Capítulo 14: Chegou tua luz
Nuvens tão prateadas no céu que pareciam querer iluminar o próprio sol, e tão radiantes que ousariam brilhar diante do próprio universo.
Falando no céu, ele estava ainda mais azul do que o mar, como se houvesse um sorriso ciano apontando para as criaturas da terra e do mar.
Por fim, as brisas do vento eram violentas, mais do que deveriam, chacoalhando o corpo que de lá caía, como se tentasse atacá-lo com facas.
Era nesse ambiente que Saito se encontrava, enquanto observava seus arredores com casualidade, com apenas um pensamento vagando em sua mente:
“Eita… Tô caindo.”
Girou seu corpo no ar, direcionando seu rosto para baixo, observando o solo que não parecia tão distante, enquanto a violência da atmosfera ainda atacava seu rosto.
“O que que eu posso fazer…”
Respirou fundo, fechando os olhos e esticando seus braços ao horizonte, abraçando a violência do ar com a gentileza de seu próprio corpo.
Como resultado, uma bolha de vento formou-se ao seu redor, protegendo-o do exterior, inclusive da queda que se aproximava sem recuar.
Como um meteoro rasgando o céu, colidiu com o solo, convidando uma imensa poeira para erguer seu palco, nascendo do chão e caminhando até as nuvens.
O escudo de Saito se mostrou efetivo em um nível tão elevado que o impediu de sentir alguma dor; nem mesmo o próprio barulho que causou com sua vinda foi notado por si.
“Que silêncio estranho…”
Apenas ao abrir seus olhos é que ele notou o solo agarrando sua barreira de vento, enquanto uma densa poeira envolvia a barreira que havia criado.
“Ah… Já cheguei.”
Olhou para a bolha de vento ao seu redor com uma breve confusão, dando dois leves toques, desejando que ela desaparecesse, e assim foi feito.
Sua barreira explodiu como uma bolha de sabão, sendo levada pelo vento como um cego sendo guiado pelo seu companheiro, caminhando sem um rumo aparente.
Com sua saída, a brisa do vento foi permitida de tocar o corpo de Saito, também apalpando seus ouvidos, enquanto a poeira batia nos olhos.
“Acho que preciso descobrir o que eu tenho que fazer agora.”
Sua visão estava obviamente bloqueada, mas era pesado demais andar lá, como se estivesse tentando correr contra o vento enquanto seus pés são consumidos pela neve.
O incômodo do vento tornou-se tão insuportável para os olhos que Saito viu-se obrigado a mover o antebraço para lá, protegendo sua única maneira de enxergar.
“Acho que já começou!”
O peso apenas aumentava conforme cada passo, como se tentasse esmagá-lo para baixo, assim como um gigante pisoteia uma montanha.
Saito lutou contra isso com tudo o que tinha, mas, de repente, todo esse peso sumiu junto aos sons e à pressão do vento, permitindo que apenas a poeira o circulasse.
Ele olhou de um lado para o outro, pisando no chão algumas vezes e fechando os dedos, sentindo cada parte do corpo mais leve do que antes.
“… Ué?”
Um pequeno som de eletricidade surgiu perto de Saito assim que ele pensou nisso, chamando sua atenção para o lugar de onde vinha.
De repente, um imponente trovão colidiu com o solo, expulsando toda a poeira, trazendo consigo o mais novo caos que Saito deveria enfrentar.
Uma brisa violenta que parecia mexer os prédios. Moradias cobertas de buracos, enquanto chamas saíam de lá como um ladrão apressado de uma casa.
Fumaça, ainda mais escura que petróleo, subiu aos céus devido à influência das chamas, sorrindo no topo, mas sem impedir o sol de brilhar para o chão.
Por fim, incontáveis berros envoltos em lágrimas de desespero vieram com todos os elementos anteriores, causando em Saito um visível choque:
“Que porra é essa?”
Partículas azuladas surgiram do chão como o vapor da água indo para o céu, formando-se o sistema de jogo diante dele, com o único propósito de indicá-lo a missão:
Sistema de Jogo — Missão
Derrote o demônio que causou essa destruição e salve todas as pessoas presentes!
Quantidade de NPCs vivos: 100/100
Inimigos: 1
Tempo limite: 5 minutos.
A cada minuto, vinte morrem devido ao dano causado. O inimigo é fraco, sendo somente nível um. Foque em salvar as vítimas! Boa sorte.
É muita informação para nosso garoto processar, tanta que ele nem percebeu quando o sistema se retirou, deixando-o jogado num tornado sem esperanças.
“Porra, não entendi foi nada! Só sei que eu tenho que salvar essas pessoas, né?”
Fácil na teoria, mas difícil demais em pensar em algo parecido na prática, deixando-o congelado por um momento, procurando qualquer mínima pista que poderia lhe ser dada.
A palavra “salvar” martelou em sua mente como se estivesse afundando um prego, até ele finalmente se lembrar da bolha de vento que havia lhe salvado.
Certo, agora você tem um norte, Saito, mas como poderia proteger cem vítimas com apenas uma bolha? Isso certamente é inviável, e ele sabe disso melhor do que eu.
Uma lâmpada surgiu em sua mente, despertando o arregalar de seus olhos. Ele havia pensado em uma boa ideia, mas se daria certo? Só o autor sabe.
Fechou os olhos, abraçando a si mesmo enquanto imaginava cem barreiras de luz que se adequassem ao tamanho que uma pessoa tem, seja adulto ou criança.
Pequenas partículas de calor o abraçaram. No começo, foi apenas uma; depois, tornou-se vinte e não demorou muito para que ele chegasse no cem.
Sua mente estava mais fria que o gelo, e os olhos ainda mais fechados que qualquer caixão. Sua primeira e única ordem foi dada para seu novo poder:
“Vão, e protejam cada pessoa.”
As partículas flutuaram de seu corpo, como se fossem gotas de suor em um tom amarelado, cada uma crescendo em um tamanho diferente a cada segundo que se passava.
Saito expulsou os braços ao horizonte, o último sinalizador para que aquelas bolhas voassem com pressa para os desprotegidos, e assim foi feito.
Crianças, idosos, homens e mulheres, a bolha encontrou cada um deles, cobrindo-os com gentileza, impossibilitando-os de sentir o exterior.
Quente e agradável como o abraço de uma mãe, porém protetor e forte como o conselho de um pai, tranquilizando até os mais desesperados.
O conforto era tão grande e confiável que os acalmou como se tivessem consumido um calmante, sentindo suas pálpebras tornarem-se tão leves que causavam-lhes a sensação de sono.
Não foi de muita demora para que todos se entregassem à proteção dada, fechando os olhos, esquecendo de todos os problemas que tinham enquanto afundavam em seus cochilos.
Saito abriu os olhos e endireitou a postura, notando que os gritos imbuídos em desespero haviam desaparecido, deixando com que o silêncio tornasse o lugar agradável.
“É… Acho que deu tudo certo.”
Um sorriso satisfeito surgiu em seus lábios, mas um poder tão bom desses não poderia vir sem malefícios; isso é algo impossível nesse mundo.
Seu coração ecoou uma única batida ainda mais forte do que um tiro de canhão, forçando em Saito um arregalar nos olhos de surpresa e confusão.
Sangue escorreu dos olhos e explodiu nos ouvidos, enquanto os pulmões ardiam como um forte belisco, tornando a ação de respirar quase insuportável.
Era mais fácil chamar de “ácido” o que lhe passava pela garganta do que de “ar”. Enquanto Saito se afogava em sua própria respiração, mais ele tentava se acalmar.
Veias douradas preencheram seu peito, tornando o local tão dolorido quanto o resto do corpo. Seu poder protetivo tornou-se uma punição para si mesmo.
A visão estava turva e os pensamentos eram tão confusos quanto incompreensíveis, mas ainda assim lhe permitiram enxergar as mesmas partículas azuladas de antes.
A dor tornou-se mais suportável, mas ainda era um grande incômodo. Sua distração impediu-lhe ver que o sistema de jogo havia retornado com uma nova mensagem:
Sistema de Jogo
Parabéns! Você descobriu a técnica “Envolvimento Sagrado 1”. Poderá ver as descrições de sua habilidade na aba de informações pessoais.
Algumas veias dilataram em sua testa enquanto a cor de seus olhos parecia brilhar com mais ímpeto, como se o escarlate se transformasse em carmim.
“Nunca mais eu uso essa porra.”
Para sua infelicidade, uma chuva de arrepios percorreu sua espinha, enquanto um pequeno incômodo parecia vir de cima, o influenciando a olhar para o céu.
Um pequeno brilho em tom vermelho brilhava com fervor próximo das nuvens, caindo em uma velocidade tão rápida que parecia ser incalculável.
Junto a ele, diversas risadas obscuras e em coral percorreram todo o lugar, servindo-lhe como uma entrada triunfal para sua queda estrondosa.
Assim que aquela coisa tocou no solo, uma enorme explosão pôde ser ouvida, junto à nascença de uma grande cratera que lhe serviu de berço.
A poeira levantou-se novamente, mas, dessa vez, foi bem mais breve do que antes, retirando-se com pressa para que não sofresse um pouco da ira de Saito.
E lá estava a criatura subindo a cratera, com características idênticas àquela que enfrentou Waraioni e foi terrivelmente humilhada, sem chance alguma de retribuição.
Saito a observou com olhares cortantes, como um lobo observando uma presa fácil, suspirando ligeiramente enquanto uma breve névoa fugia de suas narinas.
Abriu sua palma, esticando o braço direito para o chão, invocando sua katana para o combate, sem intenções alguma de prolongá-lo nem que seja por um instante.
A criatura rugiu, como se estivesse furiosa com algo que havia lhe acontecido, avançando em seu oponente com passos pesados como chumbo.
Ao aproximar-se, projetou seu punho para trás, lançando-o como uma flecha para o rosto de Saito, que ainda a observava com indiferença.
Um tchin ecoou, junto a uma breve luz prateada que havia atravessado o ombro da criatura enquanto Saito movia-se para o seu lado.
Sem que o monstro percebesse, o braço esquerdo já não morava mais em seu corpo, sendo substituído por uma poça de sangue que lhe seria sua nova companheira.
Antes que pudesse gritar, um chute atravessou sua costela, destruindo-as no mesmo instante em que foram tocadas, jogando-o para longe como o disparo de um tiro.
“Ser de nível um é demais pra essa criatura.”
Tocou em sua cintura, trazendo sua bainha até lá, permitindo-lhe com que guardasse sua arma com segurança enquanto seu longo suspiro de cansaço era levado pelo vento.
O sistema azulado surgiu novamente pela penúltima vez, mas, dessa vez, trazendo-lhe uma notificação global referente ao seu irmão biológico:
Sistema de Jogo — Anúncio Global.
⭐ Parabéns! Devido à performance do jogador “Waraioni”, a divindade “Yasashi” o concedeu o título de “O mais fraco”! Este ficará destacado acima de sua cabeça.
Uma notificação inesperada e certamente engraçada, mas suas dores o impediram de sequer esboçar um sorriso, apenas levando sua mão para o peito.
Passos apressados puderam ser ouvidos, junto a bufos de algo que parecia irritado. Ao olhar para o lado, lá estava a criatura, avançando com lágrimas do abismo em seus olhos.
Saito suspirou, pensando: “Você ainda não entendeu…”, enquanto colocava sua mão no cabo da katana, aguardando que aquele monstro se aproximasse voluntariamente.
A distância entre eles não era mais tão grande, forçando Saito a retirar uma parte de sua arma, sem retirá-la da bainha por inteiro, como se seu trabalho já tivesse sido feito.
O punho da criatura estava rente ao rosto de seu oponente, mas Saito apenas fechou os olhos, soltando um longo suspiro que se assemelhava a piedade.
Empurrou sua arma de volta para o fundo da bainha e, no mesmo momento, o golpe de seu adversário havia sido paralisado junto do resto do corpo.
Saito virou-se para trás, caminhando sem rumo, sem olhar para a criatura que tinha seu destino selado por causa de sua própria ignorância.
O braço direito daquele monstro caiu no chão como um saco de cimento, junto à sua cabeça e, logo depois, seu corpo, dando fim a sua triste vida.
Por fim, o sistema azulado apareceu pela última vez, parabenizando-o pela conclusão de sua missão, sem ter falhas em salvar inocentes e na derrota da criatura.
Sistema de Jogo — Missões
Parabéns! Você concluiu sua missão com êxito. Um ponto foi dado como recompensa da missão! Um portal aparecerá em breve para que seu retorno seja possível.
Ele olhou para o sistema com olhares arregalados, como se estivesse vendo uma mentira em seu estado mais sujo; ou melhor, uma recompensa que não era boa o bastante.
— Só um ponto? Que perda de tempo.
Próximo capítulo: Uma alma gentil.
- @Maik: Basicamente envolve os aliados com luz, tendo propriedades curativas. Mas, claro, não é de graça; ele sacrifica uma pequena parte de sua vida atual para conseguir espalhá-la o máximo possível. Quanto menor a proficiência com a luz, mais é necessário sacrificar, por isso ele ficou todo acabado.[↩]
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