Capítulo 12/1: Anel da Unidade.
Certa vez, há bastante tempo, um casal queria sacralizar a sua relação — queriam ter uma prova física de sua união.
Esse casal, então, foi ao topo de um monte, de onde diziam os moradores da região que de lá os deuses podem ouvir preceses, e pediram à Hera:
— Oh, deusa do matrimônio, que estás no céu! Ouça nosso pedido! Precisamos de algo que nos una eternamente!
Lá do alto do monte Olimpo, mas como se estivesse perto deles, ela respondeu:
— Algo que os una eternamente? Em todos os sentidos?
— Em todos os sentidos — disseram, ao mesmo tempo.
A deusa lhes falou para esperarem sete dias. Eles agradeceram, e foram embora. Na sexta casa do Olimpo, Hera chegou para o seu filho Hefesto e lhe pediu:
— Filho meu, deus da forja, faça um objeto que una dois mortais que se amam demais.
O deus, que forjava uma espada, apenas grunhiu.
— Uni-los de que forma?
— De todas as formas — retruca a mãe, sem muita vontade. — Só faça algo, sim?
— E eu torno a perguntar: de que forma?
— Apenas faça algo que os una, infeliz! Ou se recusa!?
Ela, em seu imponente chiton branco, e grande altura, parecia oprimir o pobre anão que era Hefesto. O mesmo tremeu ao sentir uma fração da verdadeira face de sua mãe.
— Não me recuso, mãe… só quero saber a forma como o objeto deve os unir — ele explicou, compassado. — Há várias formas de se unirem duas coisas.
— A isso eles me disseram: “em todos os sentidos”.
Fazendo uma expressão de dúvida, o forjador divino deu de ombros.
— Se é o que disseram… — murmurou, voltando-se a forja. — Eu o farei. Volte em sete dias, mamãe.
Ele então gastou cinco dias para pensar. E chegou na seguinte ideia: dois seres diferentes vivem em uma harmonia, um se sobrepondo ao outro, mas sem se assimilarem.
“É da harmonia deles que surge a união eterna. Um ciclo onde um sobrepõe ao outro.”
Voltas e voltas, sem fim. Em três dimensões, algo esférico…
“Em duas dimensões…”
Circular!
E lá foi Hefesto se colocar a trabalhar. Em menos de um dia, no fim do prazo, ele mesmo foi ao encontro de Hera e lhe mostrou os objetos que forjou.
— O que são essas coisinhas circulares? — perguntou ela.
— “Anéis”, mamãe. Eles unirão o casal, numa harmonia onde um se junta ao outro, mas sem se consumirem.
— Porque se um consumisse o outro, o primeiro ficaria sozinho… ㅡ disse a deusa, sentada em seu trono. — Parabéns, meu filho. Fez bem.
Com pressa, ela foi revelar-se ao casal humano, no sétimo dia. Já estavam à sua espera.
— Tomem, eis os objetos que os unirão. De preferência, ponha-os no mesmo dedo que o parceiro — explicou Hera, e foi-se embora.
Mas algo estranho aconteceu… quando colocaram os anéis…
Zuhp!
Eles literalmente se uniram…
ㅡㅡㅡ
— Em uma fusão. O que achou? — indagou o pai.
Um homem jovem e uma criança de mais ou menos doze anos estavam numa planície, deitados na grama de um pequeno morro. Eles admiravam as estrelas.
— É realmente interessante — disse o garoto. — História legal… mas por quê isso soa como “experiência própria”?
O pai, um homem de quimono roxo e cabelos longos, franziu a testa, sem alterar o sorriso.
— Você está se entregando, papai.
— Sim, eu sei…
“Eu enfeitei e mudei alguns fatos, mas essa história aconteceu comigo e Athena… acho que uns doze ou treze anos atrás, possivelmente. Ah, foi logo depois do caso de Skià.”
— E quando você vai me ensinar magia? — disse, e Yoshiyuki reagiu como se ele estivesse sendo insistente.
— Não é magia… já não te disse? É Kirei. Às vezes acho que você anda bem esquecido, Kezu.
— De fato… mas é sério, quando poderei usar a sua espada, a Soru-kira? Eu gosto dela desde que o vi usando-a, quando lutou com um demônio.
— A usará quando estiver pronto — o pai fechou os olhos e suspirou. — E ela é bem perigosa.
O garoto era bem parecido com o pai, com exceção dos cabelos: eram de um tom bem claro de castanho. Vestia um quimono roxo.
— Sim… a propósito, papai, falando de Hera, Hefesto e companhia… eu não sinto a energia deles.
Yoshi coçou o queixo e, esboçando alguma curiosidade, indagou:
— Ah, a lição sobre “sentir a presença”, não? Conseguiu algum progresso?
Kezu parecia nervoso — uma gota de suor escorregou em sua testa.
“Será que não…?”
— Isso foi ontem, pai, quando mamãe me levou ao Olimpo. Só senti a energia espiritual de Zeus, Hera e de mamãe… ㅡ seus olhos expressaram alguma confusão. — Mas quanto aos outros nove deuses…
Os olhos de Yoshiyuki se arregalaram.
— Era como se eu estivesse vendo fantasmas.
Ele nem precisou que o pai perguntasse, respondendo assim:
— Aqueles corpos sem vida se moviam e agiam como se tivessem.
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