Ônix, com cuidado, olhou para aquele garoto assustado. Ele o olhava de volta; as pálpebras trêmulas, junto aos lábios entreabertos, entregavam seu medo.

    Virou seu olhar para a mulher e o homem que estavam presentes. Eles encaravam-no com cautela, as mãos firmes em suas armas, indecisos entre observar Ônix ou o globin.

    Ônix, com seus olhos aparentemente serenos, fitou o globin. A criatura o encarou de volta, mas seu corpo arrepiava, quase trêmulo, como se fosse insuportável observá-lo.

    Para ele, Ônix era um abismo que se disfarçava com as estrelas. Sua aura era vazia e inquietante; quente, mas ao mesmo tempo fria, com gemidos de dor sussurrando de lá.

    A criatura rugiu, movendo as mãos para o alto, jogando-as contra o solo em seguida. O som de uma explosão ecoou e a poeira, junto às pedras, levantou-se.

    Mesmo com a fumaça atrapalhando sua visão, ainda dava para ver aquele monstro agarrando o chão e arrancando uma parte dele, preparando-se para arremessar em alguém.

    O garoto tossia, tentando afastar a fumaça que o abraçava, mas de nada adiantou. Seus olhos abriram-se lacrimejando. Em seguida, pôde ver uma sombra aproximando-se dele rapidamente.

    Pouco depois, a sombra revelou-se ser um enorme pedregulho que estava prestes a acertá-lo. Ele moveu seus braços para o rosto e fechou os olhos, sem conseguir fugir dali.

    Um som estranho ecoou, como se uma rocha tivesse sido destruída, mas seu corpo havia sido atingido apenas por pequenas partículas de pedras.

    Uma estranha sensação de conforto e medo o envolvia. Uma brisa suave o rodeava junto a um estranho calor. Ao abrir os olhos, viu Ônix à sua frente, com o pedregulho destruído próximo dele.

    Ônix olhou para trás. Seus olhos mortiços fitavam o rapaz que ele protegeu. Um arrepio percorreu a espinha do garoto. Era como se o próprio universo o observasse.

    — Está tudo bem com você, garoto?

    Sua voz tranquila ecoou como a canção dos pássaros. O medo desapareceu, sobrando apenas o aconchego da proteção. O garoto estava indeciso sobre o que responder, restando apenas o silêncio.

    Ônix, notando seu pequeno desconforto, resolveu voltar sua visão para a frente. A poeira se desfez pouco a pouco. Agora, uma cratera encontrava-se abaixo do globin.

    A moça estava limpando seus olhos e o rosto, retirando o sangue que havia lá. Ao abri-los, viu Ônix à frente de seu filho, como se o protegesse.

    “Meu filho está bem… Quem é aquele garoto?”

    Saito caminhou até Ônix. Respirava com dificuldade, como se estivesse sem ar. Olhou para o garoto com cautela, mas voltou o olhar para seu irmão em seguida.

    — Tu vai proteger o rapaz? Eu vou lutar contra aquele monstro ali. Parece que ele já tá no fim da vida.

    Ônix observou os suspiros de seu irmão, olhando seu nítido cansaço. Sua mão mal conseguia segurar a katana, encontrando-se trêmula.

    — Eu quero lutar dessa vez. Você está cansado, dá pra ver isso. De qualquer forma, isso é algo que eu devo fazer.

    Saito surpreendeu-se. Seu irmão, tão pacífico, caminhava em passos lentos para o mundo da guerra. Ônix estava começando a aceitar o cargo que o mundo havia lhe imposto. De pouco a pouco, estava se tornando a própria morte.

    Saito sabia que estava no limite. Usar seus elementos de forma descuidada na batalha anterior lhe custou caro, fora o desgaste mental que havia em sua mente.

    Infelizmente, Ônix não estava pedindo, e sim avisando. Saito queria lutar em seu lugar, mas sabia que isso, a longo prazo, apenas atrapalharia ainda mais seu irmão.

    Do que adiantaria assumir a frente para lutar pelo seu irmão? O sistema é traiçoeiro. Nada o impede de lhes dar missões individuais novamente.

    — Tudo bem. Eu vou proteger o garoto, então não precisa se preocupar com ele, beleza?

    Levantou sua mão, fechando os punhos para um toque. Ônix sorriu ligeiramente, dando um inofensivo “soco” no punho de seu irmão.

    Assim que começou a andar em direção ao globin, seu sorriso desapareceu. Não havia motivos para fingir um sorriso quando estava prestes a tirar a vida de mais uma “pessoa”.

    Os passos, para seu adversário, eram pesados e barulhentos. A escuridão o abraçou; os olhos de Ônix tornaram-se seu pesadelo. O universo aproximava-se para retirar sua vida.

    Começou a arfar devido à pressão. Olhou para o lado, notando um homem segurando um escudo com esforço. Suor escorria de seu rosto como água de torneira. Rugiu ao perceber seu cansaço, atacando seu escudo com o punho fechado.

    O escudo quebrou-se. O som de ossos quebrando ecoou. Sangue escorria das narinas e da boca daquele homem, que voou para a parede em seguida, colidindo lá.

    Os olhos da moça arregalaram-se ao ver seu marido sendo cruelmente acertado. Ela olhou para trás e gritou: “amor!”, mas seu adversário não pretendia lhe dar tempo algum de espera.

    Seu corpo arrepiou-se, avisando-a que algo se aproximava. Quando olhou para trás, o punho da criatura já estava avançando velozmente contra ela, prestes a acertá-la.

    Ônix surgiu em sua frente, segurando o golpe do globin. Ele olhou para trás, fitando os olhos da mulher que o observava com cautela, mantendo os punhos fechados.

    — É alguém importante para você, não é? Está tudo bem, eu vou cuidar disso. Pode ir lá, prometo que vocês não vão mais se machucar.

    Quanta tranquilidade misturada com o estranho e o desconhecido. Sua voz parecia rouca de tão leve, mas, também, tão triste e só. A moça surpreendeu-se com isso. Seu coração arrependeu-se de tê-lo considerado um inimigo. Ela acenou com o rosto e disse: “desculpa”, correndo para seu marido logo após.

    Ônix voltou seu olhar para a criatura, fitando o fundo de seus olhos. Ele o encarava de volta, os olhos arregalaram-se junto ao seu corpo trêmulo, mas, infelizmente, a luta não era algo opcional.

    Lágrimas começaram a cair. Seu berro veio em seguida, olhando para o teto cheio de sangue. Que mundo injusto. Dois guerreiros que não queriam lutar são forçados a se matar apenas para sobreviver.

    O monstro levou os punhos ao céu, fechando-os com toda a força disponível. Um pouco de sangue escorria de lá devido à força de seu aperto.

    Em seguida, moveu-as contra Ônix na intenção de esmagá-lo, mas, quando estava prestes a acertá-lo, seu corpo transformou-se numa névoa de sombra e desapareceu.

    Quando percebeu, Ônix já estava diante de seu rosto, com o punho fechado e esticado para trás. Em seguida, um preciso soco explodiu no rosto do globin.

    Sangue vazou de suas narinas. Seu rosto por inteiro formigava enquanto estranhos estalos vinham de seu nariz, mas, agora não era a hora para focar em suas dores.

    Ele agarrou Ônix, segurando-o com força e o jogando contra o chão em seguida. Ônix colidiu contra o solo; seu corpo deu um leve salto devido ao impacto, mas seus olhos eram indiferentes à dor.

    Girou no ar algumas vezes, pousando suavemente em seguida. Algo metálico encharcava sua boca e, quando foi cuspir, percebeu que era seu próprio sangue, mas não importava.

    Firmou seus pés no chão, preparando-se para um avanço. A criatura estava com sua mão no rosto, com gemidos roucos, sentindo seu nariz latejando em dor.

    Sem que percebesse, Ônix já estava diante de sua barriga. Seu braço esticado para trás e os punhos fechados sinalizavam o golpe que estava por vir.

    Boom. Um soco atingiu em cheio seu abdômen. O impacto fez sua barriga ondular; sangue explodia dentro de sua boca, vazando de lá logo após. Seu corpo foi lançado para trás, colidindo contra a parede.

    Não sentia mais seu corpo. Os olhos semiabertos mal podiam enxergar, mas seus ouvidos ouviam perfeitamente os leves passos que se aproximavam dele.

    Ao abrir mais os olhos, notou Ônix se aproximando. Os olhos caídos reprovavam suas ações, mas não havia mais o que fazer senão finalizar o combate do jeito que o mundo desejava.

    Mesmo com Ônix aproximando-se para matá-lo, o globin, ainda assim, não sentiu-se desesperado. Era como se o fim de suas dores estivesse chegando para abraçá-lo.

    O que para Ônix era um assassinato, para a “criatura”, era a salvação. Inesperadamente, ele abriu os braços, aceitando sua morte com um sorriso singelo no rosto enquanto os olhos se fechavam.

    Os lábios de Ônix ficaram semiabertos em surpresa, mas torceram-se logo após. Seu poder como dono das sombras transformou-o naquele que traz a morte.

    Assim que aproximou-se, posicionou o soco de uma polegada em seu coração. Um breve silêncio instaurou-se até Ônix dizer com um pesar em sua voz:

    — Descanse em paz.

    E então, o golpe veio. O impacto ressoou por todo o seu corpo e, pouco depois, seu coração parou de bater. Uma sombra começou a emergir de seu corpo.

    Assim que saiu, estava confusa, olhando para suas mãos. Notou sua forma sombria desaparecer pouco a pouco, sendo absorvida pelo corpo de Ônix. Antes de desaparecer, seus olhos marejados observavam aquele que absorvia suas dores, e ele o olhou de volta.

    O silêncio se instaurou e tudo havia terminado. Ônix estava em silêncio, com os olhos fechados, sentindo seus ossos tremer com as novas dores absorvidas.

    Um redemoinho sombrio se formou diante dele. Não demorou muito para transformar-se numa janela de sistema sombria, com gotas que pareciam petróleo pingando de lá.
    Próximo capítulo: Paz revogada.

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