Todos os globins berraram, avançando como bestas. As lágrimas de sangue decoravam o chão, e o cheiro metálico pairou no ar enquanto os passos intensos tremiam o chão.

    Ônix observava com os olhos trêmulos e arregalados. A boca semiaberta tentava falar, mas nada saía. Sentiu seu rosto queimar, impedindo-o de sequer pensar. Tudo estava lento; respirar não era mais tão simples. Até seu ar havia sido roubado.

    Saito olhou para seu irmão, notando seu nítido choque. Tentou aproximar-se, chamando seu nome, mas era como se Ônix estivesse tão distante quanto o chão de um abismo.

    Ao olhar um pouco para o lado, pôde ver um globin mais próximo do que nunca, preparando sua espada para cortar. Junto a isso, seu berro trêmulo ecoava por todas as direções, servindo de combustível para seu avanço.

    Saito, em um movimento veloz, retirou sua katana da bainha. No mesmo instante, antes de sequer pensar no que fazer, já estava avançando. Quando percebeu, já estava entre Ônix e a espada.

    O globin, em meio ao seu êxtase, moveu sua arma para o horizonte, projetando seu corpo desajeitadamente para frente. Em seguida, lançou seu golpe, cortando o ar em sua trajetória.

    Saito firmou seus pés no chão enquanto apertava sua arma com ainda mais força. O ataque inimigo atingiu sua katana em cheio, o que fez todo seu corpo ressoar em uma mistura de arrepio e zumbido.

    Seu oponente gritou com mais fervor, rebatendo sua espada na katana como uma criança teimosa. Um tchin metálico ecoava, com faíscas decorando o inferno que havia se formado.

    Saito rangeu os dentes, projetando sua arma para o céu em seguida. Moveu-a como um trovão, destroçando a arma que seu oponente tinha em mãos.

    A criatura franziu os olhos em dor, sentindo seus ossos ressoarem. Cada célula de seu corpo gritava consigo, implorando por uma fuga, mas algo em seu coração lhe deu determinação suficiente para fechar os punhos e grunhir, preparando um soco em seguida.

    Para seu azar, Saito estava tão desesperado quanto, mas seus olhos frios ocultavam seu medo. Uma pequena névoa saiu de sua boca junto com seu profundo suspiro; o golpe inimigo estava próximo ao rosto, mas isso não era mais importante.

    Sua mão, suave como a água, viajou para o horizonte junto de sua katana. Em um movimento impiedoso, lançou-a contra o pescoço daquele “monstro”, decapitando-o no mesmo instante.

    O som dos ossos do pescoço sendo destroçados ecoou. O sangue subia como uma fonte de água e caía como chuvisco, banhando todos os presentes como uma tempestade.

    Ônix encontrava-se paralisado. Suas pálpebras tremiam; seus olhos ardiam com o sangue que pousava lá. Sua visão estava em um tom vermelho-escuro, mas isso não o impediu de ver seu irmão defendendo-se de mais uma criatura que avançou pela esquerda.

    “O que eu faço…?”

    Passos desajeitados ecoavam junto a um grito que vinha pela direita, chamando sua atenção. Virou-se ao mesmo tempo que seu mundo começou a desacelerar.

    Bump… Bump… Seu coração transformou-se num tambor. Os olhos fitavam um globin avançando em sua direção, com lágrimas caindo como cachoeira. Havia um arco em sua mão, mas, estranhamente, não havia flecha alguma.

    Berrou, segurando com força o arco que estava em sua mão. Quando se aproximou, projetou-o para trás, preparando-se para atacar Ônix usando seu arco como arma.

    Ônix, por sua vez, não conseguia reagir, mas algo gritava em seu corpo, ressoando em seu coração, sussurrando em seus ouvidos que agora a crueldade determinava a sobrevivência. Sem que percebesse, sua mão havia começado a se mexer.

    Quando estava prestes a ser atingido, mesmo que não desejasse, sua palma acertou seu adversário como uma bomba, lançando-o para o lado em seguida. O corpo da criatura colidiu com a parede brutalmente; sangue escorria de suas costas, deixando seu rastro lá enquanto seu corpo caía.

    Ônix olhou para seus braços, que agora estavam encharcados de sangue. Seus bufos saíam quase roucos de sua boca enquanto seus braços tremiam. Colocou as mãos em seu rosto, tampando seus olhos, como se desejasse que tudo acabasse ou despertasse desse pesadelo; porém, infelizmente, o inferno havia apenas começado.

    Ao olhar para o lado, notou o globin tentando levantar-se para lutar. Nesse momento, seu próprio corpo começou a desobedecê-lo, caminhando para a criatura que havia golpeado. Não tinha permissão nem mesmo para pensar.

    Ao aproximar-se, o globin segurou seu pescoço, mas não havia mais força em seu aperto. Ônix sentiu seu punho direito esquentar, encharcando-se com algo quente. Quando percebeu, sua mão havia atravessado o abdômen de seu oponente.

    O frio do inverno mais gelado abraçou seu estômago. O que ele havia feito? Foi de fato ele? Havia culpa nisso? Não sabia responder nenhuma dessas indagações. Sangue escorria da boca daquele globin e, em seu último suspiro, murmurou com a última força restante:

    — Entre você e eu… Qual a… Diferença…?

    Ônix não sofreu golpe algum, mas… Uma parte sua morreu. Seus olhos trêmulos acompanhavam o corpo daquele globin cair. O coração queimava enquanto lágrimas começaram a inundar os olhos. Desse dia em diante, algo começou a mudar.

    Uma sombra começou a emergir daquele cadáver. Ônix ajoelhou-se, sem conseguir mais sentir suas pernas. Seu pescoço, involuntariamente, virou-se para o lado esquerdo. Sua visão permanecia turva, mas pôde ver algumas sombras no formato de globins arrastando-se até ele.

    Sentiu seu ombro ser tocado por uma mão gelada. Breves ventos batiam em seu peito, como se alguma coisa estivesse respirando ao seu lado. Quando foi ver, aquela sombra estava arrastando-se lentamente, escalando seu corpo com as mãos.

    Gemidos roucos vinham daquela sombra. Seus olhos pareciam órbitas preenchidas pela escuridão, como se não houvesse vida ali, mas lágrimas caíam. Eram escuras, espessas, assemelhavam-se ao sangue, mas não deixavam de ser lágrimas.

    Seu corpo pesou, sentindo várias mãos o tocarem. Ao olhar em volta, sombras o rodeavam, agarrando-o enquanto eram absorvidas. Antes de desaparecerem, murmuravam:

    — Por… Quê?

    — Eu só queria… Viver…

    — Lua… Edgar…

    Assim que foram absorvidas, veias, em um misto de pura escuridão e fagulhas de luz, surgiram em Ônix. Sentiu seu estômago embrulhar enquanto seu corpo gritava de dor, como se estivesse sendo despedaçado.

    Jogou-se no chão, pondo suas mãos na cabeça. A dor inquietante o fez jogar sua própria testa contra o solo incontáveis vezes, mas de nada adiantou. Um grito desesperador saiu de sua garganta enquanto os olhos explodiam em lágrimas.

    Arfava sem controle, e a dor não cessava, apenas devorava seu peito pouco a pouco. E o pior: ela nunca passaria, em nenhum momento. Seja noite ou dia, inverno ou verão, ela sempre estaria presente.

    Levantou-se, segurando fortemente seu peito, quase o rasgando com seu aperto. Sua respiração queimava sua garganta como lava. Sua visão escureceu, mas algo ainda o mantinha consciente.

    Seu corpo desabou para o lado em seguida. Não estava enxergando quase nada, mas ainda conseguiu ver seu irmão ajoelhado enquanto um globin aproximava-se dele.

    Seus olhos arregalaram-se junto do disparo de seu coração. Não havia certeza se o que via era uma ilusão, mas viu seu irmão tossir sangue enquanto arfava.

    Esse foi o estopim final. Ignorando todas as suas dores, por mais que o quebrassem, levantou-se. Suas pernas falhavam, como se estivessem sendo sugadas para o chão, mas isso era sua menor dor.

    Ônix correu, berrando, tão desajeitado quanto uma criança, mas nada o impediria de continuar correndo. Suas lágrimas vinham como chuva; não sabia mais o que estava enxergando, mas continuou correndo.

    Pouco antes disso, Saito arfava; um suor frio escorria de seu rosto. Sua luta contra os globins exigiu que ele usasse com frequência seus poderes elementais, fazendo-o chegar a esse estado.

    Tossiu involuntariamente. O gosto metálico do sangue encharcou sua boca, mas não era hora de se pensar nisso. Seu adversário aproximava-se em passos lentos, segurando uma espada desgastada.

    “Falta só mais esse… E tudo acaba.”

    Tentou levantar-se, mas suas pernas pareciam dormentes, negando obediência. Seus olhos, porém, encaravam seu oponente com firmeza, sua katana pronta para atacar, até que ouviu o grito de seu irmão.

    Olhou para trás imediatamente. Ônix aproximava-se velozmente do globin; seus passos pesados misturavam-se com seu berro. Saito sentiu seu coração apertar ao ver o estado em que seu irmão se encontrava.

    Pouco depois, Ônix agarrou o globin e o jogou ao chão. Levou seus punhos fechados ao céu, batendo-os contra seu “inimigo” inúmeras vezes. O barulho de ossos sendo quebrados ecoava como uma tempestade; sangue encharcava seu rosto, mas ele continuou atacando.

    Saito arregalou levemente os olhos. Seu irmão, tão puro quanto a luz, foi forçado a agir como um deus da morte. Assassinato? Muito, muito longe disso. Para Ônix, ele tornara-se sim um assassino, mas, naquele momento, apenas Saito sabia o que estava acontecendo: sobrevivência.

    Saito sentia suas pernas rasgando em dor enquanto elas estavam trêmulas, mas, ainda assim, levantou-se. Em passos lentos, aproximou-se de seu irmão e tocou seu ombro. Nesse momento, Ônix parou de atacar. Saito, com o olhar apertado e a voz cansada, disse:

    — Irmão… Tá tudo bem agora.

    Próximo capítulo: Eu só precisava desse motivo.

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