O céu de Chernobyl pendia como uma ferida aberta, manchado de laranja e cinza, onde nuvens pesadas dançavam com a poeira radioativa. Torres enferrujadas erguiam-se como sentinelas quebradas, e os prédios abandonados da zona de exclusão sussurravam histórias de um passado devastado. Cinco figuras avançavam pelo concreto estilhaçado, seus passos ecoando como batidas de um coração moribundo. O ar carregava o peso metálico do sangue seco, o cheiro acre da destruição e o eco distante do caos que haviam deixado no Pentágono.

    Eles eram a Corte Escarlate, uma trupe de artistas da carnificina, caçadores que transformavam cada missão em um espetáculo macabro. O roubo fora um sucesso: um artefato de poder incalculável, arrancado das entranhas de um bunker protegido por magia e tecnologia, agora estava em suas mãos. Mas a vitória não trazia paz — apenas a promessa de mais sangue. Eles retornavam à sua base, um complexo industrial abandonado na zona de exclusão, onde a radiação se entrelaçava com magia profana, criando um terreno onde até os mais fortes hesitavam antes de pisar.

    O portão enferrujado rangeu como um grito ao ser empurrado, revelando o pátio interno da base, um labirinto de concreto rachado e máquinas esquecidas. Nami, a Pradaria Enlouquecida, abriu os braços, e sua Grama Eterna explodiu do solo, lâminas esmeralda afiadas como navalhas que se enroscavam e cortavam o concreto como se fosse papel. O pátio, antes cinzento e morto, agora pulsava com vida venenosa, as ervas dançando ao vento radioativo.

    — Nada como chegar em casa e sentir o cheiro do caos — disse Nami, os olhos brilhando com um verde doentio, como se a própria radiação a alimentasse.

    Ragnar, o Rugido, ainda em sua forma bestial, arrastava os pés, o corpo coberto de pelos negros e garras reluzindo sob a luz fraca do entardecer. Seu focinho exalava vapor, e os dentes brilhavam com um brilho primal.

    — Silêncio! — rosnou ele, a voz grave ecoando como trovão. — Não é hora de brincadeiras, Nami. O roubo foi concluído, mas o treino para a próxima carnificina começa agora. O Líder não tolera fraqueza.

    Glassia, a Estilhaçada, caminhava com graça letal, os pés descalços tocando o chão sem emitir som. Com um gesto, fragmentos de vidro quebrado ergueram-se do solo, flutuando ao seu redor como estrelas cortantes. Cada estilhaço capturava o pôr do sol, refletindo rostos ensanguentados, cicatrizes frescas e olhos que brilhavam com loucura contida.

    — Haiko, ainda lambendo seu sangue? — provocou ela, a voz afiada como seus cacos. — Arte exige precisão, meu caro. Cada ato de destruição deve ser estudado, esculpido com cuidado.

    Haiko, o Vermelho, limpava o sangue seco de sua faca com a língua, um sorriso sarcástico curvando seus lábios. O vermelho de sua capa parecia pulsar, como se estivesse vivo, bebendo o caos ao seu redor.

    — Precisão? — retrucou ele, rindo baixo. — Isso é diversão, minha querida. Cada vida ceifada é uma pincelada no quadro do mundo. E eu adoro pintar com vermelho.

    Kurami, o Vulto, emergiu das sombras como se fosse parte delas, deslizando do teto enferrujado para o chão sem emitir som. Seus olhos, brancos como leite, brilhavam na penumbra, e sua voz etérea cortava o ar como uma brisa fria.

    — Vocês ainda não entendem — murmurou ele, quase poético. — A verdadeira arte está em manipular o medo. O Pentágono foi apenas um ensaio. O próximo palco será maior.

    Plax, o Artificial, riu enquanto moldava o concreto do pátio com as mãos, como se fosse argila. Ele criou miniaturas grotescas dos colegas — Nami com sua grama cortante, Ragnar com garras exageradas, Glassia cercada de vidros partidos. Cada figura era uma caricatura macabra, esculpida com precisão perturbadora.

    — Posso esmagar cada um de vocês a qualquer momento — disse Plax, a voz metálica ecoando de seu corpo semissintético. — E ainda será divertido!

    O pátio da base tornou-se um palco de egos e insanidades. Karra, a Estrada Infinita, irrompeu pelo corredor principal, seus braços transformados em rodas girando com o rugido de motores infernais. O chão tremia sob seu peso, e faíscas saltavam do concreto enquanto ela derrapava, deixando marcas de queimadura.

    — Um simples roubo? — zombou ela, a voz misturada com o ronco de suas engrenagens. — Que amadores! Se fosse por mim, o Pentágono teria sentido o chão rachar sob minhas rodas!

    Shido, o Errante, desapareceu em um piscar de olhos, apenas para reaparecer atrás de Ragnar, tocando seu ombro com um dedo gelado. O Rugido rosnou, girando com garras prontas, mas Shido já havia sumido novamente, sua risada ecoando pelo pátio.

    — Vocês ainda falam em planos? — disse ele, reaparecendo no topo de uma pilha de destroços. — Eu sigo trajetórias que destroem expectativas. O caos é meu mapa.

    Baku, o Canibal Risonho, estava agachado perto de uma parede, mastigando pedaços de concreto com dentes que pareciam trituradores industriais. Seu sorriso era largo, quase infantil, mas seus olhos brilhavam com uma fome insaciável.

    — Energia é energia — disse ele, cuspindo lascas de pedra. — Comer, destruir, devorar… Adoro quando tudo vira meu buffet!
    Nami girou, e sua grama cortante explodiu do chão, subindo pelas paredes e perfurando o teto enferrujado. As lâminas dançavam, cortando o ar com precisão mortal, e ela riu, o som misturando-se ao farfalhar de sua criação.

    — Este pátio é pequeno demais para o meu poder — declarou ela. — Se quisesse, eu sufocaria cidades inteiras com minha pradaria.

    Ketsu, a Perna Divina, deu um salto que fez o chão tremer, enviando ondas sísmicas que racharam o concreto ao redor. Seu corpo, porém, parecia lutar para conter a força concentrada em suas pernas, e ela cambaleou ao aterrissar, rindo de si mesma.

    — Posso destruir qualquer coisa em meu caminho… se o resto do meu corpo aguentar o tranco — admitiu, com um sorriso torto.
    Ori, o Cronista de Papel, permanecia em silêncio, sentado em um canto do pátio.

    Folhas de papel voavam ao seu redor, cada uma se transformando em lâminas afiadas que cortavam o ar. Ele estendeu a mão, e as folhas absorveram as memórias de ratos e insetos que rastejavam pela base, seus olhos brilhando com o peso das histórias roubadas.

    — Memórias apagadas, histórias rasgadas… — murmurou ele. — O mundo é um livro que implora para ser destruído.

    Frigo, o Congelador, caminhava lentamente, deixando um rastro de gelo invisível no chão. Pequenos animais e objetos presos em suas câmaras de gelo brilhavam como esculturas macabras, congelados em expressões de terror eterno.

    — O frio é uma arte silenciosa — disse ele, a voz baixa e gélida. — A morte é apenas um detalhe.

    Haiko se aproximou de Glassia, lambendo o sangue seco de seus dedos com um sorriso provocador.

    — Satisfação, querida? — perguntou ele, os olhos brilhando com malícia.

    Glassia ergueu a mão, e cacos de vidro voaram em direção a Haiko, parando a centímetros de seu rosto. Ela sorriu, mas seus olhos eram frios como os fragmentos que controlava.

    — Satisfação? — retrucou ela. — Arte é dor, Haiko. Você entende isso, ou prefere rir como um idiota?

    Haiko desviou dos cacos com um movimento fluido, rindo alto enquanto lambia mais sangue.

    — Eu entendo, querida. Rir também é arte. E o vermelho é minha tinta favorita.

    Plax, ainda moldando suas miniaturas grotescas, criou uma versão de Haiko com uma faca cravada no peito, rindo enquanto a esmagava com o polegar.

    — Quando o Líder aparecer, talvez descubramos que somos apenas peças de um quebra-cabeça que nem imaginamos — disse ele, a voz carregada de um humor sombrio.

    Shido, agora encostado em uma coluna quebrada, observava o grupo com olhos semicerrados.

    — Cada um de nós é uma obra de insanidade — disse ele, sério. — Juntos, somos um pesadelo que o mundo não está pronto para enfrentar.

    Nami, rindo enquanto sua grama cortava o ar, acrescentou:

    — Quanto mais conheço vocês, mais amo o caos. Somos uma sinfonia de destruição.
    Glassia bufou, mas um leve sorriso traiu sua fachada fria.

    — O Líder… nem sabemos se ele existe de verdade. Só ouvimos sua voz em corvos, espelhos, ou no sangue que Haiko insiste em lamber.

    Haiko jogou um punhado de sangue no chão, formando um padrão caótico que parecia pulsar com vida própria.

    — Que divertido seria se ele aparecesse agora e dissesse que fizemos tudo errado — disse ele, rindo como se a ideia fosse a melhor piada do mundo.

    Ragnar rosnou, suas garras arranhando o concreto.

    — Chega de palhaçadas! O Líder nos guia, quer apareça ou não. Nosso trabalho é destruir, não questionar.

    Kurami, deslizando para as sombras novamente, murmurou:

    — Vocês falam como se ele fosse um deus. Mas deuses não sussurram em espelhos quebrados.

    O grupo se reuniu em um hangar abandonado no coração da base, onde máquinas enferrujadas e runas mágicas gravadas nas paredes pulsavam com uma energia instável.

    O artefato roubado — uma esfera de obsidiana que parecia engolir a luz — repousava sobre uma mesa improvisada, guardada por tentáculos de grama de Nami e cacos flutuantes de Glassia.

    Kurami, ainda nas sombras, falou com um suspiro:

    — O Líder permanece silencioso. Nem os Ō-tachi, seus mensageiros, sabem quando ele se revelará.

    Baku, lambendo os lábios enquanto devorava um pedaço de metal retorcido, riu.

    — Voz, espelhos, sangue… Obedecer é suficiente. O resto é só tempero.

    Nami, deixando sua grama crescer ao redor da esfera, riu alto.

    — Quanto mais conheço vocês, mais gosto do caos. Somos uma praga gloriosa.
    Glassia, com sarcasmo afiado, cruzou os braços.

    — Ele nunca estará satisfeito. Mas nossa arte é continuar criando destruição, quer ele goste ou não.

    Haiko, girando sua faca entre os dedos, acrescentou com um brilho nos olhos:

    — Cada cidade destruída, cada gota de sangue derramada… É a sinfonia que só a Corte Escarlate sabe tocar. E eu quero um solo.

    O vento atravessava Chernobyl, carregando o cheiro de ferrugem, radiação e morte. Cada rangido do concreto, cada sussurro do vento, tornava-se testemunha da loucura organizada da Corte Escarlate. No centro do hangar, a esfera de obsidiana pulsou, como se respondesse aos seus desejos profanos.
    Kurami, emergindo das sombras uma última vez, concluiu com uma voz que parecia ecoar de outro mundo:

    — Somos artistas, assassinos, escravos de uma voz que ninguém conhece. Enquanto o Líder permanecer invisível, nossa arte será sem limites. E o mundo… o mundo será nossa tela.

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