Capítulo 288: Deusa do Gelo Skadi (2)

A pergunta de Lilith pegou Bai Zemin de surpresa. Afinal, toda aquela mudança foi simplesmente muito abrupta.

Eles estavam falando sobre a Vontade do Mundo, sobre Mundos Superiores, sobre Existências Superiores, etc… Como as estrelas do céu distante deveriam entrar em cena aqui? 

Bai Zemin assumiu para si mesmo que talvez Lilith não quisesse mais falar sobre ela e decidiu respeitar isso. Seja como for, do seu ponto de vista, essa conversa tinha sido incrivelmente valiosa para ele; ele não apenas aprendeu coisas diferentes que o ajudariam a se preparar mentalmente para o que o esperava no futuro, mas também lhe deu muitas informações sobre a mulher à sua frente.

Passar de saber apenas o nome dela para saber sua idade e alguns de seus feitos incríveis era o suficiente para ele por enquanto. No futuro, os dois provavelmente teriam muito tempo para se conhecerem melhor.

“As estrelas, hein…” Bai Zemin olhou para o céu distante acima de sua cabeça que se estendia até onde os olhos não conseguiam alcançar e um sorriso nostálgico nasceu em seu rosto naturalmente. “Falando nisso, de repente me lembrei de algo que aconteceu quando eu ainda era muito jovem.”

“Ah?” Lilith olhou para ele por um momento com leve curiosidade.

“Acho que eu tinha 6 ou 7 anos na época, para ser completamente honesto, não me lembro muito bem. De qualquer forma, durante as férias de verão, um dia, minha família inteira fez uma viagem para os arredores de Xangai, onde acampamos por uma semaninha.” Bai Zemin riu e continuou: “Naquela época, minha irmãzinha Meng Qi ainda não fazia parte da família, minha mãe só a adotaria vários anos depois. Então, éramos apenas meu pai, minha mãe e eu.”

“Estando longe da cidade, a poluição luminosa era mínima, então as estrelas estavam tão visíveis quanto estão agora que a maioria das luzes do mundo foram apagadas. Lembro que durante a última noite aconteceu algo que me assustou pra caramba naquela época.”

Lilith estreitou os olhos e prestou atenção especial a essa parte, pois de alguma forma ela não conseguia deixar de sentir que talvez as coisas não fossem tão simples quanto Bai Zemin pensava que eram naquela época.

Sem saber o que ela estava pensando, ele apontou para a enorme cúpula escura com pequenos pontos brilhantes acima de sua cabeça através da janela e perguntou: “Você consegue ver aquele conjunto de estrelas ali?”

Lilith traçou o local apontado por Bai Zemin e rapidamente identificou o que ele queria mostrar a ela. Ela franziu a testa ligeiramente e perguntou confusa: “Você quer dizer a constelação de Sirius, o Lobo Celestial?”

“Eh?” Bai Zemin olhou para ela com uma expressão de espanto estampada no rosto e perguntou estupefato: “Você também sabe sobre Sirius?”

Como Bai Zemin não poderia ficar surpreso? O que ele estava apontando era de fato a estrela mais brilhante visível no cosmos; pelo menos da Terra. Mais especificamente, o que ele queria mostrar a ela era a constelação do Lobo Celestial Sirius.

No entanto, Lilith não deveria saber de tal coisa. Talvez muitas outras raças inteligentes também ligassem estrelas e dessem nomes a elas, mas quão altas eram as chances de não apenas chamar uma estrela pelo mesmo nome, mas também nomear uma constelação inteira que era composta de cerca de onze estrelas…

“Eu explico sobre isso mais tarde. Mais importante, o que aconteceu naquela época?” Lilith balançou a cabeça e deixou que Bai Zemin continuasse narrando o que aconteceu em sua infância.

Até um tolo perceberia que talvez as coisas não fossem tão simples depois de ver o interesse especialmente alto de Lilith no assunto. Afinal, uma existência que fosse praticamente absoluta e no topo do universo não se interessaria por assuntos insignificantes a tal ponto.

Com uma expressão um pouco rígida, já que ele não esperava que tal coisa acontecesse só por causa de um comentário descartável de sua parte, Bai Zemin continuou, “De qualquer forma, na noite anterior à nossa partida, a estrela chamada Sirius lançou um brilho bizarro naquela época. Mesmo que Sirius seja a estrela mais brilhante do mundo atualmente, como todas as outras estrelas, todos nós a vemos como branca ou levemente azulada… Mas naquela época o brilho da estrela era vermelho, tão vermelho quanto os olhos de um demônio!”

Bai Zemin conseguia se lembrar claramente de como naquela noite ele chorou furiosamente enquanto corria para a tenda onde seus pais estavam, assustando-os muito, pois eles pensaram que algum animal selvagem tinha aparecido de repente. Foi somente depois que o pequeno Bai Zemin daquela época contou o que viu que seus pais finalmente suspiraram de alívio e sorriram ao ver que, para o desânimo dele daquela época, Sirius estava brilhando da mesma forma que brilhava desde tempos imemoriais.

“Naquela época eu estava bravo porque meus pais não acreditaram em mim, mas com o passar dos anos, até eu mesmo presumi que era tudo imaginação de uma criança pequena.” Bai Zemin balançou a cabeça e forçou um sorriso enquanto olhava para Lilith antes de dizer: “Mas olhando para seu rosto agora, parece que realmente não foi minha imaginação, afinal.”

Lilith olhou em seus olhos por alguns segundos antes de finalmente afastar seu olhar para olhar para o céu estrelado novamente. Ela não comentou sobre o que tinha acabado de ouvir nem deixou o menor indício de seus pensamentos escapar através de suas expressões enquanto seu rosto mantinha sua compostura o tempo todo.

Em vez disso, ela esclareceu outra dúvida que Bai Zemin tinha.

“Se alguém lhe dissesse que, na realidade, as estrelas no firmamento não são meras massas de gás que estão em temperaturas catastróficas, o que você pensaria sobre isso?” 

Bai Zemin deu de ombros calmamente e respondeu: “Se fosse no passado, eu provavelmente não teria muita opinião sobre isso, já que ciência e astrologia não são meus pontos fortes… No entanto, depois de tudo o que aconteceu em apenas um segundo quando o Registro da Alma apareceu na Terra, acredito que tudo é possível.”

“Hm. É bom manter sua mente aberta a novas ideias, pensamentos e perspectivas.” Lilith assentiu e continuou, “Na verdade, as estrelas não são tão simples quanto parecem. Mais especificamente, não as estrelas em si, mas as constelações compostas de um conjunto de estrelas.”

Bai Zemin permaneceu imóvel em seu assento e ouviu tudo com a maior seriedade. 

A voz de Lilith se misturava à atmosfera calma da noite como se fosse a mais bela melodia do mundo: “O firmamento, isto é, esse espaço infinito por onde se movem as estrelas, que muitos chamam de céu, é semelhante a um imenso mural onde repousam as vontades e os poderes de existências que ultrapassaram os limites do universo, adentrando um novo mundo cheio de perigos, mas também de infinitas possibilidades… Ou pelo menos é isso que existências no nível dos diferentes líderes das Facções Superiores estimam após estudar esse campo por centenas de milhares de anos.”

“Existências que excederam os limites do universo?” Bai Zemin repetiu incrédulo antes de perguntar: “Quais são os limites do universo para começar?”

Lilith riu e disse em um tom um tanto divertido, “Isso não é algo que meu eu atual pode sentir, irmãozinho Zemin. A maninha não atingiu os limites do Registro da Alma o suficiente para ser capaz de responder a essa pergunta.”

Ao ouvir sua resposta, Bai Zemin se sentiu um pouco envergonhado. 

Como uma pessoa que ainda não havia atingido um limite poderia saber algo sobre esse limite? Era como querer saber que havia um muro a 20 km de distância em um lugar onde você nunca tinha estado antes e sobre o qual você também não tinha informações. 

Especular? Claro. 

Quanto a saber precisamente… Tal coisa era impossível.

“De qualquer forma, vamos deixar esse assunto de lado por enquanto. Não acho que seja necessário que você saiba mais sobre essas coisas, já que sua força é insignificante para fazer qualquer coisa sobre isso de qualquer maneira e você estaria apenas desperdiçando seu tempo. Além disso, eu mesma não sei muito sobre isso de qualquer forma.” Lilith decidiu encerrar o assunto desses seres ali.

Bai Zemin sorriu amargamente em segredo. Na verdade, sua força era insignificante, então não havia sentido em saber dessas coisas ainda. Mas a maneira como ela disse isso de alguma forma pareceu um pouco dolorosa; isso só serviu para fortalecer ainda mais sua determinação de se tornar forte mais rápido.

“A propósito…” Lilith olhou para ele e sorriu como se fosse um gatinho travesso antes de dizer, “Você não estava curioso para saber como era possível executar um ataque poderoso o suficiente para aniquilar toda a vida de um mundo em questão de segundos? Você gostaria que eu lhe mostrasse?”

Os olhos escuros de Bai Zemin brilharam intensamente quando ele ouviu a pergunta de Lilith e, antes que seu cérebro pudesse enviar o comando, ele já estava balançando a cabeça repetidamente, como um pintinho bicando arroz.

“Hehe~” Lilith riu baixinho ao vê-lo agir daquele jeito pela primeira vez em vários dias, antes que sua expressão ficasse levemente séria e orgulhosa quando ela disse: “Olhe com muito cuidado e tente não ficar com muito medo, irmãozinho Zemin…”

Sob o olhar atento de Bai Zemin, Lilith fechou os olhos por um momento e levou as duas mãos ao peito antes de fazer um gesto de agarrar. Então, como se puxasse um fio invisível, ela estendeu as duas mãos para fora.

Bang!

“O quê-“

Bai Zemin se assustou e inconscientemente tentou recuar apenas para perceber que ainda estava sentado no sofá. Um pequeno ponto de luz começou a brilhar no peito de Lilith e essa luz logo se espalhou por todo o quarto, cegando-o por alguns segundos.

Quando ele percebeu através de suas pálpebras que o brilho havia diminuído quase completamente, Bai Zemin abriu os olhos ligeiramente marejados pela luz brilhante de antes e olhou para frente.

“Isto é…” Bai Zemin olhou com uma expressão surpresa para uma pequena pedra flutuando logo acima da palma de Lilith.

A pequena rocha tinha talvez uns cinco centímetros de altura e tinha o formato de um diamante com rachaduras nas pontas. Sua cor era preto obsidiana com reflexos arroxeados, e uma tênue aura arrepiante a cercava.

Lilith olhou para a pequena pedra em suas mãos com olhos cerrados e sussurrou: “Esse é meu Fragmento de Firmamento. Eu o adquiri… Vários anos atrás.”

“Fragmento de Firmamento?” ele perguntou estupefato.

Bai Zemin estava simplesmente sobrecarregado com tudo o que estava acontecendo, portanto, houve muitas coisas que ele infelizmente deixou passar durante toda a conversa.

Lilith olhou para a pequena pedra flutuando a alguns centímetros de sua palma e a esticou para frente.

A pequena rocha flutuou gentilmente sob seu comando e parou bem na frente de Bai Zemin. A pequena rocha que Lilith se referiu como [Fragmento de Firmamento] estava agora ao alcance de suas mãos e o frio ao redor dela não parecia desconfortável, mas ele podia sentir como se a própria morte estivesse olhando para ele.

“Você pode tocar.” 

A voz de Lilith o tirou do seu transe e, quando ele levantou a cabeça, viu que ela o olhava com um pequeno sorriso.

Ela assentiu e insistiu: “Toque. Então talvez você entenda um pouco melhor por que eu lhe contei tudo isso antes.”

Bai Zemin hesitou por um momento. Ele podia sentir cada nervo em seu corpo tenso ao máximo, a quantidade de perigo que ele sentia da pequena rocha na frente dele era tal que o Urso Arcano de Segunda Ordem parecia um recém-nascido comparado aquilo.

Uma gota de suor que logo foi congelada e destruída pela aura gelada liberada pela pequena pedra na frente de seus olhos deslizou por alguns segundos por seu rosto. Essa foi provavelmente a primeira vez em toda a sua vida que ele se sentiu tão apreensivo sobre algo.

No entanto, toda a sua hesitação desapareceu em um instante quando ele viu a expressão de Lilith. Se ela queria que ele a tocasse, então significava que nada de ruim aconteceria a ele. 

Se fosse no passado, Bai Zemin talvez não ousaria se aproximar, muito menos tocar em algo que o fizesse sentir que iria morrer a qualquer momento. Mas agora, ele basicamente confiava em Lilith com sua vida, então não estava preocupado com sua segurança.

Ele estendeu a mão direita para a frente e, com muito cuidado, tocou gentilmente a superfície lisa da pequena pedra.

Imediatamente, uma mensagem passou pela sua retina.