O sol mal tocava o horizonte quando Kazuto e seus colegas chegaram ao pátio de treinamento. O local era gigantesco, delimitado por muros altos de pedra e árvores negras que cresciam tortas, como se sentissem o peso das dezenas de gerações que ali haviam treinado. O chão estava coberto de areia fina e úmida, e o ar carregava um cheiro metálico, como ferro antigo.

    No centro do pátio, Lau aguardava. A vassoura de palha apoiada no ombro, o corpo magro e aparentemente frágil, mas os olhos carregavam um brilho que fazia até o vento hesitar.

    — Hoje vocês vão lutar. — disse ele, com a voz calma, mas pesada como pedra. — E quando digo lutar… não estou falando de brincadeira.

    Nariko riu, tentando aliviar a tensão. — Tá, professor. Mas com uma vassoura?

    Lau girou a ponta da vassoura e, num instante, a areia inteira do pátio se levantou como se fosse um redemoinho, cortando o rosto de todos como navalhas.

    — Nunca subestime a simplicidade. — disse ele. — Agora, comecem.

    Himari foi a primeira a reagir. Ele tentou disparar faíscas elétricas, mas Lau desviava com movimentos mínimos, às vezes apenas inclinando a vassoura, como se estivesse dançando. Cada choque que atingia a areia levantava pequenas explosões, mas ele nunca se tocava.

    Chen Hua tentou usar seu Feralis da flor. De suas mãos brotaram hastes e pétalas afiadas, que giravam como lâminas ao redor dela. Lau atravessou o campo de flores como se fossem nuvens, arrancando uma delas e jogando contra Chen Hua, que foi lançada para trás, aterrissando com a areia prendendo-a parcialmente.

    Nariko usou seu Feralis da tampa. Criou escudos gigantes, tentando bloquear os ataques imprevisíveis do mestre. Mas Lau movia a vassoura em movimentos impossíveis, fazendo os escudos girarem, colidirem uns com os outros, e uma tampa bateu tão forte que Nariko foi arremessado por três metros, girando no ar antes de cair de costas, rindo de dor e frustração.

    Sora liberou a Raiva Pura, o corpo ardendo em chamas de energia, músculos tensionados e olhos faiscando com ódio contido. Ele correu em direção a Lau, mas cada golpe que desferia era desviado com a leveza de um toque de pluma. Cada vez que Sora acertava a areia, Lau sorria, e a areia se tornava lâminas cortantes que rasgavam o chão e feriam os pés de Sora.

    Kazuto tentava atacar de forma normal, sem Feralis, tentando esquivar-se e aprender pelo exemplo. Mas cada passo parecia um labirinto, cada movimento previsível demais para o mestre da vassoura. Ele levou um empurrão lateral que o fez colidir com uma árvore e perder o fôlego, sentindo a madeira se rachar sob o impacto.

    Lau não poupava esforços. Com um giro rápido, ele acertou Nariko nas pernas, arrancando ambas instaneamente. Mas, como previsto, os membros regeneraram-se segundos depois, com os músculos e pele se recompondo em movimento perfeito.

    — Se vocês acham que lutar é simplesmente acertar golpes… estão errados. — disse Lau, observando todos se recompondo. — Aqui, cada ferida é lição. Cada erro é mortal.

    Ele se aproximou de Chen Hua, que se preparava para lançar um ataque mais coordenado com suas flores. Em um movimento rápido, ele atravessou as hastes com a vassoura, girou e a fez rebater contra o próprio corpo dela, quebrando temporariamente os braços. Chen Hua gritou, mas, novamente, os membros regeneraram-se, intactos, como se nada tivesse acontecido.

    Himari tentou eletricidade, disparando raios como relâmpagos vivos, mas Lau desviava com simples movimentos da vassoura, enquanto os raios acabavam destruindo o chão e levantando pedras que acertavam os próprios colegas por reflexo.

    Sora explodiu em raiva pura, tentando esmagar Lau com uma sequência de socos, mas a vassoura bloqueava e redirecionava cada golpe, causando estragos na própria raiva de Sora: cada ataque que não atingia o alvo retornava para ele, dilacerando músculos e ossos por segundos antes da regeneração instantânea.

    Nariko, enfurecido, criou dezenas de tampas voadoras, tentando cercar Lau. Mas o mestre girou a vassoura com velocidade impossível, e cada tampa bateu de volta nele próprio, fazendo Nariko rodopiar no ar antes de cair de cara na areia, rindo e chorando ao mesmo tempo.

    Kazuto observava tudo, aterrorizado e fascinado. Ele não tinha Feralis, mas via como cada colega era levado ao limite, humilhado, e ainda assim aprendendo.

    Lau ria enquanto avançava. Cada ataque era uma lição e uma demonstração de controle absoluto.

    — Chen Hua, flores! — gritou ele. — Mas não pense que pétalas vão te salvar. Elas são lindas… mas inúteis se você não for mais rápido!

    Ele arrancou mais hastes, quebrando braços e pernas, jogando-a contra o chão repetidas vezes.

    — Nariko, tampas! — disse ele, com ironia. — Sua defesa é inútil se você não souber onde o inimigo vai estar!

    Lau girou a vassoura, e uma tampa atingiu Nariko com força, lançando-o contra o muro. Ele riu. — Ah, vocês vão rir quando eu mostrar o verdadeiro teste.

    Himari tentou eletricidade novamente. Raios cortaram o ar, mas Lau, com movimentos quase dançantes, desviava de todos. Cada choque que atingia a areia provocava explosões que levantavam poeira e pedras, ferindo os colegas por reflexo.

    Sora explodiu de raiva pura, criando um redemoinho de energia em torno de si. Mas Lau tocou a ponta da vassoura na areia, e o redemoinho virou cortina de destruição contra ele mesmo, arrancando membros, quebrando ossos, enquanto ele gritava e se regenerava.

    Kazuto continuava a observar, tentando aprender apenas assistindo, evitando movimentos previsíveis. Mas mesmo ele levou golpes leves da vassoura que o lançaram alguns metros, cravando suas costas na areia e erguendo um pequeno sulco no chão.

    Após mais de uma hora de caos absoluto, Lau finalmente parou. A areia estava revirada, flores cortadas pelo chão, tampas espalhadas, marcas de eletricidade queimando a pedra e a madeira, redemoinhos de energia quebrados no ar.

    — Vocês ainda estão vivos. — disse Lau, respirando com dificuldade, a vassoura apoiada no ombro. — Mas isso não significa nada. Se não entenderam que cada ataque, cada falha, cada respiração pode ser mortal… não sobreviverão quando a fera aparecer de verdade.

    Himari apoiou-se no joelho, respirando com dificuldade. — Mas… você arrancou nossos braços e pernas… e ainda estamos aqui.

    Lau sorriu, sombrio. — Vocês regeneram-se. Mas e a alma? Cada erro deixa uma cicatriz na mente. Cada falha é lembrança. Vocês aprendem porque a dor é real.

    Chen Hua respirava fundo, segurando os braços, ainda dolorida. — É… quase… engraçado… até você lembrar que podia ter morrido de verdade.

    Nariko cuspiu areia, ainda rindo nervosamente. — Nunca mais subestimarei uma vassoura. Nunca.

    Sora permaneceu imóvel, ainda em fúria. — Isso… isso é… humilhante.

    Kazuto finalmente se aproximou, sentindo o chão sob os pés tremer pela força que haviam liberado. — Mas… aprendemos algo. Todos nós.

    Lau assentiu. — Exato. Hoje não morreram… mas cada movimento foi mortal. Aprendam: a fera não espera sua regeneração. Ela não dá segunda chance.

    Ele girou a vassoura no ar, deixando o rastro de energia cortante brilhando por alguns segundos antes de desaparecer. — E se algum de vocês acha que o Feralis é brincadeira… amanhã vamos descobrir quem realmente sobrevive.

    O sol começava a se pôr, tingindo o pátio de vermelho e dourado, refletindo nos corpos feridos, regenerados, e suados dos aprendizes. Todos se levantaram, exaustos, mas com algo novo: respeito absoluto pelo Faxineiro Divino, e medo real pelo que ainda estava por vir.

    Kazuto olhou para os colegas: Himari, Chen Hua, Nariko, Sora… todos eram jovens, mas naquela hora, pareciam feras moldadas por Lau, cada uma aprendendo a lidar com seu poder e seu próprio medo.

    O treino havia sido mortal. Mas ninguém morrera.

    E ninguém esqueceria a lição.

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