Capítulo 12: Conhecimento Oculto
A criança ficou próxima deles, em silêncio, fitando os olhos estrelados de Ônix com uma curiosidade intensa. Ele, por sua vez, a notou observando-o com a cabeça inclinada, como se fosse um cão tentando entender algo que nunca viu.
Saito cruzou os braços, observando-a com um olhar que misturava cautela e uma ponta de curiosidade.
— Conhece ela, Ônix? — perguntou, inclinando a cabeça na direção da criança.
— Não, nunca vi… — respondeu, caminhando até ela. A criança sorriu, seus olhos brilhando com uma animação contida, e deu um passo à frente, aproximando-se dele.
Ele agachou, fitando seus olhos brilhantes com um singelo sorriso.
— Tá tudo bem com você, pequena?
— Tô bem sim, tio! Eu só tava vendo seus olhos… Por que eles são tão estranhos?
— Ah… Meus olhos?
— Sim! Eles são escuros, mas também têm uns pontinhos brancos… Como você fez isso, tio? Eu quero também! — disse, tocando abaixo de seus olhos.
Ele riu ligeiramente.
— Não sei te dizer, pequena, nasci assim. Mas, e você? Tá perdida?
Ela negou com a cabeça.
— Eu tava muito entediada em casa, não tinha nada para fazer além de ver televisão, então saí para passear e vi você.
— Entendi… Bem, vamos nos apresentar! Meu nome é Ônix! Qual o seu?
— Meu nome é Carol! Seu nome também é estranho, tio! Mas é um estranho legal! — respondeu, sorrindo.
— Obrigado! — Devolveu o sorriso.
Ao olhar com mais atenção para frente, notou seus três companheiros observando-a. Ela os encarou de volta, ainda com curiosidade em seu olhar.
— Quem são esses, tio? — perguntou, com o dedo apontado para Saito.
— São meus amigos. O de cabelo azul se chama Saito, o da bochecha rasgada se chama Waraioni e o moreno se chama Morfius.
Carol caminhou até Saito, fitando seus olhos próximos a ele. Ela inclinou a cabeça para cima, ficando nas pontas dos pés, como se tentasse enxergar o topo de uma montanha.
— Você é muito alto, tio! Como faço para ficar assim?
— Tem que comer bastante — ele respondeu, agachando.
— Nossa, sério? Vou comer bastante, quero ficar alta também!
Waraioni aproximou-se dela e agachou.
— Mas e você, garota? Comeu bastante hoje?
— Não, ainda não. Tio, como você rasgou a bochecha?
— Ah, longa história da minha infância1…. Longa história.
— Deixa pra lá então, não gosto de histórias longas.
Por fim, ela aproximou-se de Morfius.
— Ei, tio, como foi seu dia hoje?
— Foi legal, aconteceram muitas coisas. E o seu?
— Foi legal também!
Ônix a observava conversar com cada um deles, olhando principalmente para o sorriso inocente em seu rosto.
“Não consigo acreditar que algo tão inocente assim é uma criação desse mundo e nem que ela não tem uma alma…” pensou, com um leve aperto em seu peito.
Os olhos cansados do Dummy retornaram para sua mente.
“Qual é a diferença entre ela e ele? Foi para livrá-lo de seu sofrimento, mas… Matei uma pessoa, não matei?”
Seu mundo começou a escurecer, restando somente ele e o abismo. Suas mãos estavam trêmulas, e sangue começou a vazar de lá, caindo gota por gota, enchendo aquele lugar como água em uma piscina.
“Entre essa criança e ele… Não há nenhuma diferença.”
Um zumbido ecoou, trazendo consigo a iluminação daquele ambiente, levando embora todo o sangue. O Dummy, em forma de sombra, surgiu em sua frente, com um sorriso em seu rosto.
— Não fique assim, guerreiro. Você me salvou e absorveu todas as minhas dores. Agora moro em seu conforto enquanto você me carrega sem me cobrar nada.
Ele apontou o dedo para Carol, que estava paralisada, com o mundo sem cor, como se o tempo estivesse parado.
— Siga a criança e encontrará a resposta que precisa.
Lentamente, aquele mundo transformou-se em partículas, levando-o de volta para a realidade.
— Tio? Ei, tio!
O som fino e inocente daquela criança foi o último gatilho necessário para fazê-lo voltar a si.
— Hã? Oi, pode falar.
— Nossa, fiquei um tempão falando aqui! Por que não me respondeu?
— Desculpe, acabei ficando perdido enquanto pensava.
— Hum… — disse, enchendo a boca com ar.
Saito riu levemente, acariciando o cabelo de Carol.
— Relaxa, é normal ele ficar perdido assim. Não foi por mal.
— Ah, então tá bom! — respondeu, voltando a sorrir. — Vamos para minha casa? Papai e mamãe foram viajar, e agora meu vovô está sozinho… Ele não tem ninguém para conversar… — Seus olhos se apertaram, e ela inclinou-se levemente para baixo.
Ônix sorriu ligeiramente, deixando seus problemas e preocupações serem levados pelo vento.
— Claro, não tem nenhum problema para gente.
— Sério?! — perguntou, com um grande sorriso no rosto.
— Uhum.
— Yupiiii!
Ela começou a caminhar pela cidade, chamando-os com as mãos.
— Vamo! Eu guio vocês!
Todos começaram a segui-la enquanto observavam a cidade. As casas eram estranhamente normais, como se realmente estivessem na Terra. Era muito movimentada, com carros, motos, bicicletas e pedestres, mas todos eram NPCs.
Carol fazia questão de perguntar qualquer coisa que despertasse o mínimo de sua curiosidade, questionando até a origem dos postes. Waraioni deu um pequeno toque no ombro de Saito.
— Sendo sincero… É muito bom ver a inocência de uma criança, né? Gosto muito dessa pureza.
— Pois é… Gosto ainda mais quando sei que não sou eu quem paga a pensão.
— Ah, cala a boca — respondeu, rindo.
Sem que percebessem, já estavam na frente da moradia. O portão de correr era branco, refletindo a luz do sol. A casa era simples, mas misturava-se com a beleza da natureza, com algumas árvores cheias de vida encantando o quintal. O canto dos pássaros apenas complementava a boa energia que aquela casa tinha consigo.
— Vamos! Depois daqui tem a casa do vovô! — disse, abrindo o portão.
Ela começou a correr animadamente para a porta, com seus risos ecoando pelo lugar.
— Vovô, cheguei! Eu trouxe amigos!
Seu avô estava sentado no sofá enquanto assistia à televisão. Seu corpo era curvado, e seu cabelo prateado glorificava a sabedoria que veio com sua idade. Ele olhou para seus visitantes com curiosidade, mas também com uma ponta de carinho.
— Ora, que surpresa! Sejam bem-vindos, garotos! Meu nome é Robson, muito prazer.
— Obrigado — respondeu Ônix.
Carol começou a pular animada enquanto apontava para o outro quintal atrás da casa.
— Ei, tios, vamos para o quintal! Tem uma bola de futebol lá, vamos jogar!
— Opa! No futebol eu arraso, hein! — respondeu Waraioni, caminhando enquanto a criança o seguia.
Todos o seguiram em ritmo acelerado. Ônix, acostumado a andar em passos lentos, acabou ficando a sós com o idoso, que olhava fixamente para seus olhos.
— Tenho a resposta para sua dúvida, garoto.
— Perdão? — perguntou, olhando-o com confusão.
— E se algum dia eu tiver que matar alguém que não quer ser morto para minha sobrevivência… Era isso o que você estava pensando antes, não era?
— Como você sabe…?
O velho riu brevemente.
— Seus olhos únicos me entregaram essa sua preocupação; esse é um dos poderes da idade. Garoto, Deus sabe o que seu coração sente antes mesmo de você fazer quaisquer ações.
Ônix manteve-se em breve silêncio.
— Não consigo entender… Por que você está falando sobre Deus para mim quando você foi uma criação desse mundo?
— Mesmo nós sendo somente criações, desde o momento em que fomos criados sabemos a verdadeira essência de CMV.
— Verdadeira essência…?
— Todos nós fomos criados sabendo quem ele realmente é, mas esse não é o assunto agora. Antes mesmo de você nascer, Deus já sabe todas as suas ações e suas motivações para isso. Se você, garoto, matar alguém, Ele saberá o motivo e as razões.
— Mas…
— Sem mais nem menos, tudo isso é somente seu subconsciente tentando te iludir. Seja sincero consigo mesmo. Se suas motivações são bondosas, mas seu caminho é espinhoso, sempre haverá escolhas dolorosas que você terá que fazer.
Ônix ficou em silêncio, com seus olhos levemente apertados fixos no chão.
— Sempre que seu subconsciente tentar te iludir, olhe para seu interior e observe seu coração, observe suas emoções e suas causas. A resposta sempre esteve e sempre estará dentro de você.
Após a resposta do velho, ele novamente se recordou do Dummy agradecendo por sua ação.
— Obrigado… Nem sei o que dizer.
O velho sorriu.
— Não precisa me agradecer.
Nesse momento, Carol retornou com Waraioni, Saito e Morfius.
— Tio! Venha jogar bola com a gente também, tio!
O idoso levantou-se do sofá e acariciou a cabeça de sua neta.
— Eles têm uma coisa mais importante a se fazer agora.
O ícone que estava acima da garota moveu-se para a palma da mão do senhor de idade.
— Vocês gostariam de aceitar essa missão?
Ônix olhou para seus amigos, que acenaram com a cabeça. Após isso, fez contato visual com Robson.
— Sim, queremos.
— Certo.
Um portal, em tom vermelho, surgiu. Era mais tranquilo, trazendo consigo brisas suaves que dançavam no corpo dos presentes. Ao seu redor, surgiam pequenos raios que desapareciam rapidamente.
— Desejo a vocês boa sorte.
Exceto ele e sua neta, todos começaram a ser puxados por aquele portal lentamente, fazendo-os flutuar. A sensação era de conforto e alívio, como uma mãe que carrega seu filho nos braços.
Próximo capítulo: O mais fraco.
- @Maik: Sim! Eu vou mostrar a infância dele muito mais para frente, junto com Saito e Ônix. Vai demorar? Muito, mas relaxa! Garanto que não vou deixar nada passar em branco. Todos os mistérios vão ser explicados, sem pontas soltas ;] [↩]
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