshiyuki!

    — Zeus…

    Ele viu os pés dela sangrarem…

    — Devo…

    “Minha mente vai explodir! Quanta dor ela está me fazendo sentir!”

    — MATAR!

    ㅡㅡㅡ

    — GAAAAAAAH! — gritou o deus, soltando a menina.

    Ele sabia que todas aquelas visões, repassadas por meio do seu Arcane Pawa — o Past Recording —, duraram apenas…

    — Segundos… vivi doze anos da vida de alguém…

    Em segundos!

    — Você está bem!? — indagou Dédalo. Seu chiton branco encardido parecia laranja, iluminado pela tocha.

    O mesmo já era calvo, inclusive. Seus olhos grandes e cansados ainda emanavam alguma vida…

    “Ao contrário da criança…”

    Cuja alma parecia ser a própria escuridão!

    “Ela cresceu…”

    Odiando uma única pessoa!

    — Ela… ela não tem salvação… — murmurou Yoshiyuki. — Não tem…

    — Por… por quê? — perguntou o artesão, assustado.

    — Skiá já se tornou Lowhol… um espírito das trevas, um que vive apenas por um único objetivo, e que morrerá quando o cumprir.

    — Isso é mau… muito mau… Roz vai sofrer, quando disso souber… — disse Dédalo, em voz baixa.

    O deus, com seu hakama — um quimono japonês que possui calça —, de cor roxa para a parte de cima, e preta para a de baixo, levantou-se…

    Sério… mortalmente sereno.

    — Doze anos se passaram, me pergunto como está o Olimpo.

    — O senhor…

    — Sim, senhor Dédalo, eu pretendo ir até lá — afirmou Yoshiyuki. — Pedirei permissão para dar um fim digno a Skiá.

    Com sua katana, antes embainhada na cintura, fez um corte vertical — este que abriu uma fenda. A fenda se abriu como um olho, e nela ele entrou.

    ㅡㅡㅡ

    Do outro lado…

    — AAAAAH! — gritou a deusa loira, de toalha. — Yo… Yoshiyuki!? É você mesmo!?

    Era Athena, assustada. Intencionalmente, ele abriu um portal para a casa dela.

    — Não tenho tempo para pôr a conversa em dia, senhorita Athena. Vim a trabalho — disse ele, friamente.

    — Pensei que fosse ao menos me dizer “oi”…

    — Me dê permissão para eliminar Skiá — pediu. — Do jeito que está, ela se tornará um Lowhol-deus.

    As estantes, o chão… quando prestou atenção, viu que por todo o lugar haviam papéis esparramados.

    — Não… não repare na bagunça… — ela disse, lagrimando e rubra. — Olha, veja, eu estou feliz em te ver de novo… não só isso, eu…

    — A permissão, me dê a permissão — insistiu.

    Tap!

    Uma palma golpeou a bochecha de Yoshiyuki!

    — A… Athena?

    — Idiota! Você é um idiota! Mentecapto! — exclamava a deusa, fechando os punhos com muita força.

    — Mas é que eu realmente preciso…

    — “De um tapa”!? — completou ela. — Fala um “ah” pra você ver!

    — Ah?

    TAP!

    Com o rosto quente de um lado e o ouvido zumbindo, o deus sentiu o mundo balançar.

    — Mas é sério, Athena, eu realmente preciso…

    Tuh!

    Ele sentiu seu tronco ser apertado. A velocidade com que foi envolvido no abraço da deusa o assustou.

    — Me ouça — pediu ela. — Eu… eu estou feliz em te ver. Fiquei preocupada, disseram que você sumiu de repente, depois que Eros passou mal…

    — Ah, realmente… espera… hein!?

    — O quê?

    Mais assustado do que nunca, pensou em perguntar o que ela quis dizer, mas retornou ao seu motivo original.

    — Eu preciso da permissão.

    — Você sabe que, se eu te der o que você quer, os mortais podem acabar interpretando que concessões de favores políticos a amigos são perdoados por nós… — murmurou Athena.

    — Eles não vão interpretar nada se não estiverem vivos — rebateu Yoshiyuki.

    — A situação é crítica assim!? Certo, certo, eu permito, eu permito! Escreverei o documento assim que você voltar, está bem!?

    Ele assentiu e, virando-se de costas para ela, fez um corte diagonal com a katana — abrindo um portal. O “olho de fenda” se abriu, e o deus desapareceu ao entrar.

    — “Eles não vão interpretar nada se não estiverem vivos”… Já que…

    A energia de Skiá os consumirá vivos.

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