Capítulo 9.5: Revele, Past Recording!
— Tem certeza… de que isso dará certo? — perguntou o artesão, o encarando com desconfiança. — Sinto calafrios daqui…
Ele se estremeceu.
“Só saberei tentando”, pensou Yoshiyuki.
Dédalo e o deus da morte theriano estavam de pé, encarando os degraus abaixo deles. Tudo estava muito escuro, tão escuro que o portador da Soru-kira sentiu um pingar de arrependimento…
“Em ter vindo.”
Tuh… tuh…
Passos vagarosos vinham de baixo!
Suuuuh!
Uma brisa gélida e carregada de um sentimento pesado os atingiu. A tocha que Dédalo carregava não tinha apenas o fogo trêmulo, mas a própria base de madeira também.
— Zeus… devo… matar… — dizia uma voz infantil, vinda da mesma direção.
Tuh… tuh…
Ela ia aparecendo: uma garotinha pálida como uma vela, vestindo um chiton negro. Descalça, ela subia aqueles degraus tingidos com o sangue dos pés.
Trish!
O deus a agarrou pelo braço, e disse:
— Revele, Past Recording!!
Zuuuuwoooon!
ㅡㅡㅡ
Memórias deturpadas eram disparadas aos olhos de Yoshiyuki!
— Suba as escadas… — dizia uma voz rouca e grossa. — Zeus…
“Que diabos…!!”
— Zeus… deves matar!
Sah!
O que ele via era como se inúmeras visões lhe fossem reveladas, uma a uma, numa velocidade alucinante! Como se quadros e quadros se revelassem, na velocidade da luz!
Mas uma se fixou, e nesta, um homem de cabelos lisos e esbranquiçados, dos olhos semi-cerrados e negros, vestindo um manto negro…
Enclinava o rosto sobre ela, a encarando no fundo dos olhos.
— Ouça-me, criança, o homem que te pôs ao pé desta escada se chama Zeus — ele disse. — Eu me chamo Hades, e sou inimigo dele.
— Eu…
— Eu usei um “artifício” para você entender o que digo — interveio. — Voltando, seu objetivo, Skiá, é matar esse tal Zeus.
— Matar…?
“E ela por acaso sabe o que significa matar!?”, gritou Yoshiyuki, em seus pensamentos. “Esse maldito realmente estava envolvido! Sem dúvidas!”
— Isso! Ele quem te deixou aí, isolada! Incapaz de viver normalmente com sua família! — disse Hades, com pesar fingido.
— A minha… família…?
Ele juntou as mãos e, abrindo-as, criou um espelho mágico — e desta magia, foram mostradas imagens de famílias, com suas crianças, se divertindo.
— Zeus te impede de ser feliz, Skiá! Te impede de deixar a solidão! Não apenas isso, como ameaça a vida do teu pai!
— O meu… pai? O meu pai!? — ela exclamou, já irritada.
— Sim, Skiá, ele matará o seu pai, se ele te tirar daí! A única que pode o salvar é você, criança!
— E o que eu devo fazer, senhor Hades!? — perguntou a menina, com os punhos serrados.
— Subir as escadas! Deve subir! E quanto mais você querer o matar, mais força terá para alcança-lo!
“Não, ela apenas fará sua energia negativa crescer… BASTARDO! Como ele pode fazer isso com uma criança!?”
— Eu subirei as escadas, e matarei Zeus! Zeus devo matar!
— Muito bem, muito bem… — respondeu Hades, batendo palmas. — Boa sorte.
E desapareceu, andando de costas.
Zuuuuuuuh!
Mais flashes foram disparados em Yoshiyuki!
— Zeus…
Ele viu os pés dela sangrarem…
— Devo…
“Minha mente vai explodir! Quanta dor ela está me fazendo sentir!”
— MATAR!
ㅡㅡㅡ
— GAAAAAAAH! — gritou o deus, soltando a menina.
Ele sabia que todas aquelas visões, repassadas por meio do seu Arcane Pawa — o Past Recording —, duraram apenas…
— Segundos… vivi doze anos da vida de alguém…
Em segundos!
— Você está bem!? — indagou Dédalo. Seu chiton branco encardido parecia laranja, iluminado pela tocha.
O mesmo já era calvo, inclusive. Seus olhos grandes e cansados ainda emanavam alguma vida…
“Ao contrário da criança…”
Cuja alma parecia ser a própria escuridão!
“Ela cresceu…”
Odiando uma única pessoa!
— Ela… ela não tem salvação… — murmurou Yoshiyuki. — Não tem…
— Por… por quê? — perguntou o artesão, assustado.
— Skiá já se tornou Lowhol… um espírito das trevas, um que vive apenas por um único objetivo, e que morrerá quando o cumprir.
— Isso é mau… muito mau… Roz vai sofrer, quando disso souber… — disse Dédalo, em voz baixa.
O deus, com seu hakama — um quimono japonês que possui calça —, de cor roxa para a parte de cima, e preta para a de baixo, levantou-se…
Sério… mortalmente sereno.
— Doze anos se passaram, me pergunto como está o Olimpo.
— O senhor…
— Sim, senhor Dédalo, eu pretendo ir até lá — afirmou Yoshiyuki. — Pedirei permissão para dar um fim digno a Skiá.
Com sua katana, antes embainhada na cintura, fez um corte vertical — este que abriu uma fenda. A fenda se abriu como um olho, e nela ele entrou.
ㅡㅡㅡ
Do outro lado…
— AAAAAH! — gritou a deusa loira, de toalha. — Yo… Yoshiyuki!? É você mesmo!?
Era Athena, assustada. Intencionalmente, ele abriu um portal para a casa dela.
— Não tenho tempo para pôr a conversa em dia, senhorita Athena. Vim a trabalho — disse ele, friamente.
— Pensei que fosse ao menos me dizer “oi”…
— Me dê permissão para eliminar Skiá — pediu. — Do jeito que está, ela se tornará um Lowhol-deus.
As estantes, o chão… quando prestou atenção, viu que por todo o lugar haviam papéis esparramados.
— Não… não repare na bagunça… — ela disse, lagrimando e rubra. — Olha, veja, eu estou feliz em te ver de novo… não só isso, eu…
— A permissão, me dê a permissão — insistiu.
Tap!
Uma palma golpeou a bochecha de Yoshiyuki!
— A… Athena?
— Idiota! Você é um idiota! Mentecapto! — exclamava a deusa, fechando os punhos com muita força.
— Mas é que eu realmente preciso…
— “De um tapa”!? — completou ela. — Fala um “ah” pra você ver!
— Ah?
TAP!
Com o rosto quente de um lado e o ouvido zumbindo, o deus sentiu o mundo balançar.
— Mas é sério, Athena, eu realmente preciso…
Tuh!
Ele sentiu seu tronco ser apertado. A velocidade com que foi envolvido no abraço da deusa o assustou.
— Me ouça — pediu ela. — Eu… eu estou feliz em te ver. Fiquei preocupada, disseram que você sumiu de repente, depois que Eros passou mal…
— Ah, realmente… espera… hein!?
— O quê?
Mais assustado do que nunca, pensou em perguntar o que ela quis dizer, mas retornou ao seu motivo original.
— Eu preciso da permissão.
— Você sabe que, se eu te der o que você quer, os mortais podem acabar interpretando que concessões de favores políticos a amigos são perdoados por nós… — murmurou Athena.
— Eles não vão interpretar nada se não estiverem vivos — rebateu Yoshiyuki.
— A situação é crítica assim!? Certo, certo, eu permito, eu permito! Escreverei o documento assim que você voltar, está bem!?
Ele assentiu e, virando-se de costas para ela, fez um corte diagonal com a katana — abrindo um portal. O “olho de fenda” se abriu, e o deus desapareceu ao entrar.
— “Eles não vão interpretar nada se não estiverem vivos”… Já que…
A energia de Skiá os consumirá vivos.
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