Capítulo 35: O Fim do Vilarejo
Vidas constroem histórias, formam famílias, descobrem erros e encontram a melhoria. Todo o percurso daquele vilarejo seria decidido hoje de forma impiedosa.
Não houve um deles que ousou se ausentar. Os bebês dormiam no colo das mães, as crianças tremiam ao lado de seus pais. Por fim, todos os casais estavam de mãos dadas, prontos para encarar o desafio.
S1
Ótimo.
Toda essa determinação em proteger quem os ama, de, mesmo que seja só por mais um dia, ver seus filhos sorrir… Tudo isso agradou aquele que os destruirá.
S1
Não teria como estar mais perfeito do que isso.
O cenário criado não era à toa. Desde os fracos aos mais fortes, todos iriam participar do evento que vai determinar se viverão ou deixarão de existir.
S1
A partir de agora, quero que todos prestem atenção no que vou explicar.
Deu início às suas falas mais importantes, começando por aquele portal ciano ao seu lado. Como todos já sabiam, aquilo os levaria para um lugar distante dali.
Um ambiente, mais conhecido por ser um evento de masmorra, famoso entre os jogadores de qualquer nível que podem desafiar a qualquer momento que queira.
Aquele transportador não tinha somente a tecnologia de os mover de um lugar para outro, também podia criar uma versão menor de si mesmo para que aqueles que não lutarão possam ver a batalha.
Claro, por mais injusto o S1 possa ser, ele não gosta de ouvir desculpas “esfarrapadas” depois que um determinado evento acontece, e aqui não seria diferente.
Todos os homens vão lutar, sem exceção. Só haverá uma determinada organização, onde o líder aguarda na última etapa enquanto seus súditos lutam para sobreviver na primeira.
Há cem no total, metade de cada gênero, totalizando cinquenta masculinos e femininos. Sendo assim, o líder seria movido para seu lugar isolado e, logo após, quatro de seus soldados também.
Se esses morrerem, o jogador pode avançar para duelar com o líder daquela tribo. Independentemente se ele tiver sucesso ou não, o jogo iria continuar até que todos morressem.
Porém, há uma “trapaça” nas regras que o sistema impôs. Desde que os soldados morram, todos os que desejarem entrar na masmorra poderão fazê-lo.
O único requisito é derrotar os goblins soldados. Se ainda houver alguém enfrentando o mais forte daquela tribo, se tiver sorte, outros poderão ajudá-los se chegarem.
Sobretudo, o maior desafio não era sobre vencer, e sim, sobre tempo. A cada desafiante que aparece, o relógio retorna para a sua origem.
A condição de vitória é que o cronômetro acabe em zero. Se isso vier a acontecer, foi-lhes prometido que tudo retornaria ao que era antes.
Não haveria sistema algum que pudesse incomodá-los. Viveriam livres, felizes para todo o sempre, desde que obtenham a vitória nesse evento.
Todos ouviram com a devida atenção. O medo tentava matá-los, mas a fé no impossível os permitiu criar, mesmo que fosse pouco, a coragem que precisavam.
As esposas apertaram as mãos de seus maridos. Nenhuma delas desejava que aquilo desse continuidade, contudo, não era algo possível.
Lágrimas discretas escorriam no peito de seus amados, beijos em despedida aconteciam. Em um clima de velório, deu-se início a um pesadelo inesquecível.
Os cinco primeiros foram levados aos seus lugares. Dois arqueiros, dois guerreiros e o capitão, cada um aguardando o adversário chegar.
O temporizador já caminhava. Cada segundo parecia demorar tanto quanto voar ao céu e retornar à terra. A ansiedade nunca esteve tão presente na vida deles.
Dentre todos, o que tinha menos preocupações era o S1. Seu plano era simples: atrair, de alguma forma, Ônix para aquela missão, de preferência quando sobrarem os cinco últimos.
Era uma aposta arriscada, mas ele não estava disposto a cumprir sua promessa. Se eles vencerem, basta matar a todos e procurar outra oportunidade para dar sequência a seus planos.
Em uma questão de minutos, o primeiro oponente chegou, observando as quatro criaturas à sua frente, exalando intenção assassina, buscando sangue inimigo custe o que custar.
Antes que pudesse entrar em guarda, uma flecha já havia atravessado sua testa sem dificuldades, derrotando-o em instantes, aumentando a confiança do grupo.
Todavia, começaram a perceber o quão cruel aquilo poderia ser. O contador de tempo, que estava em vinte e cinco minutos, retornou para 29 e 58 segundos.
Mesmo que fosse uma possibilidade muito pequena, ainda assim existia a chance de alguém aceitar a missão nos segundos finais para a “vitória” daqueles seres.
Em poucos instantes, mais um apareceu. Dessa vez, não parecia fraco como o anterior, tudo em sua aparência condizia com um veterano de guerra.
Uma cicatriz cobria seu olho esquerdo inteiro. Um chapéu do exército repousava sobre os cabelos. Camisa, em tom escuro, colava no corpo. O mesmo com o resto do traje.
Em um período quase instantâneo, a primeira flecha foi disparada contra sua face, mas ele a segurou com facilidade, olhando-a com desprezo.
— Isso é nível trinta? Que piada. Alguém do patamar quinze como eu deveria sentir uma dificuldade muito maior.
Aproveitando a brecha de sua fala, um daqueles guerreiros já estava à sua frente, com o punho próximo o suficiente do nariz para que uma esquiva fosse inviável.
Como esperado, o ataque acertou em cheio. Sangue explodia dos dentes, mas nem isso o impediu de gargalhar com o soco com uma precisão quase perfeita.
— É DISSO QUE EU TÔ FALANDO!
Seu braço direito aumentou de tamanho inúmeras vezes. Todos os atributos aumentaram consideravelmente em seu membro afetado pelo poder.
Não haveria vista grossa para as brechas que surgiam. Sem que percebesse, algumas flechas acertavam o joelho, porém não eram fortes o suficiente para atravessá-lo.
Para a tristeza da tribo, aquele homem já havia preparado seu soco. De um intervalo para outro, o corpo de quem havia o atacado explodiu em sangue.
A primeira perda foi um choque, tanto para os que assistiam quanto para os que estavam presentes e, infelizmente, esse momento de paralisia custou-lhes suas vidas.
Foi então que o terror começou. As esposas que perderam seus maridos estavam em forte negação com a realidade que mostrava-lhes a verdade impiedosamente.
Não demorou muito para os primeiros gemidos de dor, junto às lágrimas, surgirem de uma das mulheres que acabara de ver sua alma gêmea partir em sua frente.
Tudo começou a desmoronar segundos depois. Mesmo que suas amigas tentassem consolá-las, o inferno em seu coração era grande demais para aguentar.
Os bebês choravam e as crianças entravam em desespero. Como um estalar de dedos, tanto as viúvas quanto seus filhos transformavam-se em poeira, abandonando a existência.
Sem saber de toda a dor que causara, o desafiante avançou para a próxima fase com um sorriso confiante no rosto, esperando por um monstro ainda mais forte.
Seu desejo foi realizado mais rápido do que esperava. Assim que passou pela porta que apareceu em sua frente, sua existência foi totalmente comprometida.
O rugido do general explodiu seus tímpanos. O avanço daquele maldito humano significava a morte de seus amigos que o acompanharam a vida inteira.
Sem ter o direito de sentir medo ou arrependimento, o machado do líder da tribo cortou-o ao meio, encerrando ali um veterano que nada entendia sobre guerras.
Foi nesse ritmo cruel que a vida deles acabava lentamente. A última batalha devastou completamente a confiança daquela tribo. Uma mulher, com seu homem e filho, passaram sem um pingo de dificuldade pelos súditos e, agora, sem contar com o capitão que os enfrentava, restaram apenas cinco.
A luta estava acirrada, mas a vantagem era do casal. O cansaço extremo do general o impossibilitava de lutar com a eficiência que tinha.
O duelo estava durando muito, mais do que o sistema desejava. Cinco, dez, quinze, vinte, vinte e cinco, vinte e nove… Restavam poucos segundos para a vitória das criaturas.
Todos tremiam, torciam, choravam rezas em seu interior, desejando que o tempo passasse depressa. Por favor, caminhe o mais rápido que puder, senhor cronômetro.
A paciência de S1 alcançou o limite. Faltando dois segundos, teleportou-se para a primeira etapa daquela missão, movendo-se com pressa para a segunda para matar o líder. No entanto, uma notificação prazerosa surgiu:
S1 Minimizado
Os jogadores Saito e Ônix aceitaram a missão.
Próximo capítulo: Alma pura, sofrimento eterno.
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