Capítulo 21: Promessa
Os olhos de Robson arregalaram. Seu coração batia como um tambor. Suas mãos trêmulas entregavam seu conflito interno, e o mundo ao seu redor perdeu a cor.
“Dalila? Impossível. Como o garoto a conhece em primeiro lugar?”
Ele baixou a cabeça, mas forçou algumas risadas aparentemente descontraídas. No entanto, não havia gargalhada alguma que pudesse remover os maus-tratos que a preocupação causava em seu coração.
— Haha! Muito bom, ótima pegadinha, garoto. Dalila é um nome muito bonito, sabia? É fácil adivinhar que esse é o nome da filha de alguém.
Ônix torceu os lábios e cerrou os punhos, tentando suportar a dor que apunhalava seu peito. Seus olhos não sabiam para onde direcionar a atenção. Fixar-se no senhor seria doloroso demais.
— Ela tinha uma… filha pequena. Seu marido, Salvatore, também a acompanhava.
Robson sentiu seu corpo formigar a cada palavra ouvida. Movia os olhos para todos os cantos, sem saber onde fixá-los. Por fim, cobriu-os com a mão, entregando-se ao silêncio.
— Eles foram levados a uma missão, me esperando lá. Uma sombra apareceu e… os matou na minha frente.
O silêncio pairou, tão ensurdecedor quanto o vácuo. Ônix sentiu um frio no estômago, mas não podia sair da moradia daquele senhor sem que ele soubesse o que acontecera. Robson levantou-se. Seus olhos estavam tão aguados quanto o mar, mas nenhuma lágrima ousou cair.
— Garoto…
Andou até Ônix. Os passos eram apressados e pesados, entregando o descontrole que ele tanto se esforçara para disfarçar. Assim que chegou, segurou seu pescoço com a mão esquerda, fechando o punho direito em seguida.
— Me diz que é mentira…
Ônix olhou-o fixamente, sem dizer nada. Robson observava aqueles olhos universais, aos quais deu pouca importância. Quando prestou mais atenção em seu olhar, pôde ver algumas sombras o observando de volta, com lágrimas escorrendo em seus rostos. Quando prestou ainda mais atenção, percebeu que elas se pareciam com Dalila, Salvatore e sua outra neta.
Seu corpo arrepiou. Ele se afastou, observando Ônix sentado no sofá. Uma aura escura começou a vazar de seu corpo, caminhando até Robson. Tentou afastar-se, mas sentiu seu coração pulsar, como se dissesse: aceite.
Cessou os movimentos. A escuridão o envolveu, levando-o para um lugar sem luz alguma, como o fundo de um poço. O solo não era firme, parecia-se mais com petróleo derramado em excesso no chão.
“O que é isso?”
Ouviu alguns gemidos de dor virem de todas as direções. Vários passos caminhavam ao seu lado em harmonia, afastando-se lentamente no horizonte.
De repente, todos os gemidos se foram, dando espaço a somente um que vinha à sua direita. Quando virou-se, o lugar começou a ganhar luz para lhe mostrar o que estava acontecendo.
Um garoto estava ajoelhado no chão, com a testa colada no solo. As lágrimas de seus olhos caíam como uma cachoeira. Algumas veias prateadas decoravam seu corpo inteiro, como se indicassem um colapso próximo.
Quando pôs mais atenção em seus olhos, viu que se tratava de Ônix. Sombras o rodeavam, chorando e lamentando a dor do mestre que não podia parar de chorar.
Robson sentiu sua mão ser tocada por algo e, quando olhou, viu uma sombra parecida com Ephemera segurando-o. Ela o observou; seus olhos tremiam enquanto se enchiam de lágrimas. Ela apontou para Ônix, como se falasse: ele não tem culpa alguma.
As poucas sombras que rodeavam Ônix olharam para Robson, apontando os dedos para seu líder caído no chão, aparentemente sem força alguma.
“O que aconteceu com o garoto…?”
Tentou refletir, mas não havia mais tempo. O solo ficou instável e logo depois o puxou para si. Quando percebeu, havia “retornado” para casa. Ônix o observava, sem dizer coisa alguma. Robson cerrou os punhos, respirando fundo. Uma lágrima começou a escorrer por um de seus olhos, entregando suas dores.
— Eu vou sair para tomar um ar, garoto.
Caminhou para a porta, retirando-se da casa em seguida. Sentou-se, apoiando os braços nos joelhos. O céu azul estava sem nuvens, estranhamente mortiço, como se refletisse sua dor. Robson fechou os olhos, mas as lágrimas atravessavam qualquer barreira. Sua mente foi invadida por imagens de sua filha e neta.
“Eu deveria tê-la impedido…”
Ônix ainda encontrava-se no sofá. Os olhos distantes pareciam fixos no chão, mas, na verdade, não olhavam para lugar algum, senão a escuridão eterna em seu peito.
“Culpa… Foi tudo minha culpa.”
Olhou para as mãos. Sua visão começou a escurecer, como se o brilho do mundo estivesse diminuindo. Sangue escorria de seus dedos, encharcando as mãos.
“Isso não teria acontecido se eu não tivesse feito a missão… Por que estou fazendo isso em primeiro lugar?”
As lágrimas caindo de seu rosto o fizeram voltar a si. Fechou os olhos. Seu coração doía intensamente, como se estivesse próximo à explosão.
“Não quero fazer mais missões… Nenhuma delas.”
Seus olhos fechados não o permitiam enxergar nada, mas uma brisa confortável tocava suas pálpebras, trazendo consigo um leve tom azul. Assim que abriu os olhos, notou o sistema de jogo à sua frente, um pouco mais estranho do que o normal.
Ş̨͘͘͢҉̵̀i̶͏̧͘͟͝͡҉s̸̷̡̛̛͝҉̡t̵̡͏͘͘͘͟͝è̢̕͞͏̀͏͞m̢̡͘͘͜͢͢͟á̵̧̢̕͢͞͠ ̴̨͝͏̧̨̛͡d̶̢̀̀͜͢͟͝e̛͢͏̢̀̕͡͏ ̡̛̛́͘͟͡͠J̧́̕͜͏̕͢͞o҉̧̧͜͏̴̨̛g̨͠͏̕͏̶̡̨ớ̵̵̢̛́͝?̵̸̡̢̨̢͢͞
Continue fazendo as missões, jogador. Te prometo que tu vais ser recompensado por isso. Logo mais, vou te ajudar a realizar seu maior desejo.
Ônix ficou confuso com aquela mensagem. Era de fato o sistema do jogo? Se sim, por que agiu assim, favorecendo um jogador? Mil perguntas, nenhuma resposta.
Ş̨͘͘͢҉̵̀i̶͏̧͘͟͝͡҉s̸̷̡̛̛͝҉̡t̵̡͏͘͘͘͟͝è̢̕͞͏̀͏͞m̢̡͘͘͜͢͢͟á̵̧̢̕͢͞͠ ̴̨͝͏̧̨̛͡d̶̢̀̀͜͢͟͝e̛͢͏̢̀̕͡͏ ̡̛̛́͘͟͡͠J̧́̕͜͏̕͢͞o҉̧̧͜͏̴̨̛g̨͠͏̕͏̶̡̨ớ̵̵̢̛́͝?̵̸̡̢̨̢͢͞
Continue fazendo as missões, não é em vão. Não tenha dúvida, tudo vai se realizar; como tudo nessa vida, isso é apenas um teste. Faça mais uma missão, sua história vai progredir.
O sistema se desfez, desaparecendo da mesma forma que veio. Ônix não sabia o que sentir; a tristeza já predominava desde que reviveu, mas a incerteza era maior do que nunca. Não havia mais objetivos; viver já não fazia sentido algum.
“Nada em vão…? Não existe mais um “porquê” que me faça acreditar que algo vale a pena nesse mundo… Por que eu revivi? Por qual motivo? Eu já nem me lembro mais.”
Seu corpo começou a afundar no sofá. O bater de seu coração era palpável em seus ouvidos; o ritmo o fez fechar os olhos lentamente, como se abandonasse o mundo.
“Não me importo com mais nada…”
Ba-dump… Ba-dump…
Tudo estava escuro, nada mais importava. Tudo doía; viver também tornara-se uma maldição. Ônix só queria descanso, mesmo que por um momento, um único segundo. Respirar também virou uma maldição.
Ba…Dump… Ba…Dump…
O pulsar do coração esforçava-se em lembrar-lhe que estava vivo, e isso também tornara-se uma maldição. A brisa do vento indicava que ele ainda estava acordado, e isso também era incômodo.
“Por favor… Eu só quero um pouco de descanso.”
Suas pálpebras pesavam como aço. Sentiu seu corpo parando de existir pouco a pouco, e o abismo começou a tomar conta. Seus olhos se abriram. Ele não pensou nisso, nem sequer desejou que acontecesse, mas, quando percebeu, já estavam abertos.
“Eu não pedi por isso…”
Uma luz estranha brilhava intensamente no canto de seu olho, mas, quando tentava vê-la, ela se afastava ainda mais, como se tentasse guiar seu olhar para um ponto específico.
Seu olhar mortiço seguia aquela luz e, quando percebeu, estava olhando para a cozinha. Observou seus amigos almoçarem com um brilho intenso em seus rostos. Seus risos pareciam palpáveis, ecoavam em sua mente tão leves quanto canções de anjos.
“Ah… Por um momento, eu quase me esqueci deles… O motivo para viver…”
Seus olhos arregalaram-se ligeiramente, voltando a brilhar por um instante. Imagens das pessoas que ele amava invadiam sua mente como flashes.
Sua mãe tinha um sorriso agradável, enquanto seu pai ria confiante. Waraioni e Saito sorriam calorosamente enquanto o olhavam e, por fim, Celeste o observava com tanto amor que parecia quase abraçá-lo.
“Minha família…”
Levantou-se. A paz foi momentânea e, como sempre, sua dor retornou. Nesse momento, Ônix finalmente entendeu: sua paz nunca existira. Mas, agora, seu “porquê” ficara ainda mais forte.
“Tudo o que eu perdi… Eu quero recuperar. Vocês são tudo o que eu tenho, e eu vivo porque vocês existem.”
Suas maldições infinitas tornaram-se seu combustível. Ele não sabia como ver sua família de volta, mas algo lhe dizia que era possível.
“Só mais uma missão, certo? Eu vou tentar aguentar.”
Começou a caminhar para a cozinha, onde seus amigos estavam. Assim que chegou à porta, notou Carol olhando-o com brilho intenso. Sua boca estava suja de comida enquanto ela pulava animada na cadeira.
— Ei, titio! Cê vai comer também?
Waraioni riu discretamente enquanto Saito fazia da colher um aviãozinho, entregando comida para a garota, que ria inocentemente, como se a palavra “problema” não existisse.
— Olha o aviãozinho!
Ônix foi até a mesa e sentou-se próximo a eles, sorrindo, apreciando a leveza que aquele ambiente tinha a oferecer. Carol pegou a colher e pôs um pouco de comida de seu prato. Ofereceu-a a Ônix; ele não estava com fome, mas aceitou para não fazer desfeita.
O sabor era bom, tão agradável quanto algo feito por um chef, mas o ingrediente principal era algo que poucos podiam dar: felicidade. Depois de tanto tempo nas trevas, finalmente obtivera seu pequeno momento de paz.
— A comida tá boa, tio?
Ele mastigava com cuidado, apreciando o bom momento da vida. Seus olhos estavam estranhamente quentes, e algumas lágrimas começaram a cair.
— Tá ótima!
Ele enxugava as lágrimas, mas ninguém ousou falar algo. Todos entendiam, mesmo que por instinto, que aquilo não era dor, era alívio. Ele, que estava se perdendo nas trevas, encontrou uma fagulha de luz.
Pouco depois, todos descansavam, saciados com o que haviam comido. Ônix respirou fundo e olhou para seus companheiros, pensando no que dizer, até que as palavras viessem aos lábios:
— Eu quero fazer mais uma missão. Tô confuso sobre uma coisa; acho que essa missão me ajudaria a encontrar a resposta.
Waraioni o olhou com surpresa. Por que seu irmão, que repugnava conflitos, estava querendo, por vontade própria, fazer uma missão? Bom, por mais que não soubesse, era uma ideia divertida para ele, que disse:
— Eita, mais uma? Eu quero, hein! Tô gostando de fazer as missões desse mundo.
Morfius, por sua vez, estava com a mão na barriga, sentindo os nutrientes dançarem em seu estômago. Não havia prestado atenção, mas ouviu de relance as palavras “quero” e “missão”, respondendo:
— Por mim, tudo bem. Bom que a gente aprende mais juntos
Saito suspirou. No fundo de seu coração, não queria que seu irmão realizasse mais missão alguma. Entretanto, sabia que essa proteção poderia ser prejudicial a longo prazo.
— Eu aceito, mas posso fazer a missão só com você, Ônix? Tenho algo importante para te falar.
Waraioni franziu a face. Tudo o que ele mais queria era se divertir com seus irmãos, mas por que isso ficaria limitado somente àqueles dois? Sua indignação não o permitiu se calar.
— Hã? Só vocês? Eu queria ir também. O que tem de tão importante assim pra ficar de segredinho?
Saito cruzou os braços. Sua paciência, que já não era muita, estava se esgotando. Respondeu seu irmão tentando não ser tão indelicado, mas sabemos que isso não era algo muito possível.
— Cala a boca e segue o baile, doidão. Cê não tem que saber de nada não.
Waraioni, vendo que seu irmão não disponibilizaria informação alguma, desistiu da classe formal. Em sua resposta final, sem se dar conta, cometeu o maior erro que poderia:
— Tomar no cu também então, baitola.
Que erro grave. Sua frase ecoou como se estivesse em um túnel. Ouvi-la era tão fácil quanto respirar, e isso o prejudicou ainda mais, pois uma criança estava ao seu lado.
Ônix não poderia deixar isso passar. Assim que ouviu as palavras “Tomar no…”, imediatamente tampou os ouvidos de Carol, arregalando os olhos com uma surpresa abrupta.
Ao perceber o que seu irmão havia dito sem responsabilidade, uma raiva genuína apertou seu coração. Pela primeira vez, viu-se obrigado a repreender seu querido e tolo irmão.
— NÃO XINGUE NA FRENTE DA CRIANÇA!
Waraioni ficou em silêncio, um pouco surpreso, sem saber o que falar. No fim, a única alternativa viável que havia era se desculpar pelo erro e prestar mais atenção na próxima vez.
— … Foi mal.
Saito pegou sua colher e lançou-a na cabeça de Waraioni. Seus risos foram inevitáveis, caçoando do erro de seu irmão. Em seguida, com um longo sorriso no rosto, disse rindo:
— Seu prego!
Morfius riu discretamente. Carol olhou nos olhos de Ônix, com confusão e curiosidade. O que foi aquela palavra que ela tinha acabado de ouvir? No fim, não restou nada além do teste:
— Tomar no cu!
Ônix saltou em surpresa, tampando a boca dela na mesma hora. Imediatamente olhou para Waraioni com um olhar de reprovação enquanto a culpa amargurava sua alma.
— Já pedi desculpas…
Carol baixou as mãos de Ônix e olhou fixamente para Waraioni, lembrando-se de cada palavra que ele havia dito. Em mais uma tentativa boba e ingênua, disse:
— Baitola!
Ônix tampou o próprio rosto em desapontamento. Saito riu brevemente, enquanto Carol permanecia sem entender nada, mas tudo bem, ela não precisava entender esses pecados.
Saito levantou-se. Já sabia que havia passado muito tempo desde que eles chegaram naquela casa. Por mais que desejasse ficar, sabia melhor do que ninguém que era hora de partir.
— Vamos, gente? Para a próxima parada.
Waraioni levantou-se animado, respondendo com um “Bora!” tão brilhante quanto. Todos se levantaram e caminharam até a porta de saída. Carol saltitava enquanto os acompanhava.
Ônix abriu a porta e deixou seus companheiros passarem primeiro. Assim que atravessou, notou o tom ciano do céu radiante, como se estivesse sorrindo. As nuvens pareciam algodões-doce no céu, e o sol beijava sua testa suavemente.
Robson os olhava com um olhar um tanto triste, mas disfarçou com um sorriso caloroso. Sua voz, velha e cansada, perguntou: “Já estão de saída, garotos?”
Carol puxou gentilmente a mão de Ônix. Seus olhos marejados o encaravam, tentando entender as palavras de seu avô. Sua mente ingênua havia pensado que era um passeio, mas, não era.
— Como assim de saída, tio?
Ônix agachou-se e a abraçou, dando tapinhas leves em suas costas, tentando acalmar o que sabia que não poderia ser apaziguado, mas mesmo assim resolveu tentar:
— Tá tudo bem, pequena. A gente volta outra hora, se pudermos.
Carol, com uma voz trêmula, quase se misturando às lágrimas que caiam, perguntou se não poderia ir junto. Pobre criança, a realidade infelizmente não condiz com seus desejos.
— É muito perigoso, não posso te levar. Na verdade, entre levar você e ficar aqui, eu preferiria morar aqui pra sempre.
Ouviu tudo, mas atentou-se apenas ao final da frase. Pediu para que ele morasse com ela, já que era sua preferência. No entanto, nosso guerreiro tinha pendências maiores.
— Não posso. Sinto muito, pequena.
Ônix parou de abraçá-la, mas Carol continuou a chorar. Robson a pegou no colo com cuidado, acariciando suas costas para acalmá-la, mas não adiantou de nada.
Ele olhou para Ônix. Seu olhar ainda carregava tristeza, mas também compreensão. Descobriu recentemente a morte de sua filha, mas era incapaz de culpar o jovem que a vira partir.
— Obrigado por me contar sobre minha filha, garoto. Te desejo sorte na sua jornada.
Ônix agradeceu, virando-se para o portão, pronto para partir em mais uma jornada dolorosa. Carol olhou para ele, ainda chorando, mas não resistiu ao desejo de se despedir.
— Ei, tio!
Ela o chamou com as mãozinhas. Quando ele se aproximou, ela puxou suas bochechas, franzindo o rosto, expulsando toda sua frustração como um dragão que cospe fogo:
— Bobão! Era pra ter ficado comigo! Bobo! Bobão!
Suas bochechas pareciam borracha de tão esticadas. Por fim, ela as soltou. Carol pulou do colo do avô e se jogou em Ônix, abraçando-o com força, não querendo o soltar.
— Se cuida, tio. Não se esquece de mim, tá? Por favor.
Ônix apertou os olhos por um momento. Se pudesse, choraria com ela, mas, pelo menos dessa vez, ele tinha que parecer forte o suficiente para não deixar que machucasse ainda mais a garota.
— Nunca vou me esquecer de você, pequena.
Ele a colocou no chão. Os olhos de Carol ainda brilhavam de lágrimas, mas estavam firmes, aceitando o destino sem birra. Ônix e seus amigos acenaram para ela enquanto se afastavam. Ela acenou de volta, forçando um sorriso.
Ônix e seus companheiros caminhavam pela cidade. À medida que avançavam, notavam que os NPCs estavam mais organizados. Alguns conversavam sobre a vida, discutindo problemas cotidianos.
Saito observou o detalhe, mas não deu muita importância. Parou de repente, apontando para o lado oposto, orientando seus companheiros a irem por aquela direção.
— Ei, Waraioni e Morfius, procurem uma missão por ali. Vou resolver um assunto com o Ônix, beleza? Quando terminarem, nos esperem na frente da casa do Robson.
Waraioni, por mais que ainda não concordasse, não poderia fazer nada. Resmungou com um “Bah… Tá bom.” enquanto seguia o caminho indicado. Morfius estava logo atrás.
Saito voltou a andar, com Ônix atrás. Ficou em silêncio por um momento, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. Tentou falar, mas as palavras pareciam presas.
“Preciso dizer isso…”
Respirou fundo. As palavras não surgiam, era como se elas nem existissem em primeiro lugar. No entanto, sua mensagem era valiosa demais para desistir cedo assim. Por fim, mesmo que parecesse impossível, conseguiu dizer:
— Ônix, não sei se você sabe, mas… A Celeste reviveu. Ela não quebrou a promessa de vocês.
Ele arregalou os olhos. Seu coração pareceu parar por um instante. Sua amada estava ali em algum lugar? Por que ela não se fazia presente agora? A promessa realmente estava sendo mantida?
— Ela me disse que não podia falar muito com você porque o sistema a limitava, mas que está esperando uma chance pra te ver. Antes do meu tutorial acabar, ela me pediu pra te passar uma mensagem. Posso falar?
Ônix estava paralisado, lutando para processar as informações, mas conseguia apenas refletir: “Ela reviveu? Por que não está aqui? Limitada pelo sistema? Por quê?” Muitas dúvidas, nenhuma resposta concreta. Ele respirou fundo e forçou-se a responder:
— Sim… Por favor.
Com um pesar em sua consciência, Saito disse: “Por favor, diga a ele que estou observando de longe porque não posso me aproximar, mas sinto muita saudade.”
Ônix baixou a cabeça, o peso das pálpebras parecia querer fechar seus olhos. O coração batia forte, mas sua maior dor vinha da alma separada de sua família e de sua amada.
— Imagino o quanto isso é difícil pra você… Não sei se eu aguentaria. Posso não ter certeza se conseguiria enfrentar esse desafio, mas tenho absoluta certeza de que nunca duvidaria das suas escolhas. Sei o que você passa. Ela também sofre muito, mas nunca se esqueça: mesmo distante agora, ela está do seu lado, te observando, torcendo por você.
Ônix olhou para o céu, lágrimas escorriam como uma tempestade após um longo período sem chuva. O coração quebrado poderia apenas pensar em uma pequena possibilidade:
“Celeste… Você está me vendo agora?”
Esticou o braço em direção ao céu. As nuvens brilharam mais forte. Sem que ele soubesse, ela estava ao seu lado, ouvindo seus pensamentos, mas não conseguia o tocar.
— Sim… Estou te vendo, amor…
Ônix ainda divagava consigo mesmo as inúmeras alternativas que poderiam ser reais: “Consegue me ver? Me ouvir? Ler meus pensamentos? Sente o que eu sinto?”
Celeste tentou o abraçar, mas, apenas o atravessou, como se seu amado estivesse intangível. Ainda assim, ficou à sua frente, olhando em seus olhos universais com imenso carinho.
— Consigo… Sinto tanta saudade de você, meu amor.
S2 olhava para ela, com um misto de tristeza e impotência em seu olhar caído. Em uma tentativa de acalmar sua amiga, disse com toda a sinceridade que havia em seu coração:
S2
Não chore, Celeste… Vai ficar tudo bem, tá? Vai ficar tudo bem…
Celeste enxugou seu rosto, mas as lágrimas não paravam de cair. Seus soluços davam voz as dores internas que a consumia, e sua voz trêmula tentou desculpar-se:
— Desculpa, Ly, me deixei levar…
Sistema Dois encostou sua interface de leve em sua testa em uma forma de carinho. Por mais triste que estivesse, sua voz tentava parecer a mais tranquila e amigável possível:
S2
Tudo bem, não tem problema. Relaxa, tá? Vamos dar um jeito.
Celeste a abraçou, buscando refúgio em sua parceira. Ainda que estivesse desacreditada que algo poderia resolver seus problemas, tentou acreditar no impossível só dessa vez.
— Tá… Tá bom.
Próximo Capítulo: Presságio das Maldições.
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