O ar parecia gritar seu desespero, e a violência do vento, como se fosse um tornado envolvendo, desejava jogar para longe a pouca coragem que tinha.

    Aquele sorriso demoníaco permaneceu no céu por alguns instantes, até que se ausentasse por vontade própria, deixando a escuridão consumir o topo.

    Um involuntário alívio surgiu. Era uma ilusão? Ou aquela coisa desapareceu por não encontrar nada de interessante naquele vilarejo? Nenhuma dessas indagações importa, pois a segurança acabou.

    Partículas do mesmo tom anterior retornaram como um luminar implacável, mas, dessa vez, num formato de estrela, fixando-se no alto por um breve momento.

    Em instantes, aquela luz se expandia e seu tamanho acompanhava o ritmo a cada momento ultrapassado. Em poucos segundos, todos os globins deduziram a resposta certa: aquilo está se aproximando.

    Nada podia se fazer diante daquele evento, apenas aguardar até a hora em que aquela coisa pousaria nas gramas, sabendo com clareza o estrago que faria.

    Mesmo que seus corpos desejassem fugir, os pés estavam colados no chão, e as articulações se acovardaram, fugindo da sua responsabilidade de movimento.

    Como esperado, aquilo encontrou o solo, em uma velocidade tão violenta quanto a de um meteoro, mas gentil o suficiente para não causar dano algum em sua queda.

    A poeira levantou-se com seu reinado, tampando os olhos de todos os presentes, permitindo que apenas a tosse fosse algo permitido para eles.

    De pouco a pouco, a cor ciana começava a se integrar na névoa que se ergueu. Em uma questão de segundos, tudo já estava coberto em sua cor, mas não era para aconchego.

    Sua energia explodiu ao céu, expulsando aquele pó que se expandia. A violência do ar empurrava os globins para trás, mas tentaram se manter firmes até onde podiam.

    Não havia mais poeira para atrapalhar suas vistas, tampouco o vento os machucava; no entanto, estavam na presença de algo próximo a uma divindade naquele mundo.

    Seu formato retângulo entregava quem ele era. Seu nome, destacado no topo da interface, parecia brilhar em arrogância, e seu tom de cor sussurrava sua presença.

    A voz soava com tanta prepotência quanto o tamanho de seu poder, grudando nos ouvidos de cada ouvinte para que pudessem ouvir de forma clara:


    S1
    Muito boa noite a todos vocês, globins. É com muito prazer que eu os encontro aqui enquanto procurava por algo para brincar.

    Uma repentina pressão pousou sobre eles. Gotas de sangue escorriam do nariz, as faces distorciam em dor, e os pés tentavam ficar firmes no chão, mas uma reverência com um dos joelhos tornou-se inevitável.

    Os olhos do primeiro sistema arregalaram levemente em surpresa. Logo depois, um sorriso cresceu nos lábios, e poucos risos debochados ecoaram sua presença.


    S1
    Ora, ora, que fofos. Minha ilustre presença machuca vocês? Que pena, eu não ligo, pois hoje vim aqui para matá-los por diversão e para quebrar cada vez mais o coração de um querido alvo meu.

    Quanta injustiça sendo proferida em pouco tempo. Eles tinham família e se sustentavam com o suor de seus corpos, sem fazer mal algum a ninguém.

    Viviam pelas suas esposas, traziam as recompensas pensando no sorriso dos filhos, e o único objetivo de cada um era presenciar o próximo dia até que ele fosse o último junto às suas famílias, mas…

    O que era possível ser feito diante de algo que te subjuga com palavras? Basta desejar e sua existência é apagada, pois ele tem o poder necessário para isso.

    Diante de tanto poder, nem uma palavra saiu da boca de cada um. Medo? Também era um grande fator, mas o instinto de sobrevivência os abraçou como uma mãe impiedosa.

    Depois desse pequeno evento, era hora de S1 dar início ao seu plano, dando-lhes ordens que pareciam generosas, mas tinham um propósito sombrio.

    Forçou um apertar nos lábios enquanto seu olhar frio aparentava um incômodo. Sua voz, aparentemente triste com o que dizia, deu-lhes a seguinte instrução:


    S1
    Hum… Tudo bem, talvez eu esteja pegando pesado demais.

    O peso desapareceu, e o nó invisível que prendia a garganta foi desamarrado. Eis agora a hora esperada para fugirem daquele sistema à sua frente.

    Sobretudo, a máscara caiu. O ódio estampou em sua interface, tão predominante em seu olhar que parecia rasgar o vento. A voz, tão diabólica quanto, disse:


    S1
    Vão e informem suas esposas. Se vocês não aparecerem aqui ainda hoje, mesmo que seja só um dessa tribo, vou torturar todos e matá-los em um sofrimento de cem anos.

    Imediatamente, todos correram dali com o máximo de velocidade que podiam ter em vida. Apenas uma preocupação invadia seu coração como um ladrão, e a ansiedade parecia explodir.

    No meio desse desespero, lá estava Max. O suor parecia uma cachoeira na testa, os olhos arregalados e trêmulos gritavam a angústia que morava no coração.

    “Lua…”

    Seu joelho esquerdo falhou, e sua queda vergonhosa foi inevitável. Agarrou a grama com força, enquanto sentia cada parte de seu corpo tremer com o desconhecido.

    Os olhos tornaram-se marejados, e os lábios tremiam, permitindo que algumas lágrimas descessem das bochechas enquanto a insegurança preenchia sua alma.

    “Por favor… Edgar!”

    Levantou-se com todo o esforço disponível, reiniciando sua corrida sem esperança. Ainda que estivesse há quilômetros de distância, correu, pensando no sorriso da amada e na presença do bebê.


    Finalmente chegou. O brilhar da luz repousava sobre a casa de palha, e a porta estava tão convidativa que parecia que nada havia acontecido.

    O cansaço impregnou em cada osso, mas a entrada já estava à sua frente. Correu, em meio à amargura, abrindo a porta com força abrupta e descuidada.

    — LUA?!

    Inesperadamente, não havia mais nada na casa. Seu filho desaparecera do sofá, e o silêncio foi tão doloroso quanto uma facada entre as unhas.

    “Não… Não, não, não, por favor, não…”

    As lágrimas já moravam nas bochechas, e o aperto da morte o destruía. Como a última alternativa, correu até a porta da cozinha, abrindo tão em choque quanto antes.

    — LUA!

    Lá estava sua querida, de pé próximo à porta, com a criança dormindo em seus braços, como se a destruição não morasse próximo a eles.

    O estado de seu marido lhe causou um susto abrupto. Cansaço, angústia, lágrimas… Por que ele estava assim? O que lhe causou tamanha dor?

    O bebê, de longe o mais sensível dali, berrou em lágrimas. Os joelhos de Max desabaram no chão, e o misto de sentimentos não lhe permitia agir.

    De pouco a pouco, a semente do desespero crescia no coração de Lua, e sua ação agiu de acordo com os diversos sentimentos que a rodeavam.

    Agachou gentilmente com o joelho. Tocou no queixo de seu marido e, com lágrimas caindo dos olhos, perguntou, tentando esconder suas inseguranças:

    — Amor… O que aconteceu?

    Não havia resposta alguma que saía de sua boca. O que presenciou, o tanto que correu, o cansaço que sentia… Só lhe permitiu desmoronar diante de sua mulher.

    Ela, compactuando com as dores de seu homem, o abraçou, chorando junto dele durante minutos, entendendo, mesmo que inconscientemente, que suas vidas estavam em risco.

    Demorou, mas ele se acalmou o suficiente para que pudesse explicar o que tinha acontecido, as ameaças que ouviu e a pressão que o esmagou.

    Lua ouviu tudo pacientemente, sem sequer dizer uma palavra. No fim de toda sua explicação, com confiança nos olhos, olhou para seu marido e disse:

    — Vai dar tudo certo.

    Mesmo que a crença fosse falsa e que o tom vermelho abraçasse tanto suas pupilas quanto os olhos, ainda assim, era algo para se acreditar, nem que seja um pouco.

    Desejando que tudo desse certo, deram as mãos e saíram da casa em silêncio, rumo ao desconhecido, caminhando para enfrentar tudo com o amor que tinham.


    Lá estavam eles: homens, mulheres e filhos, diante de um só sistema que os encarava com um sorriso satisfeito e malicioso estampado no rosto.

    Ao seu lado, havia um portal da mesma cor que sua interface e, logo acima, um cronômetro paralisado no tempo de trinta minutos, pronto para começar a qualquer hora.

    Próximo capítulo: O Fim do Vilarejo.



    Folhas do Aprendizado, 27/06/2025

    Olá, leitor.

    Finalmente terminei de reescrever os capítulos, desde o prólogo até o capítulo vinte e três. Sinceramente, foi cansativo. Passei diversas horas do meu dia revisando enquanto pensava nos capítulos 25, 26, 27… Me atrasou, mas valeu a pena. Como prometido, a história não sofreu alterações que mudem o futuro ou o que vocês precisam ler, apenas a narrativa, com os detalhes que deveriam ter. Não sei se vou conseguir, meu tempo anda curto e complicado, mas, agora que está tudo pronto, tentarei manter uma frequência de um capítulo a cada três dias enquanto escrevo o máximo que posso.

    Agradeço a paciência que teve e, se ainda houver algum leitor aqui que me acompanha desde o meu primeiro capítulo, peço mil desculpas pela narrativa ruim que eu tinha. Te agradeço por ter tido paciência comigo :]

    Muito obrigado, não só a você, mas a todos os leitores. ♡

    Maik

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