Capítulo 3: O Martelo que Guia a Fera
O grito ainda ecoava nos corredores.
Um eco metálico de carteiras caídas, vidros quebrados e o silêncio macabro de dezenas de corpos espalhados pela sala.
Kazuto arfava, o coração batendo como se quisesse fugir de dentro de seu peito. O cheiro de sangue, de suor e… de isopor queimado. Esse cheiro químico estranho, ácido, se espalhava pelo ar.
No centro, Tommy sorria, os olhos arregalados, respirando pesado. Do seu corpo saíam espinhos brancos, deformados, como estalagmites de isopor endurecido. Eles cresciam em direções bizarras, e cada movimento dele parecia gerar mais pontas afiadas.
— Heh… ainda tem mais um vivo? Ótimo. Eu gosto de destruir quando alguém me assiste.
Kazuto não conseguia falar. As mãos tremiam, o estômago revirava. O mundo girava em volta. Ele só sabia que precisava correr. Mas as pernas não obedeciam.
Tommy avançou.
De seu braço, dispararam espinhos de isopor, tão compactados que cortavam o ar como lâminas. Eles voaram em direção ao peito de Kazuto em velocidade absurda.
O impacto veio.
Kazuto olhou para baixo — os espinhos tinham atravessado sua camisa, perfurado sua pele. Só que… não havia sangue.
A dor existia, mas era abafada, distante, como se o corpo dele tivesse rejeitado o ferimento. Como se algo dentro dele tivesse reagido por conta própria.
Tommy arregalou os olhos, surpreso.
— Como…? Isso deveria ter te rasgado inteiro.
Kazuto, sem entender, sentiu uma onda quente correr pelos braços. Um instinto. Como se um segundo coração batesse dentro dele, pulsando uma energia selvagem.
Ele fechou os punhos.
Com um grito, explodiu os espinhos que o prendiam, pedaços de isopor voando em todas as direções como se fossem cascas ocas.
Tommy deu um passo para trás, perplexo.
— Heh?!
Mas não teve tempo de reagir.
Kazuto avançou, o braço direito tomado pela força bruta que não sabia de onde vinha.
Seu punho encontrou o rosto de Tommy com um soco devastador.
O impacto reverberou.
Tommy foi lançado contra a parede da sala, rachando o concreto e afundando numa cratera irregular. Poeira caiu do teto. Os olhos de Kazuto ardiam, mas sua respiração estava firme, quase bestial.
— Eu…? O que… eu sou? — murmurou o garoto, a voz trêmula.
Tommy gargalhou, cuspindo sangue misturado a pedaços de isopor endurecido.
— Hehehe… então você também é um desses. Um brinquedo novo. Que sorte a minha!
Ele se ergueu, os braços se deformando em múltiplas lanças de isopor. Seus dentes rangiam, e ele rosnou com ódio:
— Vou te quebrar… e depois vou rir dos seus pedaços espalhados pelo chão!
Os dois avançaram ao mesmo tempo.
Kazuto socava, Tommy contra-atacava com lâminas e espinhos que surgiam de todos os ângulos. Cada vez que Kazuto desviava ou quebrava uma ponta, outro espinho surgia, maior, mais rápido. As carteiras eram destruídas como papel, o quadro-negro foi rasgado, o chão se cobriu de crateras.
Kazuto resistia, mas o corpo começava a pesar. O coração batia cada vez mais rápido, como se fosse explodir.
Tommy percebeu e sorriu, a boca deformada de prazer.
— Já vai acabar, moleque!
Ele concentrou o Feralis, criando uma lança gigantesca de isopor endurecido, compactada ao ponto de brilhar como vidro branco.
A arma cresceu o dobro do tamanho de Kazuto. Tommy a ergueu para o golpe final.
Kazuto tentou erguer os braços, mas as pernas cederam. O suor descia pelo rosto, misturado ao pó da destruição.
A lança desceu.
E então…
Um estrondo.
Não de impacto da lança, mas algo diferente. Um som profundo, grave, que ecoou pela alma de todos ali.
Como se um trovão tivesse explodido dentro da sala.
A lança de Tommy não chegou ao alvo.
No meio do caminho, ela foi destruída. Não quebrada — reduzida a nada, como se tivesse sido esmagada por uma força invisível.
Tommy arregalou os olhos, tomado pelo pânico.
— O quê…?!
Do corredor, uma figura entrou.
Passos firmes, cada batida contra o piso soava como um martelo golpeando ferro incandescente.
Era uma mulher de postura ereta, cabelos presos num coque impecável. O olhar dela era severo, pesado como uma montanha, mas havia um certo brilho de compaixão escondido nas íris. Vestia roupas escuras, práticas, e suas mãos estavam nuas, cerradas em punhos.
Kazuto a viu e, mesmo sem conhecê-la, sentiu… segurança.
Tommy rangeu os dentes, cuspindo ódio.
— Quem diabos é você?!
A mulher caminhou até ficar entre Kazuto e o inimigo.
Sua voz soou firme, sem pressa, mas carregada de autoridade:
— Nara Martelo. Guardiã Imutável do Lumen.
Tommy cuspiu no chão, com desprezo.
— Lumen? Tsc… então vocês vieram se meter. Esse garoto vai morrer, não importa quem defenda ele!
Ele criou mais espinhos, preparando um ataque desesperado.
Mas antes que pudesse mover o corpo, Nara avançou.
Não foi rápido. Não foi um piscar de olhos. Foi como um maremoto esmagador.
Ela ergueu o punho, e nele brilhou uma aura pesada, dourada, que se condensava na forma de um martelo espiritual invisível. Cada golpe dela não atingia apenas carne, mas a alma do inimigo diretamente.
O primeiro soco atravessou os espinhos de isopor como se fossem pó. O segundo soco acertou o peito de Tommy, o ar sendo cuspido de seus pulmões, mas o verdadeiro impacto estava além do físico: a própria essência dele foi atingida.
Tommy gritou, mas sua voz saiu distorcida, como se sua alma estivesse rachando. Ele tentou recuar, mas Nara não permitiu.
Com um giro firme, ela ergueu o punho para cima e desceu com força esmagadora sobre a cabeça do inimigo.
O golpe foi seco.
A cabeça de Tommy foi arrancada, não apenas do corpo, mas também da conexão espiritual de seu Feralis. O corpo tombou, o isopor se desfazendo em pedaços inertes, como lixo queimado.
Silêncio.
Nara respirou fundo, fechando os olhos por um instante, como se fizesse uma oração silenciosa.
Em seguida, voltou-se para Kazuto, que ainda tremia no chão, olhando a cena com horror e alívio.
Ela estendeu a mão, firme como pedra, mas calorosa como fogo.
— Levante-se, garoto.
Kazuto hesitou, mas segurou a mão dela. O toque era firme, mas havia calor, quase maternal.
Com a voz falha, ele perguntou:
— Quem… quem é você?
Nara o fitou com seriedade, mas sem dureza.
— Não tema sua fera. Ela não existe para te consumir. Mas também não pode ser ignorada. Você precisa aprender a guiá-la.
Ela virou o olhar para o corpo sem vida de Tommy, agora apenas pó.
— Porque, se não fizer isso… você acaba assim.
Kazuto engoliu em seco.
O coração ainda disparado, mas agora tomado por outra coisa além do medo: perguntas, e uma centelha de determinação.
O sino da escola tocava ao fundo, ecoando ironicamente em meio à destruição.
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